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Conferência de Estocolmo, Conferência de Viena, Protocolo de Montreal e

2.2 GOVERNANÇA AMBIENTAL GLOBAL

2.2.2 A agenda ambiental global: origem e evolução

2.2.2.1 Conferência de Estocolmo, Conferência de Viena, Protocolo de Montreal e

A Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente – Conferência de Estocolmo, realizada em 1972 pela ONU, foi a primeira atitude mundial em tentar organizar as relações entre Homem e Meio Ambiente, sendo fundamental para o desenvolvimento de programas ambientais domésticos, podendo ser considerada um marco da governança ambiental contemporânea. Foi, de fato, o primeiro grande esforço de caráter global, envolvendo os países desenvolvidos e em desenvolvimento, tendo em vista um diagnóstico bastante preocupante que apontava para a deterioração crescente dos ecossistemas.

O mérito da Conferência, além de ter sido um momento marcante nas relações internacionais pela inserção da problemática do meio ambiente na agenda política mundial, foi permitir um debate pluridimensional e interdisciplinar da temática ambiental, relacionando-a ao desenvolvimento econômico (VIGEVANI, 1997). Porém, as discussões incomodavam os países do primeiro mundo devido aos efeitos da industrialização e urbanização, e aos países em desenvolvimento, interessava-se manter o desenvolvimentismo.

Os países desenvolvidos exigiam dos em desenvolvimento esforços no sentido de prevenir desequilíbrios ambientais em escala mundial. Esses últimos, por outro lado, imputando a responsabilidade pela situação enfrentada ao processo de industrialização encabeçado pelos mais desenvolvidos, e com respaldo no princípio da soberania, fizeram oposição ferrenha preocupados com os interesses escusos voltados à perpetuação de uma oposição dos países industrializados às políticas de industrialização na África, América Latina e Ásia (SOARES, 2003). A crise ambiental do planeta foi associada, fundamentalmente à explosão demográfica dos países pobres. Entretanto, grande parte da crise ambiental contemporânea é resultante de padrões de produção e consumo adotado por uma parcela relativamente pequena da população dos países mais desenvolvidos.

A opinião pública desempenhou papel de destaque nesse cenário, notadamente pela série de denúncias e alertas levadas a efeito por organizações não-governamentais sediadas, principalmente, nos países desenvolvidos, enfraquecendo os argumentos contrários à tendência de maior responsabilização destes países. Com participação destacada, as ONGs defenderam uma leitura conservadora do movimento ambientalista, aderindo à tese do crescimento zero e do controle populacional como solução para todos os males. Por outro lado, os países em

34 desenvolvimento, onde a pobreza, a falta de alimentos e tantos outros problemas sociais pareciam insolúveis, defenderam a tese desenvolvimentista, justamente para que pudessem crescer e se desenvolver em uma linha de pensamento focada no tratamento igualitário em relação aos países já desenvolvidos.

No confronto, a tese desenvolvimentista prevaleceu, reforçando o princípio da soberania. A Conferência concluiu por privilegiar a autonomia dos países em relação à adoção de restrições ambientais e políticas de crescimento, o que de uma forma ou de outra atenderia igualmente aos interesses dos países industrializados (RIBEIRO, 2005). Os principais resultados da Conferência foram a legitimação da biosfera como objeto de política nacional e internacional e de gerenciamento coletivo e a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, que é a agência do Sistema ONU responsável por catalisar a ação internacional e nacional para a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentável. Para Guido Soares:

As consequências diretas e os frutos da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano foram incalculáveis, tanto do ponto de vista das relações internacionais quanto de seu reflexo direto nos ordenamentos internos dos Estados. O número de tratados e convenções multilaterais adotadas a partir de 1972 cresceu numa velocidade até então inexistentes na história da humanidade, sendo que os mesmos passaram a versar sobre temas cada vez mais técnicos, e agora negociados sob a égide de um órgão altamente especializado da ONU, o PNUMA (SOARES, 2003:47).

Segundo Ferreira (1992), a década de 1970 pode ser considerada emblemática para a penetração do ambientalismo na esfera estatal, sobretudo nos países capitalistas avançados, como os Estados Unidos, que foi um dos primeiros a estabelecerem mecanismos de regulação pública para os efeitos da poluição ambiental.

