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A Importância da Língua de Sinais para as comunidades surdas

Neste tópico buscaremos abordar a importância da Língua Brasileira de Sinais como uma das prioridades da comunidade surda diante de uma sociedade oralista. Segundo Skliar (1998), o oralismo é considerado pelos estudiosos uma imposição social de uma maioria linguística sobre uma minoria linguística; e uma das classes que compõem essa minoria lingüística é organizada pela comunidade surda, que é produtora de uma cultura e de saberes peculiares, em que a língua não é considerada apenas um gesto, mas uma forma de comunicação.

Diante do pensamento oralista, a PS é visto como ser incompleto e, durante muitos anos, houve a tentativa de normalizá-lo do ponto de vista médico-terapeuta. Essa tentativa foi impedida devido à resistência da cultura surda, que lutou pelo reconhecimento de sua língua própria, a Língua Brasileira de Sinais, considerada por estudiosos como veículo de comunicação com estrutura e significados próprios, assim como as demais línguas (QUADROS, 1995).

A Libras torna-se elemento essencial para a comunicação e fortalecimento da identidade Surda no Brasil e, dessa forma, a escola não pode ignorá-la no processo de ensino e aprendizagem, e sim considerá-la como meio de comunicação da PS, adotando uma proposta bilíngüe. Esse tipo de proposta de ensino oportunizará a PS o acesso a duas línguas no contexto social e escolar, pesquisas têm mostrado que essa proposta é a mais adequada para o ensino da PS.(PERLIN, 2008).

Todavia, diferencia-se da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva, por utilizar, como canal para meio de comunicação, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Esses sons têm como meio propagar informações, manifestações culturais (como as músicas, os ritmos, as formas de comunicação oral e as regras de comportamentos), ou seja, criar uma sociedade com base no som.

Os surdos, por sua vez, se valem do canal-visual, da imagem, da luz para interagir e se relacionar com o mundo e receber as informações. Sobre essas divergências o autor Masutti (2007) comenta:

Em um universo predominantemente regulado pelo som, o ouvir e o falar tornaram tão essenciais que qualquer forma de manifestação lingüística e cultural não constituída por essa operações causa estranheza, sofre restrições e instaura processos de exclusão social. Para os surdos, essa situação se agrava em embates cotidianos contra as representações politicamente construídas em torno de suas diferenças. (MASUTTI, 2007, p.11).

As diferenças não estão somente na utilização de canais diferentes. Estão também nas estruturas gramaticais de cada língua. Apesar das diferenças peculiares a cada língua, todas as línguas possuem algumas similaridades que a identificam como língua e não linguagem.

Segundo Felipe (2003), a semelhança existente entre as “línguas” é que todas são estruturadas a partir de unidades complexas e todas possuem níveis lingüísticos em diferentes graus, apresentando uma gramática com uma estrutura própria.

É atribuído às línguas de sinais o status de língua, porque, embora sendo de modalidade diferente, elas possuem também características específicas em relação às diferenças regionais, diferenças socioculturais, entre outras, e em relação às suas estruturas que também são compostas pelos níveis mencionados acima.

Na história da humanidade não se tem exatamente registros de quando os seres humanos começaram a desenvolver uma forma de comunicação verbal que pudesse ser considerada uma língua. Tanto a língua oral-auditiva, como a língua de sinais não tem registro de sua utilização, todavia sabe-se que elas existem há muitos e muitos anos. (SKLIAR, 1998).

Assim, a discussão sobre a surdez e a língua de sinais vem sendo ampliada nos últimos anos por profissionais envolvidos com a educação de surdos, como também pela própria comunidade surda. Os estudos linguísticos referentes à língua de sinais foram retomados somente a partir da década 70, quando as pesquisas voltadas ao estudo da língua de sinais vieram confirmar que a LIBRAS poderia ser comparável em complexidade e expressividade a qualquer língua oral.

Porém, é oportuno lembrar que as línguas de sinais não são universais, pois cada uma tem sua própria estrutura gramatical. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, as pessoas surdas, também, por toda

parte do mundo, que estão inseridas em “culturas surdas”, possuem sua própria língua, existindo, portanto, muitas línguas de sinais diferentes, tais como: Língua de Sinais Francesa, Chilena, Portuguesa, Americana, Argentina, Inglesa, Japonesa, Brasileira entre outras.

Essas línguas são diferentes uma das outras e independem da língua oral- auditiva utilizada nesse e em outros países, por exemplo: o Brasil e Portugal possuem a mesma língua oficial, o Português, mas as Línguas de Sinais destes países são diferentes. O mesmo acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros. Também pode acontecer que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois países, assim como é o caso da língua de sinais americana que é usada pelos surdos dos Estados Unidos e do Canadá.

Segundo pesquisadores, embora cada língua de sinais tenha sua estrutura própria, as pessoas surdas pertencentes a países com línguas de sinais diferentes comunicam-se mais rapidamente umas com as outras; fato que não ocorre entre falantes de línguas orais, que necessitam de um tempo bem maior para um entendimento. Isso se deve à iconicidade dessas línguas e à capacidade que as pessoas surdas tem em desenvolver e aproveitar gestos e pantomimas para a comunicação e estarem atentos às expressões faciais e corporais das pessoas nessas situações de fala (SACKS, 1998, p. 49).

