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Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento –

2.2 GOVERNANÇA AMBIENTAL GLOBAL

2.2.2 A agenda ambiental global: origem e evolução

2.2.2.3 Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento –

Na década de 1990, os desafios lançados na década de 1970 tinham se tornado tema de algum importante tratado internacional, plano de ação ou iniciativa. Através de uma deliberação da Assembléia Geral, em 1992, a ONU promoveu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – CNUMAD, denominada também de Cúpula da Terra ou ECO- 92, tendo como palco a cidade do Rio de Janeiro. A segunda grande reunião das Nações Unidas sobre a questão ambiental surge num contexto histórico propício, em razão de uma série de acontecimentos mundiais que marcariam o período pós-declaração de Estocolmo, onde já se evidenciavam importantes informações sobre a deterioração da vida terrestre e o comprometimento do desenvolvimento futuro.

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Supõe uma estabilização na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera em um valor de cerca de 445 partes por milhão (ppm). As concentrações atmosféricas atuais equivalem cerca de 425 ppm (antes da Revolução Industrial, a taxa era de 280 ppm). O impacto dessa estabilização na economia mundial seria de até 3% do PIB mundial até 2030 (FAPESP, 2007).

38 Paralelamente a ECO-92, organizações não-governamentais e movimentos sociais diversos organizaram uma reunião designada Fórum Global, com o objetivo de debater e aprofundar temas polêmicos e influenciar no processo de tomada de decisões na reunião oficial. O Fórum foi um acontecimento que mostrou a emergência e legitimação de uma sociedade civil global. A união dos diferentes segmentos de movimentos sociais e ONGs, constituiu uma esfera pública mais democrática e participativa com verdadeira capacidade de governabilidade global e local e que fez frente à crise sócio-ambiental global, em um mundo governado pelos atores da política e segundo as regras do mercado (LEIS, 1993).

A Conferência do Rio contribuiu para a conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos. Reconheceu-se a necessidade dos países em desenvolvimento receberem apoio financeiro e tecnológico para avançarem na direção do desenvolvimento sustentável. A posição dos países em desenvolvimento ficou melhor estruturada e o ambiente político internacional favoreceu a aceitação, pelos países desenvolvidos, de princípios como o das responsabilidades comuns, mas diferenciadas (LAGO, 2007). As negociações da ECO-92 apresentou avanços na formalização de alguns compromissos e concluiu seus trabalhos apresentando à assinatura das partes duas importantes convenções:

Convenção sobre Mudanças Climáticas – Teve sua origem no reconhecimento de um dos mais graves problemas planetários, a alteração do clima, devido fundamentalmente a concentração excessiva de gases de efeito estufa na atmosfera. O tratado tem como objetivo a estabilização da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera em níveis que evitem a interferência perigosa com o sistema climático. Não foi fixado um limite obrigatório para as emissões de GEE no tratado, porém, foram incluídas disposições para atualizações que deveriam criar limites obrigatórios de emissões, sendo um deles o Protocolo de Kyoto;

Convenção da Biodiversidade – Adota como princípio básico o direito dos países de explorar de modo soberano e responsável seus próprios recursos conforme suas políticas de desenvolvimento. Os Estados signatários reconhecem que a conservação da biodiversidade diz respeito a toda humanidade, que cada país é responsável pela conservação dos seus próprios recursos biológicos e que o desenvolvimento sócio- econômico e a erradicação da pobreza constituem a prioridade dos países em desenvolvimento.

39 Foram também elaborados três documentos de importância singular para o direito internacional do meio ambiente:

Declaração do Rio – A Declaração reafirma e amplia a Declaração de Estocolmo, contendo os princípios éticos fundamentais para a construção, no século XXI, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Reforça a necessidade de um novo sentimento de interdependência global e responsabilidade compartilhada, voltada para o bem-estar da população mundial e das gerações futuras. A Declaração foi pautada por grandes divergências entre os países desenvolvidos e emergentes;

Agenda 21 – Constitui um programa de ação que viabiliza o novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional. Concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. É um guia imprescindível para a construção de uma sociedade baseada nos princípios da sustentabilidade em suas múltiplas dimensões. O Documento tem o objetivo de efetivar-se como referencial fundamental nos planos dos governos e sociedades para um futuro mais digno;

Declaração de Princípios sobre Florestas – A idéia original era aprovar uma convenção sobre exploração, proteção e desenvolvimento sustentável de florestas, porém países em desenvolvimento com grandes florestas se opuseram, e a idéia foi transformada em uma declaração de princípios, sem força jurídica no plano do direito internacional. Os princípios ressaltam os aspectos globais das florestas, principalmente como fixadora de carbono e que são fundamentais para as comunidades locais e para o ambiente global. Diferentemente do que ocorreu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, que privilegiou apenas os aspectos biológicos e ecológicos, na Conferência do Rio foi reconhecido expressamente que os países industrializados tinham uma grande responsabilidade no que se refere aos efeitos imoderados da industrialização.

A Conferência do Rio foi importante para lançar as bases legais, intelectuais e institucionais de uma estratégia articulada visando a promoção do desenvolvimento sustentável, que passaria a significar uma verdadeira política de ação humana na busca de alternativas para uma melhor qualidade de vida. Também contribuiu significativamente para a formulação de uma agenda para a governança ambiental global. Porém, diante do processo avassalador do capitalismo global, a intensificação do comércio e a expansão do consumo, as iniciativas concretas em direção a sustentabilidade ainda são insuficientes, visto que o atual padrão de produção é claramente insustentável.

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