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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.8 Papel Desempenhado pelo Estado

Como visto na literatura, segundo a abordagem de redes como formas de intermediação de interesses entre Estado e sociedade civil, as características das relações e da estrutura composta por diferentes grupos de interesses ou setores, possui uma relação causal com os resultados das políticas daquele setor, podendo influenciar ou mesmo determinar as estratégias estatais. Com isso, o Estado pode apresentar-se como ator independente que estabelece as regras e as metas de acordo com seu próprio interesse ou pode ser influenciado e pressionado pelos outros setores. De acordo com Fleury e Ouverney (2007) o Estado pode assumir o papel de gestor, promotor ou facilitador/mediador dos projetos e políticas adotadas.

Os Órgãos entrevistados acreditam que o papel do Estado na estrutura deveria ser o de articulador e direcionador das políticas relacionadas às mudanças climáticas. O Estado é o ator que deveria nortear as transformações que devem acontecer na busca da redução das emissões, além de estabelecer uma política de combate ao aquecimento global. No desenvolvimento de projetos e políticas, o Estado deveria liderar e ser o articulador dos demais atores, promovendo o contato e o envolvimento das partes envolvidas, visando a consecução dos objetivos comuns.

Não considero que o Estado tenha que assumir qualquer papel ativo. Ele tem, na sua forma de conduzir as políticas, vários instrumentos, mecanismos que ele pode usar, e até mesmo criar, para poder favorecer a condução das coisas em um determinado caminho (Órgão B).

O papel do estado, eu acho que vai continuar o que tem sido feito até hoje, que é o ponto central da articulação, e de iniciativas, que não ocorreriam por iniciativas dos demais atores; e entre estas iniciativas estão os investimentos de futuro, tanto para a contenção do impacto da mudança, quanto para conhecer o fenômeno, desenvolvimento de pesquisas, e tecnologias (Órgão C).

113 Na visão das Empresas entrevistadas, o papel principal do Estado no sistema deveria ser o de facilitador e gestor de todo o processo de formulação e implementação das políticas e projetos. “O Estado não deve atuar apenas como um continente de comando e controle” (Empresa B).

Seguindo a visão das Empresas, as ONGs entrevistadas acreditam que o Estado deveria assumir diferentes papeis relacionados à questão das mudanças climáticas. Para essas organizações, além de facilitador, o Estado deveria atuar como mediador do processo em se tratando dos projetos e políticas que já estão em andamento ou dos projetos contendo o envolvimento de mais de um setor e que seja necessária uma força maior para estabelecer a intermediação das relações.

O Estado, nesse sistema funciona primeiramente como um promotor e facilitador. O Estado frequentemente encomenda estudos, une a todos pra realizar determinadas discussões; ele se aproveita da experiência que os atores do setor privado e ONGs têm, desenvolve esse outro lado da rede, e a partir daí ele começa a implementar programas próprios, leis e políticas, e se torna gestor disso tudo. É basicamente assim que essa rede acontece (ONG B).

(...) (O Estado) não pode ter apenas um papel; ele deve realmente promover uma gestão participativa, e poder ter a sensibilidade de ver o que é mais ou menos importante, num determinado momento; como é que pode realmente contribuir mais para a coletividade dos cidadãos como um todo (ONG C).

Essas funções, colocadas pelas Empresas e pelas ONGs, quanto ao que deveria ser o papel do Estado dentro da rede global de políticas públicas, vão de encontro ao que é encontrado na literatura, do Estado assumindo as funções de gestor e mediador/facilitador de todo o processo de formulação e implementação das políticas públicas.

Ao contrário do que foi colocado pelos atores não-governamentais e do que está referenciado pelos autores pesquisados, os Órgãos entrevistados acreditam que a principal função do Estado deveria ser a de articulador e direcionador das políticas e projetos voltados à redução da emissão de GEE. Essa diferença de percepção de papel entre os atores pode tolher as expectativas dos atores não-governamentais com relação ao poder público, provocando a desarticulação dos membros e diminuindo a confiança e comunicação dentro da rede. Devido a isso, as relações de interdependência podem ficar comprometidas, tornando um obstáculo para a institucionalização de toda a estrutura e do processo de desenvolvimento de uma governança ambiental global. No quadro 11 estão sintetizadas as respostas dos entrevistados quanto ao papel do Estado na estrutura.

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Quadro 11 – Papel do Estado

Atores Papel do Estado

Órgãos - Articulador - Direcionador Empresas - Gestor - Facilitador/mediador ONGs - Gestor - Facilitador/mediador

Verificando os elementos supra-analisados e confrontando com a tipologia ideal de redes proposta por Marsh (1997) pode-se observar que as peculiaridades apresentadas pelos atores brasileiros integrantes da rede global de políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, apresentam características relacionadas à Comunidade Política como à Rede Pontual. Quanto à composição, o número de participantes é amplo e apesar de existir um forte fator de coesão, a consecução do objetivo comum não é sempre observada nas ações praticadas pelos atores, devido à divergência de interesses, levando a caracterização da estrutura como uma rede pontual. Aspectos da rede pontual também são observados na integração entre os membros, que apesar da existência do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, os contatos variam em frequência e intensidade, ademais, os conflitos fazem parte das negociações. Com relação aos recursos disponíveis, a rede analisada possui a característica de comunidade política devido à disponibilidade de recursos entre seus membros e a concentração desses em um único ator, o Estado. Devido a isso, a rede pode ser caracterizada também pela tipologia proposta por Loiola e Moura (1997) como uma rede unidirecional. Contudo, mesmo o Estado possuindo a maior parcela de recursos e consequentemente o poder, há benefícios para os atores envolvidos, constituindo-se em um jogo de soma positiva, característico da comunidade política. Esta interação entre Estado e setores não-estatais revela a contestação da globalização de “cima para baixo”, caracterizando a governança global transnacionalista.

Com relação à proposta de Fleury e Ouverney (2007), as relações entre os atores brasileiros da rede apresentam as características de estruturação da fase Network, devido à consistência das relações entre os atores, conferindo certo grau de institucionalização às interações da rede.

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