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2.3 Caracterização do Trabalho Colaborativo e a Adoção da Tecnologia

2.3.1 Cooperação e Colaboração

A cooperação e colaboração podem-se diferenciar pela forma como os membros de um grupo organizam as suas atividades. Enquanto na cooperação a hierarquia sobressai e cada elemento do grupo responsabiliza-se individualmente por uma parte da tarefa, que posteriormente reunidas culminam em um produto final, na colaboração o trabalho desenvolve-se com a participação de todos os envolvidos, dispensando a hierarquia a favor de um empenho conjunto em prol de um objetivo estabelecido por todos (Dillenbourg, 1999).

A divisão de tarefas entre os participantes caracteriza a cooperação quando cada indivíduo fica responsável por uma parte da solução do problema, enquanto na

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colaboração impera o compromisso mútuo em torno de esforços coordenados na resolução de determinado objetivo conjunto. A forma como é feita a divisão das tarefas é que vai distinguir a cooperação da colaboração. Enquanto na cooperação a tarefa é decomposta em sub tarefas independentes umas das outras e a coordenação apenas se dá em torno dos resultados parciais aquando da elaboração do produto final, na colaboração a divisão ocorre de forma interdependente e a atividade desenvolve-se de forma sincronizada e coordenada, propiciando a resolução partilhada do problema (P. Dillenbourg et al., 1996).

Por outro lado, na colaboração a participação necessita de ser espontânea, voluntária e continuada no tempo. Os participantes precisam de se envolver, assumir compromissos, ter responsabilidades e controlo partilhados, tomada de decisões conjuntas, assim como empreender esforços na consecução dos objetivos pretendidos (Araújo, 2012). A colaboração necessita de mudanças nas relações de convívio e hierarquia, pois não pode ser imposta mas vai, através do tempo, sendo construída, a partir de um tipo de relacionamento em que as formas típicas de autoridade não se evidenciam. Deste modo, as múltiplas perspetivas presentes na colaboração induzem os participantes para a partilha, tanto das suas diferenças quanto das suas semelhanças (A. A. Ferreira, Siman, & Silva, 2009). Tais características contrapõem-se às presentes na cooperação, onde a hierarquia e a divisão de tarefas se sobrepõem ao empenho conjunto dos envolvidos tão característicos da colaboração.

No entanto, a cooperação pode ser um primeiro passo para a colaboração, pois compreende um conjunto de técnicas e processos, utilizados pelos membros de um grupo, através dos quais se efetivam os procedimentos necessários para a consecução de objetivos comuns (P. L. Torres et al., 2004).

A cooperação, de uma forma ou outra, insere-se no âmbito da colaboração, pois o desenvolvimento do trabalho colaborativo também implica uma divisão de tarefas e responsabilidades, visíveis em momentos de trabalho individual, somadas às contribuições decorrentes de experiências vivenciadas em outros contextos que, por meio do intercâmbio e discussão, vem acrescentar para os resultados finais.

“Trabalhar colaborativamente implica que cada indivíduo tenha um contributo a dar que tem de ter o seu processo de construção individual e singular, que requer também tempos e modos de trabalho individuais. As próprias tarefas de trabalho colaborativo entre professores podem/devem incluir momentos de trabalho

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individual para preparar ou aprofundar o trabalho no colectivo no momento seguinte. ” (Roldão, 2007, p. 28)

Por outro lado, considerando todos os fatores presentes em torno do desenvolvimento de trabalhos colaborativos, quando a colaboração não se estabelece de forma plena, principalmente em grupos que não possuem a prática sobre o processo, é a partir da evolução da cooperação que os resultados podem aproximar-se mais daqueles característicos da colaboração. Quando os membros de um grupo se dispõem a trabalhar juntos com a finalidade de alcançar objetivos comuns, a participação ocorre ativamente, o apoio mútuo estabelece-se através do envolvimento em torno da atividade a ser desenvolvida, a responsabilidade é partilhada e as relações que se estabelecem são naturalmente menos hierárquicas (Bedran & Barbosa, 2016).

Tratando-se, especificamente, de trabalho colaborativo, este caracteriza-se pela participação voluntária e pelo desejo de todos pelo crescimento profissional; pela confiança e respeito mútuo como base de funcionamento do grupo; pela disponibilidade dos participantes para se expressar livremente, ouvir, criticar e mudar; pelo facto dos participantes estarem dispostos a trabalhar conjuntamente em prol de um objetivo comum, construindo e partilhando; pela abertura do grupo para considerar diferentes interesses e pontos de vista, sendo capaz de ponderar distintas contribuições (A. A. Ferreira et al., 2009).

Sobre estas questões Boavida e Ponte (2002) destacam a importância de três elementos nos processos de colaboração: a confiança, o diálogo e a negociação. A confiança é exposta como um elemento de importância fundamental por propiciar uma maior liberdade para questionamentos de ideias, valores e ações entre os participantes, associada a maior abertura para ouvir os demais. Ao terem as suas contribuições valorizadas os participantes de um grupo sentem-se mais respeitados e seguros para partilhar e esses fatores ampliam a noção de sentimento de pertença ao grupo.

O diálogo deve a sua importância à compreensão enriquecida pela conversação no sentido do consenso, mas também à negociação de objetivos, métodos de trabalho, questões de relacionamento, prioridades, para além de entendimento claro em relação ao discurso no âmbito do processo colaborativo. A negociação deve estar presente do início ao fim de qualquer esforço colaborativo, principalmente nos momentos de crise.

Em contexto de aprendizagem, Meirinhos e Osório (2014) defendem que a colaboração parece ser uma atividade mais voluntária, autónoma e democrática, resultando da

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combinação de processos individuais e coletivos e que apresenta dois aspetos que se influenciam mutuamente, o grupo e o formando. O grupo, na concepção dos autores, funciona como um apoio para o indivíduo cuja colaboração depende do respetivo interesse na realização das atividades colocadas, implicando na disposição deste uma ação na direção de um envolvimento e participação. O resultado da soma ou justaposição de resultados individuais não se configura em trabalho colaborativo, pois esse tipo de trabalho necessita, entre outros fatores, de uma maior coesão do grupo, traduzida na interdependência entre os participantes, definição de objetivos comuns e na coordenação das atividades, constituindo um movimento dinâmico a evoluir dentro do processo colaborativo (Meirinhos & Osório, 2014).

Além destas questões, Meirinhos e Osório (2014) destacam outros conceitos relacionados com a colaboração e relacionados com o envolvimento dos participantes num grupo envolvido por um objetivo comum como a coesão, identidade, socialização, confiança, motivação, envolvimento, regularidade, interdependência e responsabilidade. Sobre a coesão grupal, os autores destacam a importância da união sem presença da competição, além da capacidade do grupo para resolver conflitos com facilidade. A identidade refere-se à consciência dos participantes quanto aos valores, atitudes e cultura representativos do grupo, a socialização relaciona-se com o conhecimento de cada componente acerca dos interesses, motivações e capacidades de cada elemento do grupo, a confiança que enquadra o discurso franco e diálogo sem restrições, a motivação responsável pelo envolvimento, a regularidade na participação dos componentes, um no trabalho do outro, característico da interdependência entre o objetivo, as ações e tarefas envolvidas e a responsabilidade conjunta pelo sucesso ou fracasso do empreendimento (Meirinhos & Osório, 2014).