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CAPITULO I A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DA PESQUISA

1.1. A Opção pelo Estudo de Caso

Todo o conhecimento produzido necessita e deve ser transmitido a outras pessoas com o objetivo de levá-las a pensar e a perceber tanto as coisas familiares de modo diferente, quanto obter novas informações. Assim, realizar uma Investigação de natureza exploratório- descritiva, sobre a produção científica em determinado campo do saber, e em especial no campo do Direito, representa mais um canal de reflexão e socialização de importantes resultados de estudos desenvolvidos.

Assim, nesse tópico é registrado o caminho ou procedimentos metodológicos desenvolvidos a partir dos propósitos da pesquisa. Inicialmente foi realizada a revisão bibliográfica relacionada à temática e ao objeto de pesquisa, utilizando-se de material teórico embasado em referências bibliográficas voltadas à educação, à tecnologia da educação e às questões de gênero, com especial destaque para a bibliografia relacionada aos currículos dos cursos jurídicos.

A pesquisa de natureza qualitativa aborda também dimensões quantitativas, priorizando-se os significados e os elementos culturais das representações das(os) docentes, seus valores individuais e coletivos integrados ao nível macro estrutural. A opção metodológica recaiu pelo estudo de caso, pela necessidade de se conhecer situações concretas de trabalho para que, a partir da trama das relações sociais observadas, distingam-se elementos que informem análises globalizantes (macro/micro), ou seja, que possibilitem a compreensão das relações de trabalho no interior do processo de formação e nas relações de trabalho no campo jurídico. Isso porque a heterogeneidade das relações de trabalho é a marca deste momento histórico.

Trata-se de um instrumento didático que surgiu em Havard para introduzir modificações nos padrões de ensino, introduzindo novas formas de aprendizagem, reduzindo a lacuna teórico-prática. Consiste o estudo de caso, segundo Carmo-Neto (1992, p. 295), “num relato sobre um episódio, uma ocorrência, um fato ou um acontecimento”, visando, por

assim dizer, aprofundar-se em um determinado tema, buscando analisar as mais diversas nuances de um objeto pré-estabelecido.

Foi preciso estar atenta na utilização desta metodologia, porquanto já era conhecido que ela pressupunha, de acordo com Carmo-Neto (1992, p. 296), que o objeto de estudo “é ou não importante segundo as perspectivas que se tenha da análise... ”, deste modo, o cuidado deve ser redobrado porque "a análise de caso é feita antes mesmo de se começar a escrever, porque já se sabe antecipadamente o que é e o que não é importante” (CARMO-NETO, 1992, p. 296),

Por outro lado, para elaborar um estudo de caso é necessária a consciência do plano de ação do autor do estudo, sendo prudente afirmar a intima relação entre o estudo de caso e a “teoria da interação” de Edward Jones e Harold Gerard. Neste sentido, adverte Carmo-Neto (1992) que o estudo de caso é feito através de uma dada ordenação, valorativa, sobre uma dada perspectiva, sendo muito comum que haja interferência entre o objeto de estudo e o pesquisador, em relações que vão desde a pseudo-contingência até a contingência recíproca5.

Em outras palavras, dado o elemento contingência, sendo perceptível que o estudo de caso se produz com base em interações sujeito-sujeito, é preciso ter clareza de que ora se omitem informações e em outros momentos são especificadas informações de relevância para a construção do caso. Assim, diz Carmo-Neto (1992, p. 299) “produzir um caso implica em que cada percepção seja analisada por um amplo leque de possibilidades”, sendo importante notar que quanto maior a perspicácia do pesquisador, maior a possibilidade de novas análises, paralelas ou derivadas daquelas inicialmente propostas.

De outro lado, o estudo de caso também possibilita tratar simultaneamente de aspectos qualitativos, relacionados diretamente às pesquisas desenvolvidas nas áreas sociais, assim como educação e direito, quanto dos aspectos de ordem quantitativa, sempre através de fontes variadas. Laville e Dione (1999, p. 157) observam:

...o estudo de caso visa sobretudo à profundidade. Assim, tal estudo bem conduzido não poderia se contentar em fornecer uma simples descrição que não desembocasse em uma explicação, pois, como sempre, o objetivo de uma pesquisa não é ver, mas, sim, compreender. Esta profundidade ligada ao caso particular não exclui, contudo, toda forma

5 Os conceitos referem-se à possibilidade de interferência do pesquisador no conteúdo da pesquisa. Há quatro tipos possíveis de interação: pseudocontingência, onde se observa uma plena ciência dos fatos pelos interlocutores; contingência assimétrica, na qual há subsunção às expectativas do outro, mesmo se contrárias; a contingência relativa, quando a interferência impede que sejam avaliados os planos iniciais de conduta e a

de generalização. Isso porque o pesquisador tem habitualmente uma idéia clara e precisa do que pesquisa e sabe escolher casos exemplares para logo considerar não somente os aspectos que lhe convém em relação às usas expectativas ou opiniões, mas todos os que podem se verificar pertinentes. É aí que a objetivação desempenha um papel central.

