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3.3 Estrutura hierárquica e concepção de ―autoridade‖

3.3.2 Administrativa

3.3.2.1 Diretoria

Há a necessidade legal da Diretoria (para fazer registro em cartório do novo Núcleo ou Pré-Núcleo, contratação de um Zelador e de um Contador etc.). A Diretoria, eleita em 156

assembleia geral dos sócios por um mandato de três anos, é composta por um Presidente (responsável juridicamente pelo Núcleo), Vice-Presidente, um primeiro Secretário e um segundo Secretário, um primeiro Tesoureiro e um segundo Tesoureiro, e um Responsável pelo Patrimônio. É eleito juntamente com ela, mas independente dela, um Conselho Fiscal (composto por um membro e dois suplentes).

As reuniões da Diretoria são realizadas geralmente uma vez por mês (no NPS e no PNMD em geral por volta de 17h, antes da 2ª sessão de escala; isso é para que a Tesouraria possa fechar o balancete do mês anterior e submetê-lo ao Conselho Fiscal e lê-lo na reunião). São reuniões abertas aos frequentadores (mesmo aos não sócios), sendo que os sócios têm direito a voto e todos têm direito a voz, independente do grau hierárquico que ocupam ou se não são sócios ainda.

O Presidente (ou o Vice-Presidente) inicia a reunião, propondo a pauta da mesma. Nesta pauta geralmente constam a leitura e a aprovação do balancete do mês anterior. Os outros assuntos são a respeito mais de melhorias materiais (manutenções e construções) do Núcleo ou Pré-Núcleo e de promoções para levantamento de recursos para tanto. Mais raramente são tratados outros assuntos como, por exemplo, a leishmaniose que tinha acometido algumas pessoas do NPS e do PNMD em 2009.

3.3.2.1.1 Presidente e Vice-Presidente

Responsável juridicamente pelo Núcleo, em sintonia com o MR, convoca as reuniões de diretoria, planeja e busca executar ou fazer executar o planejamento das atividades materiais: construções, manutenção. Geralmente essas atividades são realizadas em mutirões. É recomendável que, para ser MR, tenha sido Presidente, porque conhece melhor os discípulos (seu caráter, consciência, grau de memória). Pede-se ao discípulo para fazer algum trabalho, a pessoa diz que vai fazer e não faz ou faz mal feito, ou faz bem feito; ou não sabe como fazer e não quer aprender ou não sabe, mas mostra interesse em aprender.

3.3.2.1.2 A tesouraria

Arrecada as mensalidades e realiza pagamentos das despesas. Apresenta balancetes mensais e anuais do movimento de caixa. Não abre dia 22 de julho, aniversário da UDV. Em outros dias, realiza suas tarefas de acordo com as necessidades e possibilidades suas e dos sócios, abrindo após as sessões.

3.3.2.1.3 A secretaria

Segundo o Informativo Mensageiro do PNMD,

Cabe à Secretaria:

• Zelar para que a Documentação do Centro esteja sempre em dia;

• Assinar juntamente com o Mestre Representante, ou com o Presidente, as correspondências oficiais do Centro;

• Lavrar atas e providenciar registro das mesmas, quando necessário;

• Providenciar e responsabilizar-se pela expedição e recebimento de correspondências internas ou externas do Centro;

• Manter atualizados o Livro de Sócios, Livro de Adventícios, Livro de Visitantes;

• Auxiliar o Mestre Representante, o Presidente e demais membros da Diretoria, quanto ao atendimento de solicitações nos prazos estabelecidos pela Sede Geral, Diretoria Geral ou Adm.157 Central;

• Presidir as Assembleias e reuniões da U.A., na ausência do Presidente ou Vice-Presidente;

• Manter a Sede Geral, Diretoria Geral e Administração Central atualizados sobre informações da U.A. (Mestre Representante, endereço, composição de diretoria, conselho fiscal, convocação, afastamentos de membros da direção);

• Coordenar serviços de comunicação do Centro: leitura de Avisos, organização de mural, redes de comunicação;

• Colaborar com o censo anual do CEBUDV [sic] (CEBUDV – PNMD, 2008(b)).

