• Nenhum resultado encontrado

A Importância das Ferramentas para a Colaboração

2.2 A Colaboração Mediada por Computador

2.2.3 A Importância das Ferramentas para a Colaboração

No trabalho colaborativo, para além do desempenho dos participantes, a escolha adequada das ferramentas de suporte pode influenciar os resultados alcançados, contribuindo ou não para uma maior liberdade criativa e para uma partilha e percepção mais fidedigna da situação de trabalho (Bolstad & Endsley, 2003). A escolha vai depender da finalidade, das necessidades individuais dos utilizadores, sendo que o que funciona bem para determinada situação poderá não servir para outra: “A escolha adequada irá depender da natureza da comunidade, ou seja, se o foco das atividades estará na produção de conteúdo, no desenvolvimento de um projeto ou na interação entre seus membros” (Borges et al., 2016, p. 15).

No entanto, as características das ferramentas possuem grande influência na sua escolha, em especial, quanto às interações que facilitam e acerca das funcionalidades disponíveis. Uma boa ferramenta de colaboração, na concepção de Lomas et al. (2008), é aquela que promove a comunicação, possibilita a partilha de imagens, arquivos ou afins, proporciona interações naturais e espontâneas e é de fácil aprendizagem e manuseio. Para estes autores o maior desafio de qualquer ferramenta é oferecer a combinação de três recursos: experiência mais rica do que a ferramenta anterior proporcionava, ser mais fácil de usar e ser mais rentável que as concorrentes.

As características das ferramentas, para além de influências na escolha podem afetar os tipos de colaboração possíveis (Bolstad & Endsley, 2003). Existem ferramentas que permitem gravar e rastrear as intervenções realizadas pelos participantes do grupo, por meio do histórico das colaborações, o que possibilita recriar o trajeto de autoria dos colaboradores no sentido de auxiliar ações futuras com base nas suas contribuições. Algumas ferramentas também fornecem informações identificáveis, vinculando as informações fornecidas ao emissor da mensagem. Além destas características, algumas ferramentas podem permitir comunicações de uma forma estruturada, caracterizada por um tipo específico de informação, ou não estruturada, envolvendo diferentes tipos de informação, por exemplo, verbal, textual, gráfica (mapas ou desenhos), emocional

27

(fadiga, inibição, ansiedade, etc.), imagens, vídeos, entre outros tipos de informação (Bolstad & Endsley, 2003).

Wenger et al., (2005) consideram não existir uma configuração perfeita de tecnologia em decorrência da sua evolução constante e da complexidade resultante das tensões existentes na experiência de união através do tempo e espaço, vivenciada por membros individuais com necessidades e compromissos distintos e diferenciados tipos de relacionamentos. Assim, ao nível das ferramentas, existe a necessidade de se focarem nas atividades que apoiam as formas como os membros aprendem uns com os outros, os tipos de interação em curso, síncronas e assíncronas, tipos de contribuições, artefatos a partilhar, a sua organização e armazenamento, ações a empreender, como pretendem administrar as respectivas participações, entre outros aspectos, pois algumas ferramentas podem suportar a realização de diferentes atividades, enquanto outras atividades necessitam de múltiplas ferramentas para a sua consecução (Wenger et al., 2005).

Quanto à capacidade de colaboração presente nas ferramentas, Lomas et al. (2008) consideram existir três características que distinguem as ferramentas colaborativas das simples ferramentas de comunicação. São elas: capacidade de comunicação, interface fácil de entender e capacidade e expectativa de colaboração. A capacidade de comunicação caracteriza-se pela eficácia da ferramenta ao facilitar a comunicação e interação entre os participantes. Quanto à interface, deve ser fácil e intuitiva permitindo a navegação sem maiores entraves, de preferência sem a necessidade de apoio/supervisão ou formação para utilização. A capacidade e expectativa de colaboração consiste nas condições oferecidas pela ferramenta capazes de motivar e incentivar os participantes no sentido da interação e colaboração. A ferramenta deve deixar claro para os participantes qual a sua finalidade, impulsionando os membros de um grupo a participar e interagir.