Para se desenvolver o estudo de caso, é preciso ter uma idéia clara do espaço, da visão de mundo de quem fala, sobre o que fala e como estas variáveis se inter-relacionam, tendo-se o cuidado premente de buscar a objetividade em detrimento da subjetividade do pesquisador. Para Triviños (1928, p. 133), o estudo de caso se caracteriza fundamentalmente, do ponto de vista da medida dos dados que ele apresenta, pelo emprego, em geral, de uma técnica estatística elementar. Indica ainda o mesmo autor que

O estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por duas circunstâncias, principalmente. Por um lado, a natureza e a abrangência da unidade.

Em segundo lugar, também a complexidade do estudo de caso está determinada pelos suportes teóricos que servem de orientação em seu trabalho ao investigador. Um enfoque a- histórico, reduzido às características culturais de um meio específico no qual se insere a unidade de exame de natureza qualitativa-fenomenológica, é menos complexo, sem dúvida, que uma visão na qual se observa o fenômeno em sua evolução e suas relações estruturais fundamentais. (TRIVIÑOS, 1928, p. 133)

Finaliza Carmo-Neto (1992), observando que no estudo de caso qualitativo, onde nem as hipóteses nem os esquemas de inquisição estão aprioristicamente estabelecidos, a complexidade do exame aumenta à medida que se aprofunda no assunto. Isto se observa pelas inúmeras possibilidades que vão surgindo à medida que o objeto é dissecado, justificando, portanto, a constante necessidade de vigilância para não se afastar dos objetivos primariamente idealizados, invadindo espaços indesejados.

Considerando, portanto, ser o estudo de caso uma metodologia de origem qualitativa amplamente empregada nas ciências sociais, verifica-se que no caso específico dos objetos de estudo relacionados à educação, ciência que serve de instrumento para a "proliferação", para a reprodução e construção do conhecimento, é bastante viável a utilização deste instrumental. Sendo assim, adequado também para o estudo dos profissionais docentes envolvidos no processo de formação no campo do Direito da Universidade Federal de Sergipe, sendo perfeitamente possível a utilização da metodologia "estudo de caso" para analisar a temática proposta.

Para operacionalizar o estudo de caso, o objeto de pesquisa é visto, como não poderia deixar de ser como uma realidade ímpar, sem igual. Necessário perceber e examinar os elementos do contexto que influenciam diretamente na construção do objeto, verificando a

situação específica do mercado de trabalho, as exigências do mundo atual e de que modo os docentes expostos a esta situação e envolvidos com a temática proposta (diretrizes curriculares dos cursos jurídicos e a sua interação com as conseqüências da modernidade, para transcrever Giddens) são influenciados pelas variáveis relacionadas.

Ora, para levar a operacionalização deste estudo, foi necessária uma análise conjuntural. Isso porque, compreende-se que qualquer análise cientifica envolve uma gama de ferramentas especificas e adequadas, eficientes e poderosas a fim de que se alcance algum tipo de resultado. Para que se depreenda de uma “situação conjuntural” as suas inter-relações, é preciso se ter uma completa idéia sobre quais são e como atuam independentemente os elementos pertinentes (como se potencializam, anulam, compensam ou mascaram a realidade – qual a importância de cada um, de que forma eles são (in)dispensáveis, quando são cruciais, como incomoda ou agrava uma determinada situação). Compreendeu-se que tais efeitos nem sempre são mensuráveis, previstos ou desejados. Nesse sentido, procurou-se integrar os efeitos sinérgicos, os aspectos macro e micro para se entender de que maneira a atuação conjunta resulta nos efeitos que se quer analisar, nos impactos que interferem no processo de formação no campo do Direito, no intuito de captar a construção das representações, identidade e subjetividade dos profissionais da docência jurídica integrados no contexto particular de uma universidade pública federal.