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✓ Aproxima as pessoas da resolução dos problemas

✓ Gera uma dinâmica de envolvimento regional

✓ Potencia uma visão integrada de problemas e soluções

Implementação de

metodologias participativas

✓ Generalização de plataformas de informação disponíveis e descodificação da informação ✓ Obrigatoriedade de consultas públicas ✓ Processos participativos inovadores,

abertos e abrangentes, envolvendo diversos tipos de públicos

Transposta para a legislação nacional com a aprovação da Lei da Água – Lei 58/2005 de 29 de dezembro –, a DQA instituiu no quadro jurídico português a gestão dos recursos hídricos por bacia hidrográfica, concre- tizada, a partir de 2008, com a criação de cinco Administrações de Região Hidrográfica (ARH) – Norte, Centro, Tejo, Alentejo e Algarve, que pas- saram a funcionar com autonomia e fundos próprios obtidos através das

taxas de recursos hídricos.1Em paralelo com o Fundo de Proteção dos

Recursos Hídricos, criado em 2009 com o objetivo prioritário de pro- mover a utilização racional e proteção dos recursos hídricos, estas novas estruturas regionais conseguiram iniciar dinâmicas de mudança na qua- lidade das relações entre usuários (populações) e recursos (bacias hidro- gráficas), constituindo-se como motores da advogada «nova cultura da água». Foi igualmente importante a atividade dos Conselhos de Região Hidrográfica, que viram alargada a sua composição a representantes da Administração Pública central e regional, municípios e organizações téc- nicas, científicas e não-governamentais representativas dos usos da água. O ciclo de planeamento das bacias hi-

drográficas (2009-2012) arrancou, pois, com vitalidade e uma postura inovadora, apostando na recolha e in- tegração da informação e em proces- sos abertos e participativos.

Contudo, a alteração do ciclo polí- tico verificada em 2011 veio interrom- per este modelo de gestão, retirando autonomia às ARH ao integrá-las na Agência Portuguesa do Ambiente (APA). A APA passou a representar o

Estado português como Autoridade Nacional da Água, com atribuições nos vários domínios e escalas territoriais da gestão dos recursos hídricos, incluindo o planeamento, licenciamento, monitorização e fiscalização a nível da região hidrográfica. Com esta recentralização entrou-se numa fase regressiva. Desde logo, as plataformas de informação Web que as Ambiente, Território e Sociedade

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1Com a aprovação do Decreto-Lei n.º 97/2008, de 11 de junho, que estabeleceu o re-

gime económico e financeiro dos recursos hídricos, passou a competir às Administrações de Região Hidrográfica (ARH) cobrar as taxas de recursos hídricos, cujo valor revertia em 40% para as próprias ARH, sendo os restantes 50% destinados ao fundo de proteção dos recursos hídricos e 10% ao Instituto da Água (INAG). A partir de 2011, com o fim do INAG e da autonomia das ARH, 50% do valor cobrado passou por inerência a rever- ter para a Agência Portuguesa do Ambiente.

É este processo descontinuado que importa continuar a acom- panhar, mantendo uma agenda de investigação atenta aos pro- cessos de aproximação e afasta- mento das políticas públicas ambientais face às metas da sustentabilidade, neste caso, dos recursos hídricos, durante o próximo ciclo de aplicação da DQA a iniciar em 2016.

ARH possuíam e que forneciam elementos fundamentais do ponto de vista da caracterização dos recursos hídricos foram desativadas, como ficou comprovado num estudo do OBSERVA sobre o índice de trans- parência da gestão da água (Ferreira, Schmidt e Guerra 2015). Em muitos casos deixaram de funcionar as estações de monitorização da qualidade das águas superficiais em pontos críticos da rede de qualidade do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, interrompendo-se séries cronológicas de recolha, análise e divulgação de dados cruciais para o conhecimento do sector, para a definição de prioridades políticas e para a capacitação dos cidadãos. Ou seja, perdeu-se a visão de conjunto das bacias hidrográficas bem como a continuidade de séries de dados que permitiam a monitorização e a capacidade de envolvimento cívico das populações. Perdeu-se também o impacto positivo das ações realizadas nas comunidades e a produção de materiais de divulgação de cobertura regional (Ferreira e Schmidt 2014).Como consequência, gerou-se o des- crédito na eficiência da Administração Central e potenciou-se a descon- fiança na gestão pública dos recursos hídricos. Depois dos processos di- nâmicos que haviam caracterizado a elaboração dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica 2009--2012, a participação pública neste novo ciclo, que se desejaria contínua e abrangente, tem-se restringido ao cumpri- mento formal de procedimentos (Schmidt et al. 2015). Por outro lado, instrumentos de governança da água, como os Conselhos de Região Hi- drográfica, foram votados a uma completa inoperacionalidade, tendo sido formalmente reativados no início de 2015 como órgãos consultivos da APA para que se possam pronunciar sobre os Planos de Gestão de Re- gião Hidrográfica 2016-2021.

Como resultado, hoje registam-se inúmeros problemas a nível da in- formação, havendo sinais claros de que os dados disponíveis são escassos e estão deficientemente adaptados às necessidades dos usuários. Acres- cem indícios de atrasos mais ou menos regulares no processo de recolha e na sua disponibilização, bem como dificuldades crescentes na prática da participação pública à medida que os processos de consulta e decisão se afastaram hierarquicamente do terreno.

Em suma, com todas estas dificuldades e descoincidências, a delapi- dação da confiança institucional acentua-se, agravando todo este pro- cesso em tempos de crise económica e, mais ainda, quando o desinves- timento público na qualidade ambiental e social (a água detém aqui um lugar de charneira indiscutível) se torna cada vez mais evidente (Schmidt

et al. 2015).

A governança da água no primeiro ciclo da aplicação da Diretiva Quadro da Água