Encontramos também em Quadros (2004), uma justificativa para a utilização da língua de sinais:

Surdo é o sujeito que apreende o mundo por meio de experiências visuais e tem o direito e a possibilidade de apropriar-se da língua brasileira de sinais e da língua portuguesa, de modo a propiciar seu pleno desenvolvimento e garantir o trânsito em diferentes contextos sociais e culturais. A identificação dos surdos situa-se culturalmente dentro das expectativas visuais (Quadros, 2004, p. 15).

Por isso, torna-se essencial a incorporação da língua de sinais na vida desses sujeitos. Como afirma Góes (1999), a língua de sinais será necessária para que haja condições mais propícias à expansão das relações interpessoais, constituindo o funcionamento cognitivo e afetivo, promovendo a constituição da subjetividade.

A Língua de Sinais como qualquer outra, deve ser inserida na vida da criança nos três primeiros anos de idade, para que a criança a adquira naturalmente. No entanto, de acordo com a realidade de nosso país, a detecção da surdez nem sempre ocorre até o primeiro ano de vida, assim como acesso à língua de sinais é tardio, soma-se a isso, o fato de dificilmente a importância da Libras ser apontada pelos profissionais que realizam o diagnóstico da surdez aos pais.

É fundamental que os profissionais orientem a família da criança surda para as diferentes propostas de trabalho fonoaudiológico e informem sobre a importância da Libras para seu processo educacional, social, cultural, bem como suas concepções e conseqüências para o desenvolvimento geral do surdo. Segundo Harrison (2000), deve-se propiciar a linguagem no tempo esperado, pois assim, esta poderá trazer benefícios para a criança e para a dinâmica familiar.

No Brasil, a língua de sinais utilizada pelos surdos é a Libras, oficializada pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. A partir desta data, inicia-se um processo de se repensar novos caminhos para realização de uma educação voltada para atender as necessidades da PS.

Perante o cenário da oficialização da língua, buscamos nos orientar quanto à porcentagem de surdos existentes em todo o território nacional, por meio dos dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Brasil possui cerca de 9,7 milhões de surdos e pessoas com deficiência auditiva, desde a surdez total até níveis diferentes de audição. Esses indicadores nos mostram que o número de surdos é muito alto. Assim, de acordo com os dados populacionais coletados pelo IBGE/2010, o Brasil traz mais de 9.722.163 pessoas com problemas relacionados à surdez.

Logo, os dados do Censo Escolar/2005 registraram a matrícula de 66.261 alunos surdos ou com deficiência auditiva na Educação Básica e os dados do Censo da Educação Superior/2007 registraram a matrícula de apenas 974 alunos com deficiência auditiva, numa clara demonstração de que a exclusão escolar é o indicador da realidade vivenciada pelos surdos de nosso País, que passou séculos desconsiderando a existência da língua de sinais utilizada por esse segmento populacional (IBGE 2005).

De acordo com os dados do Censo da educação superior (MEC/INEP), o índice de matrícula de estudante com deficiência auditiva, passa de 665 em 2003, para 4.660 em 2009, significando um crescimento de 600,7%. A partir de 2007, são coletados dados específicos sobre a matrícula de estudantes com surdez, que registra 444 em 2007 e 1.895, em 2009, representando um crescimento de 326,8%. Assim, o total de estudantes com deficiência auditiva e surdez, corresponde a 6.555, perfazendo um crescimento de 885,7% (BRASIL, 2011).

Os dados apontam uma parcela significativa de pessoas surdas compondo o cenário brasileiro, organizando-se em comunidades, e para se comunicar, defendem um tipo de comunicação.

Qualquer pessoa acometida por algum tipo de surdez tem uma diminuição na audição, podendo variar quanto ao grau ou intensidade sonora percebida pelo sujeito. Assim, a surdez leva a uma compreensão oral reduzida, ou seja, nenhum feedback auditivo, associada a grande aptidão visual.

Segundo Moura (1999), a educação social dos surdos constitui um sério problema, no que tange a valorização de sua cultura, e muitos caminhos tem sido seguidos na busca de amenizar esse problema, uma vez que a Língua de Sinais é considerada por muitos profissionais como apenas a execução de gestos simbólicos.

Nessa perspectiva, de acordo com Ferreira Brito (1993), no Brasil somente na década de 1980, iniciaram-se as investigações voltadas ao estudo da língua de sinais brasileira, e a aquisição da língua de sinais brasileira foi desenvolvida nos anos 1990. (Quadros, 1995).

A partir desse contexto, se faz necessária uma educação para os surdos, calcada na política educacional e na perspectiva da educação inclusiva, incluindo várias ações que devem ser implementadas na escola e nos espaços sociais para o desenvolvimento da Língua Brasileira de Sinais.

Dentre as conquistas mais recentes, encontra-se em discussão, as diretrizes nacionais da Lei nº 10.098/94, de 23 de março de 1994, em especial o capítulo VII,artigos 17 e 18, que legisla sobre a acessibilidade à língua de sinais, e a Lei nº 10.436, 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e o Decreto 5626/2005 que reforça a necessidade da Libras como disciplinas nos cursos de formação inicial. (BRASIL, 2002).

Diante destas reflexões acerca da importância do desenvolvimento da Libras para os surdos, o próximo item irá retratar aspectos importantes da Libras para a formação de professores, salientando que a criança surda pode desenvolver-se, comunicar-se e aprender, desde que tenha suas necessidades linguísticas supridas.

2.3. A Libras nos cursos de formação de professores: perspectivas para atuar