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4. Metodologia para o Ensino do Inglês no 1º Ciclo

4.1. Abordagem Comunicativa-Afectiva

4.1.7 A Inteligência Emocional

Na sua obra Emotional Intelligence, Daniel Goleman (1995 [2006]) vai destacar a inteligência emocional como aquela que desempenhará um papel determinante para o nosso relacionamento com os outros e mesmo connosco próprios. Nesta obra seminal, o autor dá- nos conta do valor da nossa capacidade em conhecermos as nossas emoções, de as dominarmos de forma a permitir-nos não perder o controlo e a não interferir negativamente no nosso relacionamento com os outros. Para ele, inteligência emocional é a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos. Assim, a nossa inteligência emocional pode ser a maior responsável pelo sucesso ou fracasso da nossa vida pessoal ou profissional. Como professores, dominarmos os nossos sentimentos de frustração perante a pouca vontade de trabalhar dos nossos alunos, da sua indisciplina ou perante o fracasso dos seus resultados escolares, pode ser a única estratégia capaz de nos permitir criar uma empatia favorável à progressão desejada nas aprendizagens. Afabilidade, gentileza, bom humor, compreensão e compaixão são sentimentos muitas vezes desvalorizados porque se consideram contrários à disciplina que se deseja em sala de aula. No entanto, mostrar compaixão pelo fracasso dos alunos ou compreensão perante os problemas por eles trazidos para a sala de aula, pode abrir portas de bom relacionamento e de criação de laços afectivos imprescindíveis ao progresso dos alunos.

Cada vez mais o sucesso depende de outros factores que não apenas a inteligência no seu sentido tradicional e do espírito de trabalho. As relações interpessoais, a capacidade de trabalho em grupo, a capacidade de ouvir e de se colocar na posição do outro, mostrando empatia, são essenciais. A capacidade de ouvir a nossa consciência tornou-se fundamental num mundo cada vez mais ligado por redes e em que cada vez mais o trabalho é tarefa de uma equipa. A chave da inteligência emocional é a auto-consciência, isto é, o reconhecimento de um sentimento enquanto ele decorre. O objectivo é o equilíbrio e não a supressão dos sentimentos, pois todos os sentimentos têm o seu valor e significado. Controlar as emoções é a chave para o equilíbrio emocional. Há sentimentos que destabilizam emocionalmente as pessoas, como a raiva, a ansiedade ou a melancolia e que podem ser combatidos. A motivação para viver e para aprender é um forte antídoto para esses

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sentimentos negativos e cabe ao professor detectá-los em sala de aula e discretamente mostrar compaixão.

Embora vivamos numa sociedade feita de sucessos rápidos, a perseverança e a paciência são atitudes essenciais, cabendo ao professor ser exemplo dessas mesmas atitudes e treinar os seus alunos para as alcançar. Adiar os reforços positivos a comunicar aos alunos, doseá-los de forma adequada, pode ser uma estratégia para o controlo da impulsividade, que tantos danos provoca nas salas de aula dos nossos dias. O necessário treino do carácter parece estar associado ao sucesso numa proporção mais directa do que a inteligência tradicional, o que deve preocupar pais e professores e orientar a sua relação com os filhos e os alunos: ―The results are reassuring to parents who stress character and study habits over ―innate‖ smarts. Self-discipline accounted for more than twice as much variance as IQ in final grades, high school selection, school attendance, hours spent doing homework, hours spent watching television (inversely), and the time of day students began their homework. In short, it‘s the sheer effort and self-discipline that matters more than raw ―talent‖ (Jensen: 2006, 35). Por outro lado, o professor deve ter também cuidado com a comunicação não verbal que por vezes carrega mensagens mais negativas que as próprias palavras.

Segundo Goleman, as crianças de hoje são mais solitárias, deprimidas, violentas, indisciplinadas, nervosas, preocupadas, impulsivas, agressivas, e isso deve-se em grande parte à grande aposta que se tem feito na avaliação da inteligência de forma tradicional: a procura de um rótulo numérico: QI, que em nada favorece a grande maioria, criando sim grandes diferenças entre vencedores e vencidos (Goleman: 2006, xxiii). Os professores devem apostar no desenvolvimento da inteligência emocional, quer sua, quer dos seus alunos, para que o ambiente em sala de aula seja mais rico em afectos que permitam melhores aprendizagens. Numa aula com níveis diferentes de capacidade para executar certas tarefas, será preferível que o professor saiba usar essas diferenças para promover a colaboração do que a competição. Tendo um grupo acabado uma determinada tarefa antes de outro, uma estratégia positiva seria comunicar aos alunos mais rápidos que podem ajudar os outros dando-lhes uma pista para a conclusão da tarefa (Goleman: 2006, 264). Desta forma, os mais lentos reagirão melhor ao facto de não terem sido os primeiros a concluir, pois a ajuda dos outros colegas ajudá-los-á também a ter o seu sucesso, sentindo-se, simultaneamente, incluídos no grupo. O desenvolvimento da inteligência emocional dentro da sala de aula servirá não só para facilitar a aprendizagem, mas também para fortalecer os laços de camaradagem e criar cidadãos mais habilitados a enfrentar os dasafios da vida futura:

―And that is the problem: academic intelligence offers virtually no preparation for the turmoil – or opportunity – life‘s vicissitudes bring. Yet even though a high IQ is no guarantee of prosperity, prestige, or happiness in life, our schools and our culture fixate on academic abilities, ignoring emotional intelligence, a set of traits – some might call it character – that also matters immensely for our personal destiny. Emotional life is a domain that, as surely as math or reading, can be handled with greater or lesser skill, and requires its unique set of competencies. And how adept a person is at those is crucial to understanding why one person

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thrives in life while another, of equal intellect, dea-ends: emotional aptitude is a meta- ability31, determining how well we can use whatever other skills we have, including raw intellect‖ (Gardner: 2006, 36).

