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3. ESPAÇO, HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO PATRIMONIAL

3.3. Tombamentos versus degradação

3.3.4. A inserção na lista do Patrimônio Mundial

Apesar da situação de abandono e degradação de imóveis dentro do perímetro de tombamento federal, as obras executadas pelo PPRCH no conjunto urbano contribuíram para uma melhora significativa da paisagem e a crescente exaltação do conjunto arquitetônico.

Com sucessivas etapas de intervenções urbanísticas do PPRCH houve uma mudança valorativa sobre as velhas construções herdadas dos séculos XVIII e XIX. Referida mudança está relacionada com tombamento estadual feito em 1986, a retomada dos investimentos em obras urbanísticas a partir de 1987 (considerada a terceira etapa do projeto de revitalização) e uma maior percepção dos governantes que o patrimônio poderia ser ótima fonte de benefícios políticos através da divulgação de ações em defesa e promoção do patrimônio.

Se o conjunto arquitetônico de tipologia lusa foi tratado como sinônimo de atraso devido a sua estrutura espacial não ser favorável a utilização do automóvel, sua arquitetura ser de gabarito inferior aos arranha-céus e por não ter inclinação para se adaptar às transformações da modernidade, no entanto, ao adquirir valor patrimonial este mesmo espaço se reinventa, adquirindo o valor histórico. O que antes era considerado velho, obsoleto e passível de destruição é reconstruído em um processo de invenção (HOBSBAWM, 1997) como símbolo de esplendor de uma época próspera da cidade, sendo, portanto, portador de um valor inestimável que deve ser preservado.

Esse processo de “invenção” do Patrimônio contribui para consolidar uma nova representação social sobre a cidade. A legitimação de todo este processo de criação da cidade patrimônio estará contíguo ao trabalho desenvolvido pelo órgão de gestão do patrimônio.

Um dos elementos para projeção do Centro Histórico de São Luís como um local diferenciado por causa da singularidade consiste na variedade do seu patrimônio de azulejos contido no conjunto urbano. O acervo “reúne um belíssimo conjunto de peças importadas da Europa entre os séculos XVIII e XX” (FIGUEIREDO, 2006, p. 1).

Segundo os historiadores e pesquisadores da arte azulejar, o Maranhão só recebeu azulejos a partir da segunda metade do século XVIII, isto é, para revestimento interno. Quanto ao revestimento da fachada, só começou no século XIX, após a independência do Brasil, época aproximada da utilização desses azulejos em outras cidades brasileiras, cuja importação foi favorecida pelo estabelecimento dos laços comerciais entre Brasil e Portugal.

Segundo o pesquisador Santos Simões, o Maranhão recebeu azulejos portugueses em 1790, para o revestimento interno do antigo convento franciscano da Igreja de Santana e da Igreja do Rosário, ambas em São Luís e da Igreja de Nossa Senhora do Carmo na cidade de Alcântara. O pesquisador diz também que a primeira edificação civil que recebeu azulejos em São Luís foi um sobrado na Rua Oswaldo Cruz, em 1800. Outra informação relevante, segundo o historiador Domingos Vieira Filho, registra que “conforme dados da Balança Geral do Comércio de Portugal, nos anos de 1776 a 1800, chegaram a São Luís, cerca de 107.402 peças” De acordo com esse registro, conclui-se que foi no século XVIII que se iniciou a utilização do azulejamento interno em São Luís, principalmente em silhares nas igrejas.

A técnica de azulejamento de fachadas chegou ao Maranhão a partir do século XIX, por volta do ano 1840, surgindo assim, como uma nova utilização do azulejo, que passa a revestir vastas superfícies exteriores de edifícios religiosos e civis. Mas é, sobretudo, a integração do azulejo na arquitetura urbana que exerce um papel simultaneamente funcional e

decorativo constituindo-se parte importante do nosso patrimônio cultural (FIGUEIREDO, 2006, p. 2).

A particularidade dos azulejos das fachadas dos casarões seria um dos fatores que teriam levado o órgão federal a incluir aquele núcleo no rol dos bens de valor patrimonial. O acervo de azulejaria sempre foi destaque, sem dúvida devido à beleza e a quantidade de fachadas revestidas com peças de diversas procedências, especialmente Portugal. Os azulejos reunidos em extensos planos de paredes das fachadas em São Luís "adquirem extraordinária força plástica, que reforçam o caráter de imponência do conjunto - dão-lhe brilho, realeza; todos os aspectos da aspiração burguesa" (VIVEIROS FILHO, 2006, p. 169).

