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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 Meios de Interação entre os Atores

A interação entre os atores é uma característica da governança global e da estrutura de redes. A pluralidade de atores envolvidos parte do pressuposto da não existência de uma hierarquia formal, proporcionando a todos voz ativa na determinação de regras e estratégias para serem cumpridas em âmbito mundial. A estrutura se desenvolve pelo trabalho coletivo entre os membros e a partir de um padrão de interdependência. Os atores precisam trabalhar juntos, a interação entre eles deve criar uma relação de reciprocidade, já que o sistema de governança e a estrutura em redes se desenvolvem a partir dos fatores que impulsionam a interação desses atores.

De acordo com os atores entrevistados, a interação entre os atores brasileiros da rede global de políticas públicas acontece principalmente no Fórum Nacional e nos Fóruns Estaduais de discussão sobre o tema. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas – FBMC foi criado em 2000, com o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de decisão sobre os impactos das emissões dos GEE pela atividade humana. Participam do FBMC os Ministros de Estado, Presidentes de Agências Reguladoras, Secretários Estaduais de Meio Ambiente, representantes do setor empresarial, de organizações não-governamentais e o Presidente da República, que é quem o preside.

O marco da interação entre os diferentes atores relevantes da questão é a criação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em 2000, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. (...) A principal contribuição desse fórum foi justamente começar a coordenar os diferentes atores relevantes, através de câmaras técnicas, debates,

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seminários; porque até então era um tema restrito à academia e à alguns setores de governo que estavam diretamente envolvidos nas negociações, basicamente, o Ministério de Relações Exteriores e o Ministério de Ciência e Tecnologia – nem mesmo o Ministério do Meio Ambiente, naquela época, se envolvia com a questão climática diretamente. Então, a partir de 2000, começou a haver uma interação maior, através da promoção desses diálogos com os diferentes setores (Órgão D).

(...) a gente se manifesta nos Fóruns, que a gente acha que são propícios para que a gente possa se manifestar, e daí mobilizar os cidadãos pra isso. Para que aquilo que a gente acha bom, seja cumprido, e aquilo que a gente acha que está errado, anular. (...) a gente acredita que deve existir uma gestão participativa; e nessa palavra “participativa” engloba vários atores, e nós nos consideramos como um dos atores (ONG C).

Segundo Fleury e Ouverney (2007) a existência de grupos de interesses integrados e articulados às estruturas do Estado é essencial para o resultado positivo do desenvolvimento de uma política pública. É necessária a manutenção da integração desses grupos juntamente com o setor público, garantindo a integração da rede. Os Fóruns de Mudanças Climáticas podem ser considerados espaços internos de interação dos atores brasileiros relacionados com as políticas de redução e/ou compensação das emissões de GEE, o que, segundo a literatura de governança global faz desses atores parte ativa nas decisões e ações políticas regulatórias, permitindo o deslocamento e a reorganização da autoridade legal.

Os Fóruns proporcionam a comunicação entre os atores, elemento essencial dentro da estrutura em rede e da governança. Estabelecem espaços para a construção conjunta de projetos e políticas, permitindo a representatividade direta dos atores envolvidos, tornando equitativa a capacidade de representação. Além disso, proporcionam a formação construtivista de campos políticos, incentivam a criação de compartilhamento de poder, contribuindo para a institucionalização da rede e a preservação da governança.

Como foi discutido na literatura, para a plena institucionalização da rede, é necessário que as relações com os atores externos estejam bem articuladas. Os organismos internacionais governamentais - OIG possuem relevante papel nessa função, auxiliando na homologação de estratégias e disponibilização de recursos para a rede, proporcionando os parâmetros mínimos relativos ao formato institucional. Segundo os Órgãos entrevistados, as convenções sobre mudanças climáticas promovidas pela ONU são o palco na qual as relações entre os atores brasileiros da rede global de políticas públicas são estabelecidas com os demais atores participantes da estrutura e com atores externos que dela fazem parte.

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(...) as conferências são multilaterais, ou seja, a regra vale pra todo mundo, trabalham com consenso, todas elas são voltadas para política pública – política pública dentro dos Estados que dela participam –; elas têm uma carteira de iniciativas, que estão sendo examinadas, para colocar nas políticas públicas de cada país, é uma carteira de projetos, ou de programas, havendo a interação dos diversos países. (...) a convenção também reconhece as organizações não-governamentais de empresas, as não-governamentais ambientais – que o tema de mudança do clima afeta todas –, as de movimentos sociais, que não são nem mesmo ONGs, mas são movimentos sociais. Então, tem um momento de trazer opinião desses diferentes grupos para dentro do plenário, através dos representantes oficiais. A regra geral é de funcionar através de representação oficial. Isso é o formal, porém, na prática, essas redes informais ou organizações não-governamentais, digamos, de empresas, são muito presentes na formação de opinião pública; a opinião pública nos diferentes países, e que vai pressionar o embaixador a adotar certas posições, não é só a posição de governo; nos demais casos, a posição do governo, representado pelo embaixador, é também influenciado por opinião pública nacional, no caso do Brasil, por exemplo. Então, tem aí uma segunda camada de decisão que é a influência desses movimentos sociais dentro do plenário (Órgão C).

Essas pressões dos setores não estatais no governo também foram relatadas por todos os atores entrevistados. Para eles, é uma das formas de interação que ocorre entre o setor público e o setor privado. As Empresas entrevistadas declararam manter um forte relacionamento com os demais atores da rede, parcerias com ONGs e governos são ações que ocorrem no dia-a-dia das Empresas, sendo essencial para o seu desenvolvimento e crescimento (Empresa D). Assim como as Empresas, as ONGs e os Órgãos entrevistados também relataram manter forte interação com os demais membros da rede. Os setores estão bastante envolvidos, em relacionamento constante, e não só se relacionam em questão de negócios, estão envolvidos também nas relações institucionais e científicas, relata a ONG B, “(...) cria-se uma interação com o setor público, privado e científico”.

Segundo a Empresa C, o fluxo de relacionamento e interação que acontece na questão das mudanças climáticas ocorre da seguinte maneira:

(...) (o problema) primeiramente é trazido à tona pela academia; depois, isso é abraçado pela sociedade civil organizada, e também há resposta dos atores envolvidos; se tiver algum envolvimento do tipo do empresariado, eles são conclamados; e depois, se forma um conjunto dos atores mediado pelo governo, no sentido de achar ali o meio termo, que vá dar resposta à ação, a resposta necessária à temática.

No quadro 5 estão sintetizadas as opiniões dos entrevistados com relação à interação dos atores brasileiros na rede.

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Quadro 5 – Interação dos Atores

Atores Interação dos Atores

Órgãos - Forte interação com os demais atores Empresas - Forte interação com os demais atores ONGs - Forte interação com os demais atores

Com isso, é possível inferir que existe interação entre os atores brasileiros da rede global de políticas públicas no cenário das mudanças climáticas. Todos os atores entrevistados afirmaram ter alguma relação estabelecida com os demais atores da rede. Esse estreito relacionamento observado teve origem em fenômenos recentes. A interação entre esses setores está em ascensão e a participação ativa dos membros tem acontecido com maior frequência desde o ano 2000, quando houve a criação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Considera-se o nascimento desse Fórum o marco inicial da interação entre os atores brasileiros no cenário mundial das mudanças climáticas. Este espaço de discussão continua a ser o palco principal das relações e discussões dos atores sobre a questão climática no Brasil, fortalecendo as bases nacionais da governança em um assunto global.