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A Forte Influência da Faculdade de Direito de Coimbra na Formação

8.2 O FORMALISMO NO ENSINO JURÍDICO

8.2.1 A Forte Influência da Faculdade de Direito de Coimbra na Formação

Os Cursos acabaram sendo instituídos em Olinda, Pernambuco, e São Paulo. Não há negar a aproximação entre estes Cursos e aquele que era então ministrado na Faculdade de Direito de Coimbra. Tanto isso é verdade que as Faculdades de Olinda e São Paulo foram criadas com os mesmos Estatutos da influente faculdade portuguesa, e as semelhanças encontradas entre elas iam muito além disso, alcançando a grade curricular e os métodos filosóficos de ensino, referenciados na mesma orientação jurídico-pedagógica. O Direito Natural ocupava o primeiro dos cinco anos do curso.

A aproximação dos Estatutos de faculdades brasileiras com os de Coimbra também revelava o destaque da aplicação do Direito Romano, mais de perto no que se referia ao usus modernus que dele podia-se fazer.

A forte influência da Faculdade de Direito de Coimbra sobre os novos Cursos brasileiros pode ser constatada também pela formação de seu corpo docente. Todos os professores das novas Escolas de Direito no Brasil, por regra absoluta, eram graduados em Coimbra, alguns deles inclusive eram de nacionalidade portuguesa. Durante o período inicial de funcionamento dos cursos até a década de 1870, deu-se a emergência de novos intelectuais gerados a partir da escola pernambucana, com destaque para os sergipanos Tobias Barreto e Sílvio Romero.

Nessa mesma pegada de relevância, diversos bacharéis formados em Recife/Olinda e em São Paulo estreitaram ainda mais a ligação entre o Direito e a Política. Tanto isso é verdade, que muitos bacharéis chegaram à vida pública presidindo suas então províncias. Era franca a estratégia política do Império com

fincas no treinamento administrativo e no controle pedagógico das ações do Estado. Diversos funcionários públicos, administradores de empresas, burocratas de toda ordem, além de parlamentares, constituíram-se em uma gama requintada de ex- alunos dos cursos de Olinda e São Paulo, e, todos, com formação influente da Faculdade de Coimbra.

Os cursos de Direito no Brasil foram tomando espaços cada vez maiores no contexto sócio-político nacional. Como sabido, os bacharéis formados nas Faculdades de Direito de Olinda/Recife e em São Paulo desempenharam papéis de extrema importância na administração pública, nos foros em geral, na vida política, seja no Poder Legislativo, seja no Executivo. Não foi à toa que vários presidentes brasileiros tiveram assento nos bancos dessas faculdades históricas brasileiras.

Com base no contexto de implantação e formação do ensino jurídico brasileiro aqui apontado, seja de um Direito elitista, seja de um direito a serviço do Estado, descompromissado com os anseios da sociedade brasileira, observa-se um desvirtuamento dos objetivos institucionais desde a criação de cursos jurídicos no Brasil, a culminar com um leque de consequências danosas à formação acadêmica do bacharel em Direito.

Os danos vão desde da consolidação de um ensino codificado, dogmático e estritamente positivista, à limitação da capacidade de observar o contexto social em que o aluno está inserido e a necessidade de transformação e constante adaptação do Direito ao mundo ao seu redor.

O conhecido e antigo professor de terno e gravata vermelha não se preocupa em ensinar o aluno a desenvolver e suscitar raciocínios de forma crítica, questionadora e reflexiva. Não ensina o aluno a pensar o direito como meio de construir uma sociedade mais justa, que requer profissionais do direito e, em

especial, dos magistrados, com uma visão de mundo conectada às intensas mudanças vivenciadas pelo direito e pela sociedade.

O ensino positivista e dogmático tem formado juristas-técnicos, meros aplicadores da lei ao caso concreto, incapazes de compreender que o direito não é estático e que anda de braços dados com uma diversidade de conflitos sociais cada vez mais inusitado.

Somado a isso um gama de outros problemas precisam ser apontados a exemplo da ausência de técnicas e métodos de ensino e aprendizagem; a falta de preocupação com a metodologia de ensino; o recurso ao autodidatismo; o descaso dado a disciplinas como hermenêutica jurídica; de uma estrutura curricular eminentemente privatista, ao desprezo do direito com um sistêma dinâmico e, por conseguinte, o distanciamento entre o conteúdo proferido em sala de aula e a realidade e os anseios do povo brasieiro.

Diante desse cenário é que se impõe uma reformulação do ensino jurídico brasileiro, superando-se a cultura técnico-profissionalizante baseada em rígidos limites formalistas e dogmáticos, com a introdução de um novo modelo respaldado em um conhecimento crítico, reflexivo, multidisciplinar e preocupado com a função social do direito com a dinâmica das relações sociais.

Atento a esse problema o Conselho Nacional de Justiça editou a resolução 75 de 2009, estabelecendo como obrigatórias, nas provas de concurso para o ingresso na carreira da magistratura, questões envolvendo “Noções Gerais de Direito e Formação Humanística”, aí incluindo sociologia do direito, filosofia judiciária, psicologia juridical, teoria geral do direito e da política.

Vê-se que a referida inclusão objetiva de forma patente atender ao clamor da sociedade por um direito mais humano, mas efetivo, mais justo, tudo o que só poderá se concretizar se o aplicador do direito tiver uma formação humanística capaz de ser sensível às transformações da sociedade e a plasticidade do direito que deixa de ser simples subsunção do fato a norma.

Nesse entender é que os cursos de direito precisam chamar para si a responsabilidade de formar profissionais compromissados com a sociedade numa visão mais humana, e romper com as amarras do formalismo e dogmatismo.

O Direito não pode mais ser visto como outrora, onde as relações se consolidavam e duravam anos sem serem rompidas. Enquanto isso a classe dominante e o Estado preparavam juristas da Elite para satisfazer aos seus interesses de manutenção do status quo.

Uma releitura deve ser dada ao direito, não mais servindo como simples instrumento de pacificação social, mas como meio de direção e de transformação social.

O formalismo que impregna o direito e a linguagem quase inacessível precisa ser revista, a possibilitar ao cidadão a compreensão do que lhe foi violado e os mecanismos de defesa do mesmo.

Para a formação de bacharéis em direito comprometidos com as causas sociais, é indispensável que seja estimulada a sua consciência crítica sobre o direito que lhe é revado e transmitido.

O aluno, futuro operador do direito deve ser conscientizado da importância de seu papel em uma sociedade dinâmica, desigual e desumana. Será ele o responsável pelo direito aplicado de forma humanitaria ou autoritária.

Assim, faz-se imperioso romper com o ensino jurídico tradicional das faculdades de direito e implanter um ensino voltado a realidade e ao estímulo da consciência crítica do aluno, para que o mesmo possa contribuir para uma sociedade mais justa e harmonica.