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CAPÍTULO V A FORMAÇÃO JURÍDICA: UMA QUESTÃO DE GÊNERO? A

6.6. A Globalização e as Transformações Contemporâneas

Tratando das questões associadas à globalização e as transformações contemporâneas, o corpo docente entrevistado manifesta-se oscilante ora no sentido da importância da globalização, ora no sentido de que a globalização representa um ponto

extremamente negativo incorporado pelo Direito. No sentido positivo, podem ser vistas as seguintes manifestações:

A globalização não é apenas um fenômeno comercial ou econômico, mas, sobretudo, um processo de intercâmbio geral de comunicação, dados, conhecimento, comércio, etc. Entendo que o volume de informação, o acesso a novos mercados levou também à globalização cultural. Portanto, os costumes, o modo de vida, a velocidade com que a informação circula o mundo e o acesso a novas fontes de pesquisa são aspectos que ressaltam as conseqüências da globalização. (Entrevista 01)

A globalização estimulou o uso da informática, a pesquisa pela internet, democratizou o acesso à internet, através de um acesso rápido e barato. Possibilitou o uso de e-mails de grupos de trabalho para a comunicação. (Entrevista 02)

Algumas vozes percebem simultaneamente os aspectos bons e ruins do processo de globalização, como é perceptível nos discursos a seguir:

A globalização é vista como algo muito interessante. Mas, em alguns aspectos com preocupação, porque a interação é muito grande na cultura, no conhecimento científico, mas sente influência perniciosa, outras que não se adaptam a nossa formação cultural, alterando hábitos, costumes, idéias, criando vícios, etc. (Entrevista 03)

Possui aspectos positivos e negativos. Como aspecto positivo percebe o intercâmbio em todas as áreas do saber. Os aspectos negativos referem-se a pressão na maior troca de intercâmbio, aniquilando os aspectos locais, perturbando os hábitos locais, costumes, na linguagem. Por exemplo workshop ao invés de seminário. A entrada de comércios grandes, fazendo desaparecer o comércio local. No Brasil, a globalização passa como uma tsunami. Há um artigo interessante do Dr. José Carlos Moreira Barbosa falando sobre isso. Obs. O entrevistando relatou a sua experiência em viagem pela Europa, quando percebeu em algumas cidades a manutenção dos costumes, a preservação da tradição, mesmo dentro da vivência com as conseqüências da modernidade. Atribuiu o fato a consolidação da cultura e da educação. (Entrevista 04)

Outros, contudo, vêm o processo de globalização de modo muito pernicioso, apontando uma série de conseqüências funestas para este fenômeno mundial e inafastável:

Acho mais complexo as conseqüências para o campo do direito. Houve uma inserção de uma doutrina neoliberal, com um enxugamento do papel do Estado, levando a um Estado mínimo. Isso começa em 1980 na Europa e no Brasil a partir de 1990, com Collor primeiro e depois com Fernando Henrique. Então, o estado começa a se retirar. Na constituição de 1988 esta estrutura já aparece de modo híbrido, porque ficou mantido o monopólio, ao tempo que se consolidaram os princípios da livre concorrência e da livre iniciativa. Depois, com a quebra dos monopólios do petróleo, das telecomunicações, nas concessões, com a retirada do estado, sem um aporte fiscal adequado, a população é quem tem pagado o preço do serviço público deficiente. A estrutura da fiscalização é inadequada e também a prestação dos serviços públicos com a retirada do estado. (Entrevista 05)

Percebo que somente as misérias são globalizadas, citando Paulo Bonavides. Espero, contudo, em comunhão com Norberto Bobbio que haja esperança para o mundo por conta dos estudos dos direitos de terceira dimensão, enquanto houver quem neles pense, reflita. É necessário ser um bom especialista, acima da média dos demais profissionais. Exige-se ainda a qualidade total, sem que o mercado de trabalho, contudo, ofereça esta qualidade. Neste sentido ocorre na justiça do trabalho, por exemplo. É preciso ainda estudar sem parar. (Entrevista 06)

Analisando os dados relativos à influência da globalização no mundo jurídico, as entrevistas em unanimidade compreendem a reflexividade no Direito, não há qualquer dúvida de que a modernidade e suas conseqüências, entre elas a globalização, demandam do Direito manifestações, como podem ser visualizadas nas falas a seguir, determinando a necessidade do “direito precisar ditar regras para ancorar as relações sociais, regulando as relações

jurídicas (Opinião de um dos entrevistados)”:

Sim. Nas relações comerciais, através de novos contratos, na área penal, através dos crimes de internet, no direito de família com a fertilização in vitro ou mesmo pesquisas com células tronco. No direito agrário com a soja transgênica. No direito ambiental, enfim todo o processo de globalização traz muitas repercussões para o direito. (Opinião 02)

Sim. Nas reformas das leis. Os fatos que ocorrem no mundo real são transpostos com suas peculiaridades no mundo virtual, existindo necessidade de adequar o direito às relações comerciais, autorais, a propriedade intelectual, aos crimes praticados via internet. (Opinião 03)

