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Aspectos de autonomia e democracia tendem a fortalecer os encontros formativos e a formação docente

5 A PESQUISA DE CAMPO E SUAS NUANCES

6 A FORMAÇÃO CONTINUADA NAS ESCOLAS COM ÊNFASE NO PROFESSOR REFLEXIVO

6.1 SUGESTÕES PARA CONTRIBUR NA ORGANIZAÇÃO E EFETIVAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA NO CONTEXTO ESCOLAR

6.1.7 Aspectos de autonomia e democracia tendem a fortalecer os encontros formativos e a formação docente

O despertar por parte dos professores para a valorização dos encontros de formação continuada e o interesse dos mesmos em participar e colaborar para a organização e efetivação desses encontros é uma característica específica de cada profissional. No entanto, as escolas possuem papel fundamental para que os docentes se sintam estimulados a cooperar na efetivação das formações, na medida em que os educandários favoreçam a valorização do trabalho desenvolvido pelo professor. Dado que os professores são propulsores da efetivação e concretização do projeto ou da proposta educacional da escola, a partir das distintas práticas pedagógicas que se consolidam diariamente nas salas de aula.

Nesse sentido, torna-se pertinente lançar algumas considerações acerca de aspectos de autonomia e democracia no cenário educacional que interferem nos encontros de formação continuada. A caracterização ou conceituação sobre aspectos autônomos e democráticos é algo que pode surgir após a própria prática ou formação específica de cada professor. Ou seja, é no cotidiano da sala de aula que os professores ao potencializarem com os alunos que estes possuem condições de obterem sucesso, independentemente de posição social, raça ou etnia, conseguem organizar um ambiente em sala de aula, no qual os alunos se identificam com os demais, se sentem valorizados e também começam a acreditar que podem ter sucesso na

escola. Isso se aproxima das reflexões de Zeichner (1993), ao enfatizar que se os professores lidassem com os destinos dos seus alunos como lidam com os dos seus próprios filhos, a educação estaria mais próxima de compreender a finalidade do ensino em uma sociedade com características democráticas.

Por isso, podemos dizer que nas escolas que oportunizamos a valorização dos estudantes em consonância com o compromisso que os educandários possuem na formação do sujeito, surgem condições para o próprio ensino tornar-se mais democrático no sentido da formação integral para todos. Porém, é necessário superarmos alguns aspectos que dificultam a formação ou organização de espaços de aprendizagem com características democráticas.

Para Dewey (1959a, p. 104), “um dos problemas fundamentais da educação em e para uma sociedade democrática é estabelecido pelo conflito de um objetivo nacionalista com o mais lato objetivo social”. Isto pode ser percebido de acordo com Dewey na contradição entre a transposição das fronteiras da ciência, do comércio, da arte e a acentuação da soberania ou da identidade de um país no cenário político. Parece haver em um cenário macro, a concepção de valorizar o individual e isso interfere nas organizações menores de uma sociedade como um bairro, uma empresa ou uma escola. Trabalharmos a cooperação é um desafio a ser superado, principalmente em âmbito educacional, para valorizarmos as realidades locais, em detrimento as concepções e caracterizações que interferem nas instituições escolares. Nesse sentido, é relevante destacarmos o que Dewey (1959a, p. 105) questiona: “será possível, para um sistema educativo, ser dirigido pelo estado nacional, e mesmo assim, conseguir-se que não seja restringido, constringido e deturpado a perfeita finalidade social da educação?”

Assim, um dos papéis fundamentais dos encontros de formação continuada é exercer a articulação entre o que apontam as diretrizes e as concepções que norteiam a educação. Considerando o que está implícito nessas diretrizes, bem como, os fins da educação que as constituem, além dos aspectos do currículo oculto que interferem no fazer pedagógico diário, com os distintos aspectos que caracterizam e enriquecem as realidades específicas de cada escola.

