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A governança territorial como objetivo de investigação e de investigação-ação:

linhas a aprofundar

É bastante significativa, em quantidade e diversidade, a bibliografia existente atualmente sobre governança territorial a nível internacional mas também nacional.

Os membros do Grupo de Investigação Ambiente, Território e Socie- dade têm investigado e publicado neste domínio, prosseguindo, nomea- damente, os seguintes objetivos:

• Debate científico: resgatar o conceito de governança territorial (so- bretudo à escala urbana/metropolitana) no contexto académico, quer em termos genéricos (Seixas 2013), quer em torno de aspetos mais específicos: identificação dos principais pilares de controlo de- mocrático de modos de governança assentes numa nova relação go- verno-governança (Ferrão 2013); hipótese de que «apenas refor- çando as relações de coevolução dialética entre novas formas de regulação pós-burocrática por parte do Estado à escala metropoli- tana e novos modos de microprodução de cidade a partir de espaços relacionais não institucionalizados poderá a complexa equação le- gitimidade democrática/cidadania insurgente ganhar vida e expres- Ambiente, Território e Sociedade

são» (Ferrão 2015, 219); crítica das formas explicitamente neoliberais de governança urbana, com especial relevo para as consequências locais da crise e das políticas de austeridade (Tulumello 2015); • Políticas públicas: colocar o debate sobre governança territorial na

agenda política, salientando o seu papel como forma de garantir a articulação de políticas sectoriais, a coordenação entre atores e a participação pública nas políticas de ordenamento do território e, de forma mais geral, em intervenções integradas de base territorial (Ferrão 2010 e 2011; Ferrão et al. 2015);

• Investigação-ação e avaliação: desenvolver, aplicar e analisar criti- camente metodologias de governação em rede e gestão de conflitos em torno de temas ou iniciativas particulares: processos adaptativos Governança territorial democrática: tensões e potencialidades

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Figura 16.1 – Cenário prospetivo da governança territorial na Área Metropolitana de Lisboa: principais atores

Fonte: Elaboração própria.

Nota: Os círculos são proporcionais ao total de referências feitas pelos participantes num workshop sobre o tema; os círculos a cinzento correspondem aos atores considerados mais relevantes (com maior número de ligações).

na orla costeira (Schmidt et al. 2013 e 2014), adaptação às alterações climáticas no litoral (O’Riordan et al. 2014) e à escala municipal (Guerra et al. 2015), projetos de parques marinhos e iniciativas pú- blicas em bairros degradados (Mourato et al. 2015);

• Cenários e construção de futuros: identificar, de modo participado, as formas de governança territorial (regimes, atores envolvidos, con- figurações) mais adequadas para futuros possíveis e desejados no contexto da construção de cenários para políticas comunitárias e suas implicações a nível nacional (Lüer et al. 2014 e 2015).

As referências ao conceito de governança territorial oscilam demasiado entre conceções excessivamente instrumentais, que promovem o seu uso de forma pouco problematizada e fundamentada, e perspetivas críticas, que o contestam com base na sua redução a (mais) um veículo de refor - ço dos interesses privados, da expansão da lógica de mercado e da afir- mação do capitalismo neoliberal. Importa ultrapassar esta dicotomia, en- tendendo as limitações e potencialidades de ambas as visões e superando as fragilidades que umas e outras transportam consigo, através de uma agenda rigorosa de investigação e de investigação-ação indissociável de princípios de política e cidadania.

Referências

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Ferrão, João. 2015. «Governança democrática metropolitana: como construir a cidade dos cidadãos». In Desafios da Metropolização do Espaço, orgs. Álvaro Ferreira, João Rua e Regina Célia de Mattos. Rio de Janeiro: Editora Consequência, 209-224. Ferrão, João, João Mourato, Jorge Macaísta Malheiros, e José Manuel Henriques. 2015.

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Guerra, João, José Gomes Ferreira, Luísa Schmidt, Inês Campos, Gil Penha-Lopes, e André Vizinho. 2015. «Alterações climáticas nos municípios portugueses – resultados de um inquérito». In Atas do 1.º Congresso da Associação Internacional das Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa, coords. Isabel Corrêa da Silva, Maria Pignatelli e

Ambiente, Território e Sociedade

Susana Matos Viegas. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa: AILPCSH: 10 149-10 167.

Lüer, Christian, Sofie Jæger, N. Madeira, Kai Böhme, S. Hans, Frank Holstein, Maria Toptsidou, Simone Tulumello, Olivia Bina, e João Ferrão. 2014. «Report on the ter- ritorial differentiations of exposure and sensitivity analysis». FLAGSHIP Project Re- port D7.1.

Lüer, Christian, Kai Böhme, Sofie Jæger, S. Hans, N. Madeira, Frank Holstein, Maria Toptsidou, Simone Tulumello, Olivia Bina, e João Ferrão. 2015. «Report on territorial impact projections». FLAGSHIP Project Report D7.2.

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Seixas, João. 2013. A Cidade na Encruzilhada. Repensar a Cidade e a Sua Política. Porto: Afrontamento.

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Governança territorial democrática: tensões e potencialidades

João Morais Mourato