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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.6 Compromissos com Metas Coletivas

Para que haja interdependência entre os atores da rede é necessário que existam fatores que proporcionem a coesão dos membros em torno de uma causa. Como visto no referencial teórico, a abordagem de redes como sistema de intermediação de interesses considera a dependência de recursos e o interesse comum dos membros os principais fatores de coesão da estrutura.

Os grupos que fazem parte da rede são dotados de certa coesão emergente de determinados arranjos de recursos e buscam defender seus interesses e influenciar as decisões políticas setoriais que os afetam. A coesão em torno de um interesse comum pôde ser claramente observada entre os entrevistados, apontando para a convergência dos atores na defesa de um objetivo comum.

Para os Órgãos, Empresas e ONGs entrevistadas, o que une o setor público, o setor privado e as organizações não-governamentais em torno da causa é o reconhecimento de que o problema existe, das conseqüências que poderão ocorrer se a temperatura média do mundo aumentar em 2ºC até 2020, ameaçando a sobrevivência de todo o planeta.

O idealismo une os atores, a certeza de que a humanidade irá sofrer as conseqüências e que depende de todos para o problema ser sanado (Órgão C). Para isso não basta apenas um setor ou apenas parte dele ter a consciência e trabalhar em prol da causa, é necessário que haja uma articulação entre todos os membros envolvidos, uma mudança cultural da sociedade e a percepção de todos os atores da gravidade do problema.

(...) o que une (os atores) é que realmente o planeta é um só. (...) A coisa chegou num ponto que a gravidade da situação já é de tal ordem, que ela vai afetar ricos e pobres. Então, não adianta o empresário pensar em ter uma atividade econômica, que depois ele nem vai ter consumidor pra comprar o produto dele, e ele não vai nem ter condição de continuar explorando esse investimento que ele fez. É uma questão de sobrevivência também. A coesão vem da convivência de se tomarem medidas, e da gravidade da

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situação, tal qual ela está se apresentando. Se fosse algo que ainda fosse colocado numa maneira muito distante, talvez fosse diferente, agora, acredito que a coisa já está num patamar que une todo mundo, cada um fazendo a sua parte, dentro da sua esfera de atuação (ONG C).

Além do reconhecimento do problema e a necessidade da redução das emissões de gases de efeito estufa, há Órgãos, Empresas e ONGs que acreditam haver outro fator de coesão: o surgimento de oportunidades reais. Para o setor privado, a transferência de tecnologia aparece como oportunidade viável para o desenvolvimento do setor. A economia de baixo carbono juntamente com os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo viabilizam a transferência e criação de novas tecnologias, novos produtos, que provavelmente não existiriam se não houvesse a pressão para a redução das emissões. A questão das mudanças climáticas pode ser vista como um fator de competitividade seja para a economia brasileira como um todo ou para um setor específico. As ONGs vislumbram oportunidades de mudança no comportamento da sociedade no seu posicionamento com relação ao meio ambiente, na conscientização em torno da questão ambiental, na responsabilidade socioambiental das empresas e no desenvolvimento limpo e sustentável.

O que une, na realidade, é querer resolver o problema. O setor privado, na realidade, ele está sempre atrás de um setor onde ele possa ter o lucro dele. A iniciativa privada busca o lucro e estar em setores sobre questões ambientais, que ela possa também se dizer uma empresa socialmente responsável, ambientalmente responsável, isso tudo, porque vai ser bom para a imagem dela, mas a empresa em si existe pra gerar lucro, senão seria uma ONG, não seria empresa. Então, a idéia da empresa é estar num negócio que ela possa vislumbrar um mercado que ainda não tenha muita gente, que ela possa entrar, e gerar o lucro, e também fazer o marketing ambiental, porque, na realidade, a empresa pensa nisso. Acho que a empresa privada precisa dessa coesão para fazer também as coisas acontecerem. O poder público precisa do serviço; ele mesmo não consegue prestar aquele serviço tecnológico, técnico e especializado, precisa de uma empresa que tenha tradição nisso. Então, um precisa do outro. Acho que a sociedade civil vem aí por conta da democracia mesmo. A sociedade civil vem exigir as coisas legitimamente, grande parte legítima, que é o meio ambiente equilibrado pra todos, melhor para ela; e é o dever do cidadão, o direito do cidadão é exigir. O governo não consegue fazer, se não tiver a sociedade a seu lado, a empresa também não consegue, então isso vai unindo os interesses de todos para poder executar, cada um com seu interesse. Tem do poder público, que é a obrigação dele, tem que resolver o problema, a iniciativa privada acha que aquele mercado é interessante para ela, e a sociedade civil tem que resguardar seus interesses (Empresa A).

110 O quadro 9 sintetiza as respostas dos entrevistados quando questionados sobre qual seria o fator que une o setor público, privado e ONGs em torno da causa mudanças climáticas.

Quadro 9 – Fatores de Coesão

Atores Fatores de Coesão

Órgãos - Reconhecimento da gravidade do problema - Surgimento de oportunidades reais

Empresas - Reconhecimento da gravidade do problema - Surgimento de oportunidades reais

ONGs - Reconhecimento da gravidade do problema - Surgimento de oportunidades reais

A realização da pesquisa de campo mostrou a existência de um forte fator de coesão entre os atores pesquisados: o interesse comum em busca da causa, o que possibilita o consenso necessário para a realização de ganhos coletivos. Esta coesão aponta para uma possível interdependência entre os membros da estrutura e a possibilidade de institucionalização da rede global de políticas públicas no cenário das mudanças climáticas dentre os atores brasileiros.