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3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

4 CONCEPÇÕES E CARACTERIZAÇÕES ACERCA DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE JOHN DEWEY

4.1 O PENSAMENTO REFLEXIVO DE DEWEY E SUA INFLUÊNCIA À FORMAÇÃO CONTINUADA

4.1.3 Dewey e a concepção de experiência

É fundamental entendermos também o que Dewey aborda acerca do conceito de experiência, pois esta se vincula em praticamente todas as práticas pedagógicas vivenciadas pelos docentes nas escolas. Nesse sentido, Dewey (1959a apud CUNHA 2011, p. 30 e 65), enfatiza que:

A experiência é a interação do organismo e do meio ambiente, que redunda em alguma adaptação para melhor utilização deste mesmo meio ambiente [...] que as coisas só adquirem real significação quando usadas em uma experiência partilhada ou em uma ação conjunta. [...] e que uma experiência possui um aspecto que é psicológico e outro que é lógico.

Notamos a importância de considerar os mais diversos aspectos que constituem os alunos, para a organização de práticas pedagógicas que contemplem as expectativas e principalmente as necessidades dos mesmos. A educação atual necessita utilizar os saberes e vivências de seus educandos, pois é a partir desses aspectos que as instituições escolares poderão se aproximar dos alunos e realmente despertar nesses a motivação para se constituir e organizar novos conhecimentos. Ou seja, as atividades desenvolvidas em sala que priorizam o coletivo, a partilha de experiências dos alunos em consonância com os saberes dos professores, se constituem em novas teorias de promover o processo ensino e aprendizagem. Dessa forma, “experiência é uma fase da natureza, é uma forma de interação, pela qual os dois elementos que nela entram: situação e agente são modificados”. (DEWEY, 1959c, p. 02). Assim, o conceito de experiência pode estar intrínseco em situações problemáticas do ser humano, quando o indivíduo vivencia o mundo ou determinada situação, ele não busca somente entender, mas poder resolver determinados cenários que possam se apresentar.

A partir disso, as escolas necessitam compreender que a relação professor e aluno é transformadora, contínua e distinta em cada ação. Dewey (1959a), afirma que a escola não é uma preparação para a vida, mas sim a própria vida. “Assim, vida-experiência e aprendizagem estão unidas, de tal forma que a função da escola é possibilitar uma reconstrução permanente da experiência feita pela criança”. (GIACOMELLI, 2011, p. 176). Destaca-se aqui a valorização das falas, dos questionamentos, das posturas e dos anseios trazidos às escolas pelos educandos, estes aspectos necessitam ser observados e utilizados pelos professores na organização e efetivação das suas práticas pedagógicas.

Além disso, Dewey procura apontar algumas reflexões na obra Vida e Educação

(1959c), acerca de conceitos sobre interesse e esforço, sendo esses termos fundamentais para

os docentes refletirem nos encontros de formação continuada, pois durante a prática pedagógica diária, tanto o interesse, como o esforço são vivenciados por parte do professor, bem como, do aluno. Isso porque, “todas as pessoas, crianças ou adultos, se interessam pelo que podem fazer com êxito, pelo que buscam confiadamente, e por tudo aquilo em que se empenham com um sentimento de capacidade e eficiência”. (DEWEY, 1959c, p. 113).

Desse modo, o interesse se torna algo concreto quando a ação se desenvolve, é construída gradativamente, ou seja, não há estagnação de uma determinada atividade. Cabe aos professores problematizarem nas formações em que medida a prática educativa está proporcionando o desenvolvimento contínuo dos educandos. Assim, o verdadeiro interesse “é o sinal de que algum material, objeto, habilidade, ou o que quer que seja, está sendo apreciado de acordo com o que atualmente concorre para a marcha progressiva de uma ação, com a qual a pessoa se identificou”. (DEWEY, 1959c, p. 120).

