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O programa Profuncionário no estado do Ceará iniciou seu processo de institucionalização mediante assinatura do Acordo de Cooperação Técnica nº 002, de 21 de julho de 2006, celebrado entre o MEC, representado pela SEB e o Governo do Estado do Ceará, representado pela Seduc, conforme consta no Relatório do Profuncionário – Curso Técnico de Formação para os funcionários da Educação (CEARÁ, 2009).

No referido acordo foram fixados os princípios e compromissos dos partícipes para permitir a formação dos funcionários das escolas por meio do programa. Um dos compromissos evidenciados nesse acordo assumido pela Seduc foi coordenar, acompanhar, monitorar e executar as atividades pertinentes, conforme as orientações da Coordenação Geral.

Nesse mesmo ano a Coordenação Estadual foi composta além da própria Seduc, pela Undime Estadual, pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação representado pela Associação dos Professores de Estabelecimentos Oficiais do Ceará (Apeoc), além de outros atores sociais envolvidos nesse processo, dentre estes as prefeituras municipais e suas respectivas secretarias de educação. A estes últimos, cabia a garantia do transporte para o trajeto de ida e volta ao local de curso e ajuda de custo com a alimentação dos cursistas, compromissos nem sempre cumpridos.

Nós fizemos um termo de adesão aos secretários aderindo e dando a condição de levar o funcionário. [...] Alguns secretários cumpriram, outros não. Mesmo assim os alunos foram e concluíram. Foi um tempo difícil pelas condições e os funcionários não receberam bolsas para ir, não receberam incentivos. Depois algumas secretarias pegaram os alunos que fizeram o Profuncionário e deram um plano de cargos deles com ascensão ou reconhecimento para trabalharem em outras áreas, mas financeiramente eles não receberam, nem do estado, nem do município, assim uma bolsa, nem para deslocamento (Gestor Seduc).

A Seduc, iniciou o processo de implantação do programa em 2007, articulando-se com os as gestões municipais. Para que o curso fosse ofertado no estado foi preciso submeter sua regulamentação junto ao Conselho Estadual de Educação (CEE) para obter autorização de funcionamento.

Em fevereiro de 2008, a Seduc encaminhou a proposta do programa ao CEE contendo os seguintes itens e seus respectivos conteúdos (CEARÁ, 2009):

 Apresentação: linhas gerais do programa no estado;

 Justificativa: necessidade da formação dos funcionários não-docentes historicamente excluídos dessa oferta;

 Fundamentação e arcabouço legal: normativas legais pertinentes ao programa;  Princípios gerais que norteiam a política de formação do Técnico em educação:

ênfase no reconhecimento, na profissionalização e na valorização dos trabalhadores da educação;

 Objetivos: ofertar formação profissional nas quatro habilitações, em nível médio a distância, aos funcionários que atuam nas escolas públicas estaduais e municipais;

 Proposta pedagógica: contribuir com a formação técnica e pedagógica do funcionário da escola, colaborando coma construção de sua identidade profissional;

 Estrutura do curso: matrizes curriculares com carga horária de 1.260 horas, dividida em 360 horas no eixo da formação pedagógica; 300 horas no eixo da prática profissional supervisionada; e 660 horas no eixo técnico;

 Ementas dos módulos: tópicos relativos aos conteúdos abordados nas disciplinas conforme orientações gerais do programa;

 Perfil dos técnicos em educação: competências esperadas ao final do curso;  Metodologia:

o Oferta em 18 meses com atividades a distância e encontros presenciais, estes ocorrendo nos Polos Centrais de Tutoria (PCT) localizados nos 21 Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) distribuídos no estado do Ceará;

o Utilização do Moodle18 como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) nas atividades a distância;

o Encontros presenciais aos sábados quinzenalmente e preferencialmente no turno da manhã;

 Estrutura geral do curso: Coordenação Nacional do Curso (DASE/MEC); Coordenação Geral Pedagógica (Universidade de Brasília); Coordenação Estadual do Ceará (Seduc, Undime, CEE, Apeoc); Coordenação Executiva (Seduc); Polo Central de Tutoria; Tutores; Cursistas;

 Seleção dos cursistas: atendimento à demanda de 1.500 cursistas, 600 servidores estaduais e 900 servidores municipais das escolas públicas ocupantes dos cargos ou funções administrativas com pelo menos 2 anos de experiência no exercício da função relacionada à opção do curso escolhido, no caso: Gestão Escolar, Multimeios Didáticos, Alimentação Escolar e Meio Ambiente e Manutenção da Infraestrutura Escolar;

