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6. METODOLOGIA

6.2. A PESQUISA

6.2.2. A Pesquisa de Campo

6.2.2.2. Levantamento e Análise de Dados

A metodologia utilizada para levantamento e análise dos dados foi indutiva. Isto é, baseou-se no processo proposto por EISENHARDT (1989) para desenvolver novas teorias ou expandir teorias existentes a partir de estudos de caso.

Em primeiro lugar definiu-se uma pergunta ampla de pesquisa: "como as organizações hospitalares e seus membros reagem ao aumento da complexidade social originada pela implementação de novas tecnologias?". A pergunta permitiu estabelecer o foco da pesquisa e definir o levantamento bibliográfico, o tipo de organização a ser estudada e os tipos de dados a serem levantados. Para EISENHARDT (1989), esta pergunta é um ponto de partida e deve ser interpretada como uma tentativa, não como um objetivo definitivo, uma vez que a mesma poderá ser modificada no decorrer da pesquisa em função de novas descobertas. De fato, no decorrer da pesquisa, o objetivo definitivo tornou-se mais específico, conforme o exposto na seção 6.2.1 deste trabalho.

Uma vez definida a pergunta, procedeu-se à escolha dos casos a serem estudados. Alguns autores da área de organizações defendem que, para estudos de caso, a amostragem deve ser teórica (EINSENHADT, 1988; GERSIK, 1988; PETTIGREW, 1988) e não estatística, pois dado o número

limitado de casos que realmente podem ser estudados, é importante escolher aqueles nos quais o processo de interesse seja transparente e evidente. Desta forma, o objetivo da amostragem teórica é selecionar os casos que tenham uma alta probabilidade de replicar ou expandir a teoria emergente.

A instituição pesquisada foi selecionada por fazer parte de um pequeno grupo de hospitais no Brasil que vem realizando investimentos importantes em novas tecnologias, na ordem de 2% a 5% do faturamento anual nos últimos dez (10) anos (GIURLIANI, 2002). Além disso, a instituição é conhecida no mercado por possuir as mais modernas tecnologias médicas bem como sistemas sofisticados de informações hospitalares. A escolha dos quatro (4) casos que foram estudados dentro do hospital se deu após a realização de entrevistas não estruturadas com profissionais da gerência administrativa, da gerência de tecnologia, de médicos e de funcionários não-médicos. Este processo foi conduzido visando identificar as tecnologias médicas e/ou administrativas que tivessem afetado, de maneira significativa, a organização e o trabalho de seus membros nos últimos dez (10) anos.

Foram priorizadas as tecnologias implementadas recentemente (últimos dois (2) anos), ou as áreas que recebem atualizações tecnológicas continuamente. Assim, foram selecionados os seguintes casos para a pesquisa: o serviço de radioterapia, o serviço de diagnóstico por imagem, a centralização da farmácia (Pyxis e Dose Unitária) e o projeto piloto do palm (computadores de mão). O prontuário eletrônico implementado em 2000, o MedTrak, não foi objeto deste trabalho por já ter sido pesquisado por outro autor (MURAHOVSCHI, 2000), entretanto, seus impactos sobre a centralização da farmácia e o projeto piloto do palm foram analisados. Informações detalhadas sobre a instituição pesquisada, bem como sobre as tecnologias analisadas estão no capítulo 7 deste trabalho.

Os dados foram colhidos a partir de três fontes: entrevistas não estruturadas, observação não participativa e análise de documentos. O princípio da triangulação (EISENHARDT, 1988, YIN, 2000) permitiu uma comparação contínua dos dados das diferentes fontes para validação dos mesmos. As entrevistas e as observações representaram as principais fontes de

informação, já que poucos documentos foram disponibilizados para análise. Procurou-se conduzir entrevistas e observar o trabalho de pessoas que se enquadrassem em uma das seguintes categorias:

(1) Funcionários ou ex-funcionários do hospital que participaram do processo de decisão para implementar a nova tecnologia;

(2) Pessoas envolvidas diretamente nos processos de análise, compra e/ou desenvolvimento e implementação das novas tecnologias;

(3) Funcionários que fazem uso das novas tecnologias;

(4)Funcionários que tiveram seus trabalhos afetados direta ou indiretamente pelas novas tecnologias;

(5) Profissionais da gerência executiva do hospital.

Finalmente, buscou-se manter a representatividade das diversas funções e profissões em cada um dos estudos de caso.

