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CAPÍTULO III – CURRÍCULO, INOVAÇÃO CURRICULAR e o papel dos

III.3. Os professores na construção do currículo

III.3.1. A importância da planificação nos processos de desenvolvimento do

A importância da planificação nos processos de desenvolvimento do currículo enquadra-se no papel do profissional de educação que planeia situações de ensino aprendizagem desafiadoras e motivadoras para os alunos, captando o seu interesse continuo de modo a realizarem aprendizagens significativas e a sua autorrealização. Neste processos de planificação, o professor, tendo presente as finalidades educativas, seleciona e organiza o conhecimento escolar. Trata-se, na perspetiva de Pacheco (2014) de um “processo de transformação curricular”. A planificação assume, nesta linha, um mote que pode conduzir a escola a “inovar e mudar constantemente ao nível curricular”, e configura uma estratégia que, articulando-se com o projeto educativo, potenciará a formação de “cidadãos críticos, reflexivos, na lógica transformacional e humanizada” (Cunha, 2008).

Neste sentido, a planificação é enquadrada nas “referências genéricas de melhoria das visões do ensino” (Escudero e Trillo, 2015a:60). Relacionando a questão da planificação com a formação inicial de professores, os autores propõem que esta abarque, para além dos conhecimentos técnicos do ensino, a dimensão relacional que caracteriza a profissão docente. Este é, aliás, um dado que é realçado pelas estagiárias e pelos supervisores eu participaram nesta investigação.

Ao retomar o foco da planificação dos processos curriculares, reconhece-se a importância de se pensar a intervenção, tendo por base os “pontos de partida” dos alunos, e organizando-a numa lógica sequencial. Ou seja, reconhece-se que para poder iniciar a intervenção educativa, o professor precisa de começar por observar, para, em função dessa observação, proceder à planificação que servirá de base à intervenção. Assim, a intervenção tem subjacente a planificação que é precedida pela observação, compreendida como “a exploração, a inquisição com o objetivo da descoberta de qualquer coisa previamente escondida e desconhecida” (Hohmann e Weikart, 2009:141). A observação torna-se, assim, fundamental e central no processo de ensino- aprendizagem, pois é a partir da mesma que o professor pode identificar o que precisa ser alterado e proceder a melhorias. A observação é útil para “obter elementos sobre todas as áreas de desenvolvimento e informações que

possam ser utilizadas para planear” (Parente, 2002:180. É através dela que melhor se conhecem as caraterísticas e os interesses de aprendizagem dos alunos, pelo que se revela essencial para uma melhor adequação do processo educativo às suas necessidades educativas. Tal como afirma Perrenoud (2002), a observação não tem apenas a função de coletar dados com vista a um balanço, entendendo-se também que a sua primeira intenção é formativa, com o intuito de melhorar a intervenção educativa. Neste sentido, o professor, enquanto configurador do currículo, deve adotar “uma atitude de observação constante que permita regular as opções em função dos objetivos do grupo, de cada aluno e de outras especificidades individuais e contextuais que cada situação tornará relevantes” (Morgado, 2004:22-23), procurando a sua melhoria.

Ao ter subjacente a melhoria educativa, a planificação pode ser continuamente ajustada em função do processo de observação antes descrito, o que poderá potenciar, e enriquecer, os processos de desenvolvimento do currículo. Tal é possível, ao conhecer a realidade educativa e ao ajustar o currículo às necessidades observadas para, assim, realizar uma planificação adequada. Segundo Zabalza (2000) planificar corresponde ao “conjunto de processos psicológicos básicos através dos quais a pessoa visualiza o futuro, faz um inventário de fins e meios e constrói um marco de referências que guie as suas acções” (ibidem:48). Assim sendo, uma atividade, para ter êxito, necessita de ser planeada ou primeiramente pensada.

A planificação deve ser feita pelo professor, enquanto forma de organizar algo, de acordo com um plano, ou seja, é uma mais-valia que todos os profissionais da educação coloquem a planificação em prática, pois, deste modo, saberão concretamente os objetivos que pretendem desenvolver.

Na prática, é esperado que a planificação traduza o “resultado e a matéria-prima de uma reflexão autêntica” (Matos Vilar, 1995:23), tendo como base a adequação curricular às caraterísticas particulares de cada situação de ensino, à individualidade dos alunos e ao meio onde se inserem (Zabalza, 2000; Roldão, 2008; Matos Vilar, 1995; Sanches, 2001), à utilização do programa enquanto “auxiliar da ação” e não como “decreto” (Roldão, 2008:29),

e à observação dos conhecimentos prévios dos alunos, das suas motivações de momento e das competências que ainda não adquiriram e limitam o seu desenvolvimento (Sanches, 2001; Roldão, 2008).

Ainda a propósito da importância da planificação, Matos Vilar (1995) afirma que esta não pode ser abordada de uma forma estática, rígida e prescrita e Oliveira-Formosinho (1996) defende uma planificação flexível, adaptada aos interesses e necessidades emergentes do grupo de discentes.

