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Núcleo Deusdete

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CAPÍTULO V – AS PERSONAGENS DE CARANDIRU: uma análise

3. As Personagens Secundárias

3.4. Núcleo Deusdete

Francineide

Catarina

Imagem de Francineide interpretado por Júlia Ianina capturada do DVD. Imagem de Catarina interpretada por Sabrina Greve obtida na web.

Deusdete, jovem criado na periferia, cresceu ao lado da irmã Francineide e do amigo Zico, cuja mãe fugiu de casa. Zico cuidava dele como um irmão mais velho faria, e ele, por sua vez, cuidava de Francineide.

Uma noite, Francineide chega em casa chorando, com olhar de assustada, e se tranca no banheiro. Deusdete vai acudir a irmã e descobre que ela fora agredida por dois homens, que

levantaram a sua saia. Ele denuncia os agressores da irmã à polícia, mas eles descobrem e querem matá- lo. Ele, então, vai atrás de Zico, que guarda sentimentos por Francineide, para que lhe arranje uma arma para se defender, embora não tivesse intenção de usá-la. Uma noite, os agressores de Francineide o encontram e o ameaçam com barras de ferro, mas Deusdete saca a arma e mata um deles; o outro foge. Deusdete o persegue e consegue matá- lo também.

No presídio, Deusdete sempre recebe cartas da irmã. Sua mãe e Francineide também o visitam com freqüência. Em uma destas visitas, Francineide leva uma amiga para apresentar a Deusdete: é Catarina, jovem também criada na periferia, que acredita que ganhará status ao namorar um presidiário e ficará mais protegida onde mora. Ela não se importa quando Deusdete a lembra que só sairá do Carandiru com 48 anos, e diz que voltará a visitá- lo.

TABELA 36 – ORIGEM DE FRANCINEIDE

Personagem literária de

origem

Descrição Passagem no filme Passagem no livro

Francineide

Irmã do meio de Deusdete que foi molestada por dois homens na vila onde morava

com o irmão.

DEUSDETE (CONT'D) Que é que foi? Conta aí! O que foi

que aconteceu? FRANCINEIDE

Era dois... me agarraro... levantaro meu vestido... um disse que queria me chupá... eu mandei ele chupá a

mãe... DEUSDETE O que eles fizero?

FRANCINEIDE Me batero... DEUSDETE E daí? Que mais?

FRANCINEIDE Eu saí correndo, Deusdete. Saí

correndo! Eu te juro! Não aconteceu nada!

Uma noite, Francineide, irmã do meio de Deusdete, na

volta da padaria, foi molestada por dois marginais

da vila. Um disse que queria chupar o sexo dela; ofendida, ela o mandou chupar a mãe ,

vagabundo. Apanhou, chegou em casa com o vestido rasgado e a boca inchada. (VARELLA, 2005,

TABELA 37 – ORIGEM DE CATARINA

Personagem literária de

origem

Descrição Passagem no filme Passagem no livro

Fran Vizinha de Zilá, magrinha, tímida, que podia ter no máximo 20 anos. Foi ao presídio para ser apresentada a Roberval. CATARINA

Tá vendo, Franci, é um homem assim que eu quero. Diz aí: cê acha que o

Deusdete vai gostá de mim? FRANCINEIDE Ah, isso é com vocês. MÃE DE DEUSDETE Fica mais fácil pra ele se tiver um

amor esperando aqui fora. DONA GRAÇA A senhora tá certa. Mas só com

muito amor no coração uma mulher suporta essa vida.

CATARINA (para Francineide) O que ele disse quando tu conto

que eu vinha? FRANCINEIDE

Que se você quisesse vim, que visse.

Ao lado, Fran, o rosto na penumbra projetada pelo poste de luz, concordava com a cabeça, mas pretendia

passar a noite ali decidida a conhecer o tal de Roberval, um mulherengo de bigode, sócio do marido de Zilá no negócio de assaltar carga.

(VARELLA, 2005 p. 55)

Como pôde-se perceber na análise das personagens principais, nem sempre a personagem que deu origem ao nome é a mesma que deu origem às outras características vistas no filme. O mesmo ocorreu com as personagens secundárias: algumas personagens literárias apenas “emprestaram” o nome a elas. Com intuito de comparação, a seguir, serão apresentadas as origens dos nomes das personagens secundárias cinematográficas.

TABELA 38 – ORIGEM DOS NOMES DAS

PERSONAGENS SECUNDÁRIAS

Personagem Personagens de origem

Seu Pires Seu Pires

Dalva* -

Rosirene Rosirene

Dina Dina

Claudiomiro Claudiomiro

Antônio Carlos Antônio Carlos

Célia -

Francineide Francineide

Catarina -

* Embora Dalva seja uma inversão silábica do nome de uma de suas personagens de origem, Valda, esta informação não foi levada em consideração para esta classificação, pois a relação entre os nomes não é explícita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi de interesse deste estudo verificar as semelhanças entre as personagens literárias de

Estação Carandiru e as personagens cinematográficas de Carandiru. Para tanto, teve como

principal objetivo buscar as origens das personagens do filme – físicas, psicológicas e de suas correspondentes histórias – na obra em que foi baseada: o livro.

Com o intuito de encontrar qual ou quais foram as personagens literárias de origem das personagens cinematográficas, primeiramente, foi necessário fazer um levantamento de todas elas no livro e no filme. Chegou-se aos seguintes dados: 206 personagens literárias e 50 cinematográficas, uma redução para menos de 25% na transposição da obra literária para o cinema. A partir daí, levantou-se a seguinte questão a respeito desta diminuição no quadro de personagens: houve eliminações, acréscimos, fusões – seja de traços característicos e/ou de ações – na transposição da obra literária Estação Carandiru, de Drauzio Varella, para a obra cinematográfica Carandiru, de Hector Babenco, quanto aos aspectos construtivos das personagens neste diálogo entre mídias?

O primeiro aspecto a se notar é a questão levantada no capítulo II com relação ao grau de adaptação de uma obra. Logo nos créditos iniciais – e também na capa do DVD –, há a seguinte informação: “Baseado no livro Estação Carandiru de Drauzio Varella”. A partir deste dado, pode-se esperar uma obra que não se propõe a ser uma reprodutora literal de sua fonte. Pode-se esperar variações significativas, mas a obra original deve ser claramente reconhecida nesta nova, e não apenas fazer referência a ela.

Como percebido, houve uma grande variação na fonte das personagens – ora fundidas, ora desmembradas –, entretanto, as situações apresentadas no livro e as características das personagens literárias estavam, em sua maioria, presentes na obra cinematográfica.

A hipótese proposta para este estudo foi comprovada após a coleta de dados. A seguinte hipótese havia sido sugerida: na transposição da obra literária Estação Carandiru, de Drauzio Varella, para o cinema, houve fusão de personagens literárias, que se deu por suas características, resultando em uma única personagem cinematográfica. Ela é verdadeira, pois pôde-se notar, como dito, uma fusão de personagens que apresentavam características semelhantes, como é o caso de Seu Chico, que teve origem na fusão de Seu Chico e Seu Jeremias (ambos eram id osos) e

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