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4. Metodologia para o Ensino do Inglês no 1º Ciclo

4.1. Abordagem Comunicativa-Afectiva

4.1.6. As inteligências múltiplas

No seu livro Frames Of Mind: The Theory Of Multiple Intelligences: Howard Gardner (1993 [1983]), dá-nos conta que existem múltiplos tipos de inteligência e que cada indivíduo pode ter várias ou todas as inteligências em simultâneo, mas nunca todas com a mesma intensidade. Esta proposta contrasta com o que sempre se assumiu em termos do que se define como inteligência: a procura de um número, um quociente de inteligência ou QI, que caracterize as capacidades cognitivas de um indivíduo. Para Gardner as várias inteligências demonstradas por um indivíduo operam em simultâneo e tendem a complementar-se à medida que o indivíduo vai resolvendo os problemas que encara no dia-a-dia. As inteligências múltiplas que cada um de nós possui podem ser usadas de forma correcta ou não, pelo que elas são desprovidas de moralidade. Pinter (2006) defende a teoria de Gardner para sustentar a ideia de cada um de nós é único e que todos têm um valor específico, cabendo ao professor, no caso da educação, descobrir essa individualidade e potenciá-la.

A primeira proposta de Gardner contemplava sete inteligências diferentes: a linguística, a lógico-matemática, a espacial, a musical, a cinestésica, a interpessoal e a intrapessoal. Mais tarde, em 1999, na sua obra Intelligence Reframed. Multiple Intelligences

for the 21st Century30, adicionou-lhe duas mais: a inteligência naturalista e a existencial. Um

aluno com uma inteligência linguística mais desenvolvida terá maior apetência pela leitura, por exercícios de compreensão textual, exercícios vocabulares, etc. Um aluno com uma maior inteligência lógico-matemática terá maior tendência para cálculos matemáticos, organização de dados, análise de gráficos, etc. Um aluno com uma inteligência espacial mais desenvolvida preferirá desenhar, colorir, recortar, etc. Um aluno com uma forte inteligência musical terá tendência para gostar de actividades de cântico, audição de canções, etc. Um indivíduo com uma inteligência corporal-cinestésica preferirá movimento na sala de aula, jogos em que a actividade física esteja presente, etc. Um aluno com uma inteligência interpessoal mais desenvolvida gostará certamente de trabalho de pares ou grupo, tendo maior dificuldade em produzir isoladamente. Um aluno que tenha mais desenvolvida a sua inteligência intrapessoal terá tendência para se isolar e procurar trabalho individual. Os alunos que tenham a sua inteligência naturalista mais desenvolvida gostarão de explorar a natureza, fazer visitas de estudo, ter aulas ao ar livre, etc.

Reflectindo sobre o uso e desenvolvimento destas inteligências para a aula de Inglês do 1º ciclo, verificamos facilmente a sua importância para a adopção de uma pedagogia diferenciada em que todos os alunos sintam que a aula lhes é dirigida, de uma maneira ou de outra. Quanto à inteligência existencial, por se tratar de idades compreendidas entre os seis e os dez anos, ela terá uma utilização mais restrita ou nula. Para cada conteúdo, o professor pode criar um conjunto de actividades diversificadas que satisfaçam o maior número de alunos possível, tendo previamente diagnosticado o tipo de alunos com quem trabalha,

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verificando que inteligências múltiplas estão mais presentes na sala de aula. Numa experiência de ensino de Inglês aos mais novos, levada a cabo por Lo (2006: 30) em Taiwan, foram criados cinco centros de actividades educativas dentro da sala de aula, cada um com uma função específica e com o objectivo de estimular inteligências específicas. Samantray (2009: 215-221) relata uma experiência em três escolas do 1º ciclo na Índia onde foram criados centros diferentes para a implementação de oito inteligências diferentes, como estratégia de aprendizagem. Depois de um inquérito inicial sobre as estratégias de aprendizagem preferidas dos alunos e dos professores, foi com surpresa que estes reconheceram que os métodos por si mais usados não correspondiam aos preferidos dos alunos. Enquanto os alunos preferiam métodos que desenvolviam as inteligências cinestésica, musical, naturalista e espacial, os professores tinham uma preferência manifesta pela inteligência linguística, lógico-matemática e musical, sendo estas as que predominantemente se encontravam subjacentes aos seus métodos de ensino. Embora os professores tenham mostrado alguma resistência em aderir à experiência, reconheceram que deveriam fazer um esforço adicional para se adequarem melhor às características dos seus alunos. Este projecto possibilitou ainda aos alunos desenvolver uma auto-estima mais elevada que lhes permitiu não desistir de tentar aprender algo que antes consideravam difícil, pois, deste modo, cada um tinha a possibilidade de se adequar a uma estratégia que lhe era favorável. ―In addition, there was distinct improvement in learner attitude towards learning English. English did not scare the children as much as it had done before. It became rather fun for them to accomplish things using English‖ (Samantray: 2009, 220).

As propostas de Gardner continuam a ter uma aceitação representativa no mundo educacional, porque permitem ao professor preparar de modo diferenciado, estratégias direccionadas à complexidade do todo que é a turma. Por outro lado, a aplicação da teoria das inteligências múltiplas permite passar a mensagem para os alunos de que, aos olhos do professor, todos contam, por outro, na avaliação que o professor faz do decurso dos trabalhos em sala de aula, se houver uma atenção focalizada nas diferenças de cada um, essa avaliação tenderá também a ser mais justa: ―For teaching children and making sense of our pedagogy, the work of Gardner is extremely defining. It takes the teacher away from the assumption that intelligence can only be measured through linguistic and numerical competency. […] Gardner refers to the assessment tools utilized to accurately assess a child‘s level of intelligence in one or more areas in the early years and allow the results to influence the planning of the teacher and the types of activity most suited to the individual‖ (Colverd et al: 2011, 33). Na nossa opinião, qualquer curso de formação de professores deveria contemplar um estudo da teoria da Inteligências Múltiplas no sentido de permitir ao professor melhor corresponder à heterogeneidade das turmas com que tem de trabalhar. Uma aposta verdadeira num ensino diferenciado deve saber diagnosticar as diferenças dentro da sala de aula e corresponder em seguida com estratégias motivadoras para todos, sobretudo tratando- se de idades como as compreendidas no PGEI. A teoria das Inteligências Múltiplas permitirá ainda, na opinião do seu criador, corresponder melhor aos desígnios da educação que se

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pretende para o futuro das nossas crianças: uma educação que prepare, prioritariamente, o carácter, em detrimento de uma preocupação excessiva com as capacidades cognitivas: ―You are all in the business of educating young people and there are enormous pressures to make them excellent […]. I have nothing against excellence, but at the end of the day we do not need more of the best and the brightest, but we need more of those who have good character. That is why the issues of respect and ethics, which are hard to measure objectively, are so terribly important‖ (Gardner: 2008, 17-18).