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A instituição UDV: estrutura e funcionamento

1.2 O Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (CEBUDV)

1.2.5 A instituição UDV: estrutura e funcionamento

GROB et al. (1996) afirmam que, ―reunindo um grupo de seguidores leais, Mestre Gabriel (...), elaborou uma mitologia e uma estrutura para sua nova religião‖ que se espalhou ―primeiramente através da Amazônia brasileira, e depois para o populoso e urbanizado Sul‖ (p. 3). Possui uma estrutura administrativa atualmente com Sede Geral em Brasília e constituído por ilimitado número de sócios (CEBUDV, 1994) através de unidades administrativas em todas as capitais dos estados do Brasil e em alguns outros países. Assim, ―a UDV cresceu, nas subsequentes quatro décadas, para atingir o tamanho atual de (...) membros espalhados por todo o Brasil, com adeptos por todo o espectro sócio-econômico e profissional‖ (Ibid., p. 3). Segundo a Agenda 2011, ―Além da Sede Geral, existem 117 núcleos, 32 pré-núcleos, 11 distribuições autorizadas de Vegetal, 872 mestres, 2.513 conselheiros, e, aproximadamente, 15.000 sócios no Brasil e no exterior‖ (CEBUDV – DG, 2011, p. 50). Estas UAs estão listadas no ANEXO B.

Ainda, segundo GROB et al. (1996), os núcleos, ―organizados na linha da antiga paróquia cristã‖, são centros ―onde a hoasca sacramental é consumida em longas cerimônias rituais realizadas duas vezes por mês, dirigidas por mestres locais, líderes da seita religiosa‖ (p. 3). (Essa é a interpretação dos autores de que as cerimônias são ―longas‖, contudo, na UDV as sessões de escala duram quatro horas e quinze minutos, enquanto que, em outros

grupos ayahuasqueiros as sessões duram bem mais que isso). E, mesmo não sendo ―a única religião sincrética brasileira a usar a hoasca como sacramento ritual (o culto do Santo Daime sendo maior e mais amplamente conhecido), a UDV tem a mais forte estrutura organizacional, assim como a mais disciplinada irmandade‖. Assim, ―de todas as igrejas hoasqueiras no Brasil, a UDV foi também a mais ativa em convencer o Conselho Federal de Entorpecentes (Confen) a remover a hoasca da lista de drogas banidas, o que foi obtido, em 1987, para uso em contexto cerimonial religioso‖ (GROB et al., 1996, p. 3). Por essa necessidade, organizou o Centro de Estudos Médicos que, posteriormente, denominou Departamento Médico- Científico (DEMEC).

Gentil e Gentil (2004) sintetizam: ―a expansão da UDV no meio urbano iniciou-se na década de 1960 e acentuou-se na década de 1980, período em que os valores materiais, éticos e morais foram fortemente questionados, perante a crise do modelo econômico e político‖ (p. 566). Para eles,

A expansão dos cultos afro-brasileiros, do kardecismo, das seitas protestantes, da renovação carismática e das seitas hoasqueiras, demonstra que no Brasil existe uma busca espiritual muito forte. E o Brasil é o país da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Pantanal. Num país onde a natureza tem uma presença tão marcante, existe uma forte conexão entre a busca espiritual e o caráter sagrado da natureza. A Hoasca vem sendo uma ponte que liga esses dois aspectos. (Ibid.).

Foto 6b –O Vegetal ou o chá Hoasca (Fonte: www.udv.org.br)

E, para a UDV, a Hoasca é um chá Sagrado, é ―A natureza como fonte de luz‖ (www.udv.org.br).

Gentil e Gentil (2004) explicam que

a União do Vegetal é uma seita iniciática35: a transmissão da doutrina é oral e feita de maneira criteriosa, dentro das sessões — nome dado ao ritual onde é bebido o chá‖ e que ―os discípulos recebem os ensinos gradativamente, segundo o ‗grau de memória‘ ou ‗grau espiritual‘ e, ao demonstrar comportamento em sintonia com os estatutos e boletins — que são a lei da instituição — sempre lidos no início das sessões de escala (GENTIL; GENTIL, 2004, p. 562).