Além dessas atribuições, observei ainda que a secretária (no PNMD tem sido do sexo feminino) guarda documentos recebidos de outras instâncias (MGR, Diretoria Geral, Mestre Central, Núcleos ou Pré-Núcleos e outras) e emitidos pelo MR e pelo Presidente do Núcleo ou Pré-Núcleo; redige os documentos para que o MR, o MA e o Presidente assinem; lê documentos nas sessões; e anota quem dirigiu as sessões, as chamadas que foram feitas e quem as fez.

3.3.2.1.4 Diretor do Patrimônio

Registra o patrimônio do Núcleo ou Pré-Núcleo adquirido, perdido ou danificado e comunica ao Presidente.

3.3.2.1.5 Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal não faz parte da Diretoria, mas coloco como subitem desta, pois, ele fiscaliza todos os atos materiais da mesma, principalmente os balancetes mensais e anuais do movimento de caixa elaborados pela Tesouraria, verificando se estão devidamente comprovados. Caso não estejam de acordo, não os aprova até o cumprimento das normas legais; em estas sendo cumpridas, recebem sua aprovação.

3.3.2.2 Departamentos

Embora os departamentos não apareçam com registro legal como as pessoas que ocupam os cargos da Diretoria, coloco-os como subitem da ―3.3.2 Administrativa‖ por estarem subordinadas aos MR e ao Presidente da Diretoria com o objetivo de melhor administrar (organizar e executar) as atividades na UDV.

Alguns departamentos na UDV surgiram pela necessidade dela continuar existindo. Por seu sacramento ser a ingestão de um chá com propriedades que alteram a consciência, foi alvo desde seu início de investigações e proibições, conforme explicitei no primeiro capítulo: daí surgiram principalmente o Departamento Jurídico e o DEMEC, e, de certa forma, também o de Beneficência. Outros, simplesmente pela necessidade de melhor organização, de acordo com as próprias concepções da instituição: Departamento de Doutrinação e Limpeza (espiritual), Departamento de Plantio (de Mariri e Chacrona), DMD e de Promoções.

3.3.2.2.1 Departamento de Doutrinação e Limpeza (espiritual)

Como já expliquei, é atribuição do QM.

157

3.3.2.2.2 Departamento de Plantio (de Mariri e Chacrona)

De acordo com DC 15-11-2010, um palestrante do I Congresso do Plantio afirmou que, segundo um estudo de 2005 realizado pelo departamento, para a Comunhão do Vegetal, há uma necessidade de um (hoje 0,7) pé de chacrona, dois pés de mariri e 0,37 metros cúbicos de lenha por sócio por ano. Portanto, existe a necessidade do desenvolvimento do plantio do mariri e da chacrona que, sendo plantas nativas da floresta amazônica, necessitam de zelo mesmo na região de origem, e que, em outras regiões como sul e nordeste, requerem bem mais trabalho.

A Foto 39, de uma camisa elaborada pela ocasião do I Encontro do Plantio em São João da Baliza, no estado de Roraima, em 2004, que já mencionei no início deste capítulo, mostra um pé de chacrona que brotou dentro de um orifício de um pé de mariri. A frase ―Força e Luz que nos Conduz‖ mostra a concepção que explicito no próximo capítulo, no item ―4.15 Força e Luz‖.

Foto 39 – Camiseta do I Encontro do Plantio

O Pré-Núcleo Menino Deus possui mariri que já estava plantado quando adquiriu o seu terreno, contudo, necessita de zelo, pois tem em grande parte apenas a grossura de pouco

mais do que um polegar. O chacronal teve um plantio de mudas suficientes, contudo, necessita de tempo e cuidado para crescer. A lenha utilizada em preparos é adquirida ou retirada de árvores caídas por ação do vento.

