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A Indústria Editorial

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CAPÍTULO I – A ECONOMIA CRIATIVA

7. A Indústria Editorial

Imagem obtida na web. Em um país como o Brasil – onde apenas um entre cada quatro habitantes está habilitado para a prática da leitura; onde nossas crianças ocupam os últimos lugares nos estudos internacionais sobre compreensão leitora; onde o índice nacional de leitura é de menos de 2 livros lidos por habitante/ano; e onde a maior parte dos milhões de alfabetizados nas últimas décadas tornou-se analfabeta funcional – a leitura precisa e deve ser tratada como uma prioridade nacional . – Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Uma das indústrias que compõem esta economia criativa é a Indústria Editorial, onde estão escritores, editores, produtores gráficos, designers gráficos, bibliotecas, livrarias, gráficas, editoras e vendedores porta-a-porta, todo o processo desde a produção até a distribuição. Um mercado certamente amplo, mas que ainda se mostra frágil e mal organizado no Brasil, como apresentado na pesquisa realizada pelos professores Fábio Sá Earp e George Kornis em 2004.

A pesquisa, intitulada A Economia da Cadeia Produtiva do Livro, demonstra não apenas a falta de organização do setor, mas também que a política brasileira de bibliotecas públicas é uma das piores. O levantamento demonstrou que mais de mil cidades no Brasil não têm bibliotecas ou uma coleção pública; isso equivale a 19% das cidades brasileiras.

Além da dificuldade de acesso enfrentada por muitos por falta de um acervo público, outro obstáculo é encontrado nas livrarias: o preço médio do livro no Brasil é incompatível com a renda per capita do país. Enquanto aqui o livro é vendido por cerca de 2 dólares em média, no Japão, o preço médio é de 7 dólares. Porém, ao se considerar o valor da renda total per capita, um brasileiro conseguiria comprar 1.500 exemplares por ano, enquanto um japonês compraria 4 mil.

Earp e Kornis também revelaram que “o faturamento das editoras brasileiras caiu 48% entre 1995 e 2003 e a quantidade de exemplares vendidos no mercado diminuiu 50%” (VELLOSO, 2004, p. 1). Apenas em 2003, 15% da produção total de livros no Brasil não foram vendidas, o equivalente a 44 milhões de unidades. E o país não é um grande produtor da indústria do livro quando se é considerado o número de habitantes que tem: enquanto o Brasil produz 340

milhões de livros, a França produz 410 milhões. Os números não parecem muito distantes, entretanto, ele fica preocupante ao se pensar que a população francesa é três vezes menor que a brasileira.

A conclusão a que os autores chegaram é de que “nosso mercado editorial é completamente incompatível com o tamanho e a importância do país” (VELLOSO, 2004, p. 1).

Uma alternativa encontrada pelas editoras foi o mercado de bolso, que apresentou um crescimento em 200719. Estes livros, que muitas vezes trazem obras famosas, ganharam seu espaço devido ao preço mais acessível e por se encontrarem em pontos de vendas alternativos, como estações de metrô e rodoviárias, através das máquinas de livro, que são similares àquelas que vendem refrigerantes, salgadinhos e chocolates20.

Outra área dentro desta indústria que tem apresentado crescimento é o mercado porta-a- porta. Enquanto todas as editoras do país somam juntas 22 mil funcionários, no mercado porta-a- porta há 30 mil vendedores, apontaram Earp e Kornis em sua pesquisa. Neste mercado, ganham destaque os livros religiosos e os infantis. O setor apresentou um crescimento impressionante em 2007, que chegou a 91,3%. “Quase 20 milhões de exemplares foram vendidos pelos vendedores porta a porta, o que faz do segmento, o terceiro canal de vendas mais importante para as editoras, ficando atrás apenas das livrarias e dos próprios distribuidores” (TEIXEIRA, 2008, p.1).

Os números para o mercado editorial como um todo foram positivos em 2007 como aponta outra pesquisa encomendada pelo SNEL e pela CBL: houve um crescimento nominal de 4,62% e um faturamento de 3,013 bilhões de reais. O volume de vendas também aumentou, sendo de 6,06% a mais que em 2006.

Além da mudança no perfil do consumidor, que teve uma melhoria considerável de renda nos últimos anos, os livros infantis e religiosos tiveram maior destaque em 2007, sobretudo no mercado porta-a-porta: o gênero religioso apresentou um aumento de 27% no número de títulos editados, enquanto o infantil teve 15,1% de aumento em relação a 2006.

Houve um aumento de consumo de livros pela população em geral: o mercado editorial comprou 6,41% a mais em 2007. Ainda que o maior comprador do mercado, o governo federal, tenha comprado menos. A pesquisa mostra que houve uma queda na compra efetuada pelo órgão

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Ver: STRECKER, Marcos. Mercado de livro de bolso avança no país. Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u333115.shtml>. Acesso em: 02 de outubro de 2007.

20 Ver: PEGNTV. Máquinas de vender livros. Pequenas Empresas Grandes Negócios TV, 2008. Disponível em:

em 2007: 0,67% a menos que no ano anterior21. Segundo a pesquisa de Earp e Kornis, o governo brasileiro compra cerca de 176 milhões de livros para estudantes enquanto o governo dos Estados Unidos compra 677 milhões, cerca de 284% a mais que o nosso governo. No entanto, a população americana (305.826.244 de habitantes) é apenas de aproximadamente 59,5% maior que a brasileira (191.790.900). O governo americano também compra 113 milhões para bibliotecas; o brasileiro, quase nada.

O reflexo disso pode ser visto na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2007), do Instituto Pró-Livro, que aponta que 77 milhões de brasileiros não lêem livros, já que o país carece de uma cultura de incentivo à leitura. “Podemos afirmar (…) que o Brasil só teve, até hoje, políticas para o livro, jamais para a leitura. Isso explica por que nossa indústria do livro é tão sofisticada, nosso mercado editorial tão pujante, e nosso povo tão pouco letrado” (PRADO, s/d, s/d).

Engana-se quem acredita que este é um problema exclusivo daqueles de baixa escolaridade, já que 8% dos entrevistados com nível superior também não são leitores. A pesquisa também mostrou dados interessantes sobre o perfil do leitor brasileiro: quem lê mais são as mulheres e as fases em que mais se lê livros são a infância e a adolescência. “66% dos livros estão nas mãos de 20% da população; 8% dos brasileiros não têm nenhum livro em casa; e 4% apenas um” (TELLES, 2008, p.1). Segundo o levantamento, 95 milhões de brasileiros leram apenas 1 livro nos três meses anteriores à pesquisa, mas destes, apenas 71,7 milhões lêem por prazer. Um dado interessante relevado pelo estudo é de que nem todos estes brasileiros que se declararam leitores realmente lêem livros completos; a maioria (55%) lê apenas trechos ou capítulos. Há ainda os 11% que pulam páginas.

Mesmo com estes dados pouco positivos para a indústria do livro, a obra literária é preferida por 50% dos leitores, perdendo apenas das revistas (52%). Jornais aparecem com 48% e leituras na Internet, 20%. A leitura está entre os hobbies de 35% dos brasileiros; entre aqueles com formação superior, 79% a têm como seu passatempo preferido; já entre os com renda superior a 10 salários mínimos, é a preferida por 78%. Embora os maiores compradores de livros estejam na classe C (47%)22.

21

Dados retirados do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação. Disponível em:

<http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=291096>. Acesso em: 14 de outubro de 2008.

22 Dados retirados do portal AdNews. Disponível em: <http://www.adnews.com.br/midia.php?id=81311>. Acesso

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