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2.3 Caracterização do Trabalho Colaborativo e a Adoção da Tecnologia

2.3.3 Colaboração em Ambientes Virtuais

Em contextos virtuais, a organização para o desenvolvimento eficaz da colaboração está condicionada à coordenação e à realização das atividades pertinentes ao processo assim como da definição clara dos objetivos comuns, pois se tal não ocorrer é provável que os membros de um grupo não saibam qual o caminho a percorrer e que ações a empreender, o que resulta na desarticulação e deterioração da coesão que necessariamente deveria existir (Henri & Basque, 2003).

Henri e Basque (2003) relacionam a coordenação com a gestão do trabalho, como o arranjo eficaz que envolve as atividades, as pessoas e os recursos no atingimento dos objetivos pretendidos, assim como a gestão dos aspetos emocionais e psicossociais emergentes, por exemplo no sentido de reverter situações indesejadas por meio do incentivo, apoio, motivação, entre outros aspetos. Em relação à realização da tarefa de forma colaborativa, estes autores consideram que tal requer empenho do grupo no sentido de apoiar os componentes para atingir os propósitos/objetivos considerando as expetativas. Para os autores, a realização da tarefa implica negociação em relação ao consenso acerca do anteriormente planeado, ao compromisso traduzido na disposição emocional e psicológica para a realização dos objetivos em conjunto e a gestão a partir da definição relativa a questões que envolvem tempo, espaço, organização e os recursos a utilizar.

Por outro lado, as ferramentas disponíveis a apoiar o desenvolvimento de trabalhos colaborativos por meio da internet, como por exemplo as wikis, blogues, fóruns de discussão, entre outras, requerem que os participantes estejam familiarizados para poderem contribuir e envolver-se nas atividades e interações necessárias (Loureiro et al.,

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2009). Além desta questão, há que superar os obstáculos intrínsecos aos participantes, responsáveis por imprimir, conforme destacam Loureiro et. al., (2009), uma série de barreiras para o sucesso de comunidades virtuais que vão além das tecnológicas como, por exemplo, relações de confiança, questões relacionadas com a falta de tempo e conhecimento, liderança, socialização e entendimento comum.

As relações de confiança, quando se estabelecem, poderão contribuir para aproximar os membros e propiciar a troca de experiências e conhecimentos entre os participantes. A falta de tempo e conhecimento tecnológico são justificações normalmente avançadas pelos professores diante de iniciativas relacionadas com as tecnologias (Rodrigues, 2014; Watty et al., 2016). Quando não existe a obrigatoriedade de participação, a atividade de formação pode perder espaço para outras prioridades na rotina dos professores. A falta de conhecimento, somada à dúvida sobre a exposição pessoal, inibe a participação e a partilha devido às incertezas sobre a relevância das contribuições. Quando os membros já se conhecem antecipadamente, a socialização é facilitada, podendo, contudo, emergir barreiras de relacionamento, gerando desmotivação por reviver situações que se gostaria de evitar.

Os grupos colaborativos online necessitam de uma liderança e coordenação para a promoção da comunicação e interações entre os envolvidos, no sentido de promover quer a aproximação e participação dos seus membros quer a dinâmica do grupo em torno dos temas a desenvolver, para além de prevenir e minorar conflitos (Loureiro et al., 2009).

A partilha de dúvidas, incertezas, sugestões, contribuições, práticas, experiências poderá ocorrer se existir confiança e se os professores tiverem um sentimento de pertença (Wenger, 2006). As dúvidas e incertezas deixam de ser atribuídas a um membro, mas passam a constituir dúvidas e incertezas do grupo, a resolver por todos os participantes e não apenas por indivíduos isolados. As barreiras ligadas às competências tecnológicas podem, então, ser amenizadas com o auxílio dos mais experientes, no sentido da troca e procura de um equilíbrio entre os participantes.

O entendimento comum ou consenso entre os envolvidos sobre o propósito do grupo ou comunidade significa a procura de uma unificação do discurso, determinação de rotinas e padrões de procedimentos e metodologias de trabalho que deverão permanecer disponíveis para conhecimento de todos os integrantes da comunidade.

