• Nenhum resultado encontrado

Breve histórico da Política de Educação Especial no Brasil

As políticas públicas na área da Educação Especial, iniciadas a partir de 1854, foram marcadas por medidas pontuais e fragmentadas, denotando o descaso com essa modalidade de ensino.

Por volta de meados do século XX, o Estado passou a compor órgãos voltados para o atendimento de pessoas com deficiência e lançou campanhas em prol da pessoa com deficiência, objetivando a sensibilização da sociedade para esses sujeitos.

Encontramos também um significativo avanço na composição das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n° 9394/96, no sentido de conceber a educação como direito de todos e de recomendar a integração da Educação Especial no Sistema Nacional de Educação.

A partir da Constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990, no que se refere aos direitos das Pessoas com Deficiência (PD), estas passaram a ser consideradas como sujeitos com direitos, inclusive à educação. A Constituição determinou ser dever do Estado o Atendimento Educacional Especializado (AEE) voltado às PD na rede regular de ensino.

Internacionalmente, a Declaração de Salamanca (1994), foi um impulso dado às questões das diferenças e sua aceitação pela sociedade, evocando que a todos deve ser dado o direito de acesso e permanência em escolas regulares, devendo estas modificarem-se ou adaptarem-se no sentido de acolher a PS em todos os sentidos educacional e social, com eficiência e eficácia.

De acordo com os princípios da educação inclusiva, a escola deve atender às necessidades educacionais de todos, oferecendo um ensino de qualidade com

vistas ao seu pleno desenvolvimento. Esse paradigma de inclusão escolar provocou uma mudança na função da escola e inaugurou um momento de transição que colocou para os gestores das políticas públicas uma nova concepção de escola que parte do pressuposto de que essa instituição é o local privilegiado da inclusão social, e não apenas de instrução e transmissão de conteúdos.

Assim, a LDBEN n° 9394/96, em seu artigo 59, inciso IV, traz um feito inédito, pois apresenta um artigo específico sobre Educação Especial, que reconhece o direito à diferença, ao pluralismo e à tolerância, e, com suas alterações, garante às pessoas surdas, em todas as etapas e modalidades da educação básica, nas redes públicas e privadas de ensino, a oferta da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na condição de língua nativa das pessoas surdas. Além disso, prevê, em seu artigo 48, § 2°, que o Atendimento Educacional Especializado, o qual deverá ser “feito em classes, escolas ou serviços especializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular”.

O serviço de Atendimento Educacional Especializado foi criado em 2001, reforçado pelo Decreto Lei n° 3956/2001 e estimulado pelas orientações emanadas na Convenção de Guatemala, que mencionava o conceito de diferenciação ou preferência. O AEE oferece às pessoas com deficiências, a garantia para a promoção da integração social ou o desenvolvimento das mesmas, desde que a diferenciação não limite o direito à igualdade.

A oferta do AEE é fundamental para a efetivação da proposta de educação bilíngue estabelecida no Decreto nº 5626/2005, que regulamenta Lei no. 10.436/2002, construído pelo Ministério da

Educação em parceria com a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS e demais órgãos governamentais e não governamentais. De acordo com este Decreto, a educação bilíngue para estudantes com surdez caracteriza-se pelo ensino ministrado por meio da Língua Portuguesa e da Libra, devendo ser disponibilizados os serviços de tradutor/intérprete e o ensino da Libras para os estudantes (BRASIL, 2011).

.

Esse documento traz importantes repercussões nas políticas de educação, pois além de ressignificar a forma de ver a pessoa com deficiência, estigmatizada

historicamente em razão de suas características físicas, mentais ou sensórias diferenciadas, permite repensar também a necessidade de transformar o espaço escolar e transformar os espaços para que atendam a todos os alunos.

A concepção expressa na Convenção de Guatemala apresenta uma reinterpretação da Educação Especial, que deve ser compreendida no contexto do AEE, caracterizada pela diferenciação adotada para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização.

Por outro lado, professores, em sua maioria, sem conhecimento mínimo da Libras e, algumas vezes, consumidos por uma carga horária de trabalho exaustiva, não tem tempo para buscar uma formação continuada na área. Carecem também de cursos de Libras básico e, principalmente, avançado, pois o estudo da língua em seus aspectos gramaticais e discursivos ainda é restrito em nosso país, justamente porque faltam professores formados nessa área.

O Decreto Lei nº 5626/2005, que regulamentou a Lei 10.436/2002, (fruto da luta da Comunidade Surda brasileira), visando suprir essa carência e garantir que a Comunidade Surda tenha um processo de escolarização exitoso, reconheceu a Libras como meio legal de comunicação e expressão dos surdos e garantiu a inserção da disciplina Libras como obrigatória nos cursos de licenciatura de nível superior.

Além dessa determinação, o Decreto estabeleceu prazos para as Instituições de Ensino Superior, e delineou como deve ocorrer a formação dos docentes para o ensino da disciplina, viabilizando a criação de programas para a concepção de cursos de graduação e para a formação de professores surdos e ouvintes para atuar na Educação Básica e no Ensino Superior, possibilitando uma formação bilíngüe (Libras e Língua Portuguesa como segunda língua).

Diante da exigência legal, as Instituições de Ensino Superior, principalmente no ano de 2009, iniciaram uma “corrida” no intuito de cumprir os prazos estabelecidos pelo Decreto, abrindo editais para selecionar professores de Libras para atuarem nos cursos de preparação de professores da Educação Básica.

Os editais traziam exigências distintas e muitas vezes desiguais, de uma instituição para outra, denotando entendimentos diversos sobre o perfil de profissional e de conteúdo a ser trabalhado nesta disciplina. Alguns enfocavam a

prática ou o uso da língua, outras pareciam ir mais além, colocando em seu conteúdo de prova, questões ligadas ao funcionamento da língua e dos métodos utilizados na educação dos surdos. Dessa forma, torna-se necessário compreender melhor sobre as leis que regulamentam a política sobre a Libras no ensino superior.