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Segunda fase aprofundamento e encontro com a prática da supervisão em enfermagem

Esta fase se fundamentou na perspectiva epistemológica da pesquisa- ação de não conceber a verdade somente nos fatos e dados preexistentes, mas construí-la a partir das aproximações sucessivas com o objeto investigado, com ampla e explícita interação entre pesquisadora e profissionais implicados na situação investigada (30).

1. Objetivos desta fase

- Observar e acompanhar as atividades do cotidiano da supervisão de enfermagem;

- Analisar o trabalho da supervisão, as dificuldades e necessidades de mudanças.

2. Instrumentos

Foram realizadas reuniões com a diretora do Denf, diretores de serviço e supervisores para discutir os resultados da primeira fase e fazer os encaminhamentos do planejamento da segunda fase da PA. Para a coleta de dados, utilizamos a observação participante e um diário de campo como instrumento para registros das observações. A técnica de observação participante prevê a inserção do pesquisador em interação com o grupo observado por um período de tempo em que seja possível perceber o significado do trabalho por meio do convívio e partilha das atividades do seu cotidiano (105).

As observações foram registradas em moleskine ou gravadas após os fatos observados para preservar a memória e distante da presença do profissional que estava sendo acompanhado para não constrangê-lo ou provocar informações encobertas ou não verdadeiras (92,106). O conteúdo das anotações foi mais abrangente que simplesmente a descrição das ocorrências. Registramos as

impressões e percepções por análises crítica e interpretativa das situações

vivenciadas (106).

Esses apontamentos e gravações foram ouvidos e organizados segundo

os componentes do processo de trabalho, seguindo a organização dos dados

coletados e análise dos resultados da primeira fase.

3. Organização

A unidade escolhida para continuidade da segunda fase da PA, em conjunto com a diretoria do DEnf, foi a Unidade de Internação de Adultos (UIA). Partimos da concepção de que uma área restrita de atuação, em pesquisa-ação, favorece o conhecimento em profundidade do objeto de estudo e pode, futuramente, ter articulação com outras áreas sob influência da mesma realidade (93).

Desse modo, a UIA foi escolhida por ser o maior serviço de enfermagem do DEnf, composta por unidades de internação denominadas pelas especialidades médicas (UI cardiologia/pneumologia, UI nefrologia,UI psiquiatria, UI transplante de medula óssea, UI neurologia, UI hematologia, UI trauma entre outras), localizadas nos quarto, quinto e sexto andares do hospital, com 307 leitos ativos em 2016, um quadro de pessoal de enfermagem de 154 enfermeiros, 406 técnicos de enfermagem, nove supervisores diurnos e três noturnos para acompanhar a assistência nas 24 horas.

Consideramos também para a escolha a representatividade da UIA por ser um serviço de enfermagem bem diversificado pelas especialidades médicas, com vários níveis de complexidade assistencial e sua articulação com vários serviços de enfermagem, como, por exemplo, a Unidade de Emergência Referenciada (UER), a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o Centro Cirúrgico (CC).

Nessa ocasião, uma das assistentes do DEnf responsável pela gestão do cuidado estava coordenando um projeto de revisão das atividades técnicas utilizando a metodologia da problematização, com objetivo de adequar o processo de trabalho dos supervisores ao acompanhamento da assistência prestada pela equipe de enfermagem. A experiência desse projeto está relatada nos anais do 67º Congresso Brasileiro de Enfermagem (107).

Esses treinamentos eram programados para acompanhamento da rotina de um plantão matutino de uma determinada enfermaria, para um pequeno número de supervisores (3 a 4) com duração de oito dias. O treinamento era conduzido pela assistente do DEnf/coordenadora do projeto, acompanhada por um grupo de observadoras composto pela diretora do serviço de enfermagem da UIA e a enfermeira da SEC).

Fomos convidadas para participar desse projeto com o objetivo de nos integrarmos ao grupo de supervisores e diretores da UIA. Isso aconteceu em junho de 2015 com a participação da pesquisadora em um dos treinamentos, com a observação sobre a forma do supervisor conduzir o trabalho assistencial aos pacientes internados, postura e relacionamento com as equipes de enfermagem e discussões críticas sobre as práticas realizadas.

Posteriormente a essa atividade, foram realizadas três reuniões com as Diretoras de Enfermagem e supervisores (diurnos e noturnos) da UIA, nas quais foram apresentados os resultados da primeira fase da PA e foi planejada a participação da pesquisadora em atividades do cotidiano do serviço durante o segundo semestre de 2015.

No desenvolvimento dessa fase, houve algumas intecorrências de ordem institucional que julgamos necessário relatar nesse capílulo, pois demandou reflexão e adequação do percurso metodológico da PA.

No cenário macroinstitucional e as reformas da previdência social anunciadas em nível nacional foram um estímulo para os servidores em condições de se aposentarem solicitarem seu desligamento abruptamente. Esse foi um dos fatos que interferiram na continuidade do projeto mencionado acima e que levou à aposentadoria da assistente do DEnf que coordenava os trabalhos, além da rotatividade de funcionários pelas saídas e consequentes admissões que demandavam atenção constante dos supervisores, com a escala de trabalho e treinamento de novos funcionários.

No primeiro semestre de 2016, retomamos o planejamento do projeto com as diretoras da UIA e foi programada a observação participante com supervisores em atividades cotidianas e de eventos planejados, como tutoria de supervisores, auditoria da estrutura das unidades e planejamento da implantação do protocolo

sobre prevenção de quedas. Mesmo assim, tivemos dificuldades para encaminhar discussões e reflexões necessárias para a continuidade da PA com os supervisores da UIA.

Vivenciamos o que os estudiosos da pesquisa-ação alertam sobre o objeto de investigação não ser constituído pelas pessoas mas, sim, por situações sociais e institucionais de diversas naturezas que, muitas vezes, são obstáculos encontrados na realidade(30,108). Diante desses obstáculos, lançamos mão do recurso da formação de grupo de estudo e/ou seminários com especialistas para conceber, orientar e auxiliar o processo e desenvolvimento da pesquisa-ação (99:55).

Desse modo, as dificuldades e os resultados preliminares das fases um e dois foram apresentados e discutidos em reunião do grupo de pesquisa Gepepes. Nessa ocasião (maio 2016), contamos com a participação de uma especialista da área de gestão, a Dra Maria Manoela Frederico Ferreira, professora da Escola Superior de Coimbra, Portugal, que, se encontrava como professora visitante do programa de pós-graduação da Faculdade de Enfermagem-Unicamp.

Os resultados analisados na reunião do grupo de pesquisa foram levados à diretoria do DEnf e discutimos a necessidade de reconsiderarmos o planejamento anterior, e decidimos compor com todos os supervisores (100% do grupo) para a continuidade da PA. Outro fator determinante para a substituição da proposta foi o tempo acadêmico para a finalização da pesquisa, pois tínhamos planejado um semestre para a conclusão dessa segunda fase, e já se estendia por dois semestres. Compreendendo que a pesquisa-ação pressupõe um movimento de circulariedades entre “ação-reflexão” e “aprendizagem-ação”, passamos pela experiência de (re)construção do percurso para alcançar os objetivos da pesquisa (93,99)

.

Obtivemos total apoio do DEnf para a continuidade da terceira fase, a ação. Acordamos pela estratégia de oficinas, com um cronograma de atividades pactuado dentro das possibilidades apresentadas pelo DEnf, para a participação de todos os supervisores de enfermagem, do período diurno e do noturno com o apoio dos diretores de serviço para a cobertura do trabalho na ausência do supervisor.