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Formação Continuada de Professores: Algumas Experiências

2.3 Caracterização do Trabalho Colaborativo e a Adoção da Tecnologia

2.4.3 Formação Continuada de Professores: Algumas Experiências

Considera-se que a grande maioria dos professores necessita de apoio e formação para a integração das TIC em contexto educativo e que as instituições de ensino precisam de desenvolver ações nesse sentido. Acredita-se que os grupos de estudo e investigação nas áreas que envolvem a temática presentes nas instituições de ensino, constituem espaços propícios para o desenvolvimento de propostas de formação direcionadas aos seus professores, a exemplo de iniciativas já implementadas em outras instituições de ensino, como as destacadas a seguir: “Modelo Híbrido de Ensino – Emprego de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) Associadas ao Ensino Presencial”, “Comunidade de Prática em Inovação e Educação do IFRS, Campus Porto Alegre” e “Ações Formativas para a Docência no Ensino Superior”.

A oficina “Modelo Híbrido de Ensino – Emprego de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) Associadas ao Ensino Presencial” tinha por objetivo principal partilhar experiências e desafios para adoção de um projeto híbrido (semipresencial) de ensino no sentido de melhoria das aulas práticas de Odontologia Restauradora da

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Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Peixoto et al., 2015).

A oficina contextualizada constituía parte de um Percurso Formativo de Docentes do Ensino Superior, projeto da Diretoria de Inovação e Metodologias de Ensino – GIZ/PROGRAD/UFMG, é oferecido desde 2010, anualmente, com uma carga horária de 60 horas. O percurso contempla dois tipos de oficinas, as ditas gerais, mais tecnológicas, e as contextualizadas, na qual se insere esta oficina, decorrentes da partilha de experiências didáticas vivenciadas no âmbito da universidade com o fim de propiciar a troca de conhecimento e metodologias entre os professores participantes, neste caso, com o objetivo de mostrar aos formandos experiências concretas de implementação de estratégias didáticas.

O ensino híbrido, também conhecido por blended-learning, tem sido instaurado em universidades no Brasil em decorrência da Portaria nº 4.059, de 13 de dezembro de 2004, que possibilita a inserção, na organização pedagógica e curricular dos cursos de ensino superior presenciais, do ensino semipresencial, caracterizado como quaisquer “(...) atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino-aprendizagem centrados na autoaprendizagem e com recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem tecnologias de comunicação remota” não ultrapassando 20% do total da carga horária do curso em questão (DOU, 2004).

Ainda de acordo com estes autores, a oficina semipresencial foi estruturada com uma carga horária de 15 (quinze) horas, distribuída no decorrer de três módulos durante três semanas. O módulo 1 deu ênfase ao uso das TIC na educação, com base na apresentação do projeto de produção de material didático virtual em desenvolvimento na Faculdade de Odontologia. Para além deste aspeto, os formandos foram orientados a diagnosticar a situação das suas disciplinas em relação à utilização de TIC. O módulo seguinte utilizou um vídeo, acerca da consolidação do modelo híbrido numa disciplina da Faculdade de Odontologia/UFMG, para refletir sobre os desafios de implementação da experiência, sobre a importância das capacidades de uso das tecnologias pelo professor, assim como em relação aos aprimoramentos relacionados com a gestão da disciplina necessários para a implementação de um modelo híbrido. Como material de apoio foram disponibilizados vídeos e tutoriais sobre o ambiente virtual – Moodle - de aprendizagem utilizado quando, por meio da participação num fórum, os formandos foram estimulados à discussão tendo por tema a transição e consolidação do modelo híbrido. O último módulo foi centrado na elaboração de um projeto pelos professores de implementação do modelo

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híbrido e de utilização das TIC em seu respectivo contexto académico, conforme as necessidades específicas da disciplina.

