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A IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA DE AUDIODESCRIÇÃO PARA

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Após pontuarmos algumas das principais iniciativas dos últimos governos em prol das pessoas com deficiência, cabe, no que diz respeito mais especificamente ao estudo deste trabalho, tratarmos sobre um dos recursos de acessibilidade às pessoas com deficiência visual mais expressivos atualmente: a audiodescrição.

Desenvolvido com o objetivo de aumentar o nível de independência e auto- suficiência das pessoas com deficiência, a audiodescrição é uma técnica de acessibilidade que possibilita às pessoas com deficiência visual, a partir da descrição falada, o completo entendimento de qualquer produto audiovisual, como filmes, programas de televisão, peças de teatro, por meio da descrição detalhada de todos os elementos que possam não ser compreendidos apenas auditivamente por aqueles que não enxergam.

Em outras palavras, o recurso descreve, clara e objetivamente, todas as informações que as pessoas que enxergam compreendem visualmente, mas que não são explicadas por meio do diálogo, como é o caso de expressões faciais e corporais relevantes à percepção das emoções dos personagens. Consequentemente, para o entendimento da cena, além da descrição de cores, roupas, efeitos especiais, mudanças de cenário e qualquer informação escrita que aparecer na tela, esta descrição ocorre simultaneamente ao aparecimento da imagem a ser audiodescrita, seja entre os diálogos, como durante as pausas das

informações sonoras. Desta forma, as pessoas com deficiência podem acompanhar o que está sendo transmitido igualmente às pessoas que enxergam.

Em 1975, na tese “Master of Arts”, de Gregory Frazier, apresentada na Universidade de São Francisco, encontramos uma das primeiras evidências do recurso em questão sendo conceituado como audiodescrição. Entre algumas iniciativas no decorrer dos anos, destacamos, em 1989, a realização da audiodescrição em alguns filmes do Festival de Cannes, corroborando para a expansão do recurso pelo mundo.

Quanto ao desenvolvimento específico desta técnica de acessibilidade para a televisão, constata-se que em 1992 o Royal National Institute for the Blind passou a estudar as condições necessárias para a implementação da audiodescrição na programação televisiva. No Brasil, podemos primeiramente creditar o desenvolvimento inicial da audiodescrição à Graciela Pozzobon. Conforme aponta Patrícia Banut em um documentário sobre a audiodescrição, “Enxergando o invisível” (BLOG DA AUDIODESCRIÇÃO, 2012) Graciela Pozzobon engajou-se em atividades relacionadas à audiodescrição a partir de 1999, quando lançou o filme “Cão Guia” e desejava que pudesse ser assistido pelas pessoas com deficiência visual.

No que diz respeito às iniciativas de implementação da audiodescrição nas emissoras de televisão, de acordo com o criador do Blog da Audiodescrição, Paulo Romeu Filho (AUDIODESCRIÇÃO, 2010):

Tudo começou em 2005 quando assisti ao filme Irmãos de Fé, o primeiro DVD lançado no Brasil com audiodescrição. Imediatamente percebi o potencial do recurso para a inclusão das pessoas com deficiência, permitindo o desfrute com total compreensão de todos os tipos de espetáculos e obras audiovisuais. Naquela época, a ABNT estava elaborando uma norma técnica de acessibilidade específica para a televisão, que tratava do closed caption e da interpretação em LIBRAS para as pessoas surdas. O lançamento de Irmãos de Fé deu os subsídios para que a audiodescrição também fosse incluída na norma. Por sua vez, a norma da ABNT forneceu o embasamento técnico necessário para que o Ministério das Comunicações publicasse a Norma Complementar nº1/2006, concretizando a regulamentação dos dispositivos da Lei 10098 e do Decreto 5296 referentes à acessibilidade na televisão.

Atualmente, conforme divulgou o Estadão (2013), a partir de julho de 2013, uma portaria do Ministério das Comunicações determinou que as emissoras de TV aberta passariam de duas horas semanais, com recursos de audiodescrição, para

quatro horas semanais obrigatórias. O Estadão (2013) destaca ainda que a expectativa é de que a ampliação deste tempo seja distribuída em “novelas, programas humorísticos, jornalísticos, esportivos, infantis, seriados e até nos intervalos comerciais, especialmente no horário nobre”.

Neste sentido, especificamente, principalmente no que fiz respeito à integração das pessoas com deficiência e os comerciais de televisão, observamos um grande avanço. Entre as expectativas futuras, a previsão é de que, conforme cada emissora receber autorização para operar o sinal digital, terá até 120 meses para oferecer aos seus telespectadores 20 horas semanais de programas com audiodescrição, dentro da programação veiculada no horário entre 6h e 2h. (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2013).

Finalmente, por estarmos em 2014, ano da 2ª Copa do Mundo no Brasil, destacamos outra iniciativa, anunciada pelo secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, de que será disponibilizado um novo serviço de narração audiodescritiva aos torcedores com deficiência visual durante os sete jogos da Copa do Mundo que serão realizados no Mané Garrincha, permitindo aos torcedores com deficiência visual, vivenciar uma experiência mais próxima da realidade dos jogos de futebol (PORTAL DA COPA, 2013).

Desta forma, percebemos, portanto, uma maior preocupação com um novo ator social, a pessoa com deficiência. No próximo capítulo procuraremos compreender de que forma este novo partícipe pode decodificar as mensagens que chegam até ele.

2 OS ESTUDOS DE RECEPÇÃO

A fim de analisarmos neste trabalho a recepção das mensagens de comerciais de televisão por pessoas com deficiência visual, apresentaremos os principais conceitos dos Estudos de Recepção, propostos por diferentes teóricos, e alguns conceitos dos Estudos Culturais.

Entretanto, primeiro discutiremos sobre a questão da “cultura do ouvir”, por se tratar de um assunto que se articula com os Estudos de Recepção e os Estudos Culturais. Para melhor aprofundarmos o contexto, abordaremos ainda algumas questões sobre imaginário, pensamento e escuta.

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