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3.2 Mudanças institucionais no Chile

3.2.6 A globalização ─ 1990-2005

No período subseqüente, essa globalização financeira na presença de pequenos desequilíbrios macro e microeconômicos, de segurança jurídica adequada, de controle sobre as entradas de capital facultou ao país enfrentar crises externas suavemente e assegurou maior estabilidade na entrada de fluxos financeiros. Os fluxos financeiros líquidos da capital, entre 1991 e 1997, atingiram aproximadamente 27% do PIB,138 e em 2003 a participação do estoque de investimentos diretos no PIB no Chile era de 63%, muito superior à brasileira, de 25,8% do PIB.139 Entre 1974 e 2004, o país captou investimentos diretos de US$ 74,6 bilhões, sendo 88,5% dos ingressos depois dos anos 1990. A maioria dos investidores optou por ingressar fazendo uso do Decreto-Lei nº 600: contrato entre o investidor direto e o Estado, e em contraparte recebendo um

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COWAN, Kevin; DE GREGORIO, Jose. International Borrowing, Capital and Exchange Rate: Lessons from Chile. Documentos de Trabajo, n. 322, maio 2005, Santiago. Banco Central do Chile. 2005.

139. World Investment Report. Annual Report. Unctad ─ United Nations Conference on Trade and Development.

conjunto específico formal de garantias à transferência de capital ─ 78,6% dos ingressos usaram tal mecanismo. O investidor externo somente cumpre com procedimentos de registro disponíveis, inclusive na internet. Entre 1997 e 2001, fusões e aquisições na área de specific-assets, serviços de eletricidade, comunicações e setores de abastecimento forneceram um estímulo adicional a esse investimento direto.

A segurança jurídica de direitos de propriedade e rentabilidade esperada foi assegurada por arcabouço legal ─ o Estatuto do Investidor Externo, o Decreto-Lei nº 600. Esse Estatuto definiu formalmente os direitos dos investidores estrangeiros em relação à conversão de moedas; bens tangíveis; tecnologia e capitalização de lucros e assegurou aos investidores a invariabilidade de um regime de tributação de renda por dez anos e a invariabilidade de impostos indiretos, além de alguns regimes especiais para grandes projetos.

Outro instrumento administrado foi o controle sobre a entrada de capital em 1991. Os estudos sobre esse controle de capital concluem que se reduziu a participação do capital de curto prazo e se modificou a maturity dos capitais (DE GREGÓRIO et al., 2000; EDWARDS, 1999a; LÊ FORT; LEHMAN, 2000; SCHIMIDT-HEBBEL et al., 1999).

As exportações explicam o dinamismo no crescimento chileno e entre os exportáveis o cobre assegurou 70% das receitas chilenas na década de 1970 decrescendo para 40% na década de 1990. A exploração do cobre era realizado pela Corporación

Nacional del Cobre de Chile-CODELCO uma das poucas empresas públicas não

privatizadas. Além disso, o cobre proporciona receitas fiscais pois o imposto ad

valorem de 10 por cento das exportações de cobre e de seus subprodutos se constitue em

receita pública. Assim sendo, ganhos nas relações de troca implicam em benefícios fiscais diretos.

Essas políticas chilenas ante os enormes fluxos de capitais externos possuem algumas características comuns em três períodos: o primeiro período ─ anos 1970 até a crise da dívida; o segundo inicia-se no começo dos anos 1990 e vai até a crise mexicana; e o terceiro antecede a crise da Ásia. Os traços comuns identificados são: i) oferta abundante de fundos externos acompanhada de choques positivos e negativos de menor força que o do auge; ii) canalização de fundos ao setor privado; iii) destacada imagem de país bem-sucedido no exterior, baseada em fundamentos econômicos sólidos e

superávit fiscal; e iv) a chegada de uma crise internacional no auge financeiro.140 O primeiro qüinqüênio dos anos 1990 revelou o efeito desse aprendizado chileno: crescimento do PIB marcado por altas taxas de poupança e investimento e resistência a choques externos.

A inflação se acelerou em 1990 retornando a 26% em 1990. Em 1992, a mudança da paridade peso-dolar substituída para a paridade peso em relação a uma cesta de moedas implicou em desvalorização real. Essa resistência foi comprovada nas sucessivas crises. Durante a crise mexicana, o Banco Central chileno manteve um controle cuidadoso do déficit em conta corrente e aplicou políticas para evitar valorização excessiva do câmbio, sendo pouco afetado pelo contágio externo. O terceiro período foi quase incólume ao contágio do efeito tequila, a economia trabalhou com plena capacidade, com fundamentos internos sólidos, bem avaliados internacionalmente. No entanto, o problema gerado no front externo por um atraso na correção cambial e déficit crescente em conta corrente em 1996-1997 tornou a economia vulnerável a choques externos. Em 1998, o Banco Central chileno sofreu três rodadas de ataques especulativos, que resultaram em grandes intervenções no mercado de câmbio. Em 1999─o quarto ciclo ─, o ajuste macroeconômico ocasionou uma recessão, queda moderada do PIB, de 1%, sem que o Chile enfrentasse uma crise financeira em mercados com abertura e integração financeira crescente.141

Esses ciclos referem-se à transição para a abertura gradual da conta de capitais até 2001, aberta integralmente, com limites às aplicações de fundos de pensão. Além disso, o país mantém a possibilidade de uso da política de encaixe sobre entrada de capital em condições especificadas no Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos e o Canadá.

Nesse período de globalização, 1990 a 2005, a integração comercial e financeira prosseguiu, expandindo-se a abertura comercial, os fluxos de investimento estrangeiro direto e as aplicações em portfólio. O país realizou inúmeras alterações legais na constituição de 1980 referendada em plebiscito, inúmeras reformas contitucionais em 1991, 1994, 1997, 1999, 2000, 2001 e 2003, e a fragmentação político partidária elevou para sete o número de partidos com representação no Congresso no período de globalização. Desde 2000, a coalizão política denominada La Concertacion controla o

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FFRENCH-DAVIS; ARELLANO, op. cit.

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COWAN, K; DE GREGÓRIO, J. International Borrowing, capital and exchange rate: lessons from Chile. Documentos de Trabajo n. 322, maio 2005. Santiago: Banco Central do Chile.

Executivo. As taxas de inflação foram reduzindo-se de 26% em 1990 a 3,8% em 1999, durante o ajuste monetário manteve as taxas de juros nominais em níveis superiores a dois dígitos.