Além disso, a formação continuada efetivada nas próprias escolas pode desenvolver nos professores a autocrítica, para que estes tentem diminuir a distância entre os aspectos teóricos e a prática cotidiana, aproximando-se dos estudantes, podendo ressignificar aspectos do processo ensino e aprendizagem. Mas, para que isso aconteça,

O pensamento reflexivo, ainda que não plenamente, em condições que não são as ideais, constitui ferramenta imprescindível para que nossos projetos imaginados tenham alguma chance de acontecer. Tanto a sociedade quanto a escola

democráticas são ideais ainda não realizados, simplesmente imaginados. Não há educação reflexiva sem democracia, mas não há democracia sem educação reflexiva. Se tomarmos esses enunciados como problemas postos diante de nós, como desafios à investigação, podemos recorrer a Dewey para imaginar uma escola que contribua para construir o tipo de sociedade que queremos. (CUNHA; PIMENTA, 2011, p. 68).

Essas concepções ou reflexões podem ser consideradas quando, nos encontros de formação continuada, a metodologia ou as estratégias utilizadas potencializem a importância dos professores se conhecerem como sujeitos.

Além do espírito democrático que necessita estar presente nos encontros formativos, a autonomia também torna-se um aspecto muito importante para o desenvolvimento da carreira profissional do docente e desempenha importante função no desenrolar do processo ensino e aprendizagem. A autonomia na relação professor e aluno é frutífera, pois, possibilita o surgimento de uma certa forma de liberdade que pode ocasionar uma co-autoria (professor e aluno) diante do conhecimento, dos saberes e das experiências vivenciadas pelos sujeitos.

Essa forma de vida associada e comunicada conduz a que os indivíduos sejam incentivados a variar seus atos, tenham uma diversidade maior de estímulos e consigam, assim, ampliar seu campo de interesse, passando a pautar suas próprias ações pelas ações dos outros e a considerar as ações alheias para orientar e dirigir as suas próprias. (FÁVERO; TONIETO, 2011, p. 119).

Mas, para isso, se faz necessário superarmos alguns aspectos da relação professor x aluno.Ou seja, o professor deve passar a ser considerado um mediador e não o detentor do saber.O aluno necessita ser ativo e deixar de esperar que o conhecimento ou as informações cheguem somente através do professor. Para Rankel e Stahlschmidt (2009, p.96),

É de suma importância que exista dentro de quem ensina, uma vontade de sempre aprender, acompanhada de vontade, garra, autonomia de pensamento, imaginação, entre outros, tudo devidamente dosado. Portanto, ensinar é preparar o caminho para a total autonomia de quem aprende, fazendo um cidadão consciente de seus deveres e direitos. A tarefa do professor refere-se à busca intensa tanto do conhecimento como do aprimoramento técnico, sem se descuidar do sentido humano, ou seja, levar em conta que o indivíduo aprendente deve ser tratado com tolerância, respeito, carinho e doação.

Notamos que a autonomia e a democracia são elementos que se completam para um mesmo objetivo na área educacional: a emancipação humana, no sentido de oferecer a todos oportunidades ou ferramentas que possam instrumentalizar os indivíduos para viverem em uma sociedade.

É nessa perspectiva que Dewey (1959a, p. 105) destaca:

Não basta fazer-se que a educação não seja usada ativamente como instrumento para facilitar a exploração de uma classe por outra. Devem assegurar-se as facilidades escolares com tal amplitude e eficácia que, de fato, e não em nome somente, se diminuam os efeitos das desigualdades econômicas e se outorgue a todos os cidadãos a igualdade de preparo para suas futuras carreiras. A realização deste objetivo exige não só que a administração pública proporcione facilidades para o estudo e complete os recursos da família, para que os jovens se habilitem a auferir proveito dessas facilidades, como também uma tal modificação das idéias tradicionais de cultura, matérias tradicionais de estudo e métodos tradicionais de ensino e disciplina, que se possam manter todos os jovens sob a influência educativa até estarem bem aparelhados para iniciar as suas próprias carreiras econômicas e sociais.

Desse modo, é possível vislumbrarmos no horizonte uma sociedade que se desenvolva com características democráticas, na qual, os sujeitos possam usufruir das oportunidades que a mesma pode lhe proporcionar e que a educação nesse tipo de sociedade proporcione aos indivíduos a valorização das relações humanas e da equidade social.