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As unidades de análise e a constituição da amostra

4.3. A estratégia e o desenho da investigação: Os objectivos e as questões de

4.3.4. As unidades de análise e a constituição da amostra

As unidades de análise objecto de observação no nosso estudo foram assim os formadores e os mediadores dos cursos EFA e os formadores e os técnicos que trabalham nos Centros Novas Oportunidades. Foram entrevistados técnicos de RVCC, técnicos de diagnóstico e acolhimento, coordenadores e um director de um dos CNO em que se realizaram as entrevistas. Os cursos EFA escolhidos para análise são dispositivos formativos que conferem certificação escolar e profissional e que podem dar equivalência ao 9º ano de escolaridade e ao nível II de qualificação profissional

94 (falamos aqui dos designados B3) ou ainda equivalência ao 12º ano de escolaridade e ao nível III de qualificação profissional (os designados B4). Ao nível dos B3, os cursos têm uma formação dita de “base”, de onde resulta a equivalência escolar, que é composta por quatro áreas de competências-chave. São elas a Linguagem e Comunicação (LC); a Cidadania e Empregabilidade (CE), a Matemática Para a Vida (MV) e as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). Os cursos podem ainda ter uma quinta área de competência-chave, uma língua estrangeira, habitualmente o Inglês, se as entidades promotoras dos cursos assim o requerirem à Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), entidade estatal responsável pelo programa “Novas

Oportunidades”. No caso dos B4, a formação dita de “base” é composta por três áreas de competência chave. São elas a Cidadania e Profissionalidade (CP); Sociedade, Tecnologia e Ciência (STC) e Cultura, Língua e Comunicação (CLC). Todas as áreas de competência-chave da formação de Base têm como documento pedagógico prescritor do trabalho formativo o Referencial de Competências-Chave para o Ensino Básico, no caso dos cursos B3 e o Referencial de Competências-Chave para o Ensino Secundário, no caso dos cursos B4. O Referencial de Competências-Chave é um instrumento de trabalho fundamental quer para os formadores quer para os formandos dos cursos EFA. Os cursos podem ter ainda uma componente de formação profissionalizante, que se pretende integrada com esta formação de base e que têm um outro referencial de competências como instrumento central da acção pública do trabalho com os adultos pouco escolarizados, referencial este, prescrito pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Os formadores EFA da formação dita de “base”, em cada curso, oscilam assim habitualmente, em número, entre os quatro e cinco formadores e os formadores da formação profissionalizante podem atingir o dobro do número dos formadores das áreas de competência-chave, dependendo da área de saída profissional de cada curso e do número de módulos de curta duração em questão. Cada curso EFA pode ter assim um número à volta de quinze formadores intervenientes, num processo formativo que pode ter perto de duas mil e quinhentas horas de formação e que em termos temporais pode levar perto de um ano e meio, desde o início ao fim do projecto formativo. Importante para o nosso estudo, é o facto de, para além de estarmos em presença de organizações formativas com características muito particulares face às suas tradições formativas como é o caso do Centro de Formação Profissional sob tutela estatal e da Associação de Desenvolvimento Local escolhida como caso de estudo, estarmos também perante um modelo educativo e formativo que procura conciliar dois sistemas historicamente de