Em razão da relevância da azulejaria do conjunto tombado, no Plano de Reabilitação do Bairro do Desterro86 - 2005, se implantou a primeira etapa da

Oficina-Escola de Restauro com fins de qualificar mão de obra especializada para conservação da azulejaria.

[...] a Escola de Azulejaria de São Luis, que contempla a formação no restauro de azulejos antigos e manufatura de peças de reposição. A Oficina- Escola de Restauro funcionará no edifício da Rua da Palma, 360 e já tem projeto executivo completo em fase final de aprovação. A obra está prevista de acontecer através da utilização de recursos do Convênio entre o Governo Espanhol (AECI), Iphan e prefeitura de São Luis, com o apoio da Caixa , SEBRAE, UEMA e UFMA (BRASIL, 2005, p. 61).

Os azulejos como as construções edificadas representam o período de maior vigor econômico do Estado do Maranhão. Os antigos casarões com a chancela do IPHAN deixam de ser representantes da decadência econômica, sendo ressignificados como símbolo de tempos áureos e elementos do esplendor da arquitetura lusa em São Luís.

A construção de uma nova visão sobre o Centro Histórico começa a se consolidar no fim da década 1980, a partir da iniciativa das obras urbanísticas. As ações patrimoniais contribuem para alimentar a possibilidade de São Luís pleitear sua inscrição na Lista do Patrimônio Mundial.

86 Apoiado pelo Ministério das Cidades com recursos do Orçamento Geral da União do ano de 2004

Artigo jornalístico do final da década de 1980 faz alusão aos projetos de preservação e revitalização do referido espaço urbano, mostrando como tais começavam a alterar a condição de descuido sofrida por vários prédios coloniais. Ao mesmo tempo pode-se perceber o crescente interesse do poder público com a participação de vários órgãos, principalmente do Governo Estadual em agenciar os empreendimentos cabíveis para transformar o Centro Histórico em um setor dinâmico. Apesar dessas intervenções, os projetos não abrangiam todo o acervo arquitetônico, devido a grande área geográfica decorrente dos sucessivos tombamentos realizados.

Com a conclusão das obras de reconstrução do Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, um conjunto de vários prédios do final do século passado, ocupando toda uma quadra central da Praia Grande, chegam a quase vinte os imóveis de grande valor arquitetônico recuperados pela Setop Secretária de Transportes e Obras Públicas – dentro do Programa de Restauração e Revitalização do Centro Histórico de São Luís, reativado pelo governador Epitácio Cafeteira depois de vários anos de paralisação. O programa tem a coordenação das Secretarias do Planejamento e da Cultura e conta com a participação de diversos outros órgãos estaduais, municipais e federais.

Além dos prédios já recuperados outros encontram-se em obras, como o Solar do Largo do Comércio, um sobradão de dois andares onde será instalada uma pousada, na Praia Grande; a Casa da Cidade de São Luís, na Praça João Lisboa, que durante muitos anos abrigou a Câmara Municipal; a fábrica Cânhamo, na Rua de São Pantaleão, com fundos para o Anel Viário, que a exemplo do Centro de Criatividade se transformará num espaço cultural; o sobradão da Secretária de Comunicação e a sede do próprio Programa de Restauração do Centro Histórico, um sobrado próximo à SEPLAN, ambos na Praia Grande (O ESTADO DO MARANHÃO, 20/09/88, Cidade, p. 5).

Podemos observar que há algum empenho do poder público estadual em preservar não apenas a área onde se concentrava a maior parte do acervo colonial, mas também imóveis localizados em seu entorno, a exemplo do prédio onde funcionava a fábrica Cânhamo87, que evoca o processo de industrialização vivenciado pela cidade.

Em 1989 Luiz Phelipe Andrés, àquela época o coordenador geral do projeto para revitalização do centro histórico, destacava em artigo escrito no Jornal o Estado do Maranhão, que através do Projeto Praia Grande, executado no período de

87 É implantada na cidade em 1891, a Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, localizada no final

da Rua da Madre Deus as margens do rio Bacanga. Sua implantação provocou a ocupação de terrenos vazios próximos a ela, nas proximidades do Cemitério do Gavião, fazendo surgir os bairros operários (ZENKNER, 2010, p. 09).

