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2.2 GOVERNANÇA AMBIENTAL GLOBAL

2.2.3 O Protocolo de Kyoto

A Convenção-Quadro estabeleceu um processo permanente de revisão, discussão e troca de informações, que possibilitou a adoção de compromissos adicionais em resposta a mudanças no conhecimento científico e nas disposições políticas, através das Conferências das Partes (MOTTA; GUIMARÃES, 2008).

Durante a terceira Conferência das Partes, realizada em Kyoto, no Japão em 1997, os países participantes adotaram o Protocolo de Kyoto, que pode ser considerado um avanço no que tange às questões climatológicas globais. O Protocolo é um marco nas tentativas de mitigação das mudanças climáticas, nele contém o comprometimento dos países industrializados e dos países cujas economias estão em transição para economias de mercado com metas de redução de emissões de gases do efeito estufa (COSTA, 2004).

O Protocolo estabelece metas quantitativas de redução de emissões de GEE e para o primeiro período de compromisso – 2008 a 2012 – foi fixado o limite mínimo de redução de emissões (diferenciado entre os países21) num valor 5,2% abaixo dos níveis de 1990, que deve ser assegurado pelos países do Anexo I, com o intuito de reverter a tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países há cerca de 150 anos.

O Protocolo de Kyoto foi aberto para a assinatura em 1998 e para entrar em vigor, era preciso que fosse ratificado por pelo menos 55% das Partes da Convenção e, também, por países que representassem, pelo menos 55% das emissões globais do ano-base de 1990. Tal fato ocorreu em 2005 com a ratificação da Rússia, com a assinatura de 141 países – que representam 61,6% das emissões de 1990 – embora sem a participação dos Estados Unidos, principal emissor de gases do efeito estufa do mundo, e da Austrália, maior produtor mundial de carvão mineral.

Em 16 de fevereiro de 2005 o Protocolo começou a ser juridicamente obrigatório para as Partes, sendo considerado o primeiro instrumento legal internacional que propõe uma solução comercial

21 As partes Anexo I devem promover, no período de 2008 a 2012, reduções diferenciadas, tomando por base as

emissões registradas em 1990, devendo a soma dos países do Anexo I resultar em uma redução líquida de 5,2% (PROTOCOLO DE QUIOTO, 1997).

45 para um problema ambiental. Para facilitar o cumprimento de redução de emissões pelos países do Anexo I, o Protocolo criou mecanismos de flexibilização, no qual estes países podem adquirir unidades de redução de emissões de GEE, através de aquisição direta ou através de investimentos em projetos em outros países.

Os mecanismos de flexibilização representam uma alternativa ou forma subsidiária para que os países do Anexo I que não possuem condições de promover a necessária redução de gases em seu território possam atingir suas metas de redução de emissão, ao mesmo tempo em que estimula o desenvolvimento daqueles países que não atingiram níveis significativos de emissão de poluentes. Os mecanismos de flexibilização do Protocolo de Kyoto abriram a possibilidade para que as reduções de GEE pudessem ser negociadas mundialmente. Este comércio internacional de emissões, segundo Costa (2004), cria incentivos para as empresas encontrarem meios de reduzir suas emissões para que seus créditos possam ser vendidos no mercado aberto. Este mercado emergente pode oferecer diversas oportunidades para uma enorme gama de indústrias e negócios (JANSEN, 2000).

Quando um país não incluído no Anexo I desenvolve um projeto de reduções de emissão de GEE devidamente certificado, são emitidos os chamados RCEs – Reduções Certificadas e Emissões22 que são papéis comercializáveis. Dessa forma o Protocolo possibilitou um arranjo institucional com diferentes maneiras e incentivos para países e agentes econômicos reduzirem suas emissões. Os mecanismos de flexibilização previstos no Protocolo são:

Comércio de Permissão de Emissões – CE (Emissions Trade Permit): permite aos países do Anexo I negociarem entre si as quotas de emissão acordadas, onde os países com emissões maiores que suas quotas possam adquirir créditos para cobrir tais excessos. É a moldura principal de todo o sistema de reduções proposto em Kyoto;

Implementação Conjunta – IC (Join Implementation): permite às Partes do Anexo I realizar “projetos limpos” no território de outras Partes do Anexo I, a fim de obter unidades de redução de emissões para cumprir uma parcela de seus compromissos quantificados de limitação das emissões;

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL (Clean Development Mechanism - CDM): permite que os países do Anexo I financiem projetos de redução ou comprem os

22 Para efeito de emissão de RCEs, a unidade de medida utilizada para medir os diferentes gases é a tonelada métrica

de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) que consiste numa tonelada de dióxido de carbono ou numa dada

46 volumes de redução de emissões resultantes de iniciativas desenvolvidas nos países não incluídos no Anexo I, que nesse primeiro período de cumprimento do Protocolo de Kyoto, 2008 a 2012, não têm metas definidas de redução de emissões.

Quando se trata do problema da mudança climática, a noção tradicional de soberania torna-se questionável, pois as atividades e ações locais podem afetar todo o planeta. Os desafios do meio ambiente global representam um conjunto de questões para as quais o processo de negociação em torno de uma questão coletiva é crucial e o Protocolo de Kyoto pode ser considerado um desses instrumentos que visam o interesse público global e contempla a ação cooperativa internacional. Originado de uma proposta brasileira, o MDL é um dos instrumentos mais importantes do regime internacional do clima. Sua importância vai além da redução de emissões, uma vez que este mecanismo também visa o desenvolvimento sustentável. O princípio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é fazer com que os países desenvolvidos possam fazer investimento em oportunidades de redução de emissões de GEE a baixo custo em países em desenvolvimento e receber créditos pelas reduções certificadas de emissões daí resultantes, diminuindo as quotas de reduções de créditos pelas reduções de emissões dentro de suas fronteiras.

Enquanto o MDL reduz o custo do cumprimento do Protocolo de Kyoto para os países desenvolvidos, os países em desenvolvimento também se beneficiam através do aumento do fluxo de investimentos e pela promoção do desenvolvimento sustentável, contribuindo com o objetivo final da Convenção de estabilização da concentração atmosférica de GEE. O MDL provoca reduções além daquelas que aconteceriam na ausência do projeto. Seus benefícios são mensuráveis e estão focados no longo prazo, propiciando melhorias reais para o processo de mitigação das mudanças climáticas (MCT, 2009).

As metodologias utilizadas nos projetos de MDL seguem uma linha de base que considera os impactos sociais, econômicos e ambientais das atividades antrópicas sobre as emissões de GEE. Levam em conta limites, fugas23, circunstâncias nacionais ou políticas setoriais.