Diferentes tipologias de ferramentas encontram-se disponíveis para apoiar a colaboração em equipas distribuídas. Entre elas encontramos, por exemplo, ferramentas de videoconferência, audioconferência, chat e mensagens instantâneas, transferência de ficheiros, e-mail, entre outras. No entanto, algumas características da colaboração definem os tipos de ferramentas mais adequadas: tempo de colaboração, previsibilidade, lugar e grau de interação, pois a colaboração pode ocorrer de diferentes maneiras (Bolstad & Endsley, 2003).

28

O tempo de colaboração consiste na maneira como os participantes interagem podendo ocorrer de forma síncrona, em tempo real sem atrasos ou de forma assíncrona, em tempos diferentes. A previsibilidade de ocorrência da colaboração envolve a definição ou não de horários previamente programados e previsíveis ou em tempos imprevisíveis e não programados. O lugar refere-se à localização dos indivíduos participantes do processo, podendo estes encontrar-se co-localizados, no mesmo lugar, por exemplo em ambientes de trabalho ou salas de aula ou distribuídos, em lugares diferentes (quadro 2.1). O tempo e o lugar impõem restrições à escolha das ferramentas se considerarmos a participação de membros localizados em distintos fusos horários, por exemplo.

Quadro 2.1 Comunicação Tempo/Lugar

Fonte: (Adaptado de Grudin, 1994)

Ferramentas colaborativas online são aplicações disponíveis na web que permitem a comunicação e interação entre indivíduos e a integração de trabalho compartilhado em torno de interesses diversos. Possuem características específicas, segundo Machado (2009):

• Utilização da web como plataforma, acessadas pelo navegador independentemente do tempo ou lugar;

• Evolução e aperfeiçoamento constantes, inclusivamente com o auxílio dos usuários ao reportar os problemas detectados aquando da utilização;

TEMPO L U G A R

Mesmo Diferente/previsível Diferente/ imprevisível Mesmo Reuniões face a face Turno de trabalho Salas de equipes Diferente

previsível

Videoconferência E-mail Escrita colaborativa

Diferente imprevisível Seminários interativos Quadros de mensagens de computador Gerenciamento do fluxo do trabalho

29

• Total ou parcialmente gratuitas, nestes casos limitadas às funcionalidades mais básicas, mas que são suficientes para a realização de determinados trabalhos que não requeiram demasiadas funcionalidades, sendo uma oportunidade para o usuário experimentar com possibilidades para adoção futura, mesmo com pagamento;

• Possibilitam a manipulação das funcionalidades pelo próprio utilizador decorrentes das facilidades de manuseio (tutoriais, disponibilidade de instruções de uso, primeiros passos, tour, etc.) através de interfaces amigáveis que permitem aprender e usar de forma mais fácil e rápida;

• Podem ser utilizadas em benefício próprio ou para partilhar informações e demais recursos com outros usuários colaboradores adicionados pelo usuário detentor da conta;

• Contribuem para a construção e gestão do conhecimento de forma colaborativa, gerando oportunidades para a participação de diferentes indivíduos, tanto na condição de consumidores de informação quanto de autores de conteúdo;

• Possibilitam tanto o uso quanto a produção de forma partilhada, na construção de conteúdos no formato de texto, áudio, vídeo, imagens, entre outras media, com possibilidades de contribuições por meio de edição, comentários, acompanhamento e/ou participação em grupos sem restrições com relação à localização geográfica ou temporal do usuário;

• Favorecem a reunião/aproximação de indivíduos em comunidades virtuais em torno de interesses e/ou objetivos comuns como, por exemplo, as comunidades virtuais de aprendizagem e de prática.

Segundo o Observatório Scopeo (2009), as ferramentas colaborativas, para além de aproximarem os utilizadores em torno de interesses comuns, possibilitam a criação e partilha de recursos e a recuperação de informação.

