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ClimAdaPT.Local – um desafio às ciências sociais

Partindo do projeto ClimAdaPT.Local,1que tem como principal ob-

jetivo desenvolver 26 Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAAC), em linha com os objetivos principais da Estratégia Europeia de Adaptação às Alterações Climáticas (EEAAC) e da Estratégia

1O projeto ClimAdaPT.Local é coordenado Filipe Duarte Santos e Gil Penha-Lopes

do cE3c – Center for ecology, evolution and environmental changes da FFCUL (Funda- ção da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), num consórcio que inclui, para além do ICS-U. Lisboa, outras entidades académicas, empresas, ONG e municípios como parceiros. O projeto está integrado no Programa AdaPT, e a sua implementação foi orientada pelos termos estabelecidos no Memorando de Entendimento entre Portugal, Noruega, Islândia e Liechtenstein e, como tal, segue o Regulamento do Mecanismo Fi- nanceiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants) 2009-2014. O Programa AdaPT é gerido pela Agência Portuguesa do Ambiente, IP (APA, IP), enquanto gestora do Fundo Português de Carbono (FPC), e é cofinanciado a 85% pelo EEA Grants e a 15% pelo FPC (http://climadapt-local.pt).

Nacional de Adaptação às AC (ENAAC), ensaia-se um modelo de abor- dagem que poderá ser replicado em todo o país.

O projeto desenvolve-se em parceria e com o envolvimento direto de 26 municípios-piloto (um município por Comunidade Intermunicipal, Área Metropolitana e Região Autónoma), selecionados de modo a abran- ger todo o território nacional, na sua diversidade geográfica e socioeco- nómica (figura 13.1).

De carácter interdisciplinar, o projeto tem dois objetivos principais. Por um lado, visa capacitar um conjunto de técnicos municipais para avaliarem as vulnerabilidades climáticas locais e o respetivo potencial de adaptação face às AC, aumentando a capacidade dos municípios para incorporarem a adaptação nos seus instrumentos de planeamento e ges- tão territorial. Por outro lado, procura assegurar o compromisso político e institucional por parte dos decisores locais, e sensibilizar e envolver um conjunto amplo e diversificado de stakeholders (atores-chave) locais na ela- boração e futura implementação das EMAAC.

Partindo destes 26 municípios-piloto, pretende-se, posteriormente, par- tilhar conhecimento e disseminar boas práticas relativamente à adaptação às AC entre os restantes municípios de cada Comunidade Intermunicipal (CIM), constituindo uma Rede de Municípios de Adaptação Local às Alterações Climáticas à escala nacional. Esta Rede poderá, assim, assu- mir-se como um fórum permanente de reflexão e dinamização das polí- ticas públicas locais no domínio da adaptação às AC com relevância para o conjunto do país.

Como se procura ilustrar esquematicamente na figura 13.2, além da caracterização socioeconómica, cultural e política dos municípios (co- nhecer) e do acompanhamento e avaliação das várias fases do projeto (monitorizar), as ciências sociais, pela sua natureza, estão particularmente bem colocadas para desencadear um processo de governança territorial transformadora, articulando decisores e agentes locais e configurando um modelo integrador dos diferentes interesses e sensibilidades (envol- ver) (Ferrão 2010).

Sendo a adaptação às alterações climáticas um processo de aprendiza- gem social, a construção de compromissos com uma base social alargada reforça a legitimidade das EMAAC e fortalece as respetivas prioridades de atuação. A participação de stakeholders é fundamental para: i) maxi- mizar sinergias e assegurar uma boa coordenação e conjugação de res- postas e recursos (UNDP 2010); e ii) promover a qualidade e a aceitação das opções políticas adotadas e potenciar o sucesso na sua implementa- ção (Grothmann et al. 2014).

Adaptação às alterações climáticas nos municípios

Planear a adaptação às AC constitui, portanto, uma oportunidade e um desafio para que atores, formais e informais, de diversos sectores coo- perem no ajustamento aos futuros riscos e no aproveitamento de possí- veis oportunidades, e resolvam eventuais conflitos decorrentes de dife- rentes perspetivas e interesses (Schauser et al. 2014). Nesta perspetiva e no âmbito do ClimAdaPT.Local, o processo de envolvimento de atores- -chave tem vindo a ser efetuado em estreita articulação com os técnicos designados de cada município, em particular nas seguintes tarefas:

• Identificação dos interlocutores públicos, privados e da sociedade

civil abarcando os diversos sectores da ENAAC2relevantes para

cada município;

• Seleção de participantes e organização das mesas temáticas dos 26 Workshops Locais de auscultação e mobilização de atores-chave. Ambiente, Territóri e Sociedade

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Figura 13.1 – Autarquias beneficiárias do ClimAdaPT.Local

Municípios beneficiários Amarante Barreiro Braga Bragança Castelo Branco Castelo de Vide Coruche Évora Ferreira do Alentejo Figueira da Foz Funchal Guimarães Ílhavo Leiria Lisboa Loulé Montalegre Odemira Porto

São João da Pesqueira Seia

Tomar Tondela Torres Vedras Viana do Castelo Vila Franca do Campo Fonte: Elaboração própria.

2Agricultura, Florestas e Pescas; Biodiversidade; Energia e Indústria; Ordenamento

do Território e Cidades; Recursos Hídricos; Saúde Humana; Segurança de Pessoas e Bens; Turismo; Zonas Costeiras.

Esta perspectiva, que tem por base a experiência adquirida em proces- sos de consulta e envolvimento de stakeholders em projetos anteriores – e.g., CHANGE: Changing Coasts, Changing Climate, Changing Com- munities (Schmidt et al. 2013a; Schmidt et al. 2013b) –, tem vindo a ser aplicada no contexto específico do ClimAdaPT.Local de forma mais in- tensiva e alargada, quer pelas exigências da sua maior diversidade geo- gráfica e socioeconómica (com as especificidades inerentes a cada con- celho), quer pelos requisitos que a multiplicidade de temáticas e de atores-chave envolvidos impõe. Assim se procura consagrar um processo de governança funcional, integrador e transparente no desenvolvimento das EMAAC, o que implica, para além da participação, outras compo- nentes, tais como a abertura à informação e ao diálogo, a responsabili- dade partilhada, a eficácia e a coerência (Lockwood 2010).

Potencialidades e dificuldades de uma agenda