Nesse sentido, conforme o DC 21-02-2010, ―O grau de memória é o próprio espírito. (...) O grau de memória é o grau de evolução do espírito, é o grau de compreensão do espírito: como compreende e como pratica o que aprende‖. Assim também o Guia de Orientação Espiritual de Crianças e Adolescentes explica: ―A doutrina da União do Vegetal (...), na sua globalidade, é transmitida apenas oralmente, nas sessões religiosas, em seu Templo Espírita‖ (CEBUDV, 2008, p. 7; grifos meus).

O ―grau de memória‖ é ―a capacidade de ouvir, compreender e memorizar os ensinos sob o efeito do chá, ou seja, de ‗burracheira‘. Para a UDV, ‗grau de memória‘ é diferente de inteligência, de título acadêmico ou diploma‖ (GENTIL; GENTIL, 2004, p. 562). E, de acordo com minhas observações, desses diferentes graus, surge a necessidade de hierarquia, pois, quanto maior grau de memória, maior a capacidade para servir ao próximo e, portanto, maior a responsabilidade do discípulo36. Nesse sentido, segundo esses autores, ―existe um conjunto de leis que regem a organização do Centro e que buscam propiciar ao associado (...) as condições para a sua transformação no sentido do desenvolvimento espiritual‖ (Ibid.) e, por isso, ―há uma série de preceitos e valores a serem observados dentro do grupo, uma vez que a pessoa opte por ser um sócio da UDV. O cumprimento destes preceitos é, inclusive, uma das condições para a própria permanência como associado‖ e ―sua ascensão aos demais graus será feita por convocação pelo Mestre Representante37 e terá, como critério básico, comportamento condizente com a doutrina, independentemente da condição social e cultural do discípulo‖ (Idid., p. 563-4).

O CEBUDV possui, segundo os autores citados, ―quatro segmentos: Quadro de Mestres (responsável pela transmissão da doutrina): Corpo do Conselho (responsável pelo

35

Explicito mais a esse respeito no segundo capítulo.

36 Conforme examino de forma mais detida no item ―3.3 Estrutura hierárquica e concepção de

―autoridade‖‖.

37

aconselhamento da irmandade e auxílio direto ao Quadro de Mestres); Corpo Instrutivo e Quadro de Sócios‖ (Ibid., p. 563).

―Os núcleos estão reunidos em regiões, supervisionadas por um Mestre Central, que é responsável pela disciplina dos núcleos da sua região. A ele reportam-se os Mestres Representantes‖ (GENTIL; GENTIL, 2004, p. 564). Os Mestres Centrais, por sua vez, reportam-se ao Mestre Geral Representante (MGR), que, de acordo com Gentil e Gentil, é a autoridade máxima do Centro, sendo ―eleito por um período de três anos, pelo Conselho da Administração. O Mestre Geral Representante indica os Mestres Centrais com a concordância dos Mestres Representantes‖ (Ibid., p. 564). Acrescento que existe o Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel, cujo histórico sucinto pode ser lido no ―ANEXO D -

Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel‖.

Os filiados usam uniforme nas sessões. Com exceção dos Mestres Representantes, Mestres Centrais e o Mestre Geral Representante, que ―usam camisa azul com a identificação dos diferentes graus hierárquicos‖, os demais usam ―camisa verde, com letras bordadas no bolso, que identificam o grau que o discípulo ocupa na hierarquia, sendo que as camisas dos mestres possuem bordada uma estrela. Para as mulheres, saia ou calça amarela e, para os homens, calça branca‖ (Ibid.). Quero acrescentar aqui que, segundo minha observação, os Mestres do Conselho da Recordação dos Ensinos do Mestre Gabriel também usam camisa azul e todos os sócios e sócias usam sapato branco, sendo que os homens usam meias brancas e as mulheres podem também usar meias brancas ou não usar meias.

Os autores destacam ainda que,

um aspecto central de toda a instituição, que é o respeito á liberdade de escolha individual. Característica esta que sempre esteve presente nas atitudes do Mestre Gabriel em relação aos seus discípulos. Por exemplo, dizia que não acreditassem no que ele falava mas, sim, que ―examinassem‖. (Ibid.).

Por ora são suficientes esses elementos, que serão examinados mais minuciosamente nos capítulos terceiro e quarto.