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3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

4 CONCEPÇÕES E CARACTERIZAÇÕES ACERCA DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE JOHN DEWEY

4.1 O PENSAMENTO REFLEXIVO DE DEWEY E SUA INFLUÊNCIA À FORMAÇÃO CONTINUADA

4.1.1 Dewey e a função social da escola

Ao enfatizarmos as características da filosofia de Dewey e reflexões metodológicas acerca da educação, é importante destacarmos que esse autor é considerado um filósofo da experiência humana, na qual concebe o indivíduo em uma coletividade, ou seja, nunca pensa a pessoa isolada, tendo a educação como uma necessidade para a vida cotidiana. Dewey (1916 apud GALVÃO, 1998, p. 134), concebe a função social da escola observando que:

A educação decorre através de um ambiente social, caracterizado por todas as atividades que num grupo são realizadas pelos seus membros, e esse ambiente torna- se educativo quando um indivíduo se integra numa atividade associada. [...]. O indivíduo educa-se ao participar em atividades conjuntas, em experiências partilhadas, compreendendo o significado das coisas, das palavras e dos atos, ao compreender o uso que lhes é dado pelo grupo, [...] a escola torna possível uma simplificação do ambiente social mais vasto, seleciona os elementos considerados relevantes desse ambiente, e permite que cada indivíduo possa coordenar as influências dos diversos ambientes sociais em que participa.

Percebemos que a escola não pode ser considerada uma ilha inserida na sociedade. As instituições escolares são constituídas de muitos aspectos que afloram no cotidiano das pessoas, por isso, a importância das escolas potencializarem com seus educandos os trabalhos no coletivo, a valorização de observar, refletir e produzir experiências a partir dos conhecimentos e experiências trazidos pelos professores e alunos. Os educandários necessitam romper com as práticas pedagógicas que priorizam a memorização e a repetição de tarefas, pois, “acabam por valorizar um „espírito livresco e pseudointelectual‟ em detrimento de um „espírito social‟ quando veem o aprendiz como um indivíduo isolado”. Dewey (1959a apud CUNHA 2011, p. 43). A escola, dotada de um conjunto de saberes sistematizados, necessita orientar os alunos a construir experiências significativas com as relações entre seus saberes, o conhecimento e a experiência trazida pelos professores. Dessa forma, as instituições escolares podem se constituírem em espaços de construção e mediação de saberes e experiências próximas da vida social de seus sujeitos. Para contribuir na aproximação entre a função social da escola e o trabalho pedagógico efetivado na mesma, o professor se torna o principal responsável disso.

A atuação do educador requer, mais do que conhecimentos, qualidades pessoais e atitudes morais, fazendo-o desempenhar essa função social na relação com os alunos e, ao mesmo tempo, estar atento às situações que os levem ao processamento de experiências efetivamente educativas. (PAGNI, 2011, p. 54).

Por isso, é relevante as instituições escolares ampliarem as concepções e os conhecimentos acerca da vida cotidiana de seus alunos, para que de forma mais exitosa possam “dispor de condições pelas quais a criança venha a crescer em saber, em força e em felicidade”. (DEWEY, 1959c, p. 20). É possível notarmos que as escolas e os educadores possuem a necessidade de conceber conceitos que valorizam a função social de seus educandários e enalteçam a “educação que adote como escopo a melhoria das atitudes e métodos intelectuais dos estudantes”. (DEWEY, 1959b, p. 72).

Para que ocorra um desenvolvimento positivo nos educandários tendo a educação como função social, as escolas necessitam entender que o meio social origina ações mentais e emocionais que implicam no agir dos indivíduos, ocasionando determinadas consequências que influenciam a mediação de conhecimentos nas salas de aula. Acerca disso, Dewey (1959a), destaca que o meio social consegue impregnar muitos fatores da formação do sujeito. O autor aponta que os hábitos da linguagem é um desses exemplos, que se constituem nas relações do cotidiano e se desenvolvem como uma necessidade social. Outro fator apontado por Dewey (1959a), diz respeito às maneiras que são adquiridas pelos atos habituais e não como conhecimentos transmitidos. Além disso, o meio social influencia na apreciação da estética, do bom gosto ou da aniquilação do gosto e do amor ao belo.

Esses aspectos descritos necessitam ser considerados pelas instituições escolares ao organizar o planejamento educacional, bem como suas propostas pedagógicas, considerando de forma efetiva o meio que os discentes estão inseridos. Pois, o contexto social se consolida como uma somatória de características que favorecem a execução de ações ou atividades dos sujeitos. Assim, “a escola tem igualmente a função de coordenar, na vida mental de cada indivíduo, as diversas influências dos vários meios sociais em que ele vive [...], impondo à escola uma função fortalecedora e integradora”. (DEWEY, 1959a, p. 23).

É possível observarmos que se torna importante as escolas inferirem e conhecerem o meio em que os sujeitos agem e pensam, podendo dessa forma originar a articulação de conhecimentos e principalmente o desenvolvimento de aptidões, que contribuem para a assimilação de outros conhecimentos. Nessa perspectiva, a concepção deweyana destaca que a escola possui funções que necessitam ser consideradas para favorecer a aprendizagem dos educandos ao adentrarem nas instituições escolares. Assim, Dewey (1959a, p. 21-22) aponta que a primeira função é

[...] propiciar um ambiente simplificado, selecionando os aspectos mais fundamentais, e que sejam capazes de despertar reações da parte dos jovens, como meio de conduzi-los ao sentido e compreensão real das coisas mais complexas. [...] Em segundo lugar, é tarefa do meio escolar eliminar o mais possível os aspectos desvantajosos do ambiente comum, que exercem influência sobre os hábitos mentais, criar um ambiente purificado para a ação. [...] Em terceiro lugar, compete ao meio escolar contrabalançar os vários elementos do ambiente social e ter em vista dar a cada indivíduo oportunidade para fugir às limitações do grupo social em que nasceu, entrando em contato vital com um ambiente mais amplo.

Acerca disso, é possível destacarmos a importância da convivência na escola de sujeitos com distintas raças, religiões, credos, costumes e tradições. Essa gama de diferenças

culturais possibilita a abertura de um novo contexto, com maior amplitude para os alunos, com novos horizontes para a vida social dos mesmos.