A criação de recursos envolve os serviços que permitem a uma comunidade de indivíduos gerar conteúdos de forma colaborativa que poderão ser partilhados e difundidos e contribuir para a construção de conhecimento, por exemplo, por meio de wikis e blogs. Os blogs permitem a publicação de textos, imagens e vídeos podendo constitui-se na criação de espaços de intercâmbio profissional. As wikis são ferramentas de escrita colaborativa que permitem múltiplas intervenções e facilidade de edição pelos utilizadores, quanto ao compartilhar, inserir informações e acompanhar através do

30

registro histórico das modificações, constituindo um espaço de discussão coletiva de fácil navegação e uso intuitivo, podendo ser utilizadas para realizar trabalhos de investigação docente por meio de opiniões e/ou comentários e publicação de trabalhos (Mercado et al., 2012).

Os serviços que utilizam plataformas que possibilitam o armazenamento e distribuição de imagens, vídeos, áudio, apresentações, etc. constituem as ferramentas de partilha de recursos multimédia susceptíveis de criação de comunidades em torno destes recursos partilhados.

Para recuperação de informação existem ferramentas para organizar recursos a partir das necessidades informativas do usuário. São constituídas por aplicações Web 2.0 que permitem organizar a informação de forma colaborativa, por meio de etiquetas, recomendações ou filtros. Consiste no processo de nomear e categorizar os conteúdos disponíveis na internet criando uma classificação temática dos conteúdos mais conhecido como folksonomia, processo realizado de forma colaborativa pelos utilizadores (SCOPEO, 2009).

Por outro lado, as redes sociais constituem uma família de ferramentas desenvolvidas para a criação e gestão de comunidades virtuais originadas pelos vínculos, contatos e intercâmbios de conteúdos entre os indivíduos. Constituem redes dinâmicas em torno da interação de um grande número de utilizadores, podem ser de caráter formal ou informal, funcionando até como ambientes de aprendizagem capazes de modificar as práticas de ensino tornando-as mais abertas e colaborativas (Manca & Ranieri, 2016). Permitem a partilha de textos, imagens, vídeos e áudio, contribuindo para o intercâmbio de experiências e interesses (Mercado et al., 2012). As redes sociais para uso docente podem ser criadas pelas instituições com interesses educativos ou geridas pelos próprios docentes e/ou originadas de “inquietações de investigações, autoformação, cooperação ou difusão de atividade profissional” (SCOPEO, 2009, p. 28).

Em relação às tecnologias Web 2.0 possíveis de serem utilizadas no processo ensino aprendizagem, Bower (2016) categoriza as ferramentas considerando a relação entre o que elas permitem realizar e as situações típicas de uso pedagógico, no propósito de auxiliar educadores na preparação de atividades específicas ou para organização de módulos quanto às necessidades de desenvolvimento de atividades produtivas ou colaborativas. Entre os usos colaborativos, o autor destaca as ferramentas síncronas colaborativas para realização de reuniões online com possibilidades de partilha de áudio, vídeo, texto e outros tipos de informações, as planilhas (online spreadsheets) para

31

análise colaborativa de dados numéricos, os quadros brancos (online whiteboard) para sessões de brainstorming colaborativo e as ferramentas de escrita coletiva para a autoria colaborativa de documentos em tempo real e respectivas possibilidades de revisão. No âmbito da aprendizagem colaborativa, Torres e Amaral (2011, p. 57) destacam como uma das principais vantagens do uso de ferramentas da Web 2.0, a liberdade de todos os atores para expressar a sua autonomia, para além da possibilidade de “trabalhar integradamente e com maior eficiência os conteúdos das diversas disciplinas, oferecendo aos alunos uma visão interdisciplinar que favoreça a compreensão dos problemas da realidade sob uma perspectiva mais abrangente”. Os autores consideram as tecnologias como mediadoras do processo e destacam as ferramentas da Web 2.0 de acordo com o tipo de aprendizagem, a ênfase do processo de aprendizagem e respetivas potencialidades desenvolvidas com o uso, conforme quadro 2.2.

