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3. ESPAÇO, HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO PATRIMONIAL

3.1. Aspectos fisiográficos

O objeto de estudo desta pesquisa é o Centro Histórico da cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão. A área de preservação histórica encontra-se situada na Ilha de Upaon-Açu51, que se localiza entre os paralelos segundo e terceiro ao Sul do Equador e entre os meridianos 44º e 45º a Oeste de Greenwinch. Em razão desta localização geográfica a ilha possui um clima tipo tropical, quente e úmido52.

A ilha encontra-se hoje dividida administrativamente entre quatro municípios, dos quais o de São Luís possui hodiernamente área calculada de 834,785 Km² e uma população avaliada de 1.082.935 habitantes de acordo com as estimativas da população residente com data de referência 1º de julho de 2016 publicadas pelo IBGE no Diário Oficial da União de 30.08.2016.

Esse quantitativo populacional encontra-se distribuído na área de cidade consubstanciado em uma densidade demográfica em 2010 de 1.215,69 hab/km², que não se apresenta de maneira uniforme e planejada, pois com exceção do núcleo urbano original e sua expansão inicial ao longo dos séculos XVIII e XIX, observa-se um boom populacional que não foi acompanhado do devido planejamento urbano.

O município de São Luís encontra-se na parte ocidental da ilha, na qual existem ainda três outros municípios: São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar.

O Centro Antigo, ou Histórico do município de São Luís situa-se a oeste, na zona costeira, e está assentado sobre uma elevação que varia de vinte a trinta metros de altura em relação ao nível do mar, entre os rios Anil e Bacanga. Hoje, a área do Centro Antigo está delimitada por uma via com cerca de oito quilômetros de extensão, resultante de sucessivos aterros,

51 Denominação constante na Constituição Estadual do Maranhão em seu Art. 8º: "cidade de São

Luís, na ilha de Upaon-Açu, é a capital do Estado". Entretanto, cabe destacar a existência de diversos documentos nos quais é utilizada a terminologia de Ilha do Maranhão, inclusive em obras técnicas como o relatório de pesquisa da região metropolitana de São Luís desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA, 2014).

52 Compondo uma região biestacional, vingam o período das chuvas, de dezembro a maio, com

índice pluviométrico razoável, e o período da estiagem, geralmente de junho a novembro. A corrente de ar atmosférico dominante é nordeste, sendo mais forte na época do verão [...] (RIBEIRO JÚNIOR, 2001, p. 55).

conhecida como Anel Viário. Esta área compreende o núcleo primitivo da cidade datado do primeiro quartel do século XVII (1612), bem como o seu entorno – espaço urbano expandido nos séculos XVIII, XIX e início do século XX. (LOPES, 2004, p. 21).

O núcleo urbano original da cidade em seus primórdios era para José Antonio Viana Lopes (2008, p. 12) “o perímetro onde se instalara a cidadela francesa e adjacências, instituída em 1612, quando da tentativa de estabelecimento dos francos com criação da França Equinocial”. As construções no terreno eram simples e rústicas, resultado da curta passagem dos francos, que logo foram expulsos pelas tropas portuguesas.

A área do Centro Histórico é uma reminiscência da formação do conjunto arquitetônico de tipologia lusa ocorrida a partir da expulsão do invasor francês em 1615. “A área de abrangência do Centro Histórico de São Luís compreende o núcleo primitivo da cidade, datada do primeiro quartel do século XVII, bem como os espaços adjacentes da expansão urbana ocorrida nos séculos XVIII, XIX e XX” (CAFETEIRA, 1994, p. 103).

O terreno onde está implantado o Centro Histórico de São Luís é caracterizado por uma elevação abrupta de cerca de 20 a 30 metros e do platô central, onde se assenta a maior parte do conjunto histórico, circundado por uma faixa plana lindeira ao Anel Viário, resultado de sucessivos aterros.

As ladeiras resultantes da ligação entre o platô central e a faixa plana ao longo do Anel Viário contribuem para a identificação das áreas mais antigas, separando a zona portuária das áreas de uso residencial e comercial que se desenvolvem no platô de cota mais elevada. As ladeiras permitem focalizar as vistas sobre a baía e canalizam a brisa do mar. (CAFETEIRA, 1994, p. 103).

Essa configuração inicial do espaço urbano é reafirmada por Carlos de Lima, ao tratar do bairro da Praia Grande, área adjacente ao núcleo de formação urbana inicial, que no século XVIII era ainda uma área de mata.

O bairro em seu princípio, era cercado de juçarais e olhos d’água, sendo constantemente alagado no período chuvoso. A Praia Grande era, pois, todo o terreno desde a travessa Boa Ventura (Fluvial) até a rua do Trapiche, onde despontavam vários olhos d’água sob frondosos juçarais, recebendo as enxurradas vindas da rua do Giz, um tremendo lamaçal tornado impraticável, duas vezes ao dia, nas marés crescentes, para o transporte das mercadorias recebidas do interior, quando toda a comunicação por São Luís se fazia por mar. (LIMA, 2002, p. 24).

Outro aspecto de relevo na região onde foi edificado o conjunto urbano é o fato da área se constituir em um promontório determinado pela foz dos rios Bacanga e Anil na Baía de São Marcos. “Os dois rios, originário do interior da ilha, têm cerca de 8 quilômetros de extensão e determinam a conformação peninsular da faixa onde se instalou o núcleo inicial da cidade de São Luís” (CAFETEIRA, 1994, p. 104). Essa situação geográfica foi fator do desenvolvimento das atividades portuárias que facilitou o escoamento da lavoura mercantil através da capital de São Luís.

A modificação da paisagem geográfica do núcleo urbano inicial só tomará um ritmo maior com o impulso socioeconômico ocorrido na segunda metade do século XVIII, como se tratará detalhadamente adiante, pois o aumento da atividade econômica foi elemento fundamental para o aumento da quantidade e qualidade das construções.

A literatura histórica regional aponta dois importantes ciclos econômicos, responsáveis pelo rápido desenvolvimento da província. O primeiro deles, entre 1780 e 1820, foi baseado na monocultura algodoeira, voltada para o abastecimento das fábricas inglesas nos tempos febris da Revolução Industrial. O segundo é localizado entre os anos de 1850 a 1870, quando o Governo Provincial estimulou a produção açucareira, com a expansão das culturas de cana e a implantação de diversos engenhos (LOPES, 2008, p. 18).

Com isso na segunda metade do século XVIII e no decorrer do século XIX o referido impulso econômico foi responsável pela expansão do núcleo inicial e a consequente alteração da paisagem urbana com formação do conjunto arquitetônico de tipologia lusa em terras antes virgens.