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Na terceira fase metodológica, há uma alteração do modo tecnicista de visão do processo, passando a ser encarado como instrumento de realização do direito material a serviço da harmonia social.46 47

Propaga o instrumentalismo que o processo não é um fim em si mesmo, mas, um meio para se atingir um fim. Cresce a preocupação dos processualistas brasileiros com os resultados do processo e com uma jurisdicional adequada.

Há, também, o importante reconhecimento de que o processo tem como destinatários os jurisdicionados. Assim, são inseridos valores ao processo e ocorre a sua integração ao meio social.48

46 “A perspectiva instrumentalista do processo assume o processo civil como um sistema que têm

escopos sociais, políticos e jurídicos a alcançar, rompendo com a idéia de que o processo deve ser encarado apenas pelo seu ângulo interno. Em termos sociais, o processo serve para persecução da paz social e para educação do povo; no campo político, o processo afirma-se como um espaço para afirmação da autoridade do Estado, da liberdade dos cidadãos e para participação dos atores sociais; no âmbito jurídico, finalmente, ao processo confia-se a missão de concretizar a vontade concreta do direito” In: Daniel Francisco Mitidiero, Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos, cit. p. 35-36..

47 Daniel Mitidiero explica a introdução de novos escopos ao processo: “A perspectiva instrumentalista

do processo assume o processo civil como um sistema que têm escopos sociais, políticos e jurídicos a alcançar, rompendo com a idéia de que o processo deve ser encarado apenas pelo seu ângulo interno. Em termos sociais, o processo serve para persecução da paz social e para educação do povo; no campo político, o processo afirma-se como um espaço para afirmação da autoridade do Estado, da liberdade dos cidadãos e para participação dos atores sociais; no âmbito jurídico, finalmente, ao processo confia-se a missão de concretizar a 'vontade concreta do direito'. Essa nova postura conceitual pressupõe a relativização do binômio direito material e processo, uma maior interação entre a Constituição e o direito processual civil e a colocação da jurisdição como instituto-centro do sistema processual. Processo como instrumento mais aderente ao direito material, de matriz constitucional e com a jurisdição posta como novo pólo metodológico do direito processual civil”. Idem.

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“A negação da natureza e objetivo puramente técnicos do sistema processual é ao mesmo tempo afirmação de sua permeabilidade aos valores tutelados na ordem político-constitucional e jurídico- material (os quais buscam efetividade através dele) e reconhecimento de sua inserção no universo

Leciona Cândido Rangel Dinamarco que:

O processualista moderno adquiriu a consciência de que, como instrumento a serviço da ordem constitucional, o processo precisa refletir as bases do regime democrático, nela proclamados; ele é, por assim dizer, o microcosmo democrático do Estado de Direito, com as conotações da liberdade, igualdade e participação (contraditório), em clima de legalidade e responsabilidade.49

O processo deixa de ser um ente inanimado, passando de um estado de neutralidade ideológica para um necessário comprometimento com os valores presentes nos institutos processuais, atrelado aos resultados sócio econômicos e políticos que um processo e uma decisão proferida por um juiz pode repercutir.50

Dentro dessa visão instrumentalista do processo, o juiz deve estar conectado com os valores presentes na sociedade em que vive, permitindo que esta carga axiológica o contamine na condução do processo e na aplicação das regras e princípios constitucionais.51

axiológico da sociedade a que se destina. As premissas culturais e político-jurídicas da atualidade repelem, v.g., a distinção da eficácia probatória do testemunho, a partir do status societatis de quem o presta; repelem também o valor das provas legais de fundo supersticioso, que nos soam como pitoresca reminiscência do obscurantismo medieval; de palpitante atualidade é a questão das provas obtidas por meio ilícito, que a preservação das liberdades constitucionalmente asseguradas levou o Constituinte a proibir que sejam acolhidas no processo. Na experiência brasileira mais recente temos o modo como os tribunais vieram a repensar o princípio da demanda e o da fidelidade da liquidação à sentença liquidanda: foi preciso, sem ultrajar substancialmente esses princípios, repudiar a interpretação nominalista da demanda civil de conteúdo pecuniário, bem como da sentença que a acolhe -, para permitir a atualização dos valores monetários e defender o credor eficazmente do mal inflacionário. Outra relevantíssima ilustração da afirmada infiltração de valores na vida dos processos é dada pelo modo prudente como os tribunais brasileiros dimensionaram o efeito da revelia: nem mesmo a intenção manifesta do legislador, em preceitos trazidos ao ordenamento positivo no corpo do Código de Processo Civil, foi capaz de determinar a aplicação rígida dessa rigorosíssima sanção processual, com as injustiças e distorções a que daria causa e sem o fiel cumprimento dos propósitos a que institucionalmente voltado o processo e o exercício da Jurisdição” In: Cândido Dinamarco, A instrumentalidade do processo, p. 23-24.

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ibidem, p. 27.

50

Ibidem, p. 41.