 Seleção dos Orientadores e Tutores: 5 Professores Orientadores, sendo 4 com graduação nas habilitações específicas e 1 Pedagogo, oriundos dos quadros da Seduc e 50 Professores Tutores preferencialmente lotados em cada NTE;  Avaliação da Aprendizagem: utilização dos instrumentais previstos no

programa, tais como o Memorial, o Relatório Final e o Registro das atividades da PPS;

 Aprovação e frequência: 60% de aproveitamento e 75% de frequência em cada módulo;

 Recuperação dos estudos: em concomitância às aulas aos alunos com aproveitamento insuficiente;

 Certificação: confecção do certificado pela Seduc conforme os critérios de desempenho satisfatório na frequência e aproveitamento dos estudos em todos os módulos somados às 300 horas da PPS e entrega do Memorial e Relatório Final;

18 Moodle é o acrônimo em inglês para “Ambiente de aprendizagem dinâmico orientado a objetos modulares”, uma plataforma de aprendizagem projetada para alunos, educadores e administradores de um sistema integrado único, robusto e seguro para criar ambientes de aprendizagem personalizados. Disponível em: https://docs.moodle.org/33/en/About_Moodle

 Avaliação: verificação do alcance dos objetivos, impactos e pertinência do programa mediante reuniões especificas articuladas em conjunto com as instituições parcerias.

Após análise da proposta, o CEE emitiu o Parecer nº 333, de 12 de agosto de 2008, autorizando a Seduc a executar e certificar os cursos do Profuncionário no âmbito do estado do Ceará. As atividades do programa iniciaram-se nos polos do interior do estado no final do primeiro semestre de 2008, portanto anterior à aprovação do referido parecer. Em Fortaleza, a oferta do curso só foi ocorrer no final de outubro do mesmo ano (CEARÁ, 2009).

A oferta do curso foi organizada a partir dos módulos de 60 h/a trabalhados mensalmente mediante encontros presenciais quinzenais sob a responsabilidade dos tutores, responsáveis pela condução das aulas e atividades nos polos, perfazendo uma carga horária total de 1.260 h/a em 18 meses. Além desses profissionais, havia os professores orientadores, os quais dentre outras atribuições, davam suporte aos tutores. A equipe também era composta de uma coordenação geral e pedagógica oriunda da Seduc, que tinha o papel de articular toda a estrutura e seus agentes envolvidos na formação.

O planejamento era assim. Primeiro a Seduc, a coordenação executiva chama os orientadores e vamos planejar o curso durante um ano, a duração do curso. Quando fizesse o planejamento da duração do curso fechando os encontros, as datas, aí nós vamos voltar, chama todos os tutores, fechando o calendário anual e o mensal. Agora nós vamos ver quais são os módulos que nós vamos trabalhar desse período. Em cima desse planejamento definimos o que é que vamos fazer agora, vamos o “como”. Como é que nós vamos fazer? Como iremos estudar esses módulos? Nós vamos planejando, os orientadores com a coordenação para estudar os módulos. Vamos estudar quais atividades são pertinentes para fazer naquele lugar. [...]Como vamos saber se deu certo? Pelo acompanhamento, de alguma forma, por telefone, por e-mail ou ligando (Gestor Seduc).

Percebemos nesse caso o desenho do planejamento num processo hierarquizado que iniciava-se a partir da coordenação geral do curso, passando pelos orientadores até chegar nos tutores. Com a delimitação das datas e períodos de oferta dos cursos, os agentes envolvidos nesse trabalho buscavam definir quais estratégias metodológicas seriam utilizadas na formação. Por fim, a avaliação desse processo ocorria pelos canais de comunicação disponíveis, pois o acompanhamento presencial dessas ações acabou não sendo evidenciado no discurso do gestor. Na composição do material didático, os módulos eram impressos e disponibilizados pelo MEC à Seduc a qual se encarrega de distribuir esse material aos alunos. Embora a oferta do curso estivesse prevista à época preferencialmente na modalidade de ensino a distância (EaD), os cursos ofertados pela Seduc ocorreram predominantemente na modalidade de ensino

presencial. As temáticas trazidas nos módulos eram discutidas e suas respectivas atividades resolvidas nos encontros ocorridos nos polos.