Isso é importante para que as escolas vislumbrem no horizonte como uma forma de reflexão acerca de suas ações pedagógicas ou administrativas. Além disso, Dewey procura destacar também a importância de potencializar o esforço no desenvolvimento de atividades, ou na busca de objetivos traçados. Pois, para o autor, o esforço ganha um significado legítimo quando o mesmo promove evolução ou progresso com relação a uma determinada ação ou atividade proposta. Nos encontros de formação continuada, os docentes podem enfatizar, através de exemplos de experiências pedagógicas, que conseguiram aproximar o interesse e o esforço em consonância com as atitudes e/ou iniciativas dos alunos. Dessa forma, Dewey aborda que

Ensinar bem é ensinar apelando para as capacidades que o aluno já possui, dando- lhe, do mesmo passo, tanto material novo quanto seja necessário para que ele reconstrua aquelas capacidades em nova direção, reconstrução que exige pensamento, isto é, esforço inteligente. A significação educativa do esforço reside no seu poder de estimulação de maior soma de reflexão e pensamento, e não na maior tensão física que possa exigir. (DEWEY, 1959c, p. 132).

Portanto, o interesse e o esforço podem ser estimulados pelos docentes, valorizando a reflexão acerca de determinadas tarefas e/ou atividades. Com isso, os encontros de formação continuada podem aflorar em seus participantes a ideia de que a “função dos educadores é organizar as condições de expressão dos interesses práticos, de tal modo que se desperte o

desenvolvimento daquelas fases intelectuais da atividade, e, por esse meio, se prepare a transição gradual para o tipo de atividade teórica”. (DEWEY, 1959c, p. 154).

A partir disso, torna-se fundamental destacar a importância dos formadores que auxiliam na organização e efetivação dos encontros de formação, fortalecer nas discussões o valor do pensar acerca dos processos pedagógicos. Para Dewey (1959b), o pensar não é um caso de combustão espontânea, não advém de obediência às regras gerais, pois há alguma coisa que ocasiona e o provoca. Os debates e os encaminhamentos nos encontros formativos de professores necessitam fomentar que pensar é “uma palavra que exprime os diversos modos pelos quais as coisas adquirem significação para o indivíduo e não esquecer que os indivíduos diferem, portanto, pensar é um ato específico”. (DEWEY, 1959b, p. 53).

Nesse sentido, para Dewey o pensar de forma reflexiva torna-se uma maneira de investigar as relações, os conceitos, as teorias, as práticas pedagógicas, pois, quando uma atividade é verdadeiramente reflexiva, ela conduz com exatidão para o resultado, bem como, provoca uma revisão nas ações e/ou atividades, podendo levar o indivíduo a organizar determinadas inferências. Para Dewey (1959b), não há pensamento sem inferência (sendo que, inferência é chegar a uma ideia do que está ausente na base do que está presente). Assim, “as inferências ocorrem por intermédio, ou através, das sugestões despertadas pelo que é visto e lembrado”. (DEWEY, 1959b, p. 101). Dessa forma, é interessante observarmos que nos encontros formativos sejam valorizadas, debatidas e encaminhadas inferências acerca de situações que afloram no cotidiano das escolas, para que os educandários consigam através da formação continuada pensar e (re) construir projetos e teorias que melhorem o processo ensino e aprendizagem.

A partir dos conceitos acima trazidos por Dewey, é possível relacioná-los com o fazer pedagógico dos professores, no cotidiano docente, na elaboração e efetivação de seus planos de ensino, bem como, na reflexão das atividades docentes realizadas. Ou seja, a experiência é um dos aspectos caracterizantes da filosofia deweyana, que “significa possibilitar que a criança torne sua aprendizagem um ato de constante reconstrução [...], não apenas um processo de experimentar, mas, acima de tudo, o ato de provar”. (GIACOMELLI, 2011, p. 177).

Cabe ao professor possibilitar, através do processo ensino e aprendizagem, que isso se concretize. Isto porque, todas as atividades que são realizadas pelas pessoas, o que se experimenta, se observa ou se conhece, são úteis para que ocorram interpretações, mudanças ou inferências no grupo social a que se pertence.