51 É interessante observar a proximidade teórica do que se fala com a realidade praticada pelo Tribunal

Superior do Trabalho (RR-744914-2001.3, julgado em novebro de 2009) ao mitigar uma regra de competência absoluta, prevista no artigo 651 da CLT. Para melhor compreensão, leia-se o texto que segue: “O Tribunal Superior do Trabalho, em julgamento proferido por sua primeira Turma, em sede de recurso de revista, decidiu ser viável o ajuizamento, pelo trabalhador, de reclamação trabalhista fora do local da prestação do serviço. Com isso, a Corte excepcionou a regra geral de fixação da competência territorial prevista no caput do artigo 651 da CLT. O caso decidido é referente a bancário aposentado, que ajuizou a reclamação trabalhista em seu domicílio, com vistas a receber diferenças de complementação de aposentadoria.

Conforme noticiado pelo TST, a nulidade arguida pelo empregador foi afastada, porque o local eleito para ajuizamento da reclamação 'não trouxe prejuízo a

Na análise do contexto cultural, observa-se que o Estado-providência não se compatibiliza com um processo eminentemente técnico e cientifico. Dinamarco afirma que "é natural que, como instrumento, o sistema processual guarde perene correspondência com a ordem constitucional a que serve, inclusive acompanhando as mutação por que ela passa. Continua acrescentando que:

Em princípio o processo acompanha as opções políticas do constituinte, as grandes linhas ideológicas abrigadas sob o pálio constitucional. 'Os sistemas políticos se refletem na norma constitucional e têm um efeito direito sobre as bases do direito processual.' Compreende-se, pois, que o processo do Estado liberal não possa sobreviver nos regimes socialistas, nem esteja mais presente no Estado ocidental contemporâneo, de cunho social. O processo acompanha as opções políticas do constituinte. O processo que nos serve hoje há de ser o espelho e salvaguarda dos valores individuais e coletivo que a ordem constitucional vigente entende de cultuar. Os princípios que elainclui não podem ter no presente a mesma extensão e significado de outros tempos e regimes políticos, apesar de eventualmente inalterada a formulação verbal.52

É nessa seara que as necessidades sociais clamam por um processo eficaz e célere, mais político e social. Já não se concebe a noção de processo nenhuma das partes', uma vez que 'o direito vindicado é matéria de índole estritamente jurídica e encontra origem em regulamento de âmbito nacional, aprovado pelo Banco'. Acrescentou, ainda, que 'a anulação dos atos decisórios e o encaminhamento do feito a outra Vara do Trabalho implicaria mero capricho processual, uma vez que o direito de defesa foi plenamente exercido, não havendo necessidade de produção de prova no local da prestação de serviços'. Reputamos absolutamente correta a decisão proferida pelo TST. Com efeito, é certo que a fixação da competência no âmbito da Justiça do Trabalho tem como regra geral o local da prestação dos serviços, conforme disposição constante do artigo 651, caput, da CLT. Sucede que referida regra tem por escopo “ampliar ao máximo o acesso do trabalhador ao Judiciário, facilitando a produção de prova, geralmente testemunhal”.1 Realmente, ao estabelecer o local da prestação dos serviços como parâmetro para a fixação da competência territorial, o legislador adota a presunção de que o empregado reside na mesma localidade em que trabalha. Por essa razão, o artigo 651, caput, da CLT destina-se a facilitar a prova por parte do empregado, evitar a assunção de despesas de locomoção e, com isso, viabilizar, de forma plena, o acesso à Justiça, conferindo máxima eficácia ao direito fundamental inscrito no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição. Trata-se, como facilmente se vê, de norma voltada à proteção do trabalhador, haja vista a sua posição de hipossuficiente na relação jurídica trabalhista. Por essa razão, a regra inscrita no artigo 651, caput, da CLT não pode ser aplicada de modo a dificultar-lhe o acesso ao Judiciário. No caso decidido pelo TST, a presunção em que se assenta o artigo 651, caput, da CLT não se revela presente. A relação de emprego existente entre as partes já havia terminado, tendo em vista tratar-se de reclamação trabalhista proposta por trabalhador aposentado. Por outro lado, eventual alteração da competência territorial não provocaria nenhum cerceamento ao direito de defesa do empregador, haja vista estar a controvérsia adstrita a matéria exclusivamente de direito, assentada na interpretação de regulamento empresarial de âmbito nacional. Presente essa perspectiva, revela-se correto o afastamento da regra prevista no artigo 651, caput, da CLT, pois sua aplicação implicaria em desvirtuamento de sua finalidade. Realmente, não se pode admitir a utilização de norma de proteção para causar prejuízo ao seu destinatário (trabalhador), sobretudo quando invocada com o único propósito de dificultar-lhe o exercício do direito ao pleno acesso ao Judiciário (CF, art. 5º, XXXV)." Disponível em: http://alexandresl.wordpress.com/2009/11/19/reclamacao-pode-ser-proposta-fora-do- local-da-prestacao-de-servico/.

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dissociada da finalidade de implantação dos direitos sociais e da concreção dos direitos humanos.53