Como nós não tínhamos experiência com EaD prá essa formação, então o curso era presencial. Ele era semipresencial só no sentido de algumas atividades. Primeiro, ele [aluno] não tinha familiaridade com o computador, vamos dizer que oitenta por cento tinha dificuldades em ligar o computador. [...] Então ele não conhecia. Precisava uma oficina primeiro, familiarização dele com o computador. Quando ele passou por esse que era o módulo de Informática, aí ele podia fazer algumas atividades no computador, de pesquisa, de passar um e-mail para um colega, mas ele não conhecia fórum, ele não conhecia outro ambiente. [...] Nós trabalhamos em cima do material impresso. Não tivemos avaliação em EaD[...] O ensino a distância é muito bom, se ele tiver acompanhamento sistemático, ou seja, a cada atividade manter o contato porque se não, o aluno desiste porque a figura do tutor, ela é tão importante quanto o material (Gestor Seduc).

Depreende-se que, embora o curso do Profuncionário, na sua gênese, fora pensado num modelo que contemplasse a educação a distância a partir do perfil dos alunos enquanto funcionários escolares, a modalidade presencial foi predominantemente ofertada pela gestão da Seduc. Isso se justifica por conta da ausência de expertise na EaD pela própria entidade ofertante.

Além disso, é apontado de forma empírica, que a maioria dos alunos não possuía experiência nessa modalidade, nem tampouco sabia utilizar computadores. Conclui-se que esses alunos passaram por uma formação que não conseguiu efetivamente capacitá-los na utilização de tais recursos.

Em conformidade com o relatório emitido pela Seduc (CEARÁ, 2009), no primeiro semestre de 2008, o curso contava com o seguinte quantitativo, considerando os polos de oferta, tutores envolvidos na formação, alunos matriculados e cursos ofertados, conforme a Tabela 5 Tabela 5 - Quantitativo de alunos matriculados no Profuncionário da Seduc - 2008

CURSOS POLOS TUTORES ALUNOS

Interior Fortaleza Interior Fortaleza Interior Fortaleza

Gestão Escolar 28 5 28 5 824 160

Alimentação Escolar 5 1 5 1 133 22

Multimeios Didáticos 5 1 5 1 140 22

Meio Ambiente 3 1 5 1 79 22

TOTAL 41 8 41 8 1.176 226

Fonte: Elaborada pelo próprio autor a partir dos dados coletados no sistema acadêmico do IFCE.

Podemos considerar alguns dados que chamam atenção nessa tabela. Um deles refere-se à predominância das vagas referentes ao curso de Gestão Escolar, representando

aproximadamente 70% do total ofertado. Esse índice refletiu a preferência dos funcionários por esse curso, possivelmente, pela oportunidade de poder atuar na função de secretário escolar.

Outro dado relevante é a relação equitativa entre a quantidade de polos e tutores, estes preferencialmente lotados nos NTEs por onde eram constituídos os respectivos polos nos municípios onde eram ofertados os cursos. Nesse caso, os tutores tinham a possibilidade de realizar, dentre outras funções, o acompanhamento dos alunos nos encontros presenciais e plantões semanais.

O orientador e o tutor acompanharam a mesma turma durante dois anos. [...] Eu acho que isso foi uma das coisas que fortaleceu. [...] Outro ponto que a gente considerou muito importante foi o tutor ser do local. Como é que nós íamos pagar, se nós não tínhamos dinheiro para deslocamento? O tutor lá do Juazeiro era o funcionário de lá que conhecia o povo (Gestor Seduc).

Há de se considerar dois pontos que se autorrelacionam no trecho desse discurso. O primeiro, por não prever no orçamento da gestão estadual, recursos para deslocamento da equipe coordenadora e formadora dos cursos. O segundo, como consequência do primeiro, por selecionar membros da equipe formadora local, no caso, os tutores, para realizarem o acompanhamento das atividades dos alunos. Conforme o relato, isso resultou numa aproximação maior entre a turma de alunos e o responsável pela formação destes.

Esses 49 tutores tinham a supervisão de 5 professores orientadores, estes oriundos dos quadros da Seduc com formação superior nas áreas das habilitações na alimentação (Nutrição, Engenharia de Alimentos ou Economia Doméstica), no multimeios didáticos (Biblioteconomia), na gestão escolar (Administração com habilitação em Gestão Escolar ou Gestão Pública) e no meio ambiente e manutenção da infraestrutura escolar (Engenharia Civil ou Arquitetura e Urbanismo).