O zelo com o mariri abrange algumas atividades.

A de identificação é a constatação de que é mesmo mariri e não outro cipó, pois, por vezes, encontram-se cipós semelhantes e ouvi algumas (raras) narrativas de que pessoas de outros núcleos já prepararam Vegetal e que não sentiram burracheira, constatando, então, que não se tratava de mariri. Assim, conhecer o cipó é um dos aprendizados importantes para a UDV. A identificação, que inclui a contagem do mariri, é seguida de outras atividades.

A de adubação é realizada com composto orgânico feito no próprio Pré-Núcleo, com restos de alimentos e folhas caídas para que se desenvolva vigoroso e sadio; há fortes recomendações do Departamento do Plantio de não se utilizarem adubos químicos. Aqui, mais uma vez, percebo a evitação da utilização de meios artificiais, como a concepção do grupo de ligação com a Natureza.

A Foto 40 mostra pessoas colhendo mais chacrona para o Preparo, pois se havia percebido mais um pé de mariri que necessitava ser colhido para não ser desperdiçado. Aqui se percebem, de modo claro, duas guias de mariri subindo ―no sentido da força‖ em cordas (que foram penduradas em árvores).

O mariri necessita ser guiado, em geral, com fios amarrados em algum peso (pedra ou pedaço de pau) e arremessados sobre algum galho de árvore; retiram-se os pesos e atam-se em alguma estaca cravada no solo ou vegetação próxima ao mariri; podam-se as ―guias‖ (brotos) menos vigorosas, deixando três guias e enroscando-as nos fios; assim, as guias ―sobem‖ pelo fio até a copa das árvores, recebendo, então, mais luz do Sol. Lê-se no DC 21-02-2010: ―À tarde, depois de um longo período pós leishmaniose, reiniciaram-se os trabalhos do plantio. Cortaram-se vegetação baixa, preparando o terreno para plantio de chacrona. Podou-se mariri para que algumas de suas guias possam subir nas árvores próximas‖.

Percebo aqui uma metáfora com o crescimento espiritual que é objetivo do Centro: as pessoas também são guiadas para poder se desenvolver bem; a poda dos ramos pode ser metaforizada como o corte de condutas indesejadas, isto é, o domínio de si, a transformação ―de vícios em virtudes‖; recebendo mais a luz do Sol (mais consciência) e, assim, se desenvolvendo mais ainda. Acrescento, ainda, que as guias do mariri crescem subindo ―no sentido da força‖ (sentido anti-horário ou ―da direita pra esquerda‖). Escutei uma explicação de que o ―sentido da força‖ é o sentido em que a terra gira. Percebo aqui, mais uma vez, a importância da observação da Natureza nas concepções da UDV: a circulação no salão durante a sessão é feita obedecendo a esta observação.

A atividade de plantio de mariri propriamente dita consiste em cavar covas, colocar terra adubada nas mesmas e plantar as mudas de mariri. Estas já foram feitas previamente, a partir de sementes ou de estacas. Há também a orientação do Departamento do Plantio de se produzirem mais mudas a partir de sementes (que é o processo mais desenvolvido pela própria Natureza); mas, ainda há casos em que se produzem mudas ainda a partir de estacas, principalmente quando se prepara o chá com mariri nativo da floresta (neste caso as mudas são feitas no próprio preparo).

O combate às ―pragas‖ é feito com recursos naturais através de conhecimento dos caboclos e de conhecimentos de pesquisas científicas de agroecologia (descrevo só uma prática neste sentido no parágrafo a seguir). Aqui não cabe descrever esses recursos; o importante é destacar, mais uma vez, a concepção do grupo de ligação com a Natureza.

