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5. ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES

5.5. A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O termo 'tecnologia médico-hospitalar' é muito abrangente e são muitas as aplicações das novas tecnologias nas organizações hospitalares. Vários autores têm realizado, nos últimos anos, pesquisas para classificar as tecnologias visando ampliar o conhecimento na área e facilitar seu estudo (AUSTIN e BOXERMAN, 1997; SHORTLIFE, 1990; TACHINARDI, 2000). PAES (2003) fez um levantamento bibliográfico sobre esses trabalhos e concluiu que as tecnologias da informação na área médica podem ser classificadas em quatro categorias distintas:

(1) Administrativa: esta categoria engloba as tecnologias e, em especial os sistemas, de suporte às atividades hospitalares. Como exemplo pode- se mencionar os sistemas destinados a aprimorar a eficiência administrativa, tais como os de finanças, de recursos humanos, de controle de estoques, de planejamento estratégico, de marketing e os

ERPs (pacotes integrados de planejamento de recursos).

(2) Clínica: inclui as tecnologias utilizadas nas diversas etapas do processo de interação entre o paciente e o médico. Esta categoria inclui as tecnologias para diagnóstico (como por exemplo, os aparelhos e

softwares de ressonância magnética e de ultra-sonografia) , para

tratamento intensivo que acompanham o estado físico do paciente) e para tratamento (por exemplo, os equipamentos de aplicação de radioterapia). Adicionalmente, alguns autores incluem neste grupo as ferramentas de coleta e armazenamento de informações clínicas sobre o paciente, tais como o prontuário eletrônico e os sistemas de decisões, ou sistemas especialistas (SHORTLIFE, 1990). Estes últimos podem, ainda, ser classificados em sistemas de apoio à decisão, que são aqueles que definem um planejamento de diagnóstico ou terapia através da análise de dados por parte dos médicos ou sistemas de tomada de decisão, que são aqueles que utilizam, além dos dados, técnicas de inteligência artificial e estatística para sugerir soluções médicas.

(3) Social: esta categoria engloba as tecnologias, em especial a internet, que apóiam a disseminação da informação médica para o público em geral. Segundo TACHINARDI (2000), a internet permite a democratização da saúde ao colocar recursos para um universo virtualmente ilimitado de pessoas e é um poderoso promotor da saúde ao disseminar informações de conscientização e prevenção de doenças.

(4) Científica: estariam classificadas neste grupo as tecnologias que permitem à comunidade científica organizar e distribuir seus conhecimentos. A internet tem facilitado a troca de informações entre profissionais da saúde e enriquecido os debates na área. Adicionalmente, dentro de um mesmo hospital, o uso de tecnologias da informação permite a organização, sistematização e disseminação de conhecimentos, o que enriquece a medicina baseada em evidências e permite a redução de riscos e erros na assistência aos pacientes.

É relevante destacar que as categorias estabelecidas por PAES (2003) auxiliam na análise e compreensão do fenômeno, mas não devem ser interpretadas com rigidez. Por exemplo, o prontuário eletrônico, apesar de constituir um instrumento clínico de acompanhamento do paciente e de apoio às decisões médicas está, também, relacionado às outras categorias. Isto é, fornece e recebe informações financeiras, de estoque e de reações medicamentosas para pesquisa, entre outras. Segundo DEGOULET E

FIESCHI (1997) o prontuário eletrônico é uma ferramenta de comunicação no ambiente hospitalar e deve apresentar uma integração semelha nte aos outros sistemas que integram a organização, tais como os da farmácia e de finanças. Os prontuários eletrônicos podem abranger os cuidados direto do paciente, a administração e gerenciamento dos tratamentos, os reembolsos e as cobranças e, finalmente, a pesquisa. Portanto, esta tecnologia tem o potencial de permear toda a organização e todas as categorias descritas por PAES (2003).

A implementação de tecnologias médico-hospitalares da categoria administrativa e alguns sistemas da categoria clínica, tais como sistemas de apoio à decisão e os prontuários eletrônicos, têm obedecido à lógica tradicional de teoria da administração. Ou seja, as tecnologias têm sido incorporadas com o objetivo de reduzir custos, aprimorar a eficiência administrativa e permitir a expansão da produção. Como conseqüência, a implementação dessas tecnologias na organização hospitalar tem, como resultado, efeitos similares aos observados em organizações de outras indústrias e são contemplados pela teoria organizacional existente.

Entretanto, as tecnologias das outras categorias, em especial as da área clínica, fazem emergir novos problemas não contemplados, integralmente, pela teoria organizacional ou por teorias de administração hospitalar. Podem ser mencionados os aumentos dos custos da saúde, o aumento da complexidade organizacional e o aumento da incerteza, todos aspectos relevantes para as organizações hospitalares e seus profissionais.

A incorporação de novas tecnologias médicas, tais como os equipamentos de diagnósticos por imagem e os de tratamento de radioterapia, permitiram avanços significativos no diagnóstico precoce e tratamento de doenças crônicas, como o câncer. No entanto, os investimentos financeiros requeridos para adquirir, manter e atualizar essas tecnologias são crescentes, o que traz um problema para a saúde financeira da instituição e, mais importante, restringe o acesso de uma grande maioria da população a esta modalidade da saúde.

O aumento na complexidade organizacional, oriunda do emprego de novas tecnologias, é tanto técnica quanto social. As tecnologias disponibilizam uma quantidade enorme de novas informações clínicas que precisam ser compreendidas e pesquisadas para que seu potencial de cura seja explorado. Como conseqüência, as profissões da saúde tornam-se mais especializadas, há um número maior de profissões envolvidas no processo da assistência e, finalmente, há uma crescente divisão de trabalho. Como exemplo, pode-se mencionar o trabalho do médico radiologista. Antes do advento das novas tecnologias, a atividade deste profissional era quase artesanal. Ou seja, o médico, com o auxilio de um assistente, realizava todo o procedimento do exame e era capaz de analisar todos os órgãos. Atualmente, a tecnologia tornou o processo muito complexo e é impossível o médico realizar todo o procedimento. Assim, profissionais técnicos, enfermeiros ou biomédicos passaram a se responsabilizar pela execução do exame enquanto os médicos se ocupam da etapa de diagnóstico, única e exclusivamente. Adicionalmente, há uma especialização dos médicos por tipo de exame (por exemplo, ressonância magnética ou medicina nuclear) e por tipo de órgão.

Do aumento da complexidade organizacional decorre, também, o aumento da incerteza, pois há uma disponibilidade maior de informações para ser manipulada e um número maior de pessoas envolvidas no processo da assistência, deixando-o mais suscetível a erros.