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Potencialidades e dificuldades de uma agenda para adaptação local às AC

Se há fatores específicos que podem impulsionar a ação municipal na área das AC, a verdade é que existirão igualmente motivações e bloqueios que interessa identificar e analisar quando está em causa a formulação e posterior aplicação de Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas.

Através da interpelação por inquéritos regulares aplicados transversal- mente a todos os decisores e técnicos das autarquias envolvidas no pro- Adaptação às alterações climáticas nos municípios

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Figura 13.2 – Um desafio às ciências sociais – envolver e desenvolver estratégias municipais

Fonte: Elaboração própria.

Monitorizar (envolver os técnicos e decisores das autarquias) Conhecer (caracterização dos municípios: potencial, desafios e bloqueios) Envolver (link à comunidade stakeholders)

jeto, é possível apurar os principais fa- tores motivacionais e de bloqueio da- quelas estratégias. Este, aliás, é tam- bém um aspeto a debater com os diversos atores locais (stakeholders) nos

workshops locais: i) fatores cruciais para

o avanço das EMAAC e respetivos obstáculos; ii) avaliação das medidas e opções propostas pelos municípios;

iii) formas e fórmulas inovadoras para

as levar a cabo, através de medidas concretas ou de processos organizati- vos (de governança) mais efetivos e eficazes.

Os principais desafios destes processos participativos passam, em pri- meiro lugar, pela constituição de «comunidades» de agentes municipais sensibilizados para estas temáticas que possam colaborar ativamente nos processos de elaboração das EMAAC. Importa, neste caso, ensaiar uma forma de participação interativa (Conde e Lonsdale 2004), implícita num planeamento conjunto e/ou consentido, de modo a que os atores sociais locais se apropriem das estratégias propostas. Uma participação robusta e mais fundamentada conduzirá a melhores processos de decisão e, so- bretudo, a uma aceitabilidade acrescida de decisões e medidas propostas (Ioppolo e Salomone 2013). Para tal, importa que os resultados do pro- cesso participativo (contributos leigos e científicos, políticos e sociais) sejam considerados na formulação final das EMAAC, de modo a não defraudar as expectativas dos atores sociais.

Por outro lado, importa assegurar a continuidade (a longo prazo e para além do próprio projeto) da efetiva implementação das EMAAC, pelo que o envolvimento e a coresponsabilização dos atores sociais locais são também decisivos no seu futuro acompanhamento e monitorização. Cabe, neste caso, às ciências sociais o papel de lançar as sementes, cujo crescimento ficará a cargo dos diversos agentes municipais (públicos, pri- vados, cidadãos) que delas decidam cuidar. Há um tempo próprio, ine- rente aos processos de mudança, que nem sempre se coaduna com os calendários, tantas vezes apertados, dos projetos de investigação, e que está também para além dos ciclos político-eleitorais autárquicos.

Outra questão-chave é a comunicação e, sobretudo, a necessidade de criar bases de entendimento comum entre atores muito diversificados, com níveis de literacia científica desiguais, mas também com práticas e Ambiente, Territóri e Sociedade

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Além da caracterização socioeco- nómica, cultural e política dos municípios (conhecer) e do acompanhamento e avaliação do projeto (monitorizar), as ciên- cias sociais estão particularmente bem colocadas para desencadear um processo de governança territorial transformadora, arti- culando decisores e agentes lo- cais e configurando um modelo integrador dos diferentes interes- ses e sensibilidades (envolver e capacitar).

modos de saber-fazer distintos. Cabe, também aqui, às ciências sociais fazer a ponte entre o conhecimento científico e o leigo, sem deixar de fora o conhecimento tradicional e/ou de base local do cidadão comum sobre as alterações climáticas.

Referências

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Ferrão, João. 2010. «Governança e ordenamento do território: Reflexões para uma gover- nança territorial eficiente, justa e democrática». Prospectiva e Planeamento, 17: 129-139. Grothmann, Torsten, Andrea Prutsch, Inke Schauser, Sabine McCallum, e Swart Rob. 2014. «Identify and cooperate with relevant stakeholders». In Climate Change Adap- tation Manual: Lessons Learned from European and Other Industrialised Countries, orgs. Andrea Prutsch, Torsten Grothmann, Sabine McCallum, Inke Schauser e Swart Rob, Londres e Nova Yorque: Routledge, 119-152.

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Santos, Filipe Duarte. 2012. Alterações Globais, os Desafios e os Riscos Presentes e Futuros. Lis- boa: Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Schauser, Inke, Sabine McCallum, Andrea Prutsch, Torsten Grothmann, e Swart Rob. 2014. «Guiding Principles for good adaptation and structure of this book». In Climate change adaptation manual: lessons learned from European and other industrialised countries, orgs. Andrea Prutsch, Torsten Grothmann, Sabine McCallum, Inke Schauser e Swart Rob, Londres e Nova Iorque: Routledge, 3-6.

Schmidt, Luísa, Ana Delicado, Carla Gomes, Paulo Granjo, Susana Guerreiro, Ana Horta, João Mourato, Pedro Prista, Tiago Saraiva, Mónica Truninger, Tim O’Riordan, Filipe Duarte Santos, e Gil Penha-Lopes. 2013a. «Change in the way we live and plan the coast: stakeholders discussions on future scenarios and adaptation strategies». Journal of Coastal Research Special Issue, 65: 1033-1038.

Schmidt, Luísa, Pedro Prista, Tiago Saraiva, Tim O’Riordan, e Carla Gomes. 2013b. «Adapting governance for coastal change in Portugal». Land Use Policy, 31: 314-325. UNDP. 2010. Designing Climate Change Adaptation Initiatives: A UNDP Toolkit for Practi- tioners. Nova Iorque: United Nations Development Programme (UNDP). Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/951013_Toolkit%20 for%20Designing%20Climate%20Change%20Adaptation%20Initiatives.pdf.

Adaptação às alterações climáticas nos municípios

Parte III