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A formação cultural e social do grupo teuto-brasileiro

H. W A Igreja cuidava da saúde espiritual, a Escola da saúde mental e o Hospital da saúde física Isso era muito forte havia toda uma História da saúde muito interessante Sempre houve

1.2.5. As escolas Teuto-brasileiras ou “die Deutschbraslienertum Schulen”

1.2.5.2. A participação religiosa nas escolas teuto-brasileiras

Durante a segunda metade do século XIX, quando se iniciou a atuação de jesuítas católicos e pastores protestantes nas áreas de colonização alemã, o controle escolar passou gradativamente para o comando das Igrejas Católicas e Protestantes.

Dentre as hipóteses levantadas em torno do processo de intervenção religiosa do protestantismo e do catolicismo na rede escolar, pode-se considerar a suposição de Kreutz (2006) que associa a influência confessional religiosa no ensino com a preocupação que as mesmas tinham com a crescente influência do pensamento liberal nas colônias teuto-brasileiras, causado, sobretudo, com a chegada dos Brummers20. Observa-se que:

[...] a Igreja Católica e a Luterana começaram a fazer uma frente de oposição ao avanço deste ideário. Embora católicos e luteranos tivessem um alinhamento diferenciado com o Movimento da Restauração no Rio Grande do Sul, as lideranças destas igrejas junto aos imigrantes declararam, em 1872, que, apesar das diferenças históricas, estavam conjugando esforços numa frente de oposição ao avanço do liberalismo ateu (Kreutz, 1991, p. 61s). A partir de então as duas confissões religiosas centraram suas atividades junto aos imigrantes principalmente em torno da difusão da imprensa, do associativismo e da escola. Algumas grandes iniciativas foram comuns entre as duas igrejas. No entanto, a maior parte da ampla estrutura de apoio aos imigrantes, na qual a escola recebia uma atenção especial, tinha caráter confessional. Opondo-se ao movimento de laicização do ensino e entendendo a expansão da rede pública de escolas como perda de terreno, as duas confissões religiosas investiram numa ampla estrutura de coordenação e incentivo às escolas comunitárias junto aos imigrantes. E assim, a escola entre imigrantes começou a ser vinculada a projetos específicos da Igreja Católica e da Evangélica, adquirindo cada vez mais uma conotação confessional. Iniciou-se o movimento para a formação das associações de professores que servissem de elemento

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Autores como Seyferth (2004) e Kreutz (2004, 2006) demonstram que os Brummers eram mercenários alemães contratados pelo Império brasileiro para lutarem na Guerra contra Rosas, da Argentina, em 1852. Tratava-se de idealizadores políticos que haviam participado estreitamente das revoluções liberais sufocadas na Europa a partir de 1848. Após a luta contra Rosas, eles se estabeleceram no Rio Grande do Sul. Conquistaram rápida ascendência dentre os imigrantes, pois tinham formação acadêmica superior e participação em movimentos sociais marcantes. “Segundo Schmidt (1949, p. 23), eles foram um ‘fermento’ entre os imigrantes, estimulando o desenvolvimento material e cultural. Trabalhavam em favor da nacionalização dos imigrantes, de sua participação política, da difusão da imprensa e da promoção do processo escolar. Em 1870, mais da metade dos professores da imigração alemã eram Brummer. O apelido ‘Brummer’ foi-lhes atribuído porque eram questionadores, os que faziam ‘zunido’”. (KREUTZ, 2006, p. 05, grifo nosso).

catalisador e que se tornassem um canal de intervinculação entre igreja e escola.(KREUTZ, 2006, p.06).

Foi, portanto, com a entrada das Igrejas Protestante e Católica no sistema educacional teuto-brasileiro que houve melhorias substanciais. Cada uma das religiões propôs associações escolares e auxílio financeiro, para que o ensino pudesse ser realizado de maneira eficiente. A partir deste momento as Gemeindeschulen foram sistematicamente substituídas pelas chamadas Escolas Particulares Alemãs de Caráter Confessional.

Contudo, este estudo focalizou apenas a atuação da Igreja Protestante no meio escolar, dado ao fato de que esta religião tinha como característica principal a preservação do vernáculo materno de seus fiéis, bem como os valores culturais dos mesmos. Já a Igreja Católica, por celebrar seus cultos religiosos com o idioma latino não se preocupava com a preservação da língua alemã, conforme evidencia a entrevista realizada com Harry Wiese (2005):

Gustavo Tentoni Dias Quer dizer então que a função da escola era preparar a criança para o aprendizado da língua alemã, que mais tarde seria utilizado pela igreja protestante?

