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2.3 A ESTRUTURA EM REDE

2.3.1.4 A Interdependência em Rede

Para ser considerada uma estrutura em rede deve existir entre os atores que a compõe, um processo de institucionalização e interdependência. Segundo Keast et al (2004), em uma estrutura de rede os atores precisam trabalhar juntos de forma ativa, o desenvolvimento da estrutura acontece pelo trabalho coletivo especificamente planejado a partir de um padrão horizontal de interdependências entre os membros envolvidos.

66 A interdependência é um elemento essencial para o processo institucional de uma rede, porém apenas existir essa relação não é condição suficiente para a formação da estrutura, uma vez que existem diversos níveis de interdependência. Para Fleury e Ouverney (2007:76), “é preciso haver uma intenção deliberada de aprofundar e canalizar essa interdependência para a realização de objetivos que proporcione o mútuo fortalecimento dos atores envolvidos” para que então a estrutura possa ser considerada rede. O padrão de interdependência em rede pode ser caracterizado pelos seus elementos estratégicos, que se resumem em atores envolvidos, regras, composição de recursos e poder e foco de controle de objetivos. De acordo com os mesmos autores, este padrão surge entre atores anônimos ligados por relações estáveis de interdependência que desenvolvem uma institucionalidade voltada para o aprofundamento da interdependência existente.

De acordo com Jones, Hesterly e Borgatti (1997), interações repetidas ao longo do tempo criam interdependências, aumentam os níveis informais recíprocos de comunicação e colaboração, facilitam a transferência de conhecimento tácito, elevam os níveis de confiança e, consequentemente, permitem que os mecanismos sociais de coordenação e controle sejam mais flexíveis e menos formais.

A constituição da rede resulta do fato de que sua institucionalidade se desenvolve para criar um potencial de transformação social maior do que aquele criado pela ação isolada dos membros. Por isso, na medida em que a rede promove mudanças sociais por meio de políticas públicas aumentando a interdependência entre os atores, torna-se necessário contar com atores capazes de impulsionar tais mudanças pelo trabalho planejado coletivamente, esses atores capazes são aqueles com maior poder dentro de cada organização componente (AGRANOFF; MCGUIRE, 2001). É preciso também que o grau de participação dos atores seja suficiente para mobilizar os principais atores e organizações que compõem o arranjo de recursos da rede. “Este envolvimento entre os atores decisivos é indispensável a partir do momento em que se forma uma estrutura em rede mediante um processo de interdependência e institucionalização dos vínculos de intercâmbio existentes num determinado espaço interorganizacional” (FLEURY; OUVERNEY, 2007: 93). Segundo Fleury e Ouverney (2007), a coesão entre os atores é entendida como a capacidade de convergência de um determinado grupo de interesse na defesa de percepções e objetivos comuns. A abordagem de redes de políticas como sistemas de intermediação de interesses, aponta a dependência de recursos e o interesse comum dos atores como os principais fatores de coesão entre os envolvidos. Os mesmos autores consideram as redes como “estruturas com interdependência de recursos motivadas por interesses comuns, onde grupos dotados de certa

67 coesão emergem de determinados arranjos de recursos e buscam defender seus interesses junto ao Estado ou influenciar suas decisões sobre as políticas setoriais que os afetam” (FLEURY; OUVERNEY, 2007:80).

A emergência das redes é um fenômeno estrutural e se desenvolve quanto à percepção que cada ator tem com relação a sua dependência com os demais. Portanto, a coesão é um elemento estrutural que reflete a composição dos arranjos de recursos subjacentes às redes (FLEURY; OUVERNEY, 2007). Os canais de intercambio de recursos articulados entre os atores da estrutura são elementos que conferem uma maior interdependência entre os membros, porém não são suficientes para garantir a institucionalidade do processo. A necessidade de monitoramento coletivo do ciclo de políticas previamente estabelecidas, a redução das incertezas entre os atores envolvidos e a necessidade de planejamento estratégico para o emprego racional da base econômica, são fatores que precisam ser coletivamente construídos para que se atinja a institucionalização necessária à formação da estrutura.

Para Koppenjan e Klijn (2004) o que define a estrutura de interdependência numa rede é a distribuição de recursos – autoridade legal, financiamento, organização, materiais, serviços de suporte, expertise, informação e experiência – entre os membros da rede. Uma vez que a distribuição de recursos influencia o padrão de interdependência dos atores, este elemento também irá orientar a distribuição de poder dentro da estrutura.

As assimetrias em relação às diferenças estruturais (recursos) e relacionais (padrões de interação) são reconhecidas entre os atores e por isso são mais fáceis de serem aceitas pelo grupo. Apesar das diferenças de poder, os atores que possuem menos recursos também podem influenciar o rumo e o conteúdo do processo de negociação, uma vez que podem acionar seu poder de veto ou mobilizar recursos visando criar impasses e bloqueios decisórios, obrigando os atores mais poderosos a rever suas expectativas e objetivos (KOPPENJAN; KLIJN, 2004).

Com relação aos objetivos dos atores, Fleury e Ouverney (2007) apontam que somente quando existe um entendimento que os objetivos almejados devem ser perseguidos por meio do engajamento integrado dos atores envolvidos é possível aprofundar a interdependência em direção a um padrão de organização em rede. A formação de uma estrutura de coordenação pressupõe o desenvolvimento de uma percepção compartilhada da necessidade de convergir para um objetivo maior que é comum a todos. Assim, a construção de objetivos compartilhados induz ao desenvolvimento de uma institucionalidade em função da percepção coletiva de que as atividades isoladas e sem coordenação resultam em ações de pouca eficácia.

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O equilíbrio entre a necessidade de formar uma estrutura capaz de oferecer o suporte indispensável ao planejamento e decisão coletiva e a necessidade de manter uma dinâmica flexível impulsionada pela autonomia das partes é que torna a rede um meio especialmente apropriado para a resolução de problemas complexos de políticas públicas e com maior capacidade resolutiva do que as organizações burocráticas centralizadas e os mercados instáveis (FLEURY; OUVERNEY, 2007:95).

O processo de institucionalização se completa com a interação da rede com os atores do ambiente externo, relevantes ao desenvolvimento da estrutura. Com isso, a relação entre os atores e organizações que a compõe fica caracterizada por padrões de interdependências diferentes daqueles que prevaleciam anteriormente ao processo de institucionalização, passando de cooperação interorganizacional para novos padrões que se referem às relações de coordenação institucional. Com isso, a institucionalização da rede requer um padrão de interdependência em que os atores desenvolvem ações coletivamente planejadas e orientadas para a ênfase nos objetivos comuns (FLEURY; OUVERNEY, 2007).