Sousa (2001) explora o valor das emoções em sala de aula e refere que, em termos das prioridades para a nossa memória de trabalho, estão sempre as circunstâncias que afectam directamente a nossa sobrevivência, depois, vêm de imediato as que afectam as nossas emoções e só finalmente as circunstâncias que se prendem com a aquisição de novos conhecimentos (Sousa: 2001, 43). Assim, uma aula com um ambiente onde existe respeito mútuo é uma aula propícia à aprendizagem: ―How a person ―feels‖32 about a learning

situation determines the amount of attention devoted to it. Emotions interact with reason to support or inhibit learning. To be successful learners and productive citizens, we need to know how to use our emotions intelligently. Over the years, most teacher-training classes have told prospective teachers to focus on reason and avoid emotions in their lessons. Now, we need to enlighten educators about how emotions consistently affect attention and learning‖ (Sousa: 2001, 43). Tendo em mente a formação de professores que consideramos necessária para o ensino das crianças alvo do PGEI, julgamos ser de grande importância a compreensão das ideias de Goleman no que concerne a valorização das emoções e a sua relevância para a aprendizagem. Atendendo a que o PGEI tem sido muitas vezes definido como uma vontade de ―sensibilizar para a diversidade linguística e cultural‖ (Bento, C; et al: 2005, 11) e de ―fomentar uma relação positiva com a aprendizagem da língua‖ (11), a observância de atitudes emocionais correctas em relação à língua inglesa será também algo desejável.

Numa mesma perspectiva, Jensen (2006), defende a ideia do enriquecimento da sala de aula com afectos e pensamentos positivos como pré-requisito para o sucesso de todos os alunos. ―Enrichment is what happens in the brain of someone who enters an environment substantially richer than his or her baseline or accustomed one. It happens in an environment with opportunities to explore and grow, but one sufficiently secure and supportive to make the experience welcome rather than impossibly stressful. You can‘t ―enrich‖15 anyone on cue

– you can only be purposeful in setting up conditions of contrast33, and then allow the magic

to happen‖ (Jensen: 2006, 207). Para além da ligação imediata à situação de sala de aula, o desenvolvimento da inteligência emocional nos nossos alunos pode fornecer-lhes competências para a vida. Se as crianças aprenderem a controlar as suas emoções ao ponto de não se deixarem avassalar por elas e de, assim, poderem estabelecer melhores laços com os que as rodeiam, poderemos verificar que terão mais possibilidades de sucesso pessoal e

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Itálico do autor.

32 Aspas do autor.

33 ―Contrast‖ é para Jensen a capacidade de se oferecer aos nossos alunos estratégias de ensino que

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profissional: ―Bringing emotional intelligence to your classroom is one of the most wonderful things you can do for the children in your classes. Those children who face so many struggles and problems in today‘s society deserve the opportunity to learn the skills that will help them prosper and do well in life‖ (Bahman: 2008, 114).

Verificamos, assim, que qualquer professor de Inglês no 1º ciclo deve procurar ser completo em termos de ferramentas essenciais, e, tal como na afirmação de Cameron no início deste capítulo, é necessária uma boa gestão de aula onde a compaixão e o rigor estejam sempre presentes. É importante um conhecimento sólido dos conteúdos linguísticos e culturais a trabalhar com os alunos mas, não menos importante, serão os conhecimentos de que o professor se consegue socorrer para melhor trabalhar com todos os alunos, fazendo com que toda a turma sinta vontade de aprender a língua inglesa e com ela mantenha uma relação de empatia duradoura. Jensen (2008) considera que a atenção prestada pelos professores às condicionantes emocionais que afectam o rendimento dentro da sala de aula é de elevada importância e constitue um novo paradigma no ensino. A sala de aula deve, por isso, manter um ambiente estimulante e acolhedor, onde as emoções são positivas e potenciadoras da neurogénese necessária à evolução das capacidades intelectuais dos alunos: ―Providing an enriched learning environment at school can contribute a great deal to a student‘s support system. The less support a child receives at home, the more he or she needs to be enriched and supported at school. A simple step you can take to offset the many stressors learners face is to provide more predictability in the form of school and classroom rituals. Predictable events, like a graded paper returned when promised or a peer cheer for completing a project on time, helps put the unsettled brain at ease‖ (Jensen: 2008, 47). Ao professor cabe então a tarefa de preparar as actividades comunicativas a propor aos alunos de modo a que as mesmas façam sentido para o mundo da criança, e que essas actividades sejam executadas num ambiente que as motive para a aprendizagem, levando-as ao estabelecimento de laços de afectividade, quer com a língua alvo e a sua mundividência, quer com o grupo em que a criança está inserida.

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IV capítulo

Um caso prático de leccionação de Inglês

aos mais novos.

O testemunho dos envolvidos.

Que formação para os professores de

Inglês no 1º ciclo?

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―For the successful introduction of English into primary schools in any one country, the government needs to invest in recruiting and training teachers. This applies to both pre-service and in-service teacher training and opportunities for teachers for development‖

(Pinter: 2006, 41).