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A formação cultural e social do grupo teuto-brasileiro

H. W A Igreja cuidava da saúde espiritual, a Escola da saúde mental e o Hospital da saúde física Isso era muito forte havia toda uma História da saúde muito interessante Sempre houve

1.2.5. As escolas Teuto-brasileiras ou “die Deutschbraslienertum Schulen”

1.2.5.3. A influência do II Reich nas escolas teuto-brasileiras

O terceiro momento vivenciado pelas escolas teuto-brasileiras iniciou-se a partir do financiamento recebido do governo alemão, por meio das associações escolares alemãs destinadas a promover e preservar o Deutschtum em países estrangeiros.

Em virtude do processo de independência e unificação dos estados germânicos no final do século XIX, sob a liderança da Prússia, e do crescente florescimento econômico que esta região demonstrava; o governo alemão em conjunto com seus intelectuais nacionais, passou a dedicar atenção especial ao sistema escolar nacional, pois a educação deveria ser utilizada em proveito da prosperidade do país.

O ensino alemão caracterizava-se por um forte espírito nacionalista. Em nome deste, ficou para trás a paixão romântica pelo campesinato que, sob a influência alemã, varrera a Europa; sentimento no qual o povo era visto de uma forma mais folclórica do que política, e que estava impregnado de um nacionalismo cultural com expressiva influência religiosa. Nas últimas décadas do século XIX, todavia, a Alemanha passou a encaminhar-se rumo a um nacionalismo político, onde a escola vai desempenhar um importante papel. Os Estados haviam descoberto então – o caso alemão era um expressivo exemplo – que “ensinar a ler e a escrever envolvia a constante repetição do catecismo-cívico nacional, em que a criança era impregnada de todos os deveres que dela se esperavam: defender o Estado, pagar impostos, trabalhar e obedecer às leis”. Assim, a “defesa do Estado” – na paz e na guerra – constituía-se em um dos deveres que, em nome do nacionalismo, eram interiorizados nas mentes infantis. E à educação

escolar foi atribuída a responsabilidade de preparar para ambas as situações (FIORI, 2003, p. 251).

As teorias educacionais alemãs durante a passagem do século XIX para o século XX sofreram transformações significativas, pois, como destacou Fiori (2003), perderam o caráter romântico vinculado à cultura popular iniciado pela ética protestante e, mais tarde, aprimorado pelo movimento cultural do Romantismo alemão. A educação escolar neste momento, portanto, não era mais orientada por esses movimentos da sociedade, pois ela se transformava num estratégico programa político nacional, ou seja, saía das mãos da sociedade para recair em poder do Estado, que se apresentava forte e único na figura do Chanceler.

Cabia, então, à rede escolar alemã, administrada pelo Estado, concluir o projeto de unificação lingüística iniciado por Martinho Lutero22. Para as lideranças políticas e intelectuais nacionais, o idioma nacional era uma forma de criar uma identidade particular da população para com os limites territoriais do Estado-Nação (GIDDENS; WEBER, 1994, 2004); e assegurar, também, que os demais Estados-Nações respeitassem as fronteiras políticas e culturais do povo alemão (GIDDENS,2001).

Dessa forma, para que fosse instalado um idioma oficial, o sistema escolar nacional deveria propagar o ensino gramatical do Hochdeutsch, ou seja, do idioma alemão pertencente à alta cultura. Esta política lingüística além de estabelecer tal língua como o vernáculo nacional, procurou também marginalizar as demais variantes lingüísticas presentes no território alemão ao considerá-las como meras formas dialetais.

Além disso, a escola tinha a incumbência de divulgar à população jovem do país os valores culturais, de cunho nacionalista, que o governo idealizava. Ficava, assim, responsável por consolidar a comunidade imaginária (ANDERSON, 1989) da nação

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No século XVI, o fundador do protestantismo pretendia instaurar um idioma unificado que organizasse o léxico alemão, presente nos mais diversos dialetos locais, sobre uma estrutura gramatical assentada no Latim, sendo assim, seria possível que todos os falantes do território germânico tivessem acesso à Bíblia e, conseqüentemente, aprenderiam os ensinamentos de Deus.

alemã e preparar as gerações futuras para a Era da Industrialização, na qual o Império Alemão pretendia ingressar.

Segundo Pilla (2006), esses valores culturais alemães deveriam ser construídos em repúdio aos valores culturais estrangeiros, em particular os produzidos pela

Zivilisation Franceise. Pois,

[...] para os alemães Zivilisation, significa algo de segunda classe, compreendendo apenas a aparência externa (comportamento) de homens e mulheres. A palavra pela qual os alemães se interpretam e expressam orgulho de seu ser é Kultur. [...] Kultur para os alemães se refere basicamente, de acordo com Elias, “a fatos intelectuais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de traçar uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais por outro”. Kultur encontraria sua expressão maior em seu adjetivo derivado, Kulturell, “que descreve o caráter e o valor de determinados produtos humanos, e não o valor intrínseco da pessoa”. O conceito de Kultur delimita o movimento, ao mesmo tempo em que “dá ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos” (PILLA, 2006, p.03).

Depois de concluída a formação do estado alemão moderno e terminada a era Bismarck (1862-1890)23, a Alemanha iniciou com o chanceler Georg Leo Graf von Caprivi24 um processo de expansão política pelo mundo. Diferentemente de seu antecessor, Caprivi propunha que a Alemanha não deveria ficar confinada aos seus limites territoriais, pelo contrário, através do governo e da burguesia nacional, a pátria alemã deveria realizar o processo de transterritorialidade (MAGALHÃES, 1998). Diante desta proposta política de caráter econômico, a solução encontrada pelo governo alemão foi utilizar as particularidades da Kultur alemã para concretizar seus planos. Segundo Magalhães (1998), esta concepção de nacionalismo estatal em nível macro, para além do território nacional, havia sido herdada do pangermanismo austriaco.

