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CAPITULO II O CURSO DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE –

2.1. O Ensino Jurídico no Brasil – Aspectos Históricos Gerais

No período joanino nasceram os primeiros cursos superiores do Brasil, como resposta aos anseios da população e, sobretudo, à transplantação provisória da sede do governo da Metrópole. Dentre os diversos cursos criados, destacam-se os da Academia Real da Marinha, da Academia Real Militar, Cirurgia e Anatomia (AZEVEDO, 1964, 552), sendo certo que especialmente os ministrados nas academias militares tinham por objetivo dar sustentação política ao governo que se instaurava no Brasil, fornecendo os profissionais necessários para a garantia do sistema de defesa. Os cursos jurídicos não são, portanto, deste primeiro momento.

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Em verdade, somente após a instauração do Primeiro Império, com a independência do Brasil e por motivos relacionados à desvinculação político, econômica e social com Portugal, se buscou construir o ensino jurídico no país. Segundo Pessoa (1977, p. 2) isto se deveu a necessidade de romper com Portugal o vínculo relativo às questões jurídicas, especialmente nos primeiros momentos da independência, quando não era possível recorrer a Coimbra, ante os antagonismos particularmente acentuados.

Consultando Araújo (1999) percebe-se que o leitor colonial demonstra se interessar por obras relacionadas à religiosidade e ao trabalho. Tratando da temática trabalho, resta observado no leitor setecentista uma preocupação crescente com obras relativas à formação dos ofícios, e, dentre as leituras profissionalizantes, são percebidas inúmeras citações referentes às Ciências Médicas e ao Direito. Isto ressalta que, aliado ao interesse intelectual pelos estudos jurídicos, havia ainda o interesse social das famílias em formar o “capital humano” para desempenhar os cargos mais elevados do governo colonial. Neste sentido, observa Azevedo (1964, p. 552) que a posição de D. João VI ao criar escolas superiores visava antes de qualquer coisa às formações especializadas e a preparação de pessoas capazes de atender ao serviço público, sendo relevante notar que a vinda da família real para o Brasil, ficou patente a carência de profissionais das mais diversas áreas, entre elas, a jurídica.

Deste modo, para que fosse suprida esta lacuna e respondidos os anseios sociais, através do Decreto de 1.825 foi criado um curso jurídico provisório na cidade do Rio de Janeiro. Em seguida, o Imperador sancionou, em 11 de agosto de 1827, a lei que criou os primeiros cursos jurídicos do Brasil. Estes cursos se instalaram em São Paulo, em 1º de março de 1828, no Convento de São Francisco e na cidade de Olinda, em 15 de maio de 1828, no Mosteiro de São Bento. A criação dos cursos jurídicos implementou as escolas de preparação profissional de D. João VI, permitindo a preparação de profissionais liberais no Norte e no Sul do país, escolas profissionalizantes para as quais os filhos elites se deslocaram.

Como era de se esperar e em resposta ao número crescente de matrículas, com a criação dos cursos jurídicos em Olinda e São Paulo houve um razoável crescimento no número de bacharéis no Brasil, fato que ensejou que o Segundo Reinado fosse nominado “reinado dos bacharéis” (PESSOA, 1977, p. 5). O ensino jurídico brasileiro, no entanto, não se destinou somente a formar profissionais que atuaram na área jurídica: magistratura, advocacia, Ministério Público, mas foi, como ainda é hoje, o berço acadêmico de eloqüentes políticos, poetas, diplomatas, etc., sendo preferido por aqueles que desejavam seguir as

carreiras públicas. À esse respeito, oportuno lembrar Nascimento (1998, p. 30), ratificando este aspecto, ao observar

As presenças de ex-alunos do Curso Jurídico desta Universidade nas atividades políticas, tanto no exercício de mandatos nos executivos estadual e municipais, quanto nas Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional.

Na Velha República, consoante demonstra Adélia Pessoa (1977, p. 10-12), algumas reformas educacionais se fizeram sentir, tendo sido destacada a Reforma Epitácio Pessoa, de 1901, que re-estruturou os cursos superiores; a Reforma Rivadávia Correa, ocorrida entre 1911 e 1915, caracterizada pelo recuo da interferência estatal na educação; a Reforma Carlos Maximiniano, a partir da qual o Estado torna a se preocupar diretamente com os sistemas escolares e a Reforma Rocha Vaz, em 1925, que uniformizou o ensino, provocando uma reorganização do ensino jurídico e, entre outras medidas, tornou obrigatória a freqüência.

Como já sustentado alhures, durante a República, as mesmas velhas idéias conservadoras se perpetuaram, tendo sido mantido o afastamento entre a população em geral e a elite, valorizando-se os cursos superiores como instrumentos capazes de manter a classe dominante no poder. O mesmo se verificou com os cursos jurídicos, para onde começam a afluir também às camadas da classe média em ascensão.

Assim, entre o período de 1827, quando foram criados os dois primeiros cursos de direito e 1930, foram acrescentadas 14 instituições de ensino jurídico no país, sendo algumas estaduais e outras particulares, em muitos cantos do país: Amazonas, Niterói, Ouro Preto, Distrito Federal, superando os cursos de Medicina e de Engenharia estabelecidos na mesma época.

A Reforma Francisco Campos veiculada pelo Decreto Lei nº 19.851, de 11 de abril de 1931 veio dispor sobre o ensino superior no Brasil, criando o regime universitário tão desejado por Azevedo (1964). Entre 1934/1935 são fundadas as Universidades de São Paulo e do Distrito Federal. Originaram-se neste mesmo período as primeiras reformas educacionais que tiveram como sustentação a Constituição Federal, porquanto é na Carta de 1934 que o Estado aparece pela primeira vez como o grande responsável pela elaboração das diretrizes educacionais. Do mesmo modo, a Carta da República de 1937, pelo seu conteúdo, favoreceu o advento das Leis Orgânicas do Ensino, promovido sob a regência de Capanema (HORTA, 1994).

A partir da Era Vargas, como estabelece Brandão (1999, p. 128), se ampliou o mercado intelectual no Brasil, fato que parece antagônico quando vislumbrado que o momento Vargas, entre 1930-1945, refletiu tempos de política ditatorial, mas que, do ponto de vista cultural se apresentou muito fecundo, com a expansão do setor público e com a ampliação de perspectivas dos quadros intelectuais especializados. Sob estas influências, fica bastante clara a necessidade do título de nível superior para que os degraus no campo cultural fossem alçados, fato que justificou, como ainda justifica, a ampla procura pelos cursos jurídicos no Brasil inteiro.