Quanto às caraterísticas da planificação, Spodeck (1998) subdivide-a em planeamento a longo prazo, que ajuda a dar flexibilidade à ação e em planeamento a curto prazo, que considera o equilíbrio diário do programa e dos conteúdos. Esperança Ribeiro (2004) acrescenta que o planeamento a curto e a longo prazo devem basear-se na aprendizagem colaborativa, na investigação em conjunto e no papel ativo do aluno. Neste sentido, a planificação permitirá que o professor aja, concretizando as suas intenções educativas e adaptando as propostas educativas, tirando partido de situações imprevistas e pondo em prática um currículo flexível (Leite e Fernandes, 2002).

Nesta linha argumentativa, Barreira e Moreira (2004), defendem que, para garantir uma aprendizagem construtivista, o professor, na sua planificação, deve “proceder à instalação de competências” (ibidem,:23), proporcionando condições de aprendizagem. Para Tomlinson (2008), a planificação pretende alcançar três metas: fortificar as aprendizagens através dos conhecimentos prévios, do envolvimento, da motivação e consolidação; flexibilizar, adaptar e construir o currículo através de tarefas inerentes à aprendizagem por transferências e à pedagogia por competências; e pôr em prática uma pedagogia diferenciada pró-ativa e qualitativa.

Reconhece-se, através da literatura mobilizada até ao momento que os professores têm um papel importante na planificação, podendo contribuir para o desenvolvimento de processos curriculares mais flexíveis e ajustados aos perfis dos alunos. Situados nesta perspetiva, os professores são, como já referimos, considerados “construtores de currículo e de projetos curriculares comuns e por todos participados” (Fernandes, et al, 2001:73).

Para construir estes processos de gestão do currículo é importante que os professores trabalhem com essa intencionalidade por base, procurando construir uma planificação curricular que, não deixando de equacionar as diretrizes centrais, crie espaços para propostas educativas ajustadas aos interesses e necessidades dos alunos, contextos e situações.

Este processo de configuração curricular pressupõe, como também já referimos, a “existência de condições físicas, humanas e materiais (…) e, mais do que isso, pressupõe, por parte de todos os professores e da própria escola, vontade de partilhar e de participar nessa procura conjunta de caminhos de inovação” (Leite e Fernandes, 2010:200). Mais salientam as autoras que:

“o modo como os professores se posicionam quanto ao factor tempo e a alusão que normalmente fazem à falta dele, perante a enormidade de tarefas que têm de desempenhar, tem, como salientámos, também a ver com o modo como olham o seu papel e se posicionam face às inovações curriculares. A vontade e o querer profissional parecem constituir a pedra de toque da questão aqui em análise relativa às possibilidades de os professores se assumirem como configuradores do currículo” (ibidem, 202).

Nesta linha, a “tomada de decisões pré-ativas do professor com o propósito de organização do processo de ensino aprendizagem ” (Pacheco, 2011:98) advém da planificação, com especial atenção para as questões curriculares. Reportando-se às mudanças curriculares ocorridas em Portugal nos últimos anos, advoga o autor que, “com a introdução das competências no currículo nacional, e nalguns programas, as práticas curriculares, em termos de planificação, são muitas vezes indefinidas, revelando os professores muitas dúvidas quanto aos conceitos e suas formas de operacionalização” (ibidem).

Em síntese, os aspetos, que ao longo deste ponto fomos expondo, relacionados com a planificação podem influenciar o processo de desenvolvimento do currículo, pelo que se destaca a importância de investir numa planificação ajustada ao contexto de intervenção, e aos seus sujeitos, e de caráter flexível, para responder aos interesses e necessidades inerentes a esse contexto e aos sujeitos Estas questões colocam no centro do debate o

papel do professor, entendido como configurador do currículo, atento às possibilidades de inovação no campo educativo.

Síntese Interpretativa

O capítulo dedicado ao currículo, inovação curricular e ao papel dos professores dá conta da evolução do conceito de currículo, desde perspetivas que o associam à noção de disciplina até às mais abrangentes que entendem o currículo como uma processo que reflete questões sociais e valores.

Nestas perspetivas mais complexas, o currículo pressupõe o recurso a estratégias de inovação curricular, entendidas como mudanças educacionais operadas pelos professores, nas quais, a planificação assume destaque pelas possibilidades que introduz de tornar os processos de desenvolvimento do currículo mais flexíveis e, assim também, mais ajustados aos contextos e aos alunos. Os desafios criados pelo contexto e pela realidade escolar no sentido da melhoria dos processos e práticas de ensino/aprendizagem colocam em destaque o papel do professor na configuração desses processos de desenvolvimento do currículo.

Para promover aprendizagens enquadradas nas realidades e necessidades dos discentes, cabe aos professores usar todas as potencialidades da planificação que permitam desenvolver o currículo de modo a estimular o interesse dos alunos para a realização de aprendizagens enriquecedoras e significativas.

PARTE II - O ESTUDO NA SUA COMPONENTE