Um questionário base (anexo A1), contemplando os principais temas de interesse a serem explorados, foi preparado e usado como guia durante as entrevistas, que tiveram uma duração média de uma (1) hora e trinta (30) minutos a duas (2) horas cada. No entanto, com o avanço da pesquisa, os temas tornaram-se mais claros e o mapa conceitual mais preciso, o que permitiu a exploração de várias maneiras de fazer as questões para invocar os dados necessários para o estudo. Segundo EISENHARDT (1989), uma das principais características de um estudo de caso, para desenvolver novas teorias ou expandir teorias existentes, deve ser a liberdade de se fazer ajustes ao longo do processo de coleta de dados a fim de aproveitar oportunidades que ampliam a compreensão do fenômeno em questão. Nas palavras da autora,

"…esta flexibilidade é um oportunismo controlado através do qual os pesquisadores aproveitam a singularidade de um caso específico e a emergência de novos temas para melhorar a teoria." (EINSENHARDT, 1989,

p.539).

Os entrevistados foram informados sobre a natureza do trabalho, sabiam que o pesquisador estava realizando as entrevistas para uma tese de doutorado e

foram assegurados de que seus cargos, nomes e o conteúdo das entrevistas permaneceriam confidenciais. As entrevistas foram gravadas e anotadas com a permissão dos entrevistados. Apenas alguns participantes solicitaram que não fosse feita a gravação, neste caso foram mantidas apenas as anotações. Após a realização das entrevistas, anotações adicionais do pesquisador foram preparadas para registrar suas impressões e reações iniciais.

O método de observação passiva foi aplicado para complementar as informações obtidas através das entrevistas. Em cada um dos estudos de caso foram observadas situações específicas de trabalho, consideradas relevantes para o levantamento de dados. Por exemplo, no estudo de caso da centralização da farmácia foram observados os profissionais trabalhando com as novas tecnologias, reuniões do comitê gestor das novas tecnologias e os médicos e enfermeiras conversando em suas salas de apoio. Detalhes sobre as características dos entrevistados, as situações observadas e os documentos analisados para cada estudo de caso estão no capítulo 7 deste trabalho.

A análise dos dados ocorreu em duas etapas: (1) análise dentro do estudo de caso; e (2) análise entre os estudos de casos. A primeira etapa consistiu em analisar, em detalhes, cada caso isoladamente e descrevê-los para posteriormente analisar os principais temas que emergiram. De acordo com EISENHARDT (1989), não existe uma maneira única de abordar a análise de casos. Cada pesquisador deve selecionar aquela que lhe permita familiarizar- se, o máximo possível, com o fenômeno em estudo. A segunda etapa consistiu em preparar uma análise entre os estudos de caso visando compará-los para identificar similaridades e padrões de comportamento de dados. Para autores como EISENHARDT (1989) E YIN (2001) esta segunda etapa, quando bem conduzida, permite que o autor evite o perigo de tirar conclusões precipitadas ou baseadas em poucos dados, ou seja, assegura maior confiabilidade às conclusões finais.

Finalmente, os padrões de dados que emergiram com a análise dos estudos de casos foram comparados com as teorias existentes na área de Teoria das Organizações e Administração Hospitalar. Perguntou-se: Com quais teorias os resultados se assemelham? Que teorias os resultados contradizem? Em caso

afirmativo, por quê? Foram analisadas teorias que discutiam resultados similares em contextos de organizações hospitalares e não-hospitalares e teorias cujos resultados estavam em conflito com os dados encontrados. Essa etapa é importante para validar as conclusões e aumentar a confiabilidade dos dados. Conforme descreve EISENHARDT (1989):

"Em todas os tipos de pesquisa é importante vincular os resultados à literatura existente, porém, é crucial quando se trata de desenvolver teorias ou expandir teorias existentes a partir de estudos de casos pois, os resultados, freqüentemente, repousam em um número limitado de estudos. Nesta situação, toda corroboração da validade interna dos dados ou das generalizações feitas representa uma melhoria." (p.544).

Em resumo, procurou-se desenvolver um trabalho de campo que propiciasse as condições necessárias para elucidar as várias perspectivas sobre o objeto de estudo e que, ao mesmo tempo, fornecesse o rigor científico requerido nas pesquisas qualitativas. O método indutivo permitiu uma interação contínua entre teoria e dados o que, na perspectiva de autores como EISENHARDT (1989), WEICK (1995a) e ZUBOFF (1988), contribui de maneira significativa para ampliar a discussão teórica na área de organizações.