Os professores orientadores e tutores eram selecionados pela coordenação, onde coube ao Cefet/CE a ação de capacitar esses respectivos profissionais na atuação da formação técnica, em nível médio dos funcionários da educação pública.

Todos esses profissionais, incluso o coordenador do programa, foram custeados pelo governo do estado à conta da dotação orçamentária da Seduc pela concessão de gratificação paga em torno de R$ 400,00 (quatrocentos reais) por 20 horas-aula de trabalho mensal, conforme a Portaria GAB nº 70, de 19 de junho de 2008. Além disso, os professores orientadores e tutores selecionados eram certificados mediante uma formação ofertada pelo Cefet/CE, instituição parceira do programa no estado. Houve, por parte da equipe responsável

dessa instituição, produção de material didático para atender a finalidade específica dessa formação.

Apesar das dificuldades evidenciadas em torno da evasão dos alunos, tais como, problemas de saúde, falta de transporte para deslocamento aos polos, excesso de atividades, ausência de habilidade quanto ao uso do computador e falta de tempo, o relatório do programa coordenado pela Seduc apontou um índice de 92% de permanência dos cursistas no ano de 2008. Esse mesmo relatório destacou alguns aspectos positivos evidenciados nesse período, a exemplo da oportunidade de estudos aos servidores, da valorização do funcionário e da elevação da autoestima (CEARÁ, 2009).

O que eu considero que contribuiu foi o incentivo ao conhecimento. A necessidade da gente estar em formação. Imagine uma pessoa que é funcionário e que nunca recebeu um anúncio dizendo que agora vai ter um curso para os funcionários da escola porque por muitos anos os cursos eram direcionados para os professores e eles não faziam parte porque eles eram funcionários. A partir daí é que eles já começam a se sentir valorizados. É um curso para os funcionários. É obrigado? Não. Faz quem quer, mas a gente faz um trabalho de fazer ele compreender a necessidade de estudar. Não tão somente para se profissionalizar, mas para se realizar pessoalmente. Então quando é feito esse trabalho de conscientização antes com o aluno, ele sabe o que ele está fazendo, porque ele está fazendo e para que ele está fazendo. É diferente de lançar um edital para um curso. Eu vou se eu sentir vontade, mas ninguém disse que eu ia, mas quando eu tenho uma coordenação [...] com essa divulgação de chegar num primeiro momento de conscientizar que é bom para ele, para ele se profissionalizar é diferente de quando eu digo: “Apareceu lá um edital, mas ninguém disse nada.” Porque nós somos carentes de pessoas que digam que nós temos potencial para estudar, que nós temos potencial para mudar, para transformar a realidade que está posta (Gestor Seduc).

Está evidenciado nesse trecho que a divulgação nos locais de trabalho dos funcionários escolares ocorreu de forma presencial por meio de uma estratégia de convencimento da oportunidade de formação enquanto valorização profissional. É justificado nesse discurso que o alto índice de permanência dos alunos após o primeiro ano da oferta do curso foi motivado justamente por esses dois elementos: a divulgação presencial e o incentivo à qualificação.

Esse índice de permanência manteve-se o mesmo até a conclusão dos cursos ofertados. Conforme notícia veiculada no endereço institucional da Seduc,19 no mês de agosto

de 2010 foram formadas as primeiras turmas do Profuncionário no estado, perfazendo um total

19 Disponível em: http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/14-lista-de-noticias/1683-seduc- realiza-formatura-de-profissionais-que-participaram-do-profuncionario

de 1.285 funcionários oriundos das redes públicas estadual e municipal, contando com a adesão de 138 municípios. O alcance nos dados quantitativos possui razões variadas e origens diversas.

Esse sucesso dos alunos, eu devo ao planejamento e ao acompanhamento. Se não tiver essas duas coisas juntas, não funciona. Aí, a partir daí vem o compromisso da coordenação, do tutor, do aluno e juntos numa parceria a gente fechar que nós vamos atrás do aluno, vamos saber o que foi que aconteceu, então quando eu falo que o tutor que pega uma turma lá da localidade dele e vai conhecer os alunos do município circunvizinho e que vai trabalhar com ele durante quase dois anos, ele tem uma aproximação muito grande. Então ele conhece muito daquele aluno dele. Então isso faz o aluno não desistir porque cria elos, cria laços (Gestor Seduc).