Aprende-se com a Natureza: a servir, assim como as águas, o ar e os vegetais nos servem, assim também se deve servir ao próximo – todos os seres humanos, incluindo a si mesmo (cuidando da alimentação etc.) – a serem harmoniosos como a Natureza. Não se vê na UDV os aspectos de competição na Natureza, como no caso de animais predadores, mas sim os de complementaridade. A prática que se utiliza em diversas UAs tem base na Permacultura. Esta é uma concepção surgida na Austrália que preconiza uma Cultura Permanente agrícola ou agropecuária. Observando-se a Natureza, percebeu-se que há um equilíbrio na riqueza da biodiversidade, onde uma espécie depende das outras para sua melhor saúde e crescimento e até sobrevivência. Tive oportunidade de conhecer, em um curso na UDV, o IPA (Instituto de Permacultura do Amazonas) que está em uma extensão de terra que, além de degradada por uma prática agropecuária ocidental contemporânea ainda predominante, estava compacta por ter servido de área de prática de direção de tratores aos alunos da Escola Agrotécnica. Com técnicas de Permacultura (portanto, sem utilização de agrotóxicos e de adubos químicos), em quatro anos já estavam com plantas (árvores, inclusive) produzindo frutos, com criação de aves, coelhos e peixes.

Há na UDV os que ainda não conhecem esta nova concepção, mas no II Congresso Internacional da Hoasca, apresentou-se um trabalho do Departamento do Plantio (responsáveis nacionais) com recuperação de florestas com sistemas orgânico-ecológicos. Interpreto que esta opção dos responsáveis do departamento, bem como a existência da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico158, ligada à UDV, têm a ver com a cosmologia da seita, que preconiza uma vida de harmonia entre os seres humanos onde todos

são importantes e que a diversidade entre os humanos é a sua riqueza. Portanto, o ensino

do amor e da tolerância está vinculado à valorização da Natureza.

3.3.2.2.2.1 Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico (ANEDE)

Da concepção de que ―superior é servir‖ e que a natureza serve o homem, surgiu a ANEDE. A Foto 41 mostra a água, o firmamento com nuvens e a vegetação, necessários para a sobrevivência da humanidade e, por isso, devem ser preservados. Esta Associação vem desenvolvendo o ecoturismo, eventos culturais, cursos de capacitação,

158

contribuindo para a conservação e a recuperação da Biodiversidade. Ela possui uma Carta de Princípios e um site: http://www.novoencanto.org.br/.

Foto 41 – (Fonte: www.udv.org.br)

E o site da UDV explicita que:

No sentido de estabelecer uma ação constante em defesa do meio-ambiente, a direção da União do Vegetal criou, em 1990, a Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico, entidade que concentra os trabalhos de formação de uma cultura ecológica e de preservação da biodiversidade. (http://www.udv.org.br/Associacao+Novo+Encanto/A+natureza+e+o+sagra do/71/).

Coloco este item nesta tese pela sua importância no contexto da instituição, contudo, na etnografia que realizei no PNMD, pela priorização de atividades de construção e pela leishmaniose que impediu por quase um ano os trabalhos no próprio plantio de mariri e chacrona, não observei ação específica da ANEDE. Coloco aqui como subitem do Departamento de Plantio porque, na prática, são as mesmas pessoas que fazem parte deste departamento e desta Associação.

No município de Lábrea, no Amazonas, divisa com o Acre, a 140 km de sua capital, Rio Branco, existe uma reserva extrativista aos cuidados da UDV, através da ANEDE, chamado de Seringal Novo Encanto, conforme ilustram as Fotos 42 e 43.