Sim, trazem. Positivas: evolução no aspecto científico do direito, divulgação de institutos jurídicos (ex. Direito de superfície há muito estudado no direito comparado), na sistematização do direito (novo regime do direito de família, incorporado do direito de família francês, percebido na comunhão de aqüestos). Negativos: a tipificação de crimes diferentes, a forma como se verifica a executoriedade dos crimes, etc. (Opinião 04)

Sim. Espera-se um enfoque mais concentrado sobre direito comunitário, harmonização legislativa (Opinião 05)

Outros, em manifestação compatível com a negativa dos benefícios da globalização trazem os aspectos negativos do processo, observando que ela trata de interferir negativamente nos direitos fundamentais, como se observa na voz de uma das professoras ouvidas:

A globalização traz conseqüências para o direito porque retira do rol de cláusulas pétreas os direitos fundamentais, fragilizando-os. Por exemplo, em relação ao direito do trabalho, verifica-se uma tentativa de retirar direitos, como o décimo terceiro, férias, o que resulta em conseqüências diretas na responsabilidade civil porque o empregado passa a ser visto como uma máquina, levando a acidentes, etc. Exemplifica também a azaléia, cujos processos de trabalho estão gerando problemas de ordem mental e física nos trabalhadores devidos aos princípios de trabalho usados na fábrica denominados princípios básicos da costura. (Opinião 06).

Os entrevistados, manifestando-se sobre o impacto da globalização e das transformações contemporâneas na emergência (nas demandas) de um novo perfil profissional no campo do direito, observam sobretudo a necessidade de domínio da informática, de língua estrangeira, da pós-graduação como forma de auxiliar na qualificação. A percepção destas visões são manifestadas da forma que segue:

A necessidade do profissional se adequar as novas demandas como por exemplo no direito penal, com o surgimento da internet e a necessidade de ser regulamentado o seu uso, são exemplos disso. (Entrevista 01)

O impacto pode ser sentido em diversos pontos. Por exemplo, a questão do processo eletrônico muda o perfil do profissional porque requer alteração na forma de atuar. No juizado especial federal em Sergipe, por exemplo, o processo tramita exclusivamente pelo computador, exigindo domínio desta tecnologia. (Entrevista 02)

Exige também o domínio das línguas estrangeiras, cursar pós graduação, etc. (Entrevista 03)

De outro lado, em tom crítico e percebendo a importância de conjugar habilidades e competências, um dos entrevistados sugere a necessidade de melhorar a percepção sobre o que se deseja do direito enquanto ferramenta útil para possibilitar a convivência harmônica em sociedade, vendo um direito como este fim. Aliado a isto, outro entrevistado percebe a necessidade de investir nas habilidades relativas à adaptação as exigências contínuas do mercado de trabalho, como são vistos nos depoimentos seguintes:

Sim. Exigindo conhecimentos do direito comparado, aplicação de direito em consentânea com a internacionalização das normas. Abertura das mentalidades, com a ruptura do formalismo e da questão puramente dogmática do direito. Estímulo a um perfil mais aberto para a aplicação do direito, para que seja possível ver o direito como um fim. (Entrevista 04)

Exige um novo perfil. A formação antiga era restrita e local. Hoje, a globalização exige um profissional com visão sistêmica. (grifar a colocação visão sistêmica). Ex. Habilita o profissional para o direito do consumidor não é suficiente. É necessário também habilita-lo para atuar numa compra internacional através da internet, o que representa a necessidade da compreensão da relação jurídica de consumo internacional. Não se pode ainda ignorar a existência de sistemas jurídicos diversos. A relação de consumo é diária. É preciso entender o direito comparado. Perceber a necessidade da flexibilidade profissional. Atualmente o profissional é muito menos positivista, mesmo que o perfil seja este. A aplicação dos princípios vem superar a simples aplicação da lei. Na verdade, a interpretação da lei passa a ser feita a partir dos princípios. São também efeitos da globalização percebidos na evolução do ensino: passou a coordenação de um curso preparatório IELF (Luiz Flávio). Ele, Luiz Flávio, fez um doutorado em Madri e implantou a tecnologia do EAD via computador, através de ensino telepresencial. Isto democratizou o ensino, assim, a rede telepresencial possibilitou o acesso rápido a toda informação on line, além disto prestigiou os profissionais de cada localidade. Permitiu o acesso a informação e aos cargos, bem como as editoras, reduziu os custos de deslocamentos. Para que um profissional consiga manter-se na docência destes cursos é preciso ter habilidade de artista para o exercício do magistério. Assim, um professor pode dar aula somente por algumas horas se não for aceito pelo público... (Entrevista 05)

O mesmo entrevistado que percebe negativamente a globalização, tendo justificativas para tanto, observa que as suas exigências (da mundialização) “cria um nível de

stress por uma incessante necessidade de se manter no trabalho, ou gerando uma advocacia medíocre no interior”.