1981 a 1982, o governo estadual promoveu importantes obras de restauração, Feira da Praia Grande, a Praça, Albergue e Beco da Prensa (O ESTADO DO MARANHÃO, 08/09/89, Alternativo, p. 1). Nesse tempo tivemos a chamada primeira etapa de obras que se concentraram exclusivamente na Praia Grande e que foi destaque na imprensa escrita.

A realização da 1ª Etapa deste Sub-Programa, com as obras da Feira da Praia Grande, Praça, Albergue, Beco da Prensa, Estacionamento de coletivos e Obras de Urbanização, constitui-se hoje uma experiência prática bem sucedida e que contou com a ativa participação da comunidade. Envolvendo a aplicação de recursos na ordem de CR$ 10,0 bilhões (valores atualizados) exclusivamente provenientes do governo estadual no período de 81/82 é hoje uma experiência nacionalmente reconhecida como um modelo para intervenções em Centros Históricos (MARANHÃO, 1986, p. 26).

Ressaltando a condição de precariedade sofrida pelo conjunto arquitetônico, Luiz Phelipe Andrés, em artigo de sua autoria publicado no jornal o Estado do Maranhão, aborda o aparecimento de alguns movimentos na cidade em defesa do patrimônio e ressalta o impulso durante o governo Cafeteira, o qual é ovacionado, por colocar em prática ações do Projeto Reviver para a revitalização do Centro Histórico.

Cresceu pouco a pouco a consciência da necessidade de preservar a cidade para garantir a qualidade de vida. Protestos contra o abandono surgiam de algumas entidades, campanhas contra a pichação eleitoral surtiram efeito surpreendente na última eleição municipal. A imprensa sempre denunciou o abandono. No âmbito estadual havia um projeto amadurecido, mas faltavam dois detalhes importantes: A decisão política e a coragem para o empreendimento. Estas vieram na forma do Projeto Reviver. Desde março de 1987 as coisas começaram a mudar. (O ESTADO DO MARANHÃO, 08/09/89, Alternativo, p. 1).

As intervenções urbanísticas durante o governo Cafeteira foram importantes para que o patrimônio ocupasse lugar de destaque dentro das políticas públicas do Estado. Porém, cabe advertir que o Projeto Reviver foi apenas uma continuação do PPRCH, sendo uma nova etapa deste. O próprio texto esclarece tal informação quando afirma que “havia um projeto amadurecido”. Um projeto da SEPLAN-MA, que projetava ações para o período entre 1987 e 1991 afirmava que as intervenções urbanísticas a serem realizadas seriam um prolongamento do programa de revitalização em curso:

Assim, a realização desta 2ª etapa se afigura como necessariamente prioritária dentro da ordenação geral do Programa como forma de se consolidar o processo de recuperação social e econômica da área da Praia Grande, antecipando condições favoráveis à implantação do Sub-Programa de Promoção Social e Habitação no Centro Histórico. Para esta 2ª etapa do Programa de Obras do Largo do Comércio estão sendo propostos oito projetos [...] (MARANHÃO, 1986, p. 26).

As intervenções de obras de revitalização tiveram o mérito de colocar o Centro Histórico num lugar de destaque. O Projeto Reviver se impôs de tal forma, que duas décadas depois ainda é comum as pessoas ao se referirem a Praia Grande por Reviver.

O coordenador do Projeto Reviver, Luiz Phelipe Andrés havia enfatizado a dificuldade em se reformar tão vasto conjunto arquitetônico. Segundo ele aquelas obras recuperaram apenas 15% de toda a área do centro histórico que precisava ser restaurada.(O ESTADO DO MARANHÃO, 08/09/91, Especial, p. 6).

As matérias dos periódicos denotam como foi sendo erigida uma imagem de singularidade ímpar no acervo arquitetônico de São Luís, trazendo elementos da paisagem urbana do Centro Histórico da cidade que denotariam as belezas do patrimônio arquitetônico.

As intervenções de revitalização do conjunto arquitetônico, empreendidas na década de 1980, vão fornecer suporte na década seguinte para a possibilidade de São Luís ser incluída na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. A proximidade deste acontecimento associada à expansão do turismo cultural colocará o Centro Histórico numa posição de destaque nos meios de comunicação, multiplicando-se as matérias jornalísticas que vão enfocar as ações do poder público.