Foto 42 – (Fonte: www.udv.org.br)

Foto 43 – Mapa do SeringalNovo Encanto (Fonte: www.udv.org.br)

3.3.2.2.3 Departamento de Memória e Documentação (DMD)

Segundo o Informativo Mensageiro, foi criado com o nome de Departamento de Patrimônio Histórico em 1988, em 1990 passou a se chamar Centro de Memória e Documentação e, em 1997, com o nome atual. O objetivo do DMD é de

preservar e manter viva a memória da origem da UDV, o seu desenvolvimento institucional e a palavra de M. Gabriel. Tem como atribuição coletar, catalogar e organizar os dados que dizem respeito à expansão dessa obra e disponibilizar as informações de acordo com os critérios do Centro, também no objetivo de auxiliar por meio dos registros históricos, as decisões dos Conselhos da Representação Geral, da Administração Geral e da Diretoria Geral (CEBUDV – PNMD, 2008 (a)).

Como explicito no capítulo a respeito das concepções, a palavra memória tem um sentido destacado na cosmologia da UDV: está ligado à consciência, à reencarnação e à recordação das encarnações. Assim, os que voltarem a encarnar poderão ter sua recordação facilitada, ao perceberem o nome, fotos e outros materiais de encarnações passadas; e, daí, a importância da existência do Departamento de Memória e Documentação.

No PNMD, suas atividades desde o início do desmembramento, foram de registros de filmagens e de fotografias, feitos inicialmente por mim, pelo Presidente e por alguns outros discípulos, a pedido do próprio presidente ou do MR. Quando o Pré-Núcleo foi inaugurado em 18 de novembro de 2007, seu DMD já estava mais estruturado, com uma equipe que se formou com pessoas qualificadas profissionalmente na área e vem produzindo também, além desses registros, os informativos.

3.3.2.2.3.1 Os informativos

É uma tradição, desde o primeiro Auto-falante159, a elaboração de informativos no CEBUDV. São veículos de informação e comunicação entre os discípulos, mas não só isso: são, também, frentes de trabalho que mobilizam por vezes algumas pessoas, mas, em geral, diversas pessoas. São monitores ou colaboradores dos DMDs dos Núcleos, regiões ou da Sede Geral os que realizam entrevistas, fotografam, filmam, transcrevem entrevistas, digitam, elaboram textos, os submetem à autorização dos responsáveis hierárquicos, retificam, formatam, editam; em síntese: realizam um trabalho artístico-jornalístico (e muitas vezes de pesquisa) voluntário em que aprendem (e/ou ensinam) a exercê-lo. No Pré-Núcleo Menino Deus esse trabalho é realizado pelo DMD, mas, nos outros, nem sempre é assim, contudo, como é tarefa do DMD registrar diversas atividades e eventos (festividades, solenidades, encontros, mutirões, preparos, promoções, atividades dos departamentos de Beneficência,

Médico etc.), seus componentes estão constantemente colaborando com as edições dos informativos.

3.3.2.2.3.2 O Informativo Mensageiro

No PNMD surgiu com esse nome em 06 de Setembro de 2008. E, de acordo com o MR, mestre Roberto Evangelista, este Informativo é:

Um veículo singelo, pleno de boas intenções e palavras, com a missão maior de integrar e promover a confraternização. O Mensageiro vem vindo, e por isso é bem-vindo, como a serena luz de uma estrela anunciando a paz de uma harmoniosa comunicação. E apesar de ter um formato tablóide, é um imenso espaço livre onde todos nós, haveremos de expressar nossos bons pensamentos e sentimentos (CEBUDV – PNMD, 2008 (a)).

Essas palavras poéticas mostram o objetivo de integração, comunicação harmoniosa e livre à expressão dos bons pensamentos e sentimentos, em síntese, de paz.

Examino um pequeno trecho que veicula sentidos da transformação esperada na UDV:

A União do Vegetal nasceu de um Guia Espiritual de origem simples, que

nos abriu essa fonte de Luz Divina, inesgotável, preciosa, simples em sua essência, tal o seu guia.

Só depende de nós nos dispormos pelo nosso querer, abrindo nosso

coração, nos dando assim condições de penetrar nos ensinos do Mestre e

fazer disso a nossa verdade, o nosso modo de viver.