Os autores justificam que a adoção do modelo híbrido de ensino veio dar resposta à necessidade de atendimento, por um único professor, de um maior número de alunos durante as aulas práticas de demonstração dos procedimentos a ser efetuados a pacientes de odontologia. A dificuldade de visualização dos procedimentos pelos alunos exigiu por uma estratégia metodológica distinta no sentido da manutenção da qualidade de ensino. Assim, a utilização de uma coleção de vídeos (Material Didático Virtual para Ensino de Odontologia em Laboratório Multidisciplinar), acerca das demonstrações de procedimentos ministrados nas disciplinas de laboratório veio a ser incorporado no ensino tradicional através da inserção das TIC. O ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle, também utilizado pelos alunos, auxiliava na fixação das informações, por meio dos recursos de elaboração de atividades relacionadas com o conteúdo, para além do apoio, através de um guia das aulas práticas, pesquisas, artigos de interesse, manuais, entre outros materiais.

Os vídeos didáticos passaram a ser utilizados durante as aulas e todos os alunos conseguiam visualizar as demonstrações com detalhes da técnica de procedimentos anteriormente difíceis de acompanhar em decorrência da grande quantidade de alunos por turma. Para além disso, garantia-se uma padronização de execução dos procedimentos e, no caso de dúvidas, os vídeos poderiam ser revistos pelos alunos quantas vezes fosse necessário por meio de um canal fechado do Youtube. Os autores comentam que a adoção destes recursos veio melhorar a relação ensino aprendizagem, antes deficiente nas aulas práticas.

Como resultados da oficina contextualizada, os professores/formandos, em resposta à primeira atividade do módulo 1, afirmaram ainda utilizar uma metodologia tradicional de ensino, com aulas expositivas, mas reconheceram a necessidade de mudança. De uma forma geral os professores relataram pouca aptidão com as tecnologias e, por esse motivo, não as utilizavam em contexto de sala de aula. No entanto, outros professores presentes efetuaram depoimentos de utilização do modelo híbrido e das suas vantagens. A resistência dos alunos em relação à adoção de TIC também foi destacada, principalmente quanto às dúvidas em relação à organização do tempo para essas outras atividades no sentido de as enquadrar no regime de horas de trabalho e da necessidade de tempo para capacitação dos alunos no uso da ferramenta a utilizar.

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Os autores afirmam que os professores expuseram algumas limitações para a adoção do modelo híbrido como, por exemplo, a falta de apoio/suporte de tutores aos professores, as dificuldades que envolvem administrar o uso de ferramentas com um excesso de alunos por turma e as dificuldades para motivar o uso do Moodle pelos alunos. O fórum utilizado no segundo módulo ampliou a discussão em torno das limitações e vantagens da adoção do modelo, nomeadamente sublinhando a falta de espaço físico estruturado e crença no fórum de discussão como interessante para ampliar a autonomia do aluno e aguçar o sentido crítico diante de informações. Quanto aos resultados do módulo 3, dos 15 participantes, apenas 1 aluno apresentou a sua proposta. As autoras revelaram que a falta de tempo para estudar as tecnologias também foi colocada como limitação.

A experiência no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS-POA) deu-se por meio do programa de extensão intitulado “Comunidade de Prática em Inovação e Educação do IFRS, Campus Porto Alegre” criado em 2014. O programa tinha por objetivos “(...) oferecer oportunidades de formação continuada para professores, desenvolver investigação sobre comunidades de prática docente e oportunizar um espaço de discussão sobre inovações em educação, em especial às relacionadas à cultura digital” (Borges et al., 2016, p. 16). No âmbito da investigação sobre comunidades de prática desenvolveu-se um estudo de caso, com a duração de seis meses, tendo como principal técnica de recolha de dados a observação participante. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo participaram da ação na função de mediadores e/ou coordenadores de grupos de trabalho envolvendo professores ativos de diversos cursos técnicos, de graduação e pós-graduação.

O modelo adotado foi o híbrido, por meio de encontros presenciais e utilização de espaço virtual Moodle. De acordo com os autores, os encontros “(...) fortaleceram os vínculos sociais, aumentaram a confiança e ajudaram a criar uma identidade de grupo, além de aumentarem a probabilidade de partilha de experiências e posterior produção de conhecimentos” (Borges et al., 2016, p. 17).