Em meados dos anos de 1980 uma nova agenda ambiental internacional foi estabelecida, uma agenda que os governos teriam que enfrentar coletivamente de algum modo, se quisessem ter credibilidade internacional. As ações multilaterais iniciaram-se, de fato, em 1985, na Convenção de Viena14. Durante esta Convenção, levantou-se a urgência de um regime para a defesa da camada de ozônio, cuja diluição é nociva à saúde humana e animal e afeta o desenvolvimento da flora, podendo apresentar riscos ao clima global.

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A Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio continha promessas de cooperação em pesquisa e monitoramento, compartilhamento de informações sobre produção e emissões de CFCs. A Convenção foi um marco importante. Nações concordaram em princípio em enfrentar um problema ambiental global antes que seus efeitos fossem sentidos, ou que a sua existência fosse cientificamente comprovada – provavelmente o primeiro exemplo de aceitação de um “princípio de precaução” numa negociação internacional importante (UNEP, 1996).

35 Em 1987 foi estabelecido o Protocolo de Montreal, que fez recomendações específicas e tornou-se modelo para futuros acordos ambientais, pautado em mudanças climáticas, biodiversidade e desertificação, determinou o banimento gradual das substâncias que prejudicam a camada de ozônio, os clorofluorcarbonetos. Este Protocolo representa um marco singular, já que fez constar em seu texto explícita determinação no sentido da redução quantitativa da emissão de gases que destroem a camada de ozônio, além de fazer uma distinção de critérios para a identificação das metas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. 15

O Protocolo de Montreal foi um avanço no sentido de estabelecimento de metas de emissão para a proteção do meio ambiente, seu conteúdo é considerado complementar aos atuais diplomas que versam sobre a questão climática.

No final do ano de 1987 foi formada, pela ONU, a Comissão Brundtland, assim chamada porque foi presidida pela ex-primeira-ministra da Noruega, Dra. Gro Harlem Brundland. O produto final desta Comissão foi o Relatório Nosso Futuro Comum, onde foi formulada a primeira agenda global sobre o meio ambiente. Segundo Marcovitch (2006) há quem atribua a esse documento a internacionalização do conceito de desenvolvimento sustentável. Um de seus trechos mais expressivos usa linguagem contábil, frequente no meio corporativo, talvez já com o propósito de sensibilizar os homens de negócios para estratégias ambientalmente adequadas:

Muitos dos atuais esforços para manter o progresso humano, atender às necessidades humanas e realizar as ambições humanas são simplesmente insustentáveis – tanto nas nações ricas quanto nas pobres. Eles retiram demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambientais já a descoberto, e no futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência dessa conta. Podem apresentar lucro nos balancetes da geração atual, mas nossos filhos herdarão os prejuízos. Tomamos um capital ambiental emprestado às gerações futuras, sem qualquer intenção ou perspectiva de devolvê-lo (BRUNDTLAND, 1991).

O relatório propõe a continuidade do crescimento econômico como base para a erradicação da pobreza, porém calcado em um novo paradigma de utilização de recursos ambientais. Reconhece a interferência do homem na natureza e sua incapacidade de bem determinar, promovendo ações que acarretam ameaças à vida na Terra.

15 Cf. Artigo 5º do Protocolo de Montreal: “Qualquer parte que seja um país em desenvolvimento cujo nível anual

calculado de consumo das substâncias controladas seja inferior a 0,3 quilogramas per capita, na data da entrada em vigor do referido protocolo para a parte em questão, ou a qualquer tempo dentro de dez anos da entrada em vigor do referido protocolo, poderá, a fim de satisfazer suas necessidades internas básicas, adiar o cumprimento das medidas de controle estabelecidas nos parágrafos 1 a 4 do Artigo 2, por dez anos após os prazos especificados naqueles parágrafos. No entanto, tal parte não poderá exceder um nível calculado de consumo de 0,3 quilograma per capita” (MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA [s.d.]).

36 Desde a Conferência de Estocolmo, as discussões em torno da proteção ao meio ambiente sedimentaram o direito internacional sobre este tópico e definiram princípios de uma nova ordem. Nessas discussões e negociações o tópico principal sempre foi o conflito de interesses manifestado pelas partes envolvidas, notadamente de ordem econômica, polarizando as mais diversas tendências sobre prioridades e objetivos da agenda ambiental mundial.