Dominique Poulot destaca como veículos de comunicação escrita são um mecanismo para atribuir uma ordem cognitiva aos leitores em relação ao patrimônio e no caso específico do centro histórico de São Luís, os jornais em regra promovem o sentimento de singularidade do conjunto arquitetônico.

O jornalismo patrimonial, se é que pode atribuir-lhe tal qualificativo, que anuncia periodicamente “invenções” e descobertas, continua empenhado em ajustar o sentido de um passado e a consciência do presente – contribuindo tanto para normalizar as diferenças, como para colocar em destaque a singularidade de um monumento ou de uma peça para o entendimento da história e para suscitar o orgulho de uma coletividade (POULOT, 2009, p. 206).

Em 1996, a então Governadora Roseana Sarney iniciou a tentativa de colocar o Centro Histórico de São Luís na Lista do Patrimônio Mundial elaborada pela UNESCO. A imprensa escrita local havia destacado a entrega do Dossiê com dados do acervo a ser inserido na lista:

O documento entregue pela governadora Roseana Sarney à UNESCO contém dados concretos e completos sobre o centro histórico, como álbum fotográfico, slides, informações cadastrais, plantas, mapas, e ainda, dados sobre a evolução urbana, estado de conservação desse acervo, obras de recuperação que já foram feitas e as que estão sendo planejadas (O IMPARCIAL, 08/09/96, Cidades, p.11).

O projeto de inclusão do centro histórico da cidade na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO foi a ação política de maior relevância para divulgar o conjunto arquitetônico da cidade em nível internacional. Uma empreitada que será destaque na imprensa local que acompanha com ufania a possibilidade de São Luís ingressar num grupo distinto de cidades que possuem o título da UNESCO.

Tal processo coube a um grupo de técnicos88 (principalmente engenheiros e arquitetos), sob a coordenação executiva de Phelipe Andrés, os quais montaram a proposta do Dossiê de apresentação da cidade para a UNESCO. Apoiado num “parecer técnico”, o referido Dossiê assim descreve a cidade:

É neste momento, em que a economia do planeta se reorganiza, internacionalizando-se, derrubando antigas fronteiras, que a eventual inclusão de São Luís na lista do patrimônio mundial se constituirá em importante fator de reconhecimento por parte da comunidade internacional representada pela UNESCO, de seu inestimável valor cultural, testemunho vivo da história da ocupação do território sul-americano (SILVA, 1997, p. 37).

De acordo com AIRES (2007), tal discurso oficial do Dossiê enfatizava que a eventual homologação do título de “Patrimônio da Humanidade” a São Luís contribuiria para acelerar a conclusão das negociações de um empréstimo entre o

88 A defesa da proposta feita pelo Governo do Estado do Maranhão durante a 21ª Reunião do Comitê

do Patrimônio Mundial foi feita pela Missão Observadora integrada pelos seguintes técnicos: Luiz Phelipe Andrés, Ronald de Almeida Silva, Dora Alcântara, Alessandro Candeas, Jean-Pierre Havély. A montagem da proposta foi supervisionada pelo Secretário de Estado da Cultura, Eliezer Moreira Filho, com a coordenação executiva do engenheiro Luiz Phelipe Andrés, com a colaboração do arquiteto Ronald Almeida e do historiador francês Jean-Pierre Havély. Houve ainda a participação dos seguintes profissionais: Rafael Moreira, dos arquitetos da SECMA, Dora e Pedro de Alcântara, da arquiteta do IPHAN, Silvia Leal e dos também arquitetos: Danilo Rocha e Edson Fogaça (SILVA, 1997, p. 99-100).

Governo do Maranhão com o BID, assim como a contratação de recursos financeiros junto ao Governo Federal.

Mesmo que o empenho em querer transformar São Luís num grande polo turístico tenha tropeçado nas obras inconclusas e em políticas públicas incapazes de viabilizar uma revitalização completa do centro histórico, ainda assim o governo estadual se aventurou em inscrever o Centro Histórico na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.

De fato as fases do programa de revitalização aplicadas pelos sucessivos governos até a década de 1990, foram importantes em melhorar as condições de infraestrutura ao dispor investimentos para a melhoria da rede de esgoto, água, telefonia e energia elétrica. No entanto, todo o afinco empreendido, não foi suficiente para resolver os problemas de arruinamento e abandono de muito imóveis, o que acabou impondo certo entrave para as ambições de fazer da Praia Grande um importante centro turístico conforme era categoricamente divulgado na imprensa local.

