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3 A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

4 CONCEPÇÕES E CARACTERIZAÇÕES ACERCA DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE JOHN DEWEY

4.1 O PENSAMENTO REFLEXIVO DE DEWEY E SUA INFLUÊNCIA À FORMAÇÃO CONTINUADA

4.1.2 Dewey e o conceito de democracia

Outro aspecto importante para considerarmos na filosofia de John Dewey e que pode instigar reflexões aos professores é a concepção de democracia na educação. Esse termo é importante na medida em que os docentes se sintam aptos a potencializá-lo e debatê-lo, pois o mesmo está imbricado de uma carga de responsabilidades, conceitos e ações que concebe a democracia como uma “ferramenta” de superação das dificuldades de uma comunidade. Para Dewey (1916 apud GALVÃO, 1998, p. 135-136),

Uma democracia é mais do que uma forma de governo; ela é primariamente um modo de vida associada, de experiência conjuntamente comunicada. [...] Uma sociedade democrática é aquela que, para além de mudar, tem um ideal e métodos de mudança, e não pretende atingir simplesmente a perpetuação dos seus costumes, porque a sobrevivência pacífica de uma sociedade democrática pressupõe a existência de cidadãos capazes de acompanhar e de se adaptar às mudanças sociais que o livre contato entre grupos e pessoas suscita.

Dessa forma, pensarmos em uma educação democrática remete aos professores e gestores várias atribuições que muitas vezes não são realizadas no âmbito escolar como: definir propostas pedagógicas que valorizem e integram todos seus membros com objetivos que contemplem a emancipação social, a valorização da cultura na qual a escola está inserida e possibilitem a reflexão acerca da relação professor e aluno. Além disso, as escolas necessitam, por iniciativa dos próprios gestores e docentes, organizar encontros de formação continuada no espaço escolar que potencializem as discussões sobre o fazer pedagógico e suas implicações na formação dos alunos. É possível perceber a importância do desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno na construção de sua concepção de democracia, com a valorização da liberdade do educando em elaborar seu conhecimento, utilizando também o currículo e os saberes do professor.

Dessa forma, a formação continuada pode através da forma como é organizada e efetivada nos espaços escolares, tornar-se um viés importantíssimo para aproximar-se do que Dewey em sua obra “Democracia e educação (1959a)”, apontou acerca da função da educação em uma comunidade com características democráticas. O autor destaca que o

objetivo da educação é possibilitar aos indivíduos a continuar sua educação, sendo a capacidade de desenvolvimento constante, uma consequência da aprendizagem.

Por isso, ao pensarmos na organização da formação continuada, faz-se necessário estabelecer objetivos para que a mesma se efetive, os objetivos estabelecidos têm de ser consequência natural das condições existentes, devem basear-se nas considerações do que já está em andamento, nos recursos e dificuldades da situação, estes são experimentais, crescem constantemente ao serem testados na ação (DEWEY, 2007). Nesse sentido, os objetivos dos encontros formativos afloram no dia a dia das escolas e podem ser potencializados em consonância com teorias educacionais e experiências pedagógicas durante a efetivação destes momentos pedagógicos. Com isso, observamos que:

A contínua reconstrução da experiência, individual ou social, somente pode ser aceita e conscientemente buscada, por sociedades progressivas ou democráticas, que visem, não a simples preservação dos costumes estabelecidos, mas a sua constante renovação e revisão, [...] somente sociedades democráticas, que procurem dar maior liberdade aos membros que as constituem e criar o mais largo espírito de solidariedade social e de comunhão de interesses podem aceitar e estimular o dinamismo construtor. (DEWEY, 1959c, p. 31).

Esse conceito exposto por Dewey pode ser efetivado também nos encontros de formação continuada, ou seja, a troca de experiências, os relatos de práticas pedagógicas, o debate acerca de teorias educacionais e a (re) construção de bases teóricas, são metodologias que auxiliam os docentes a renovar ou repensar o seu cotidiano nas escolas. A valorização e a liberdade para que os professores construam juntos a organização e a realização dos encontros de formação, torna-se o principal viés para o trabalho em equipe, estimulando os projetos coletivos nos educandários.

Nesse sentido, a ideia de democracia potencializada por Dewey pode ser tematizada nos encontros de formação continuada nos espaços escolares, a partir do momento em que os gestores administrativos/pedagógicos e professores conseguem conciliar as ações pedagógicas com seus objetivos e quando as escolas procuram equalizar a importância de todos os envolvidos no processo educativo, eliminar segregações entre as áreas de ensino ou entre os setores dos educandários. Aqui, é possível potencializarmos o sentido inicial do professor reflexivo, que é constituir ou organizar a escola como uma comunidade de investigação, destacando aspectos de análises, contextualizações, explicações, compreensões e problematizações. Pimenta (2002, p. 24) destaca que:

A transformação da prática dos professores deve se dar numa perspectiva crítica [...]. Fica, portanto, evidenciada a necessidade de realização de uma articulação, no âmbito das investigações sobre prática docente reflexiva, entre práticas cotidianas e contextos mais amplos, considerando o ensino como prática social concreta.

Além disso, é possível destacarmos novas experiências ou teorias que possam surgir nas discussões do coletivo, pois

[...] de modo análogo, uma vez que a democracia é, em princípio, partidária do livre intercâmbio, da continuidade social, ela deve adotar uma teoria do conhecimento que veja neste meio pelo qual uma experiência é proveitosa para dar direção e significação a outra. Os progressos recentes em fisiologia, em biologia e na lógica das ciências experimentais fornecem os instrumentos intelectuais específicos exigidos para o desenvolvimento e a formulação de uma tal teoria. Seu equivalente pedagógico é associar a aquisição de conhecimentos nas escolas com atividades ou ocupações exercidas num ambiente de vida social. (DEWEY, 1959a, p. 379).

Além disso, a definição de objetivos que promovam a efetiva participação dos estudantes durante o fazer pedagógico dos professores torna-se uma necessidade, na medida em que os anseios dos alunos sejam contemplados, pois “o objetivo é tão definidamente um meio para a ação, como qualquer outro elemento da atividade”. (DEWEY, 1959a, p. 115). É interessante destacarmos que para estabelecer objetivos educacionais, primeiramente faz-se necessário compreendermos e valorizarmos cada indivíduo que faz parte da escola, com sua cultura e conhecimentos específicos. Dessa forma, é possível aproximarmos da concepção de democracia defendida por Dewey (1916 apud GALVÃO, 1998, p. 136) ao citar que:

A democracia corresponde primeiramente a um empenhamento em conduzir os assuntos sociais sobre uma base ética, caracterizada pela tentativa de proporcionar a todos uma qualidade elevada de experiência material e cultural. Sendo assim, cada indivíduo é considerado como alguém que, na sua singularidade, tem valor intrínseco [...], numa democracia genuína são as instituições que estão a serviço dos indivíduos, e não o contrário. Devem-se assim valorizar as diferenças individuais, proporcionando-se às condições favoráveis à livre associação entre indivíduos.

Observamos que cada indivíduo está inserido em um determinado grupo social e cada grupo social é constituído por uma determinada educação, crença ou cultura, ou seja, diversos são os objetivos que estes indivíduos possuem, cabe as instituições escolares potencializar os princípios democráticas no seu âmbito que é o educacional, como uma forma de valorizar o aluno como sujeito do espaço escolar, possibilitando a participação do mesmo na sistematização das informações em conhecimento.