A comunidade foi segmentada em função de temas de interesse, tendo sido formados três grupos: (1) Grupo sobre uso dos tablets educacionais, (2) Grupo sobre projetos de aprendizagem e, (3) Grupo sobre hábitos de estudo. O primeiro grupo, sobre o uso de tablets, foi o mais atuante da comunidade, em decorrência da entrega de tablets pelo governo federal. O grupo tinha por objetivo discutir sobre as possibilidades de uso, num primeiro momento e, posteriormente, sobre as tecnologias móveis em contexto educacional. Em comparação com os demais grupos foi aquele que mais interações

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efetuou por meio dos fóruns, para além de produzir uma grande quantidade de material como seleção de aplicativos com uso educacional e vídeos e ligações sobre o uso de tecnologias móveis. O grupo também foi responsável por duas oficinas sobre o uso de Apps.

O segundo grupo tinha por objetivo discutir a metodologia de aprendizagem baseada em projetos, em decorrência da disciplina “Projeto Integrador” existente no currículo da maioria dos cursos do IFRS-POA, cuja finalidade era promover a articulação de conhecimentos de forma interdisciplinar. Este grupo focou seus estudos em uma nova proposta de metodologia baseada na metodologia ágil Scrum.

O terceiro grupo teve origem a partir da preocupação dos professores da área de informática em relação ao desempenho dos alunos. O seu objetivo era identificar hábitos e métodos de estudo e propor atividades de extensão que viessem a melhorar o processo de aprendizagem dos alunos.

Entre as ferramentas utilizadas pelos grupos constaram o Pinterest, utilizado como um mural de imagens na disponibilização dos ícones de Apps e ligações para respetivos tutoriais, o Delicious, utilizado para organizar e compartilhar endereços da web, o Youtube, na organização e partilha de vídeos, o Slideshare, para a partilha de apresentações e o Google forms, para a elaboração de questionários.

Os autores destacam que o fato de existirem participantes de diferentes áreas disciplinares contribuiu para criação de oportunidades de formação continuada que foram além dos conteúdos específicos das disciplinas de responsabilidade de cada professor participante. As experiências com as tecnologias digitais em ambiente híbrido, por meio do trabalho e aprendizagem colaborativo, também contribuiu para criar oportunidades de experiências reais de adoção de habitats digitais para comunicação, partilha e consulta de conteúdos em repositórios e produção colaborativa de materiais.

Os autores consideram que a instituição de ensino precisa de contribuir para fomentar a cultura de formação continuada para o sucesso de iniciativas em torno de comunidades de prática, a avaliação constante do corpo docente no sentido de ajudar os professores na identificação de fraquezas e, a partir do intercâmbio de experiências, procurar superá- las. Acreditam na necessidade de um trabalho direcionado para a quebra de paradigmas na direção da mudança da relação professor-aluno-conhecimento, considerando a história e práticas centenárias existentes na profissão do professor. Argumentam a favor da mudança de postura do professor no sentido de buscar a inovação por meio de atitudes proativas, empreendedoras e mais criativas. Como resultados a experimentação

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propiciou a elaboração de artigos, de cursos de extensão e a experimentação de novas metodologias no sentido da melhoria da educação profissional.

A terceira experimentação aqui destacada não cumpre o objetivo de ser uma formação para a integração da tecnologia, mas insere-se numa proposta mais ampla no sentido da inovação. Tendo por base a carência de formação didática para a docência na educação superior, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), por meio da Coordenação de Inovação Acadêmica e Pedagógica do Ensino Superior (CIAPES), da PROGRAD-UFJF, empreendeu ações formativas direcionadas aos seus professores apoiadas no formato de educação híbrida resultante da integração de atividades e encontros presenciais e online ou mediadas pelas TIC (Pesce & Bruno, 2013).