Diante dessa conjuntura foi formalizada a candidatura do Centro Histórico de São Luís para inclusão na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. O principal fundamento para o reconhecimento como Patrimônio Mundial, estava na destacada tipologia arquitetônica e traçado urbano, sendo corroborado com as ações de mais de duas décadas de intervenções para revitalização e salvaguarda do conjunto arquitetônico.

Para convencer a comissão que ia julgar a proposta de reconhecimento pela UNESCO foi apresentado um Dossiê da cidade de São Luís exibindo uma série de justificativas relacionadas principalmente ao valor histórico dos bens culturais, fazendo referência a importantes acontecimentos que marcaram a história da cidade quais sejam: a fundação francesa, invasão holandesa, e a colonização portuguesa.

Núcleo habitacional fundado por franceses, anteriormente visitado por espanhóis atraídos por um possível caminho até o El Dourado, conquistada e saqueada por holandeses, São Luís é, finalmente, colonizada por portugueses que consolidaram seu domínio em todo o território brasileiro. Destes primórdios que fazem caminho e destino de inúmeros povos, São Luís atravessou sua história como ativo participante na vida do Estado Colonial do Maranhão, que mantinha relação de comércio e poder diretamente com Lisboa. (SILVA, 1997, p. 36).

O texto prossegue se referindo a importância econômica do seu porto para toda a região Norte e implantação do parque fabril no início do século XX. Alude também a contribuição cultural do Maranhão ao país, referendada na produção intelectual de seus muitos escritores, o que acabava se refletindo na produção do espaço urbano:

Porto de escoamento da produção de toda região Norte, pujante parque têxtil do princípio do século XX, São Luís manteve papel preponderante na cultura nacional que se traduziu na produção de seus poetas, escritores e políticos e materializou-se nos espaços urbanos, praças e solares. (SILVA, 1997, p. 36).

Em determinado trecho do dossiê temos a principal justificativa para a inclusão de São Luís na lista da UNESCO. A particularidade da arquitetura portuguesa dominante no conjunto urbano da Praia Grande, associando a beleza dos materiais utilizados à criatividade adotada nas construções, sem se esquecer dos azulejos:

Palco de lutas pela afirmação nacional, a São Luís coube criar através da releitura da arquitetura portuguesa, uma arquitetura única: seja pela generosidade dos materiais construtivos utilizados, seja pelas soluções ambientais adotadas, a casa maranhense se distingue de toda arquitetura colonial do país. O caso requintado do azulejo como proteção térmica e adorno, a modulação de cheios e vazios reforçados pela pedra lioz, nas molduras, cunhais, bacias de sacada e passeios públicos, dão a singularidade externa a esta maneira de construir. Internamente, são avarandados de rótulas, o pé-direito de 4 a 5 metros de altura as espessuras das paredes, os forros variados. (SILVA, 1997, p. 36).

Adiante o dossiê destaca a significativa extensão geográfica do acervo arquitetônico que ultrapassa o número de 3.500 imóveis de tipologia tradicional portuguesa, afirmando ser este o “mais extenso conjunto urbano e arquitetônico colonial da América Latina”.

Mais extenso conjunto urbano e arquitetônico colonial da América Latina, com seus mais de 3.500 imóveis representativos de nossa história, São Luís é definitivamente um dos mais acabados exemplos da maneira de viver do Brasil dos séculos XVIII e XIX.

Atualmente o Centro Histórico concentra as principais funções administrativas, financeiras e comerciais da Capital, que por sua vez é o epicentro de um região metropolitana que atinge cerca de 1 milhão de habitantes. Apresenta-se portanto uma rara oportunidade de assegurar a

salvaguarda e a preservação de seu valioso acervo cultural. (SILVA, 1997, p. 36).

Contudo, é necessário mencionar que o quantitativo contido no dossiê supera o número de imóveis catalogados em inventário pelo IPHAN, pois para o mesmo seriam 978 imóveis constantes com tombamento federal e incluindo bens isolados89.

O IPHAN90 ao proceder com a produção do inventário computou cinco centenas de imóveis onde foi informado apenas o endereço. Existem outros 475 bens que dispõe de outros dados além da informação sobre o endereço (IPHAN, 2007). O inventário destaca ainda as seguintes informações: uso atual, uso anterior,