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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.3 Mecanismos de Intercâmbio de Recursos

Os recursos disponibilizados pelos atores e a retenção deles é o que dá poder aos membros da rede susceptíveis à governança global. Por isso, os recursos passam a ser importantes elementos de domínio, sendo requisitados pelos atores, ao mesmo tempo em que se encontram dispersos entre os setores.

Para os entrevistados do setor público e do setor privado, os recursos estão disponibilizados na rede, sendo possível a articulação dos mecanismos de intercâmbio entre os membros que fazem parte da estrutura. Quanto aos recursos financeiros, os Órgãos entrevistados acreditam que existam vários mecanismos de intercâmbio desse recurso. Os fundos dedicados às mudanças climáticas, como o Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, que vem sendo alimentado aos poucos por doações e verbas governamentais e está se articulando para receber futuros recursos do pré-sal; o Funda da Amazônia; os bancos de desenvolvimento como BNDES e FINEP; os bancos estaduais de desenvolvimento, que já têm sua carteira semelhante aos demais; todos esses

101 fundos podem ser mencionados como recursos financeiros disponíveis ao setor privado e ONGs que estão empenhados na questão das mudanças climáticas. Segundo o Órgão D:

Existem vários (mecanismos de intercâmbio de recursos). Esses fóruns de discussão na internet, a própria conferência das partes, os órgãos subsidiários de implementação da convenção e de aconselhamento técnico e científico. Todas essas entidades, ou esses organismos, todos eles são, de alguma maneira, mecanismos pra conseguir intercâmbio de recursos, de informação. Tem os fundos que investem. Têm vários, vários mecanismos.

Os fundos são administrados, basicamente, pelo setor público, o que proporciona, a esse setor, a gestão do recurso financeiro, que pode ser considerado o recurso mais cobiçado entre os demais recursos disponibilizados na rede. O governo financia alguns projetos de pesquisa para avaliar ações que sejam favoráveis ao governo, além disso, foi colocado também pelos entrevistados do setor público e privado, que os créditos gerados pelo Protocolo de Kyoto no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo também são recursos financeiros que fazem parte do mecanismo de intercâmbio dentro da estrutura, assim como os organismos internacionais governamentais que também são fontes de recursos financeiros, e disponibilizam este recurso entre os membros, fazendo com que haja circulação e intercâmbio desse recurso entre os atores da rede.

Existem tanto os mecanismos financeiros, que é basicamente Kioto... tem o MDL, que é mais expressivo, mas tem os voluntários. Hoje já tem essa questão da criação dos fundos de mudanças climáticas, o Fundo Nacional, e alguns estados também estão falando nisso. Então, acho que mecanismos têm. De informação, também tem muito, porque, na medida em que essa informação toda é produzida, é disponibilizada (Órgão A).

Dentre as ONGs entrevistadas não houve uma resposta que fosse comum a todas. Algumas acreditam que existe um grande intercâmbio de recursos financeiros dentro da rede, que existem fontes de financiamento para investimento nessa área tanto para a pesquisa quanto para investimentos setoriais e transferência de tecnologia. “Diversas são as fontes de financiamento que garantem o investimento na área das mudanças climáticas. Fontes de recursos do governo, para captar recursos para estudos de pesquisa na área, fontes de financiamento para investimentos nos setores que podem reduzir as emissões de gases (ONG A). Além desses, assim como foi mencionado pelos entrevistados do setor público e privado, têm disponível para os atores os recursos vindos de fontes internacionais como Banco Mundial e governos de outros países que estejam preocupados com a questão do clima. Segundo a ONG E “existe intercâmbio, os projetos

102 nessa área são sempre interdisciplinares, então acaba tendo de trabalhar em conjunto, várias instituições trabalhando em conjunto. Tem intercâmbio grande”.

Diferentemente dessa perspectiva, há ONGs que afirmaram haver escassez de recursos financeiros. Segundo a ONG D “os recursos são escassos, existe um grau de dificuldade muito grande de chegar até eles, eles estão direcionados, isso é uma coisa muito difícil”. As ONGs que consideram existir escassez de recursos financeiros são ONGs com características ambientalistas ou sociais. Isso revela que os atores representantes da sociedade civil e com menor capacidade de articulação possuem uma parcela menor dos recursos disponibilizados na rede, fazendo com que seu nível de poder dentre os membros seja baixo.

Quanto à informação disponibilizada na rede, existe unanimidade entre os Órgãos entrevistados que este recurso é fornecido e bem disseminado entre os atores. Os fóruns de discussão na internet, o Fórum Nacional e Estadual de Mudanças Climáticas, as Conferências das Partes, os órgãos subsidiários de implementação da Convenção e de aconselhamento técnico e científico, são todos mecanismos para o intercâmbio de informação. Para os entrevistados do setor privado, existe o intercâmbio de informações, mas não é uma prática que vêm acontecendo há muito tempo. Segundo a Empresa A “isso é uma coisa nova, principalmente envolvendo (o intercâmbio de informações) entre a iniciativa privada, poder público e ONGs, é uma coisa que está começando, ainda está engatinhando. Essa questão participativa não era uma questão no Brasil”. Assim como os recursos financeiros, há ONGs que acreditam haver escassez de informação entre os membros da rede. “As informações não são disponibilizadas de forma fácil e acessível aos membros com menor poder de articulação e geralmente nós temos que ir até a fonte da informação para obter-la” (ONG D), aparecendo como um problema para esse tipo de organização.

Diante dessa constatação, novamente pode-se atribuir essa reclamação às ONGs que possuem as mesmas características anteriores: ambientalistas ou sociais. Outras ONGs entrevistadas, que não possuem essas características, afirmaram haver intercâmbio de recursos entre os membros da rede, porém não como um fluxo contínuo. De acordo com a ONG A “nas nossas redes, envolvendo o setor acadêmico, o setor empresarial, o setor público, etc., existe transferência de valores monetários e transferência de informação, não existe dúvida nenhuma”.

Além dos recursos financeiros e de informação, os Recursos Humanos também foram citados pelos Órgãos entrevistados como um importante recurso que está disseminado e ao alcance dos

103 membros da rede. No quadro 6 estão listados as respostas de cada setor quando questionados quanto ao intercâmbio de recursos na rede.

Quadro 6 – Intercâmbio de Recursos

Atores Intercâmbio de Recursos

Financeiros De informação

Órgãos - Forte e contínuo - Forte e contínuo

Empresas - Forte e contínuo - Forte e descontínuo

-Forte e contínuo

ONGs -Forte e contínuo -Fraco

- Forte e contínuo - Fraco

Com os depoimentos dos entrevistados, pode-se inferir que existem mecanismos de intercâmbio de recursos entre os atores envolvidos na estrutura, mesmo não sendo contínuo. O fato de haver algumas ONGs que não acreditam existir esse intercâmbio, pode estar sendo confundido com a ausência do estabelecimento de estratégias para/com esses recursos, pois essas organizações declararam receber financiamento e informações de alguma maneira.