Através de pesquisa, por meio de questionário, respondidos por mais de 512 professores e 8398 alunos da instituição, em torno de 50% do total de docentes e discentes, buscou mapear as estratégias e recursos didáticos mais utilizados cujos resultados apontaram para o predomínio de aulas expositivas dialogadas e uso do PowerPoint. Paralelamente, outra pesquisa buscou conhecer ações de formação para professores desenvolvidas por outras instituições federais. Com esses dados desenvolveu-se, com a colaboração de professores da instituição de diferentes áreas, um Projeto Piloto “Ações Formativas para a Docência no Ensino Superior” desenhado em dois módulos e estruturados em dois momentos. O primeiro momento, de fundamentação teórica, por meio de palestras com pesquisadores de outras instituições de ensino superior, referência nas temáticas a desenvolver e o segundo, semipresencial, com o auxílio de um AVA Moodle, e por meio de dois encontros presenciais, um no início e outro no final. A criação de um Projeto de Ensino Inovador foi a proposta de atividade a ser desenvolvida colaborativamente ou em parceria na busca pela integração de “áreas, olhares, práticas e conhecimentos” (Pesce & Bruno, 2013, p. 479). Um encontro final único, com todos os formandos, propiciou o debate, a partilha das experiências vivenciadas e suscitou comentários e sugestões. Os exemplos de formações de professores aqui destacados possuem muitos pontos convergentes. O mais relevante passa pelo facto de se tratarem de iniciativas de grupos e não de ações isoladas, por meio de programas e projetos, aparentemente, a partir do apoio das instituições e/ou com financiamento de órgãos fomentadores com probabilidade de maior alcance e visibilidade no âmbito das instituições.

As experiências apresentadas resultaram da necessidade dos envolvidos, na primeira experiência, de resolução das dificuldades presentes nas aulas práticas de demonstrações de procedimentos técnicos de odontologia, considerando a quantidade de

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alunos por turma. Na segunda experiência, relacionada com a necessidade de aprofundar estudos para integração dos tablets no ambiente educativo, nomeadamente através de uma metodologia que apoiasse a disciplina comum Projeto Integrador e das preocupações de um grupo de professores relativamente aos seus alunos, A terceira experiência decorreu da carência de formação didática para a docência no ensino superior identificada pela instituição de ensino correspondente.

As três experiências de formação foram desenvolvidas com base no modelo híbrido de ensino que envolve encontros presenciais e por meio de ambiente virtual, o blended learning, destacado pelo NMC Horizon Report: 2015 Edición Educación Superior (2015), como uma das tendências a curto prazo para mudança no ensino. A utilização do modelo híbrido possui a possibilidade de flexibilização e integração de multimédia e tecnologias, uma oportunidade interessante para que os professores/formandos comecem a desenvolver capacidades no uso da tecnologia digital, aprendendo por meio dela e não apenas sobre ela.

As formações propiciaram ainda a partilha de experiências didáticas, fomentando a troca de conhecimentos e metodologias, com destaque para a demonstração concreta de implementação de uma estratégia didática do curso de Odontologia e da necessidade de aprimoramento da gestão da disciplina em decorrência da implementação de tecnologias, o que necessariamente implica em transformações na dinâmica de sala de aula, assim como requer mudança de postura por parte dos professores. Experiências como estas são destacadas no NMC Horizon Report: 2015 Editición Educatión Superior (2015), no âmbito do programa Spotlight on Innovative Teaching, como oportunidades onde os professores podem partilhar os seus conhecimentos com outros educadores no âmbito de oficinas.

Em relação à comunidade de prática, foram abertas oportunidades para a aprendizagem a partir da experiência do outro, através de desenvolvimento de trabalho colaborativo, por meio da comunicação, partilha e produção de materiais, tendo as TIC como objeto de estudo, para além de envolver iniciativas de elaboração e oferta de cursos e formação continuada para os professores participantes e disponíveis para os demais da comunidade.

Quanto à formação para a docência, a experiência fomentou a interação em torno de objetivos comuns por parte da participação de professores de diferentes áreas do ensino, propiciando o intercâmbio de conhecimento na construção do Projeto Piloto de formação,

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para além de congregar os professores/formandos no desenvolvimento das propostas de projetos de ensino inovador.

Acredita-se que estas três iniciativas de formação de professores podem ser tomadas como parâmetros para empreendimentos em torno do desejo de fomentar a inovação por meio das TIC no ensino, com ênfase na partilha de oportunidades de aprendizagem a partir da experiência do outro e no sentido da promoção de uma cultura institucional mais voltada para a formação continuada dos seus professores.