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Os novos objetivos da ONU – cumprir a sustentabilidade

É nesta perspetiva de necessidade de maior integração das várias di- mensões do desenvolvimento que emergem os Objetivos de Desenvol- vimento Sustentável (ODS) adotados pela Assembleia Geral da ONU em setembro de 2015. Com efeito, se, por exemplo, as alterações climá- ticas representam, só por si, um problema de extraordinária complexi- dade e de difícil solução, importa não esquecer que surgem acompanha- das – e em boa parte decorrerão – de muitos desafios correlacionados, como «um mundo em rápida urbanização, o extenso processo de extin- ção de espécies, o aumento da população mundial, a sobre-exploração de recursos oceânicos e terrestres, o massivo comércio ilegal de recursos» (Sachs 2015, 506) e muitos outros problemas sociais, que só aparente- mente não estão relacionados com os de cariz ambiental.

Daí a necessidade de se apontarem caminhos alternativos que não li- mitem o futuro ao desalento. A redefinição da agenda de desenvolvi- mento pós-2015 das Nações Unidas pretende exatamente responder a este repto, potenciando nos ODS uma melhor integração das várias dimen- sões do desenvolvimento sustentável. Com base nos sucessos alcançados pelos antecedentes Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) Ambiente, Território e Sociedade

Objetivos do desenvolvimento na encruzilhada da sustentabilidade

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procura-se agora concretizar a ação, numa ótica holística de sustentabili- dade, com metas e objetivos mensurá- veis, integrando vertentes menos con- seguidas e colmatando falhas e lacunas anteriormente assinaladas.

É cedo para avaliar a viabilidade desta nova estratégia, mas, a ser se- guida com eficácia, a adoção dos ODS pode revelar-se «numa decisão histórica com potencial para uma mu- dança efetiva, rumo a uma nova

agenda que envolve toda a comunidade global» (Sachs 2015, 505). So- bretudo se comparados com os precedentes ODM, os ODS oferecem maior integração de necessidades sociais com imperativos ambientais e asseguram uma aplicabilidade universal que abarca países do Norte e do Sul, desenvolvidos e em desenvolvimento. Ou seja, ninguém fica isento do esforço de convergência e «quer os países ricos, quer os países pobres têm de promover a inclusão social, a igualdade de género, assim como sistemas energéticos resilientes e de baixo carbono» (Sachs 2015, 341).

Acresce que a ideia de um planeta finito com recursos naturais limita- dos merece cada vez menos contestação. Nos nossos dias, portanto, a prosperidade não decorrerá, como antes, da intensificação do consumo de recursos escassos mas, sobretudo, da aptidão para envolver os cidadãos na mudança preconizada e da sua capacidade para intervir na coisa pú- blica (Redclift 2005; Flinders 2012). Ultrapassar a desconfiança instalada por uma crise que se tem revelado simultaneamente económica, social e ecológica emerge, portanto, como a pedra angular deste processo que procura reforçar a integração destas várias dimensões do desenvolvi- mento. Implica, afinal, uma atenção especial à proteção das condições ecológicas (de que, afinal, depende a qualidade de vida humana) mas igualmente, como também fica implícito nos ODS, ao reequaciona- mento das iniquidades sociais e à redefinição das condições de prosse- cução da democracia participativa e dos recursos humanos e sociais dis- poníveis. Numa palavra, às condições sociais para o desenvolvimento.

Notas finais – perspetivas de futuro

Resta saber se as flagrantes e crescentes desigualdades socioeconómicas que têm vindo a aprofundar a desconfiança institucional e a conflituali-

Sobretudo se comparados com os precedentes Objetivos do Milénio, os Objetivos de De- senvolvimento Sustentável oferecem maior integração de necessidades sociais com impe- rativos ambientais e asseguram uma aplicabilidade universal que abarca países do Norte e do Sul, desenvolvidos e em de- senvolvimento.

dade social de que falávamos antes não impedirão o progresso desta es- tratégia de generalização de objetivos, ainda que se reforce a integração das várias vertentes do desenvolvimento sustentável. Em contextos de crise quasi permanente que caracterizam os períodos de transição, o risco e o medo ameaçam tomar-se omnipresentes, seja pelas ameaças resultan- tes da degradação ambiental, seja pelas decorrentes da degradação so- cioeconómica. Mas se é verdade que, nos últimos anos, «uma sensação de desesperança e fatalismo parece ter impregnado a vida moderna, num padrão onde a noção de ‘crise’ surge quase como uma metáfora cultural da política contemporânea» (Flinders 2012, 138), não deixa de ser igual- mente verdade que a ideia de desenvolvimento sustentável global e, agora, a monitorização admitida pelos ODS podem potenciar a mu- dança.

Acompanhar o processo de prossecução dos ODS é, por conseguinte, o desafio que se impõe para os próximos 15 anos. Importa perceber até que ponto representará a maior integração dos imperativos ambientais com as necessidades sociais um trunfo importante e se fará a efetiva di- ferença relativamente aos precedentes ODM. Ou revelar-se-á mais im- portante a inédita transversalidade de metas e objetivos para o desenvol- vimento sustentável aplicáveis a países ricos e países pobres? Para os defensores dos ODS, só por si, o estabelecimento de metas e objetivos quantificáveis e monitorizáveis implicará uma pressão acrescida para os governos nacionais que procurarão fugir ao pelotão da retaguarda. Vere- mos se a capacidade de acompanhamento prometida – sucessos e insu- cessos – permite guiar o processo de mudança ou se, apesar disso, o statu

quo socioeconómico não garante a permanência em detrimento da ad-

vogada mudança.

Referências

Flinders, Matthew. 2012. Defending Politics – Why Democracy Matters in the Twenty-First Cen- tury. Oxford: Oxford University Press.

Global Footprint Network. 2015. 2011 Ecological Footprint and Biocapacity Results for all countries included in National Footprint Accounts 2015. Oakland, CA: Global Footprint Network.

Latouche, Serge. 2005. Décoloniser l’imaginaire – La pensée créative contre l’économie de l’ab- surde. Lyon: Parangon/Vs.

Moore, Frances C. 2011. «Toppling the tripod: Sustainable development, constructive ambiguity, and the environmental challenge». The Journal of Sustainable Development, 5 (1): 141-150.

PNUD. 2011. Relatório de Desenvolvimento Humano. Lisboa: Trivona Editora.

Ambiente, Território e Sociedade

Redclift, Michael. 2005. «Sustainable development (1987-2005): an oxymoron comes of age». Sustainable Development, 13 (4): 212-227.

Sachs, Jeffrey. 2015. The age of sustainable development. Nova Iorque: Columbia University Press.

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