Quadro 2.2 Ferramentas da Web 2.0/Processo de Aprendizagem

Tipo de Aprendizagem

Ênfase do processo de aprendizagem (Potencialidades desenvolvidas)

Ferramentas

Prática (Aprender fazendo)

Criação individual e coletiva do conhecimento

(Escrita colaborativa, investigação e proposição de soluções acerca de temas específicos, metacognição, entre outras).

Wikis, mapas conceituais, redes sociais, entre outras.

Interatuante (Aprender a partir da interatução com os parceiros)

Processo comunicacional entre pares

(Gestão de conteúdos, troca de ideias, amplificação da capacidade de

entendimento da realidade, entre outras).

Blogs, wikis, chat, e-mail, sites de criação e

armazenamento de vídeos e áudios, redes sociais, entre outras.

Referenciação (Aprender buscando)

Identificação e organização das fontes de informações e

conhecimentos

(Organização de repertório bibliográfico, aprendizagens recíprocas, entre outras).

Sites de busca, bibliotecas virtuais, repositórios de base de dados, sites de criação e armazenamento de vídeos e áudios, entre outras.

Recíproca (Aprender compartilhando)

Colaboração e integração de

esforços para a formação de redes de aprendizagem

(Diálogo coletivo, colaborativo e interdisciplinar, troca de ideias, gestão de conteúdos, investigação coletiva, visão integrada dos conteúdos, entre outras).

Vídeos educativos, wikis, blogs, autoria e edição de conteúdos, mapas

conceituais, redes sociais, entre outras.

32

Em comunidades virtuais de prática, conforme defendem Borges et al. (2016), a escolha das ferramentas vai depender da natureza da comunidade e na ênfase quanto ao desenvolvimento das atividades e interação desejada entre os participantes. No entanto, é importante a presença de alguns recursos como perfil, comunicação, produção colaborativa de conteúdo, repositório de conteúdos, gerenciador de atividades e pesquisas.

O perfil compreende o espaço personalizado onde cada componente da comunidade disponibiliza informações sobre a sua formação, áreas de atuação, interesses e atividades em desenvolvimento. As ferramentas de comunicação, síncrona e/ou assíncronas, podem constituir diferentes possibilidades como, por exemplo, o e-mail, chat e videoconferências disponibilizadas para plataformas fixas ou móveis. Os espaços para produção colaborativa, de preferência fornecidos por soluções de software como serviço, devem ser providenciados como wikis, blogs, mapas mentais, whiteboards virtuais, entre outros. O repositório de conteúdos para armazenar diferentes tipos de mídias, permitir partilha e acesso pelos participantes da comunidade, por meio de funcionalidades de gestão e localização de conteúdo. Gerenciador de atividades por meio de agendas, calendários, listas e quadro de tarefas, além das pesquisas importantes aquando das tomadas de decisão (Borges et al., 2016). Requisitos básicos quanto a usabilidade em relação a interfaces autoexplicativas, ajuda, fácil navegação, possibilidades de configuração de acordo com as preferências dos utilizadores constituem aspectos importantes a considerar (Borges et al., 2016).

“Em meio ao conjunto de tecnologias disponíveis, entretanto, as ferramentas groupware e as contemporâneas redes sociais, são aquelas que ocupam lugar

especial, em face do suporte que propiciam à comunicação, coordenação e à colaboração dentro de agrupamentos virtuais, fornecendo a estrutura suficiente para que comunidades com estas características alcancem os seus propósitos. ” (Ferraz & Dornelas, 2013, p. 66)

A ferramenta de colaboração mais adequada propiciará a forma de colaboração a efetuar considerando o contexto, tipo de dados a partilhar, número de participantes envolvidos e processo a ser realizado (Bolstad & Endsley, 2003). Assim, tanto a forma de colaboração pode influenciar na escolha, considerando a finalidade e necessidades do grupo, quanto

33

as características presentes nas ferramentas podem modelar a forma de colaboração a ser desenvolvida pelos participantes do processo. Deste modo, a equipa deve ponderar os fatores influentes em relação aos resultados pretendidos ao proceder à escolha das tecnologias a apoiar o desenvolvimento do trabalho colaborativo.