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Período caracterizado pelo não interesse em promover a expansão ultramarina alemã, pois o chanceler prussiano julgava dispendioso o investimento bélico e a formação de uma burocracia que possibilitasse administrar as áreas colonizadas (MAGALHÃES, 1998). Tal medida política gerou um descontentamento entre segmentos políticos nacionais e na classe burguesa alemã.

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O conde Georg Leo Graf von Caprivi de Caprara de Montecuccoli ocupou o cargo de Reichskanzler (Chanceler do Império Alemão) de 1890 até 1894.

A identidade nacional era concebida de forma mais ou menos aleatória; dependendo da conjuntura e das conveniências políticas de seus adeptos, seus critérios podiam ser a religião, ou o regime político, ou o espaço geográfico, a história ou a cultura. Logo, a idéia de unidade que prevaleceu foi a de raça e língua, ao que se ajustou a noção de superioridade étnica, válida somente para os arianos puros, e não para qualquer tipo de branco. (MAGALHÃES, 1998, p.104). O governo alemão por compartilhar desta proposta, de que a identidade nacional de seu povo estava na raça e na língua, advogava que os colonos alemães que habitavam terras estrangeiras, como, por exemplo, os que moravam no Brasil, não deixaram de ser alemães e de reproduzir a Kultur. Contudo, o governo alemão via nesses migrantes alemães mais do que meros reprodutores da Kultur em território estrangeiro, eles poderiam se tornar, também, um importante mercado consumidor. Esse fato animou a classe burguesa alemã, pois os migrantes alemães formavam um mercado consumidor considerável no exterior, que poderia contribuir para o avanço industrial e para a disseminação dos produtos industrializados alemães.

No que se refere à América Latina, foi adotada a tática do imperialismo informal, e mesmo assim, somente a partir de 1890, na era Caprivi, ainda que seus principais mecanismos já estivessem acionados desde havia mais tempo. Com apoio institucional, os agentes do imperialismo alemão passariam a conquistar mercados em países como Chile, Peru, Argentina e Brasil. [...] No Brasil, dada a maior relevância política da doutrina Monroe, os agentes do imperialismo alemão limitavam-se às exportações de mercadorias e à doutrinação pangermanista entre as colônias em que o número de imigrantes alemães e seus descendentes fosse expressivo. (MAGALHÃES, 1998, p. 103).

Sendo assim, o Império alemão manteve a concepção inicial de que todo alemão residente no estrangeiro seria por direito um indivíduo dotado de nacionalidade alemã, pois a cultura alemã não seria restrita apenas àqueles que estivessem situados nos limites territoriais do Estado-Nação alemão. Devido à concepção Pangermânica, estes emigrantes também deveriam ter acesso à cultura, sendo o próprio governo alemão o responsável por disponibilizar ao emigrante a possibilidade de conservar a sua Kultur.

Através de sociedades empresariais privadas que já atuavam no processo de fixação e auxílio aos alemães presentes no exterior, durante o início do século XIX, o Estado alemão teve a oportunidade de entrar em contato com estes colonos e difundir as propostas pangermânicas.

-Divulgação e propagação dos planos expansionistas da germanidade; -Luta pelo fortalecimento da frota naval; -União integral da germanidade no exterior; -Luta contra as minorias nacionais (LEXIKON apud MAGALHÃES, 1998, p. 105).

Assim sendo, percebe-se que essas propostas alemãs de realizar o pangermanismo apresentavam um caráter étnico. Sua preocupação não era intervir no espaço político das áreas ocupadas pelos emigrantes alemães, afinal, estes não eram considerados cidadãos alemães – jus solis –; sua idéia era preservar o Deutschtum – jus

sanguinis – que estava situado fora dos limites políticos do estado alemão.

Dentre as primeiras iniciativas de apoio promovidas pelo governo alemão para auxiliar os alemães situados no exterior estavam as Associações Escolares e Associações de Professores. A finalidade era oferecer o ensino escolar como forma de prevenir o desmantelamento da cultura alemã no exterior bem como suprir as necessidades materiais e econômicas desta população.

As escolas de língua alemã eram encaradas não somente como um meio de evitar a Entdeutschung (desalemanização) dos jovens de ascendência alemã residentes no exterior, mas também como instrumento do comércio externo alemão. Elas contribuíram tanto para a conservação de certos hábitos de consumo entre a população de origem alemã com para a maior difusão destes. As escolas de língua alemã em regiões com forte concentração deste grupo étnico seriam um meio para manter, criar, consolidar e ampliar a presença do comércio alemão. (PAIVA, 2003, p. 135).

No caso dos teuto-brasileiros, as Associações Escolares e Associações de Professores alemãs tiveram um papel importante para a melhoria de suas escolas. A

Verein für das Deutschtum im Ausland25 (VDA) – Associação para a Germanidade no

Exterior – através da Allgemeiner Deutscher Schulverein (ADS) – Liga das Escolas Alemãs – financiou projetos de construções escolares, doou equipamentos e livros escolares26, enviou professores formados na Alemanha para virem ao Brasil educar os jovens teuto-brasileiros e, ainda, patrocinou estudos de teuto-brasileiros na própria Alemanha.

Gustavo Tentoni Dias Já havia escolas aqui quando a senhora nasceu? Eleonora Kaestner Já tinha. Mas com professor da Alemanha.