Harry Wiese Exatamente. Os evangélicos aqui zelavam pela cultura e pela escolaridade porque acreditavam que saber ler e escrever era uma forma de agradar a Deus. Porque de acordo com eles, Deus não gostaria de seres humanos analfabetos, porque estes não teriam acesso às sagradas escrituras. Para ter acesso às sagradas escrituras, você precisava ser alfabetizado. E dentro da filosofia alemã todo o ensino era voltado para o aprendizado da língua alemã. Para poder ler e interpretar a sagrada escritura. E os católicos não tinham tanto esta questão, para eles era o padre que interpretava a sagrada escritura, então não precisavam ser necessariamente alfabetizados. Embora houvesse queixas de padres católicos de não poderem preparar suficientemente seus fiéis por causa do problema de língua. Só que o estilo era outro, era comunicação, era problema de comunicação. Para os evangélicos não era só comunicação (WIESE, 2005, 1° cassete sonoro. Lado A).

Tomando como exemplo o caso da colônia de Hamônia, nota-se que se o Pastor luterano Paul Aldinger21 criou a primeira escola particular alemã de cunho protestante e, um ano mais tarde, fundou a primeira escola agrícola do município. Através dessa escola foi possível ensinar aos alunos o manuseio do solo e das técnicas agrícolas desenvolvidas pela cultura teuto-brasileira. Já em relação à escola particular, houve a chance dos alunos não só aprenderem a cultura e a língua alemã, mas em conseqüência disto, a terem, também, uma assistência espiritual por meio do estudo da Bíblia.

Percebe-se que em Hammonia a igreja evangélica e a escola estavam sob a liderança de uma mesma personalidade. Assim, a interação entre a escola e a igreja foi um suporte forte na consciência étnica com vistas à resistência à inserção da Língua Portuguesa. Coube à igreja evangélica, a competência da transmissão e conservação da fé em contraste com outras etnias, principalmente, a brasileira, pois a fé devia ser expressa em Língua Alemã. (WIESE, 2003, p. 104).

Assim, a Igreja Protestante e a Escola teuto-brasileira caminharam juntas no processo de preservação do Deutschtum. Da mesma forma que o protestantismo não ficou restrito a oferecer apenas o universo religioso aos seus fiéis, pois procurou auxiliar no desenvolvimento econômico e social das cidades teuto-brasileira, o mesmo ocorreu com as escolas que não se limitaram apenas à função social de educar e alfabetizar o público jovem. O fato de manter vivo entre os alunos o uso da língua alemã possibilitou a conservação do Deutschtum e a preservação da própria religião protestante. Como demonstra Fasel:

A igreja e a escola não representam duas áreas estranhas entre si, mas dependem uma da outra. Onde a igreja tem que trabalhar sem a escola, vai faltar-lhe a juventude, e onde a escola se afasta da igreja, ela quase sempre torna desorientada. Os alemães no Rio Grande do Sul devem suas melhores realizações culturais à cooperação entre igreja e escola e só poderão manter sua cultura própria enquanto esta

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O pastor alemão Paul Aldinger migrou para o Brasil com o intuito de pesquisar a realidade local e criar um centro de experimentação para formar líderes comunitários. Contudo este seu plano foi modificado quando, em 1902, um grupo de vinte famílias teuto-brasileiras solicitou que o Sr. Aldinger viesse a assumir as funções pastorais em Ibirama.

unidade não for rompida. Para nossa população teuto-evangélica vale este princípio: o principal é que as crianças recebam instrução religiosa e que desenvolvam seus conceitos em língua alemã. (...) Uma comunidade evangélica sem escola comunal evangélica corta o galho em que está sentada (FASEL apud KOCH, 2003, p. 202). Dessa forma, conclui-se que neste segundo momento, segunda metade do século XIX, estas duas instituições – Escola e Igreja – foram dois elementos inseparáveis para a constituição da memória cultural e da preservação moral da sociedade teuto-brasileira. Entretanto, a escola teuto-brasileira sofreria uma nova remodelação, desta vez sob influência do processo de consolidação do Estado Alemão moderno, em 1871.