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CAPÍTULO V APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

V.3. Dados referentes à Análise Documental

V.3.2. Análise dos Relatórios de estágio

V.3.2.3. Prática pedagógica e processo de supervisão

Da análise deste categoria, reitera-se a ideia de que a prática pedagógica (o estágio) é profundamente marcada pela relação entre supervisores/as, professores/as cooperantes e estagiárias e, assim também, pelo processo de supervisão que lhe é inerente. A relação estabelecida entre estes diferentes atores é reconhecida como sendo fundamental no desenvolvimento pessoal e profissional das estagiárias/futuras professoras do 1.º CEB. Este reconhecimento reflete uma visão ecológica e de desenvolvimento humano de base à prática pedagógica e consequente processo de supervisão (Alarcão e Sá-Chaves, 1994). Este traço é bem evidente ao longo dos vários relatórios:

“O facto de existir uma relação de confiança/proximidade com a equipa pedagógica permitiu que houvesse, entre todos, momentos de partilha e de troca de saberes, que contribuíram muito para o meu crescimento e desenvolvimento pessoal e também enquanto futura educadora/professora” (RE III);

“A relação estabelecida tanto com a educadora como com o professor cooperante ajudou no desenvolvimento pessoal e profissional, sabendo desta

forma como atuar em determinadas situações ao longo da sua prática” (RE XVI).

A ênfase na dimensão relacional parece ser basilar no contexto da prática pedagógica e no trabalho de supervisão, contribuindo para o crescimento pessoal e profissional das estagiárias. Como sublinham Alarcão e Tavares (2003, p.144) é fundamental promover o desenvolvimento qualitativo dos que “realizam o seu trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa por intermédio de aprendizagens individuais e coletivas, incluindo os novos agentes”.

Numa perspetiva mais didática evidencia-se a importância atribuída pelas estagiárias ao espaço de autonomia que vão conquistando o que parece ser fundamental para o seu desenvolvimento profissional (Day, 2001). Sublinham, especificamente, que o “crescimento profissional” foi fortalecido pelas possibilidades de partilha e de trabalho conjunto ocorridas ao longo do período de estágio entre os vários intervenientes (Alarcão e Tavares, 2003). Registam a propósito:

“Todos os momentos vivenciados foram significativos e contribuíram para um crescimento a nível profissional e pessoal” (RE XIII);

“todo o processo foi desenvolvido no sentido de uma crescente autonomia atribuída pela docente titular” (RE II);

“É pertinente referir que durante o estágio iniciei a construção da minha identidade profissional,…embora tenha consciência de que ainda estou no início dessa construção e que ainda muito mais virá” (RE XII).

Tal como foi já referido, o trabalho colaborativo (Hargreaves, 1998; Alarcão e Canha, 2013) emerge também como uma condição indispensável no contexto da prática pedagógica:

“Um outro aspeto foi o facto de, ao longo das intervenções se ter desenvolvido um trabalho colaborativo, ao nível institucional, com a colega de estágio/par pedagógico, com as educadoras/professoras e também com o/a orientador/supervisor/a de estágio” (RE XV);

“foi muito importante a cooperação que existiu entre a equipa pedagógica e que permitiu um grande enriquecimento, quer ao nível dos conhecimentos, quer de atitudes que me ajudaram a desenvolveram melhor a minha intervenção, com as crianças (RE VII).

O fator “duração do estágio” surge como um constrangimento no processo de supervisão pedagógica, interferindo no modo como é vivido, na possibilidade de concretização das atividades planificadas e na qualidade da intervenção pedagógica:

“O tempo de estágio demonstrou ser de curta duração não sendo por isso possível colocar em prática tudo o que se tinha à partida planeado” (RE I); “Foram várias as dificuldades encontradas muito pela escassez do tempo” (RE IV);

“Para mim, o contexto com a prática foi muito breve …e isso leva a que considere ainda mais importante todo o processo de supervisão pedagógica pelas oportunidades de aprendizagem que permite” (RE XV).

Neste último excerto a ênfase no processo de supervisão torna evidente a sua

Mas, se, por um lado, o tempo de estágio é considerado escasso, por outro, a prática pedagógica é descrita como fundamental para estabelecer contacto com a realidade educativa e pedagógico e para o desenvolvimento de competências profissionais. Esta importância do estágio é, assim, narrada nos relatórios:

“O estágio assumiu uma importância fundamental na minha formação, na medida em que foi através dele que estabeleci um contacto mais prolongado com as crianças e com o ambiente de sala de aula possibilitando vivenciar o dia-a-dia numa instituição de ensino e preparar-me para o meu futuro profissional” (RE V);

“A prática pedagógica foi imprescindível para a minha aprendizagem…para o meu futuro como educadora/professora e o meu trabalho em sala de aula com os meus futuros alunos… ” (RE VI).

Parece pois poder inferir-se que a essencialidade da prática pedagógica para o exercício futuro da profissão docente colide com o fator “tempo de estágio” percecionado pelas estagiárias como sendo escasso para a concretização dos seus planos de trabalho. Os registos salientam, ainda, as possibilidades do estágio enquanto espaço que permite articular teoria e prática (Coimbra, 2013; Kortaghen, 2009). Escrevem a propósito:

“Os estágios deram a oportunidade de um contacto direto com a educação, e de aplicar todos os conceitos aprendidos, da teoria para a prática” (RE IX); “Esta prática profissional permitiu-nos conciliar a vertente teórica com a prática, a fim de compreendermos a nossa aptidão e a nossa competência para a profissão que nos propomos assumir no futuro” (RE X).

Embora as estagiárias reconheçam muita importância às experiências advindas da prática pedagógica, elas dão também conta da necessidade de continuarem a investir na sua formação:

“Apesar de tudo o que construímos durante este estágio profissionalizante, estou certa de que ainda teremos muito que aprender e evoluir” (RE X); “A formação constante é algo essencial para o profissional da educação, no sentido de atingir a competência profissional desejada” (RE XIII);

“Estas experiências [de prática pedagógica supervisionada] foram determinantes para o início do desenvolvimento do percurso profissional, pessoal e social, na medida em que a aprendizagem foi constante, significante e profícua” (RE XIV).

Estes depoimentos reforçam, pois, a ideia de que as aprendizagens, as técnicas e as competências didáticas associadas à experiência de estágio são percecionadas pelas estagiárias como precisando de ser reinvestidas de novas significações, numa lógica de permanente desenvolvimento profissional (Day, 2001) e de investimento na sua formação contínua.

Em síntese, a análise dos relatórios mostra a referência a princípios de cooperação, colaboração, apoio e interajuda entre a equipa pedagógica que intervém no processo de supervisão. Nesta mesma linha, os relatórios enunciam que a melhoria das práticas e do processo avaliativo requer um trabalho colaborativo com supervisores e pares pedagógicos. Embora o tempo de estágio seja considerado escasso, a prática pedagógica é descrita como fundamental para estabelecer contacto com a realidade do contexto educativo, e para a criação de oportunidades de articulação da teoria com a prática, de aprofundamento de conhecimentos, e de aperfeiçoamento de técnicas e competências didáticas, imprescindíveis para o seu futuro como professoras do 1.º CEB. Neste contexto formativo a supervisão pedagógica é vista como um processo potenciador da reflexão sobre as situações educacionais e, assim, da melhoria dos processos de ensino-aprendizagem.

V.3.2.4. Relação entre o processo de supervisão pedagógica e