95 costas voltadas. Falamos do sistema de educação, por um lado; e do sistema de formação profissional, por outro lado; que se procura que funcionem em estreita articulação nos cursos EFA, ao prescrever-se a conciliação pedagógica da formação de base (que atribui equivalência escolar outorgada pelo Ministério da Educação) e da formação profissionalizante (que atribui a qualificação profissional outorgada pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade); e ainda o facto importante dos formadores serem portadores de trajectórias formativas e profissionais muito diversificadas, uma vez que os formadores das áreas de competência-chave têm formação académica em vias de formação científica muito diversificadas e experiências de trabalho com adultos também diferenciadas. Os formadores da formação de carácter profissionalizante são também eles provenientes de mundos sociais do trabalho muito diversificados. Perante um modelo de formação que reúne profissionais de características tão heterogéneas, este é um aspecto que pensámos dever contar de forma importante nas nossas escolhas metodológicas, uma vez que estabelecemos à partida como objectivo estruturante do nosso estudo a compreensão dos sistemas de sentidos destes actores chave para o processo de fabricação social da acção pública de formar e reconhecer competências dos adultos destinatários da Iniciativa Novas Oportunidades. No caso específico dos formadores e dos técnicos dos CNO entrevistados, importa especificar que há que distinguir as funções dos técnicos de diagnóstico e acolhimento, das funções dos técnicos de RVCC e das funções dos formadores que trabalham também nos CNO e que têm como função principal auxiliar os adultos em processo e os técnicos de RVCC no trabalho de reconhecimento e validação dos adquiridos experienciais desenvolvidos ao longo da vida. Os técnicos de diagnóstico e acolhimento são responsáveis por

“acolher” os adultos que procuram os Centros Novas Oportunidades e orientar, em função do perfil de cada adulto beneficiário, para a resposta mais adequada de modo a que os adultos elevem as suas qualificações. Os adultos podem seguir directamente para processo de reconhecimento e validação de competências se se chegar à conclusão que o perfil de competências que adquiriram nos mais diversos contextos de vida o justifica, ou em alternativa, se o técnico de diagnóstico e acolhimento em conjunto com o adulto chegarem à conclusão que o seu nível de (in) competência não é suficiente para avançar directamente para RVCC então o técnico tem a tarefa de o encaminhar para um tipo de percurso formativo alternativo, por exemplo, a frequência de um curso EFA. O técnico de diagnóstico e encaminhamento organiza assim também o encaminhamento para as respostas educativas e formativas externas aos Centros Novas Oportunidades,

96 articulando com as respectivas entidades formadoras, organismos e estruturas regionais competentes. O profissional de RVCC tem a seu cargo a tarefa fundamental de conduzir os processos de reconhecimento, validação e certificação de competências; acompanha e dinamiza o trabalho dos formadores no âmbito dos processos de RVCC; acompanha, em articulação com os formadores, o adulto na construção do seu portefólio reflexivo de aprendizagens (PRA), através de metodologias especializadas, tais como o balanço de competências e a autobiografia, conduz, em articulação com os formadores, a identificação das necessidades de formação dos adultos ao longo do processo de reconhecimento e validação de competências, encaminhando-os para outras ofertas formativas, nomeadamente cursos de educação e formação de adultos ou formações modulares, disponibilizadas por entidades formadoras externas ou para formação complementar; organiza e articula com a restante equipa e o avaliador externo os júris finais de certificação. Os formadores participam no processo de RVCC, orientando a construção do portefólio reflexivo de aprendizagens no âmbito das respectivas áreas de competências-chave; participa, com o profissional de RVCC, na validação de competências adquiridas pelo adulto; organiza e desenvolve as acções de formação complementar no âmbito das competências do CNO e participa nos júris de certificação. Os Coordenadores dos Centros Novas Oportunidades têm como função primordial assegurar a gestão pedagógica, organizacional e financeira do Centro Novas Oportunidades enquanto a figura do Director tem como grande função representar institucionalmente o CNO e é o responsável máximo pelo cumprimento das orientações que asseguram a sua organização e funcionamento. Apresentados estes dados47 que permitem perceber melhor o enquadramento de fundo vejamos em seguida mais em pormenor a estratégia a que recorremos para a constituição da amostra e para a escolha dos “melhores” informantes que progressivamente nos ajudaram na construção do nosso objecto, os modos de apropriação das políticas públicas no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades.

47 Remetemos para o site da ANQ para o acesso à informação detalhada sobre as funções prescritas para

os técnicos e formadores que trabalham nos cursos EFA e nos CNO. Consultar aqui: http://www.anqep.gov.pt/.

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