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A Iniciativa Novas Oportunidades como medida de política pública

Como se refere no Caderno Temático I dos Primeiros Estudos da Avaliação Externa da Iniciativa Novas Oportunidades levado a cabo por uma equipa de investigação da Universidade Católica Portuguesa: “A Iniciativa Novas Oportunidades é

indiscutivelmente, um dos mais importantes programas das últimas décadas nos domínios da qualificação e da promoção humana da população portuguesa” (Carneiro et al, 2009a:5). A Iniciativa estabelece como objectivos promover a generalização para o nível secundário como patamar de referência da qualificação mínima da população portuguesa, elevar a formação de base da população activa, gerar as competências necessárias à modernização das empresas e da economia e possibilitar uma maior progressão escolar e profissional por parte dos cidadãos da república portuguesa. A grande finalidade da Iniciativa Novas Oportunidades é o reforço da educação e da qualificação da população portuguesa numa óptica de “aprendizagem ao longo da

vida” (idem:48). Para o fazer, para o eixo dos adultos, que é aquele que aqui particularmente nos interessa, procura-se promover a oferta de percursos de qualificação flexíveis, assentes no reconhecimento e valorização dos adquiridos experienciais dos adultos nos mais diversos contextos de aprendizagem, sejam eles formais, não formais ou informais.

41 Em 2005, no lançamento do programa público governamental Novas Oportunidades o Primeiro-

Ministro de Portugal assumia publicamente a necessidade de colmatar o “atraso” das qualificações da população portuguesa, apelando a uma verdadeira “batalha da qualificação” e justificando esta necessidade com a necessidade de “desenvolvimento económico” do país e em ordem à promoção da

“coesão social”. Estas são as duas ideologias que nos parecem centrais na justificação política do programa. A ideologia modernizadora e desenvolvimentista e a ideologia da coesão social.

78 Como se pode ler no relatório acima referido:

“Está em causa vencer o “ciclo longo” do atraso português, investindo conjugadamente na melhoria contínua das condições de escolarização das crianças e jovens, por um lado, e na reversão da atávica desqualificação da população adulta que se viu privada do direito a uma adequada educação-formação inicial na idade própria”.

Em 2006, foi aprovado o Referencial de Competências-Chave para a Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário, instrumento metodológico que vai ser fundamental para assegurar o desenvolvimento dos processos de reconhecimento, validação e certificação de nível secundário e dá-se nesta altura uma aposta forte no crescimento dos Centros Novas Oportunidades, estruturas organizacionais que vão ser espaços fundamentais no acolhimento, diagnóstico e encaminhamento dos adultos que procuram estas estruturas formativas para ver reconhecidas as suas competências e ver melhoradas as suas qualificações. Em 2001 o número de Centros RVCC era de 28, atingindo em 2002 um total de 42. No final de 2005, altura de transição para o período abrangido pela Iniciativa Novas Oportunidades, podia-se contabilizar no território nacional 98 Centros RVCC (Lima et al, 2012:6). No ano de 2007 a rede de CNO já atingia o número de 271. Em 2008, o número crescia para 463 atingindo-se em 2010 o número de 459 (idem:19). Enquadrada pela lógica das políticas de activação afectas ao Plano Nacional de Emprego e ao Plano Tecnológico a iniciativa define uma série de metas e objectivos que se propunha cumprir até 2010. Para o eixo adultos destacam-se a expansão da rede de Centros de RVCC (depois designados Centros Novas Oportunidades) para o número de 500 em 2010. Alargar ao nível secundário de escolaridade o referencial de competência-chave tanto no âmbito dos processos de RVCC como para os cursos EFA. A proposta de massificação da certificação de modo a que se atingisse a certificação de um milhão de activos em 2010. O alargamento e a diversificação das entidades que podem institucionalizar os CNO com a participação agora alargada às escolas. A proposta de levar a cabo uma campanha mediática de informação e sensibilização para a importância da aprendizagem ao longo da vida e para a promoção da valorização social da procura da educação e da formação de adultos e dos processos de reconhecimento e validação de competências adquiridos ao longo da vida que se traduziu em slogans publicitários fortemente mediatizados como “Agora a

sua experiência conta” ou “Aprender compensa”. Em 2011, a Iniciativa “Novas

79 ANQ, como um fortíssimo movimento social de procura de qualificações em Portugal, com mais de 1.800.000 de adultos inscritos na iniciativa em que 510.000 desses adultos puderam concluir o ensino básico ou o secundário (Salgado, 2011:8-9). Os Centros Novas Oportunidades afirmam-se assim na sua missão como Centros que procuram promover a procura de novos processos de aprendizagem, de formação e de certificação por parte dos adultos com baixos níveis de qualificação escolar e profissional e a valorização social dos processos de certificação das competências adquiridas ao longo da vida. Os adultos são “acolhidos” num primeiro momento a quando da sua procura dos CNO onde são informados das regras e metodologias em funcionamento nos Centros. É-lhes feito em seguida um “diagnóstico” das suas competências o que permite que estes mesmos adultos em parceria com os técnicos de diagnóstico decidam do “encaminhamento” mais adequado em função da definição da sua situação. Neste momento do percurso dos adultos nos CNO estes podem ser encaminhados directamente para processo de RVCC ou se se concluir que não têm competências suficientes para isso, serem encaminhados para outro tipo de ofertas alternativas, como os cursos EFA. Em caso de ida directa para processo de RVCC a certificação pode vir a ser “total” se os adultos evidenciam e obtém a validação das competências referenciadas nos referenciais de competências-chave ou pode ser objecto de uma certificação “parcial” das suas competências, caso em que poderá ter que frequentar unidades de formação de curta duração no âmbito de formações “modulares” ou

“complementares” (Lima et al, 2012:13-14). Do ponto de vista dos técnicos que trabalham nos CNO, para além do técnico de diagnóstico que tem a tarefa de seleccionar e fazer a triagem dos adultos segundo as competências percebidas de que estes são portadores, temos também os técnicos de reconhecimento e validação de

competências que acompanham os adultos que entram em processo de RVCC, os

formadores das diferentes áreas de competência-chave, os coordenadores e os

directores dos CNO. Estes são actores centrais do trabalho de reconhecimento e validação de competências realizado pelos adultos que frequentam esta modalidade de educação e formação. Funcionam em boa parte das vezes como um verdadeiro suporte (Martuccelli, 2002) da trajectória formativa dos adultos. É por isso também que os considerámos actores centrais a serem escutados de forma activa na realização das entrevistas de modo a melhor perceber os modos de apropriação das políticas públicas no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades.

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