(...) sempre tendo o olhar voltado para si e sua transformação, e a mão

estendida para auxiliar a quem precisa (Ilka Castro - Auxiliar DMD. In:

CEBUDV – PNMD, 2008 (b), grifos meus).

Examinando as palavras desse texto, percebe-se a importância de certos sentidos na cultura da UDV. A palavra ―Guia‖ (duas vezes) tem o sentido de que existe uma hierarquia espiritual e que, portanto, os menos evoluídos necessitam ser guiados pelos mais evoluídos para receberem mais luz (de modo semelhante ao mariri160; essa ligação com a Natureza também se expressa na palavra ―fonte‖, que indica a ligação da UDV com a água). O Guia é o ―Mestre‖, isto é, guiar é ensinar (por isso, a palavra ―ensinos‖). A palavra ―Espiritual‖ tem o sentido de que as pessoas são espíritos. As palavras ―nasceu‖, ―origem‖ e ―fonte‖ indicando 159

Nome do informativo do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.

a importância do início, da procedência das coisas, que é espiritual, é a ―Luz Divina‖, que é ―simples‖ (duas vezes), ―inesgotável‖, ―preciosa‖ e ―essência‖: é a ―verdade‖. A pessoa necessita ―querer‖ (―coração‖) receber essa Luz, esses ensinos, e se abre (―abrindo‖, ―abriu‖) para recebê-los (aqui aparece a palavra ―penetrar‖, revelando um sentido de recepção ativa). Esses ensinos são: ―olhar para si‖, buscando a ―sua transformação‖, que é fazer um ―modo de viver‖ coletivo (―nós‖, ―nos‖, ―nosso‖), saindo de uma posição de quem é guiado (recebe) para uma posição de guia (quem serve): ―mão estendida‖ para ―auxiliar a

quem precisa‖.

Participo do DMD enquanto colaborador, o que facilitou, inclusive, as entrevistas com os sócios mais antigos, que já estão acostumados a elas por parte deste departamento.

3.3.2.2.4 Departamento de Estudos Médico-Científicos (DEMEC)

Na UDV a concepção é de que a cura é recebida pelo merecimento. Contudo, isso não quer dizer que a pessoa vá esperar pela cura simplesmente; é preciso buscá-la. Assim, há narrativas de curas no salão do Vegetal e pelo Mestre Gabriel, mesmo antes da UDV, enquanto Sultão das Matas. Mas não se curou a si mesmo. Buscou ―a medicina‖. Por isso que os mestres do CREMG possuem um seguro saúde, pago pelos sócios. Por um lado, isso mostra a concepção da valorização dos mestres antigos e, por outro, a de que é importante utilizar esses recursos modernos à disposição, ou seja, há a valorização do ―conhecimento material‖ (conhecimento científico).

Quero destacar o respeito que o Mestre Gabriel sempre teve com os profissionais da saúde, tendo ele mesmo sido enfermeiro e buscado recursos da medicina científica quando necessitou. O DC (28-03-2010) explicita isso:

[O Mestre Gabriel] foi à cidade de Fortaleza para tratamento de saúde (...). Foi tocada a música que também tocou na sessão em que o Mestre Gabriel esteve em Manaus, onde, entre outras coisas, há sua expressão de reconhecimento e de gratidão aos profissionais da saúde.

Ele procurou tratamento e voltou curado. Aqui se pode observar mais uma vez a importância da palavra: o nome da cidade onde se curou é Fortaleza, assim, ela adquire, neste caso, o significado de fortalecimento da saúde, ou na concepção da UDV, a ―enfermidade seria fraqueza, debilidade‖ e ―saúde é fortaleza‖. Assim, o Mestre Gabriel necessitou de

fortaleza (neste caso, saúde) e foi à cidade de Fortaleza para receber fortaleza, isto é, a saúde.

No documento Transformações pessoais na União do Vegetal (páginas 184-200)