Diante de tantos aspetos relevantes, colaborar, principalmente em ambientes virtuais, resulta em uma atividade complexa, produto de discussões exaustivas, de articulação de

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distintos fatores influentes que requerem o envolvimento de diferentes atores, não constituindo uma prática óbvia e simples (Meirinhos & Osório, 2014).

“A colaboração exige, antes de mais, interação entre os membros, na medida em que é uma atividade coordenada e sincronizada. A colaboração assenta na aceitação dos outros, no respeito, mas também na partilha de autoridade, consenso e ausência de competição. Na colaboração, a realização da tarefa articula-se mais num envolvimento pessoal, mas num ambiente de interação que possibilita a entreajuda mútua e a pôr em comum o fruto do seu trabalho. ” (Meirinhos & Osório, 2014, p. 87)

Em ambientes on-line este envolvimento necessita de ir além da simples interação conforme afirma Murphy (2004), uma vez que a colaboração pode resultar da interação, sendo está uma condição necessária mas não suficiente para a sua efetivação. O processo de colaboração decorre da comunicação entre os pares, seguida da interação, considerando vários estágios até à efetiva colaboração, resultando na criação coletiva do novo.

Segundo Murphy (2004), argumentando acerca da discussão assíncrona na aprendizagem on-line, a colaboração é mais do que a interação e, muito embora se possa desejar promover a colaboração, essa não se dará automaticamente apenas considerando ser a interação apoiada e facilitada. A autora considera que são necessários procedimentos específicos para ativar e promover a colaboração em contextos on-line: compreender o conceito de colaboração e como pode manifestar-se, seguido de um processo de identificação e medição da presença para ajudar a determinar se a interação resultou na colaboração e se o media utilizado permitiu o movimento da interação para a colaboração. Com base nesta estrutura conceptual foi desenvolvido um modelo (figura 2.3) constituído de processos e indicadores respectivos, utilizado para analisar evidências de colaboração em discussões assíncronas on-line. O primeiro estágio inicia-se com a interação entre os participantes, muitas vezes através das apresentações pessoais, a fim de promover a consciência da presença social do outro e caracterizar a noção de grupo, criando a partir daí a coesão entre os participantes que contribui para o incremento da interação, considerado pela autora o primeiro passo no sentido da colaboração.

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Posteriormente, os participantes poderão partir para a partilha de perspetivas individuais, fase em que as postagens parecem monólogos, mas que, naturalmente, evoluem para a articulação de diferentes pontos de vistas dos participantes. Na evolução desta fase podem surgir desacordos ou conflitos decorrentes de crenças e/ou suposições que, ao serem negociados pelo grupo, permitem a reestruturação do pensamento dos participantes que podem terminam por resultar, por meio do trabalho conjunto, na produção de significados partilhados. Durante este processo os participantes normalmente aprofundam a presença social, articulam e co-constroem novos significados e perspetivas no sentido de alcançar objetivos partilhados. Nessa etapa, expõe a autora, a definição de objetivos partilhados favorece o surgimento natural de um compromisso e direção comuns.

O movimento de desenvolvimento de trabalho conjunto considerando objetivos partilhados pode culminar na criação do novo, denominado pela autora de artefato partilhado – agregação de valor – produção do diferente. De acordo com a autora, a colaboração só poderá evidenciar-se a partir da criação de artefatos partilhados, enquanto tal não resultar no novo a colaboração não será completa.

Figura 2.3 Modelo de Murphy (2004) Fonte: (Adaptado de Murphy, 2004)

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No modelo de Murphy (cf. figura 2.3) a colaboração pode evidenciar-se a partir da evolução gradual, num movimento contínuo, através de seis processos ou estágios principais, da interação até à produção intencional de um artefato partilhado. Os processos resumem-se nas seguintes fases: (1) presença social, (2) articulação de perspetivas individuais, (3) acomodação e reflexão das perspetivas dos outros, (4) co- construção de perspetivas e significados partilhados, (5) construção partilhada de objetivos e propósitos e, (6) criação partilhada de artefatos.

Os processos anteriores são pré-requisitos dos posteriores, havendo a necessidade de ultrapassar os níveis mais baixos até o mais alto a fim de configurar a colaboração. No entanto, a participação a partir dos níveis mais baixos não garante que os níveis mais altos serão atingidos.