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A influência da comunicação na dinâmica grupal

5.3 Processo de trabalho da supervisão de enfermagem reflexões e mudanças

5.3.2 A influência da comunicação na dinâmica grupal

Os estudiososdo processo grupal (97,109) esclarecem que o sentimento de pertencimento e afiliação em um grupo, se dá quando percebem e aceitam as “diferenças” entre os participantes. Desse modo, a partir do reconhecendo de uma identidade grupal, deixam de ser um agrupamento de pessoas e passam a ser realmente um grupo coeso para trabalharem com os objetivos comuns.

As “diferenças” no processo grupal aparecem pela comunicação das singularidades, pois os participantes querem que as particularidades do seu trabalho sejam conhecidas por todo grupo. Outro fator estimulador para o aparecimento das diferenças é o tempo limitado pelo número de encontros para as oficinas(97,109).

Percebemos que os supervisores, apesar de conviverem na mesma realidade, precisavam do espaço das oficinas para se conhecerem e reconhecerem as diferenças no desenvolvimento do trabalho da supervisão dos períodos diurno e noturno. Já apresentamos, no núcleo analisador, os motivos dessas diferenças e nos cabe destacar, nesse núcleo revelador, os pontos que foram mobilizadores de sentimentos de solidariedade e de resistências evidenciados por interesses pessoais sobrepondo ao coletivo.

O entendimento da maioria sobre a forma de realizar o gerenciamento do cuidado e as orientações para as equipes de enfermagem deve ser por meio de um fluxo verticalizado nas 24 horas, sendo de responsabilidade, esse fluxo e planejamento das ações, do(s) diretor(es) e supervisores do período diurno, com o apoio do supervisor do período noturno para a sua continuidade nesse período. Nas discussões sobre essa forma de pensar o fluxo da assistência, não houve consenso sobre a participação do supervisor noturno pelas divergências de condutas entre os diferentes serviços de enfermagem, pela falta de comunicação para a continuidade da assistência e acordos em questões que seriam comuns a todos. Nessa direção,

sugestões foram dadas para uma revisão e padronização de algumas condutas entre os serviços e profissionais de todos os níveis.

Na transmissão de comunicações entre os plantões, houve outro ponto de tensão no que diz respeito aos treinamentos e capacitações destinados às equipes do noturno. O supervisor do noturno não consegue, rapidamente, replicar os conteúdos de treinamento/orientações para todas as equipes de enfermagem devido a sua dinâmica de trabalho, já explicada. Por sua vez, os supervisores do diurno apresentaram resistências para assumirem essa responsabilidade e apresentaram dúvidas sobre a atuação e as responsabilidades do Serviço de Educação Continuada (SEC).

Nessa questão, o grupo se posicionou quanto à necessidade de separar o que deve ser tratado como urgência, no caso de um surto de infecção, de outros temas que carecem de planejamento e podem ser delegados aos enfermeiros para replicarem a sua equipe de trabalho.

A dificuldade para obter consenso se deve a atravessamentos pela falta de clareza sobre as responsabilidades dos setores, no caso a SEC, e por questões pessoais sobrepondo-se às decisões, no caso de alguns supervisores do diurno que não aceitam realizar atividades no turno noturno. Percebemos aspectos da micropolítica da organização do trabalho revelados por conflitos, em que há projetos individuais em disputa que interferem no compromisso com o trabalho coletivo (79).

Outros aspectos destacados sobre a questão da comunicação é a dificuldade no processo de transmissão das informações/orientações entre os níveis hierárquicos e as equipes de trabalho das enfermarias e também a comunicação externa à enfermagem quando participam os serviços de apoio e administração superior institucional. Os participantes destacam a morosidade para chegar uma informação na “ponta”, no nível operacional e a falta do retorno por parte da chefia superior sobre uma solicitação feita e até mesmo pela falta de feedback do trabalho realizado tanto por parte dos diretores, sua chefia imediata, como também deles para com a equipe pelas quais são responsáveis.

Analisamos e discutimos duas questões sobre as situações apresentadas. A primeira sobre os meios de transmissão de mensagens institucionais, com certa carga de indignação por parte dos supervisores que relatam não serem informados,

imediatamente, sobre uma mudança ou falta de material, por exemplo, situações que interferem na dinâmica de trabalho cotidiano e geram conflitos. A outra é a forma como se colocaram por meio de uma comunicação “filtrada” (97), na qual se percebem insinuações e nem tudo sendo dito com clareza no que se refere à relação com a hierarquia do serviço de enfermagem.

O processo de comunicação sempre é o grande vilão da gestão, pois está na raiz dos problemas relacionados a atos inseguros, conflitos de opiniões, insatisfações no trabalho e falta de reconhecimento. As causas estão nas barreiras colocadas no relacionamento formal com o sistema de chefias pelo distanciamento do cargo e na forma como são transmitidas as informações (109,111). Há tendência dos gerentes de enfermagem, no uso da comunicação formal e escrita, para informar ou repassar comunicados sem a devida importância ao diálogo, interação e troca de saberes com sua equipe de enfermagem (140).

Nesse sentido, a competência comunicacional deve ser fortalecida na gerência de enfermagem para melhorar as relações no trabalho, a interação com os pacientes, bem como melhorar a comunicação das informações que sustentam o trabalho assistencial e gerencial. Para seu desenvolvimento, é essencial ter conhecimento da forma como acontecem as interações e os instrumentos de comunicação entre as equipes de enfermagem, saber como administrar conflitos e o processo de negociação, ter uma escuta ativa quanto às questões do poder e da cultura institucional (126, 139).

Esse núcleo revelador foi importante para expor as forças restritivas e bloqueadoras importantes que interferiram sobremaneira na dinâmica grupal para avançar na conclusão da tarefa, entretanto aspectos importantes foram apontados para serem melhorados no processo de trabalho da supervisão de enfermagem.