• Nenhum resultado encontrado

9.2 TÉCNICA DE GERENCIAMENTO DE PROCESSOS

9.2.1 O Judicial Case Management Norte-Americano

O gerenciamento de processos judiciais originou-se do Case Management, um movimento americano do início da década de 40, como prática médica de pagamento por procedimentos, consolidando-se nos anos 90, com os sistemas integrados de prestação de serviços de saúde. O Gerenciamento de Caso (GC) consiste em escolher uma “equipe de saúde que se responsabiliza pela atenção do paciente durante todo o processo clínico e faz julgamentos sobre a

202

Ibidem, p. 36.

203

Disponível no site do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, endereço eletrônico: http://www.cnj.jus.br/images/pesquisasjudiciarias/Publicacoes/rel_completo_estadual.pdf, acesso em 24 de abril de 2013.

204

necessidade da atenção e sobre os serviços prescritos e recebidos”.205

Essa equipe tem incumbência de coordenar a atenção à saúde por meio de todos os serviços e instituições que compõem um sistema de saúde, determinar o nível adequado da prestação dos serviços e de verificar o cumprimento do plano de tratamento pelo paciente. Portanto, a função essencial do gerente de caso é a advocacia do doente e seu principal instrumento de trabalho, a comunicação.206

Trazendo para o direito, as Cortes Americanas passaram a adotar o sistema de gerenciamento com o fim de reduzir o congestionamento processual em busca da eficiência e efetividade da prestação jurisdicional.

O Civil Justice Reform Act, de 1990, foi aprovado pelo Congresso norte- americano estabelecendo que cada tribunal distrital deveria organizar um comitê para estudar o problema da morosidade que afetava o sistema judicial da época e encaminhar recomendações para a redução de custos e do tempo do processo. Como se não bastasse, foram alteradas as Federal Rules of Civil Procedure, estabelecendo que o juiz deveria planejar todo o percurso do processo individualmente, caso a caso, desde o início ao final, prevendo os atos necessários, elaborando cronograma e distinguindo o procedimento de acordo com a complexidade da demanda.207

Ao receber o processo pela primeira vez, deve o Juiz elaborar uma espécie de agenda, onde irá estabelecer um cronograma dos atos a serem praticados. Assim esclarece Paulo Eduardo:

A programação do procedimento (schedule) chama a atenção. Em alguns modelos o juiz chega a estabelecer um espécie de cronograma dos atos processuais: um quadro detalhado com os prazos para citação, aditamento da inicial, eventual inclusão das partes, apresentação de reconvenção, produção e apresentação de provas, perícias, audiências e, inclusive, data para o julgamento. Isso pode ser feito no despacho inicial ou na audiência preliminar. A recomendação legal é para que o cronograma somente seja alterado em situações absolutamente excepcionais.208

205

Gerenciamento de caso: um novo enfoque no cuidado à saúde. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692003000200013&script=sci_arttext. 206 Idem. 207 Ibidem, p. 38. 208 Ibidem, p. 39.

O gerenciamento de processo, consoante já mencionado, também tem como método a triagem de casos (screening process), permitindo separar logo de início os casos complexos daqueles simples e que possuem entendimento pacífico. Também são diferenciados os casos de acordo com o conjunto de provas necessárias, com a urgência da tutela, e com a possibilidade de realização de acordo.

Essa diferenciação é de extrema importância para desafogar o Poder Judiciário. Pelo sistema processual em vigor no Brasil, ressalvadas algumas especialidade em face do valor da causa e das partes envolvidas no litígio, os rumos a serem seguidos são os mesmos para as causas que discutem uma questão constitucional de relevância e para outras que versam sobre direito de vizinhança e cujo objeto é a divisão dos frutos da árvore limítrofe.

Também não há diferença procedimental quando se tem de um lado uma ação que envolva um dano ambiental e, por isso, de interesse de toda a sociedade, daquela em que se discute a responsabilidade civil pela inscrição indevida de uma única pessoa no serviço de proteção ao crédito.

Interessante observar que é o Juiz é obrigado, no processo do trabalho, a fazer duas tentativas de conciliação, sob pena de nulidade processual, sendo uma antes e outra no final da instrução processual. Já no processo civil comum essa tentativa de conciliação não é tão rigorosa, mas, no entanto, é designada audiência específica para essa finalidade. Ou seja, o processo fica meses parado em cartório aguardando a data da audiência de conciliação, essa via de regra é frustada, e outros tantos meses se passam para que os autos conclusos seja impusionados pelo juiz no sentido de dar o saneamento.

Observe-se que o formalismo rígido adotado pelo processo do trabalho no caso em comento não pode ser considerado valorativo a medida que não se

adaptou ao tempo em que se vive, onde o Estado não precisa tutelar direito disponível do trabalhador a ponto de prejudicar o curso do processo com a declaração de nulidade de todos os atos posteriormente praticados ao acordo não tentado pelo juiz. Essa proteção, na verdade, já não se faz mais necessária na sociedade atual, sendo muito mais condizente com o escopo de harmonização do processo que a tentativa de conciliação possa acontecer a qualquer momento, por iniciativa das partes, por incentivo do juiz, sem que haja qualquer cominação de nulidade muitas vezes prejudicial as partes e ao regular andamento processual.

No tocante a Justiça comum, o exemplo dado mostra que o custo e o tempo não vem sendo observado nos processos em que não se vislumbra a possibilidade de acordo. A ausência de triagem faz com que, em que pese não gerar nulidade, sejam marcadas audiências de conciliação quando se encontra no pólo passivo empresas que são consideradas usuárias habituais da justiça (conhecidas como repeat-players) e que já é do conhecimento dos juízes que elas têm por prática não celebrar acordos e promover incidentes processuais desnecessários para protelar ao máximo o deslinde da questão.

Por fim, retomando ao modelo americano, cumpre observar ainda que as partes também colaboram com o sistema de triagem. Quando do início do processo as partes devem apresentar um resumo de suas alegações e sugerir o caminho pelo qual seu processo deve percorrer. Essa participação efetiva segue os padrões defendidos por Gajardoni de contraditório útil, aqui já definido.209