No final desse mesmo ano, o Decreto nº 7.415/2010 institui o Profuncionário, colocando em cena os institutos federais, estes criados anteriormente por conta da Lei nº 11.892/2008. O referido decreto, além de indicá-los como componentes da coordenação estadual do programa, orientou que a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, da qual os institutos federais fazem parte, deveria ofertar os cursos do programa.

Cabe ressaltar que, embora os institutos federais estivessem na condição de responsáveis diretos por essa ação, não eram, por isso mesmo, instituições exclusivas a essa finalidade, ou seja, nenhum ato normativo impediu que as secretarias de educação continuassem a oferta dos cursos, a exemplo do que ocorreu em Mato Grosso do Sul, um dos estados pioneiros na oferta da formação a funcionários não docentes.

No ano seguinte, o programa sofreu uma reestruturação no seu gerenciamento passando da SEB para a Setec, conforme a Portaria nº 1.547/2011. Nesse mesmo ano, a Seduc divulgou uma nota de esclarecimento20 a respeito de uma reunião técnica que havia ocorrido

com representantes dos institutos federais na sede do MEC em Brasília com o objetivo de apresentar as novas orientações do programa, previsto para iniciar em novembro de 2011. A nota ainda destacava que a coordenação geral do Profuncionário no estado do Ceará passava a ficar sob a responsabilidade do IFCE e à Seduc caberia o acompanhamento das ações do programa na coordenação estadual. Nesse caso, a Seduc optou por não ofertar os cursos do programa diante desse cenário.

Esse redesenho no papel das instituições provocado por força dos atos normativos, tanto sob o ponto de vista da gestão federal como estadual gerou uma ausência na oferta dos cursos do Profuncionário no Ceará entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de

2012. Os cursos do programa foram novamente ofertados no estado do Ceará agora sob a coordenação do IFCE a partir do segundo semestre de 2012. Essa transição e apropriação dos atores e seus papéis não ocorreu num todo harmônico, mas em momentos de proximidade e estranhamento dessa nova realidade.

Num primeiro momento quando a gente soube, a gente ficou sem entender, então fomos a uma reunião para saber como é que isso ia acontecer. E aí quando a gente viu, a gente se alegrou em parte porque a gente viu uma estrutura bem maior do que a nossa. Aí eu disse: “Não, agora vai ser muito bom!”. Algumas pessoas nos questionaram: “Quer dizer que vocês fizeram todo o trabalho e agora vão passar para o instituto federal?”. Eu disse: “Vamos, porque com certeza agora vai ser melhor porque nós tínhamos uma estrutura de materiais impressos e agora nós vamos ter a distância.” E aí, a gente fez um trabalho que eu considero que foi muito bom porque a gente não se negou a ir [ao IFCE] quantas vezes fosse. A gente foi ser formadora e a gente foi com a experiência, mostrando tudo que tinha acontecido e a gente esperava que com certeza ele [IFCE] vai trabalhar melhor do que nós porque tem estrutura e nós não tínhamos estrutura que o instituto tem. E aí no primeiro momento que a gente foi chamada para planejar, algumas coisas a gente começou a não concordar. O primeiro arranhão, vamos dizer assim que a gente bateu, que a gente não concordou é que aqueles cursistas que nós conhecíamos, eles não tinham condição de fazer um curso a distância, quando ele não sabia o que era um computador, ligar um computador [...] e o funcionário não tem coragem de dizer que não sabe. Ele sai da sala de aula, ele nunca mais volta [...]. E também a gente não concordava com a forma como os módulos iam ser trabalhados cada um com uma pessoa diferente, num lugar diferente e que essa troca, esse quadro muito grande iria era dificultar. Mesmo assim a gente deu a nossa contribuição (Gestor Seduc).

É notório perceber nesse discurso sobre a transição da coordenação do Profuncionário no Ceará, que ocorreu um choque estrutural entre a oferta dos cursos do programa pela Seduc e a oferta que ora se iniciava pelo IFCE, a partir da experiência do instituto federal na educação a distância e da sua estrutura física. Ainda nesse discurso, há evidências que a experiência formativa da equipe da Seduc não foi integralmente contemplada. Eram desenhos de gestão diferenciados e por isso, a discordância quanto à metodologia de trabalho